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The Decemberists ao vivo em Ohio

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Bandas “cabeça” são sempre imprevisíveis no palco. Você vai ao show sem saber ao certo o que esperar. Será que eles vão tocar os hits? Será que eles vão fazer um show difícil? Será que eles vão fazer um show para eles ou para nós? É uma questão interessante: amamos bandas “difíceis” pela qualidade delas serem difíceis, peitarem a indústria e seguir fazendo o que lhes der na telha, mas quando estamos frente a frente com elas queremos simplicidade. E isso sempre gera atrito.

A lista de artistas que provocam a plateia é imensa, mas a título de exemplo, Radiohead, Sonic Youth e Lou Reed são imprevisíveis. Os discos são quase sempre uma incógnita, o próximo passo é quase sempre um tiro no escuro, os shows são quase sempre inesperados. O Decemberists, banda de indie folk formada no pequeno Estado de Oregon (cuja população total é três vezes menor do que a da cidade de São Paulo), nos Estados Unidos, segue a risca a cartilha das bandas acima.

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Colin Meloy é o típico nerd com tendencias a gênio. Gordinho, de óculos fundo de garrafa e fã de rock indie oitentista, Colin aprendeu direitinho as aulas ministradas pelo R.E.M. a respeito de sucesso de massa vs carreira de longa duração, e conseguiu repetir o feito da banda de Michael Stipe: após dez anos de um crescimento lento e continuo, “The King is Dead”, o sexto disco do Decemberists, alcançou o número 1 da Billboard em fevereiro deste ano.

“The King is Dead” é um compendio de homenagens: aos Smiths, via título do disco (citação direta a “The Queen is Dead”, o feroz ataque a realeza britânica assinado por Morrissey e Marr), ao R.E.M. (a participação de Peter Buck em três faixas faz desse álbum um grande concorrente aos do R.E.M. em sua primeira fase) e à tradição do folk norte-americano. Segundo Colin Meloy, o mundo vive uma época de revival do folk britânico, e ele quis fugir disso e olhar para as raízes dos EUA.

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O resultado conquistou o público norte-americano, e uma fila imensa se forma na entrada do The LC Pavilion, em Columbus, capital de Ohio, para ver o grupo. O show está sold out (das cinco próximas datas, quatro também já esgotaram) e é grande a expectativa em torno de qual direcionamento Colin Meloy dará ao show. Será que o sucesso amaciou o grupo? O set list, que muda radicalmente de show para show, trará os hits indies do Decemberists? Dúvidas.

Primeiro boa impressão da noite: o LC Pavillion é um lugar bem bacana para ver shows. Há uma divisão na metade da pista, com a parte final alguns degraus acima do gargarejo, possibilitando que a galera do fundão consiga ver a banda com mais facilidade. Copos de cerveja de um litro são vendidos como água, e as pessoas da cidade, extremamente atenciosas, conversam com todo mundo, indiscriminadamente. Todos parecem ser conhecer há séculos, e só estamos há 9 horas em Columbus.

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O show começa com um áudio em que o apresentador, entre outras coisas, pede para que todo mundo cumprimente as pessoas que estão ao seu redor. O LC Pavillion vira um festival de apertos de mãos e sorrisos, e com o clima extremamente amigável, o Decemberists entra no palco e faz um show… estranho.

Os hits surgem aqui e ali, mas a banda pesca canções de todos os discos abrindo o show com a rara suíte “The Tain” (lançade em 2003 pelo selo Kill Rock Stars), não inteira (ela tem 18 minutos), mas quase (uns 8 minutos), e a apresentação não tem um crescendo, mas momentos de histeria alternados com minutos de contemplação.

O público, nas mãos da banda, não se importa e vai a loucura com “Down By The Water”, a segunda música da noite (com belo backing de Jenny Conlee e gaita inaudível de Colin), e “Calimity Song” (a terceira), e quase todas as pérolas de “The Kings Is Dead” marcam presença. Colin fala muito entre as canções, e se o som do disco soa bastante tradicionalista, ao vivo a banda reforça ainda mais a impressão chegando a parecer um grupo circense dos Estados Unidos do século 17.

Na épica “The Mariner’s Revenge Song” (do álbum “Picaresque”, 2005), por exemplo, John Moen larga a bateria e vem para a frente do palco com um bumbo, sobe na banqueta, ameaça se jogar na galera, e o clima (reforçado pelo acordeon de Jenny e pelo banjo de Chris Funk) é de festa cigana. “The Rake’s Song”, o hit do disco anterior e uma das prediletas da noite, incendeia o local. Já “The Hazards Of Love 4 (The Drowned)” é momento de contemplação, e esse alternância de sensações faz com que o show, apesar de ótimo, não se torne grandioso.

Parece, no entanto, opção da banda. A mudança constante de set list faz com que o público se surpreenda com cada nova canção, mas também não mantém o desenho característico de produção de show, que se preocupa com os altos e baixos durante uma apresentação de 90 minutos visando construir um repertório que eleve a adrenalina do público lentamente.

Colin Meloy dispensa esses artifícios e concentra-se nas canções. A rotatividade do set list deve funcionar como loteria: tem dias que o Decemberists pode fazer um daqueles shows da vida de uma pessoa. Em outros pode parecer “apenas” ótimo. Foi essa segunda face que Columbus assistiu. Ninguém sabe o show de amanhã, mas sempre vale a pena arriscar. Com o Decemberists, sempre.

Set List
The Tain
Down by the Water
Calamity Song
…Rise to Me
Billy Liar
The Sporting Life
January Hymn
Don’t Carry It All
The Rake’s Song
16 Military Wives
This Is Why We Fight

The Hazards of Love 4 (The Drowned)
The Mariner’s Revenge Song

June Hymn

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