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Balanço: 20 dias de Estados Unidos

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Após três anos emendando mochilagem de férias de 40 dias pela Europa, 20 dias passam voando. Ainda mais nos Estados Unidos, um local novo para o olhar, repleto de significados e (pre)conceitos. Hoje é o último dia, e a viagem de volta começa agora. De Columbus para Chicago, e de Chicago para São Paulo. O dia está nublado e estou bastante cansado, mas a minha cama me aguarda (e 20 dias alternando colchões detonam tanto as costas que ela agradece o retorno à rotina).

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Nova York foi uma experiência especial. Começou como uma paixão avassaladora e terminou com uma pulga atrás da orelha. Preciso voltar. São Francisco, no entanto, não me balançou. Muito menos Los Angeles. Já sobre Chicago, uma frase do Renato: “Se pudesse cortava um dia de Nova York e um de Los Angeles para ficar quatro aqui”. Emendei: “Eu cortava Los Angeles e já vinha direto do Coachella pra cá” (risos). “Mas então não veríamos o Paul”, lembrou ele. Ou seja, Chicago foi paixão a primeira vista, mas tinhámos que passar por LA. Ao menos um dia. 😛

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Faltou muita coisa, e sempre falta. No entanto teve alguns pega turistas como a Times Square, em Nova York, e a Calçada da Fama, em Hollywood, locais nível Monalisa, em que você vai para riscar no caderninho, dizer que viu – e nunca mais voltar. Mas ninguém consegue ver a Monalisa (cinco metros de distância, protegida por um vidro que reflete o público, daquele tamanho? Não dá), assim como não há o que fazer na Times Square e na Calçada da Fama além de dizer: existe – e se confraternizar com outros turistas. É tudo irreal. A cidade é outra coisa.

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No geral fiquei bastante impressionado negativamente com a quantidade de pobres andando pelas ruas, ônibus e metrôs das grandes cidades. A quantidade de homeless em Nova York e, principalmente, em Los Angeles e San Francisco impressiona. Senhoras grisalhas empurrando carrinhos de supermercado lotados de restos do sonho americano. O governo não se preocupa com elas assim como a prefeitura de Nova York não se preocupa com os ratos no metrô. A lavagem cerebral enriquece, e também pode cegar.

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Não há muito o que falar de Columbus. Foram apenas 24 horas na cidade, que tem duas ótimas cervejarias na mesma rua e que parece fervilhar de atividades estudantis. Como uma típica cidade do interior (apesar de ser a capital de Ohio), todo mundo lhe cumprimenta e conversa com você. Foi interessante ter ido pra lá (obrigado, Decemberists) e ter a chance de imaginar que, talvez, fora dos grandes centros as coisas funcionem. Talvez.

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Essa viagem chegou ao fim. Agora é pensar nos 10 dias na Europa em maio. Primavera Sound em Barcelona, dois dias em Amsterdã e Eric Clapton no Royal Albert Hall, em Londres, no roteiro. Promete…

Top Ten Shows
01) Arcade Fire no Coachella
02) Arcade Fire em Chicago
03) PJ Harvey em São Francisco
04) Sebadoh em Nova York
05) Paul Simon em Los Angeles
06) The Decemberists em Columbus
07) Death From Above 1979 no Coachella
08 ) Flogging Molly no Coachella
09) Suede no Coachella
10) Cold War Kids no Coachella

Top Ten Cervejas
01) 4,89/5 – Brooklyn Blast, EUA – 9%
02) 4,80/5 – Duvel Green, Bélgica – 6,8%
03) 4,71/5 – Delirium Nocturnum, Bélgica – 8,5%
04) 4,63/5 – Brooklyn Summer Ale, EUA – 5%
05) 4,62/5 – Brooklyner Weissen, EUA – 5%
06) 4,14/5 – Racer 5 India Pale Ale, EUA – 7%
07) 4,11/5 – Guiness Extra Stout, Irlanda – 6%
08 ) 4,04/5 – Magnolia Pride to Branthill, EUA – 9%
09) 4,02/5 – Delirium Tremens, Bélgica – 8,5%
10) 3,94/5 – Sierra Nevada Pale Ale, EUA – 5,6%

Top Ten CDs
01) David Bowie – Station To Station (Deluxe Edition Box)
02) Woody Guthrie – Some Folk (Box 4 CDs)
03) The Faces – Five Guys Walk Into a Bar (Box 4 CDs)
04) The Band – A Musical History (Box 5 CDs e 1 DVD)
05) Gram Parsons – The Complete Reprise Sessions (Box 3 CDs)
06) Wilco – Yankee Hotel Foxtrot (Tour Edition)
07) Neil Young – Eldorado (EP)
08 ) Echo and The Bunnymen – Avalanche (EP)
09) White Stripes – Conquista (Single)
10) The Decemberists – Live at Bull Mouse (Record Store Day Album)

Top Ten Lugares
01) Museu Guggenheim, Nova York
02) Amoeba, Los Angeles
03) Brooklyn Brewery, Nova York
04) Barney’s Beanary, Los Angeles
05) Rock Bottom, Chicago
06) Amoeba, São Francisco
07) Bowery Ballroom, Nova York
08 ) Dodgers Stadium, Los Angeles
09) Lombardi’s, Nova York
10) Magnolia Pub, São Francisco

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Veja também:
– Diário EUA 2011: https://screamyell.com.br/blog/category/eua-2011/
– Fotos da viagem: Flickr do Marcelo (aqui) e Flickr do Renato (aqui)

Ps. Aquele abraço para o Carlos, que novamente topou encarar uma viagem tendo como motivo algumas cervejas e rock and roll, e ao Renato, graaande parceiro de 20 dias comendo fast food, procurando boas cervejas, torrando no deserto, passando frio em Nova York, vendo shows e atravessando os Estados Unidos de lá pra cá e de cá pra lá.

abril 24, 2011   No Comments

The Decemberists ao vivo em Ohio

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Bandas “cabeça” são sempre imprevisíveis no palco. Você vai ao show sem saber ao certo o que esperar. Será que eles vão tocar os hits? Será que eles vão fazer um show difícil? Será que eles vão fazer um show para eles ou para nós? É uma questão interessante: amamos bandas “difíceis” pela qualidade delas serem difíceis, peitarem a indústria e seguir fazendo o que lhes der na telha, mas quando estamos frente a frente com elas queremos simplicidade. E isso sempre gera atrito.

A lista de artistas que provocam a plateia é imensa, mas a título de exemplo, Radiohead, Sonic Youth e Lou Reed são imprevisíveis. Os discos são quase sempre uma incógnita, o próximo passo é quase sempre um tiro no escuro, os shows são quase sempre inesperados. O Decemberists, banda de indie folk formada no pequeno Estado de Oregon (cuja população total é três vezes menor do que a da cidade de São Paulo), nos Estados Unidos, segue a risca a cartilha das bandas acima.

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Colin Meloy é o típico nerd com tendencias a gênio. Gordinho, de óculos fundo de garrafa e fã de rock indie oitentista, Colin aprendeu direitinho as aulas ministradas pelo R.E.M. a respeito de sucesso de massa vs carreira de longa duração, e conseguiu repetir o feito da banda de Michael Stipe: após dez anos de um crescimento lento e continuo, “The King is Dead”, o sexto disco do Decemberists, alcançou o número 1 da Billboard em fevereiro deste ano.

“The King is Dead” é um compendio de homenagens: aos Smiths, via título do disco (citação direta a “The Queen is Dead”, o feroz ataque a realeza britânica assinado por Morrissey e Marr), ao R.E.M. (a participação de Peter Buck em três faixas faz desse álbum um grande concorrente aos do R.E.M. em sua primeira fase) e à tradição do folk norte-americano. Segundo Colin Meloy, o mundo vive uma época de revival do folk britânico, e ele quis fugir disso e olhar para as raízes dos EUA.

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O resultado conquistou o público norte-americano, e uma fila imensa se forma na entrada do The LC Pavilion, em Columbus, capital de Ohio, para ver o grupo. O show está sold out (das cinco próximas datas, quatro também já esgotaram) e é grande a expectativa em torno de qual direcionamento Colin Meloy dará ao show. Será que o sucesso amaciou o grupo? O set list, que muda radicalmente de show para show, trará os hits indies do Decemberists? Dúvidas.

Primeiro boa impressão da noite: o LC Pavillion é um lugar bem bacana para ver shows. Há uma divisão na metade da pista, com a parte final alguns degraus acima do gargarejo, possibilitando que a galera do fundão consiga ver a banda com mais facilidade. Copos de cerveja de um litro são vendidos como água, e as pessoas da cidade, extremamente atenciosas, conversam com todo mundo, indiscriminadamente. Todos parecem ser conhecer há séculos, e só estamos há 9 horas em Columbus.

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O show começa com um áudio em que o apresentador, entre outras coisas, pede para que todo mundo cumprimente as pessoas que estão ao seu redor. O LC Pavillion vira um festival de apertos de mãos e sorrisos, e com o clima extremamente amigável, o Decemberists entra no palco e faz um show… estranho.

Os hits surgem aqui e ali, mas a banda pesca canções de todos os discos abrindo o show com a rara suíte “The Tain” (lançade em 2003 pelo selo Kill Rock Stars), não inteira (ela tem 18 minutos), mas quase (uns 8 minutos), e a apresentação não tem um crescendo, mas momentos de histeria alternados com minutos de contemplação.

O público, nas mãos da banda, não se importa e vai a loucura com “Down By The Water”, a segunda música da noite (com belo backing de Jenny Conlee e gaita inaudível de Colin), e “Calimity Song” (a terceira), e quase todas as pérolas de “The Kings Is Dead” marcam presença. Colin fala muito entre as canções, e se o som do disco soa bastante tradicionalista, ao vivo a banda reforça ainda mais a impressão chegando a parecer um grupo circense dos Estados Unidos do século 17.

Na épica “The Mariner’s Revenge Song” (do álbum “Picaresque”, 2005), por exemplo, John Moen larga a bateria e vem para a frente do palco com um bumbo, sobe na banqueta, ameaça se jogar na galera, e o clima (reforçado pelo acordeon de Jenny e pelo banjo de Chris Funk) é de festa cigana. “The Rake’s Song”, o hit do disco anterior e uma das prediletas da noite, incendeia o local. Já “The Hazards Of Love 4 (The Drowned)” é momento de contemplação, e esse alternância de sensações faz com que o show, apesar de ótimo, não se torne grandioso.

Parece, no entanto, opção da banda. A mudança constante de set list faz com que o público se surpreenda com cada nova canção, mas também não mantém o desenho característico de produção de show, que se preocupa com os altos e baixos durante uma apresentação de 90 minutos visando construir um repertório que eleve a adrenalina do público lentamente.

Colin Meloy dispensa esses artifícios e concentra-se nas canções. A rotatividade do set list deve funcionar como loteria: tem dias que o Decemberists pode fazer um daqueles shows da vida de uma pessoa. Em outros pode parecer “apenas” ótimo. Foi essa segunda face que Columbus assistiu. Ninguém sabe o show de amanhã, mas sempre vale a pena arriscar. Com o Decemberists, sempre.

Set List
The Tain
Down by the Water
Calamity Song
…Rise to Me
Billy Liar
The Sporting Life
January Hymn
Don’t Carry It All
The Rake’s Song
16 Military Wives
This Is Why We Fight

The Hazards of Love 4 (The Drowned)
The Mariner’s Revenge Song

June Hymn

abril 24, 2011   No Comments