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Category — Causos

Um livretinho de Nelson Rodrigues

Eu comecei a ler bem cedo e logo moleque já era rato de biblioteca. Curiosamente, porém, só fui ‘encontrar” Nelson Rodrigues aos 24 anos, quando um representante da Folha deixou de presente na biblioteca em que eu trabalhava este volumezinho viciante. São apenas 11 histórias, entre elas “A Dama da Lotação”, “A Realeza de Pelé” e, uou, “Coroa de Orquídeas”, que, viciado (também) adaptei para um trabalho de teatro na faculdade. São “só” palavras num papel tosco, mas bastou para ser convertido… Em 2015, um filme que adaptava algumas histórias de Nelson, “Ninguém Ama Ninguém… Por Mais de Dois Anos“, passou batido, mas merece ser assistido. Está disponível no acervo do Canal Brasil (pra quem tem NET, Vivo, Sky, Claro HDTV e Oi). Vale a pena.

janeiro 31, 2018   No Comments

O dia em que conheci a Duvel

10 anos atrás eu estava indo pela primeira vez ao Velho Mundo. Minha primeira parada foi na Bélgica, numa quarta-feira ensolarada de verão (02 de julho de 2008). No dia seguinte eu veria Vampire Weekend, National e R.E.M.; na sexta seria a vez de Slayer, The Verve e Neil Young; no sábado, Gossip, Sigur Rós e Radiohead. E no domingo, bem, no domingo eu conheci a Duvel. Eu tava num pub assistindo F1 e, nesse dia, Rubinho e Massa dividiram o podium. Inebriado pelos primeiros dias do Rock Werchter, da viagem (um mochilão de 40 dias apenas começando), da minha primeira vez na Europa, entornei 7 garrafas da Duvel original (NÃO REPITA ISSO EM CASA! NUNCA!) e fui ver Nick Cave e seu Grinderman. A ressaca veio como uma avalanche no meio do show, e após orientações de uma amiga belga que conhecia o Brasil (Beba menos: isso não é Brahma!!! SÃO 9.5% DE ÁLCOOL), eu estava definitivamente convertido ao mundo das boas cervejas. Depois disso, comecei a escrever e estudar cerveja, fiz um curso de sommelier e a Duvel, influenciada pelos bons ventos de lúpulos do Novo Mundo, começou a experimentar. Nascia a Duvel Tripel Hop, uma das minhas cervejas favoritas da vida. Eles testaram vários lúpulos nesta década em edições anuais, e agora chegam ao definitivo. E não poderia ser melhor: Duvel Tripel Hop Citra. Tão boa que me rendeu um momento Marcel Proust: assim que bebi fui transportado para aquele pub, em frente a estação de trens de Leuven, na Bélgica, onde bebi a minha primeira Duvel. A primeira de sete. Hoje é só essa. E eu durmo feliz 

janeiro 20, 2018   No Comments

5/7 canções: Proud To Fall

Publicado no Facebook em 2015

Quando Carlos Freitas e Adília Belotti me convidaram pra esse passeio musical (7 músicas em 7 dias – que vou completar em 20… acho), eu tinha pra mim que não seria legal escolher músicas do século passado, muito porque praticamente só ouço coisas novas, e acho estranho pessoas que pagam R$ 300 (ou muito mais) para ir a um estádio ouvir músicas de 40 atrás (por mais que o mano cante: “Queria que Você Estivesse Aqui”) e se recusam a ver artistas novos por R$ 30. A pessoa vai a dois ou três shows por ano (todos acima dos R$ 300) e acha que ama a música. Bem, isso é assunto pra outro dia.

O fato é que é difícil para mim fazer uma lista de 7 músicas sem… Echo & The Bunnymen. Consegui fazer de três (quando a Letícia me convocou – http://goo.gl/IyUaro), mas sete… E, bem, antes que você tente argumentar que o Echo não fez nada que preste neste século, recomendo uma audição cuidadosa de “Siberia”, o disco deles de 2005. Se for pedir muito, vá atrás ao menos de “All Because of You Days”, minha canção favorita deste álbum (e do Echo no novo século), número 21 na minha Last Fm (dos últimos oito anos).

Eu até poderia escolher “All Because of You Days” e até já escrevi sobre “Rust”, uma balada maravilhosa do álbum “What Are You Going to Do With Your Life?”, de 1999, que me define (texto aqui: https://goo.gl/QSTNMu), mas Echo é uma coisa mais… antiga (ao menos para mim). E é uma banda importante na formação da pessoa que eu sou hoje. Amigos próximos sabem que sou metade (política) The Clash, metade (sentimento) Echo and The Bunnymen, e assim voltamos para a primeira metade dos anos 80…

Até onde me lembro (e a memória, sim, já começou a falhar), comprei meus primeiros vinis do Echo em 1985, três de uma vez – “Porcupine”, “Ocean Rain” e “Songs to Learn & Sing” (que título maravilhoso, vai) – em uma baldão de promoção em alguma loja que não lembro o nome (a parte de dentro do meu “Songs to Learn & Sing” exibe uma etiqueta: 600,00 cruzeiros), e me apaixonei. Eu tava vindo de “The Top”, do Cure, “Hatful of Hollow”, dos Smiths e “Closer”, do Joy Division, e o Echo abriu um universo de possibilidades.

Acontece que na hora que eu “descobri” o Echo and The Bunnymen, a banda já estava em crise e havia se separado. Stephen Morris, o baterista do New Order, segurou as baquetas de quebra galho em algumas gravações, mas a formação original voltou, fez uma turnê histórica pelo Brasil em 1987 (eu só os veria ao vivo em 1999 e entrevistaria Ian em 2001!) e lançou um bom álbum e 1987 que não envelheceu bem, culpa da remasterização que jogou a bateria pra frente, mas que trazia uma das minhas canções favoritas do Echo: “The Game”.

Quando Ian McCulloch, líder e vocalista, pulou fora da banda e seguiu em carreira solo, fui atrás, e gostei bastante de “Candleland”, seu primeiro disco solo, um monte de rascunhos mal acabados de canções do Echo. Ainda assim, uma canção ali me pegou de jeito, e, desde então, me acompanha. É bem provável que ela não esteja no meu Top 500 da Last.Fm nos meus últimos oito anos, mas é uma canção que me deu sanidade em um momento complexo da vida, e que vou sempre carregar comigo como um amuleto. O nome dela é “Proud To Fall”, que os fãs dos Bunnymen conhecem como “The Game – Part 2”, e vai longe o tempo em que “Long day’s journey into / Long night’s journey out”, mas, ainda hoje, “Looks like rain again / Feels like it’s rained forever”. 

****
Essa é a canção 5 de 7, e vou marcar pessoas para continuarem a saga no último post. Não deixa de ser especial neste ter Paul Westerberg escolhendo a mesma canção (“Star is Bored”, dele, que eu upei no Youtube – procure – quase surgiu aqui).

dezembro 14, 2017   No Comments

4/7 canções: There is No Time

Publicado no Facebook em 2015

Os amigos queridos Carlos Freitas e Adília Belotti me convidaram para participar de uma corrente publicando 7 músicas em 7 dias. Eis o quarto capítulo. Segundo as normas, eu teria que marcar uma pessoa por dia, mas vou quebrar a regra e marcar uma, duas ou três no post final. Aperte o play e Segue o jogo:

Minha “educação musical” (entre 1981 e 1989, ou seja, entre 11 e 19 anos, período que as coisas prometem grudar em você e te acompanhar para o resto da vida) foi assim: Beatles, Blitz, rock nacional (Paralamas, Barão, Legião, RPM), pós-punk (Echo, Cure, Joy Division), punk rock (Pistols e Clash), classic rock (Doors, Led Zeppelin, Pink Floyd) e metal (Iron Maiden, Mercyful Fate e Metallica). Beatles e Blitz foram as faíscas (falei do primeiro aqui: http://goo.gl/4og5Z3) e dai em diante tudo acontece praticamente ao mesmo tempo, principalmente de 1985 em diante (e a revista Bizz tem grande influência ao lado das festinhas em que eu já brincava de ser DJ aventureiro).

Nesse período lembro de porres adolescentes de licor de menta terem sido sonorizados por “The Top”, do Cure, nos dias viajantes, e “Closer”, do Joy, nos dias deprês. De descobrir “Stairway To Heaven” numa discotecagem na perifa de Taubaté (o cara com que dividi as pick-ups naquela noite tascou ela, e eu fiquei impressionado tanto pelo espaço que ela tomava nos sulcos do “Vol. IV” – “Cacete, o cara colocou uma música de 10 minutos” – tanto quanto pela grandiosidade da canção). Foi um baita choque, semelhante ao de alguns anos depois, quando, já apaixonado por Pistols, levei meu “Kiss This” prumas férias na roça e, após uma semana de sertanejos de raiz e bucolismos da natureza, coloquei o disco pra tocar e me assustei com a potência daquele som. Cresceu.

Na página 52 de “Alta Fidelidade” (o livro), Rob está reorganizando sua coleção de discos, buscando coloca-la na ordem que ele adquiriu durante a vida: “Gosto de ver como fui de Deep Purple a Howling Wolf em 25 movimentos”, descreve. Quando ganhei o livro e cheguei nessa parte, sabia que o livro era realmente para mim, como a dedicatória alardeava (https://goo.gl/foOEZv). Isso porque eu numerava os meus vinis e me surpreendia como eu havia saído de Titãs, Lobão e Legião (no meu primeiro salário, aos 15 anos, comprei seis discos) e chegado a “Led Zeppelin II” em 40 movimentos, e My Bloody Valentine em menos de 100 (“Isn’t Anything” era meu vinil 96).

Escrevi tudo isso para falar de… Lou Reed. O primeiro vinil que comprei de Lou era uma coleta organizada por Ezequiel Neves e lançada em 1980 (devo ter pegado o meu entre 1986/1987) com 10 clássicos. Abre com “Walk In The Wild Side” (grafada assim mesmo), segue com “Kill Your Sons” (inseri trechos dessa letra num projeto da faculdade que juntava eu declamando poemas meus junto a versos de William Blake, Michael Stipe, Ian Curtis, Aldous Huxley, Dante e Lou Reed sob uma base de drum-bass metal numa semana da comunicação ae) e segue com faixas do Velvet (“White Light/White Heat” e “I’m Waiting For The Man”) em versões ao vivo dos álbuns “Lou Reed Live” e “Rock’n Roll Animal”, ambos de 1974.

Eu gostava desse disco, mas Lou Reed bateu forte em mim quando coloquei o vinil fresquinho de “New York” para tocar. Foi paixão a primeira ouvida. Até hoje eu acho o lado A desse vinil uma coisa inacreditável. Ouvi tanto, mas tanto, mas tanto que quando pisei em Nova York pela primeira vez, mais de 20 anos depois (o disco saiu em 1989, conheci NY em 2011), eu cantava mentalmente “Romeo had Juliette” enquanto desbravava as ruas da cidade. “Halloween Parade” e “Dirty Boulevard” são outras duas canções que fazem deste disco um dos meus preferidos do Lou (mergulhei em “Berlin” quando vi o show de Lou em Málaga, e a coisa toda me sacudiu muito -> http://goo.gl/akTojk)

Porém, o motivo deste textão é a música número 4 de minha peregrinação de 7 músicas em 7 dias: “There Is No Time”, faixa cinco do álbum “New York”. E, bem, a letra (envolvida em bateria acelerada e guitarras microfonando) fala por si só <3

“Não é hora para celebração
Não é hora para apertos de mãos
Não é hora para tapinhas nas costas
Não é hora para Bandas de Fanfarra

Não é hora para otimismo
Não é hora para reflexões intermináveis
Não é hora para o meu país certo ou errado
Lembra a que isso levou

Não há tempo

Não é hora para congratulações
Não é hora para dar as costas
Não é hora para rodeios
Não é hora para frases feitas

Não é hora para mostrar gratidão
Não é hora para vantagens pessoais
É tempo de enfrentar ou se calar
Não vai haver outra oportunidade

Não há tempo

Não é hora para engolir a raiva
Não é hora para ignorar o ódio
Não é hora para bancar o frívolo
Pois está ficando tarde

Não é hora para vinganças pessoais
Não é hora para não saber quem você é
Autoconhecimento é uma coisa perigosa
A liberdade de saber quem você é

Não é hora para ignorar alertas
Não é hora para limpar o prato
Não vamos chorar sobre o leite derramado
E permitir que o passado se torne nosso destino

Não há tempo

Não é hora para virar as costas e ir beber
Ou fumar umas pedras de crack
É tempo de juntar forçar
E se preparar e atacar

Não é hora para celebrações
Não é hora para saudar bandeiras
Não é hora para buscas interiores
O futuro está à mão

Não é hora para falsa retórica
Não é hora para discurso político
É tempo de agir
Porque o futuro está logo ali

Esta é a hora
Porque não há tempo”

2

dezembro 12, 2017   No Comments

3/7 canções: Barbarella

Publicado no Facebook em 2015

Devo, não nego, vou pagando quando puder (risos).

Os amigos queridos Carlos Freitas e Adília Belotti me convidaram para participar de uma corrente publicando 7 músicas em 7 dias. Tenho sentido dificuldade em pensar em música no momento político difícil por qual o país passa, como um todo, e o estado/cidade de São Paulo, em particular, com estudantes sendo tratados como bandidos por um governo incompetente.

Dai que nesta manhã recebi a noticia da morte de Scott Weiland, uma carta tão marcada que não chega a surpreender, mas entristece. Muito. Lembro o quanto praguejei quando o Stone Temple Pilots surgiu com “Core” e o single “Plush”, um sub-Pearl Jam de quinta categoria que explicava muito uma indústria que faturava esgotando fórmulas.

Porém, para minha própria surpresa e ceticismo, amei descontroladamente os discos seguintes do Stone Temple Pilots, “Purple” (1994) e “Tiny Music” (1996), e a partir dai acompanhei com atenção a carreira do Scott Weiland. Não é a toa que a minha cópia de “12 Bar Blues”, a estreia solo de Scott em 1998, trava em algumas músicas, porque ouvi tanto e tanto e tanto.

Esse disco em especial (ao lado de “This Is My Truth Tell Me Yours” e “Deserter’s Songs”) foi a trilha sonora desértica do meu final de século, pouco esperançoso, e que iria mudar radicalmente, mas naquela época eu não sabia, e ouvia/sentia músicas como “Opus 40”, “My Little Empire” e “Barbarella” como se estivessem correndo em minhas veias.

Quando Kurt Cobain se matou, o amigo André Forastieri escreveu uma coluna pra Folhateen que ficou colada na porta do meu quarto por anos. Dizia algo assim: “Kurt Cobain se matou. Isso não é romântico. Não é um momento fundamental da história do rock’n’roll. Não é charmoso, não é legal, não é engraçado e não vai mudar a vida de uma geração. É, pura e simplesmente, uma merda.”

Em outro texto que amo (e eu amo muitos textos!), a querida Ana Maria Bahiana descrevia: “Ouso dizer que o R.E.M. é, para mim, a banda mais importante dos Estados Unidos nas últimas décadas – sim, eu sei que você está pensando no Nirvana, e eu adoro o Nirvana, mas o Nirvana foi uma faísca, enquanto o R.E.M. é uma fogueira, e eu, particularmente, estou mais interessada no desafio da sobrevivência e da longevidade do que na saída fácil da vida breve e fulminante.”

Por isso tudo, mesmo sendo carta marcada, um cara como Scott Weiland morrer aos 48 anos é uma grande merda (pô, eu tenho 45!). Porque ele tinha uma vida inteira pela frente. Porque ele tinha uma família. Porque ele poderia ainda fazer muito mais pela música, e fazendo algo pela música ele estaria, diretamente, fazendo algo por mim. Por isso tudo, Rest in Peace parecia muito pouco.

Então fica abaixo a minha canção favorita de “12 Bar Blues”: “Barbarella”. Ela começa “delicadamente” assim:

“You play the game, i’ll masturbate and sing a lullaby”

(Há uma versão ao vivo no Youtube com participação da Cindy Lauper que é de arrepiar)

Ps1 – “Belas Canções Sob o Céu da Califórnia“, por Ana Maria Bahiana:
Ps 2 – “Kurt Cobain se matou“, por André Forastieri

dezembro 10, 2017   No Comments

2/7 canções: My Secret is My Silence

Publicado no Facebook em 2015

Canção número 2/7 do desafio proposto pelo amigo Carlos Freitas e estendido pela queridíssima Adília Belotti. O esquema é aquele de corrente com uma música por dia durante sete dias. Segundo as normas, eu teria que marcar uma pessoa por dia, mas vou quebrar a regra e marcar uma, duas ou três no post final. Aperte o play e Segue o jogo:

“Não sei se é o tempo chuvoso que me faz sentir melancólico, os tropeços constantes da vida, as decepções com o mundo ou tudo junto, mas a segunda canção (2/7) que escolhi é uma indie folk song perfeita para sonorizar esse momento. O cantor Roddy Woomble é mais conhecido à frente do Idlewild, um grupo que soava – nos primeiros discos – como um Smiths passado pelo furacão grunge, nada que chamasse tanta atenção até o quarteto parir “The Remote Part”, terceiro disco da carreira da banda, e sinal de maturidade e bom gosto musical dos escoceses.

Paralelo à carreira com o Idlewild, Roddy Woomble mantém uma trajetória solo admirável fincada no folk. Seu primeiro disco, “My Secret is My Silence” (2006), entrou na minha lista pessoal de Melhores Álbuns dos Anos 00, e a faixa título tem o poder de fazer meu coração bater mais devagar num espaço tempo totalmente particular. Desde a primeira vez que a ouvi ela me remete a trilha sonora de “Gangues de Nova York” (2002), de Scorsese, ao maravilhoso “The Seeger Sessions”, que Bruce Springsteen lançou também em 2006, e a lendária caixa de discos “Anthology of American Folk Music”. Está tudo aqui: a chuva, o vento, a melancolia de uma ilha europeia afundada em um inverno aparentemente interminável.

Talvez seja isso que me conecta com Roddy Woomble, a aparente infinitude da melancolia. Ao falar sobre “Sadness”, uma canção empolgante que abre o primeiro disco do Porno For Pyros, Perry Farrel dizia que a felicidade era boa apenas por uma hora (parafraseando de modo meio torto e sem querer Vinicius de Moraes), e ainda que seja óbvio que o inverno (europeu) tem fim e que a melancolia, como num passe de mágica, de uma hora para outra desaparece, o “estar melancólico” parece eterno, tal qual o inverno, tal qual essa canção em que “your sadness tastes like whisky and my body breathes the same”.

Duas outras coisas que essa canção me lembra: num hostel de Glasgow, certa vez, puxei conversa com um carinha inglês – com cara de nerd e não mais que 20 anos – no quarto. Ele ia ao mesmo festival que eu (a saber, o T In The Park), pois era “big fan” do R.E.M., mas tinha planos para os outros dias: “Vou fazer um tour de golfe pelas highlands”! Nunca me esqueci disso (essa também é uma canção sobre as highlands, verdadeiras e metafóricas). E outro dia fiz uma conexão do verso “I’m sick of living in these buildings / That were built in blood and rain” com o “vem morar comigo nesse apartamento / estamos uns sobre os outros / e temos satisfação”, de Wado em “Pavão Macaco”. Não é a toa que ando sonhando com fazendas e roças… “to find your way home”. ”

Ps1. A sonoridade da versão oficial, do disco, é mais cheia e robusta (compare aqui: https://goo.gl/wyZj1M), mas o poder de ver a canção me atrai.

Ps2. Roddy: “My Secret Is My Silence” é sobre o que nós não dizemos”. http://goo.gl/3TjF20

Ps3. “Bob Dylan, Martin Scorsese e a História Universal” (http://goo.gl/U2m7s2)

Ps4. Coisas surreais de viagem: (http://goo.gl/dSZR7z)

dezembro 8, 2017   No Comments

1/7 canções: Workingman Blues

Publicado no Facebook em 2015

O desafio proposto (uma música por dia durante sete dias) pelo grande amigo Carlos Freitas, um mestre na canção impopular, me levou a pensar com cuidado e seriedade sobre algo que mudou radicalmente a minha vida: a música. Algumas semanas atrás comentei por aqui sobre um filme emocional que havia visto (“Alive Inside”, disponível no Netflix Brasil) dizendo: “Para quem ama a música…”. Porque para mim é simples assim: eu amo a música e ela acompanhou boa parte dos passos que dei nesses mais de 16 mil dias nessa bolota azul.

A definição de Salman Rushdie em “O Chão Que Ela Pisa” é perfeita:

“Por que a gente gosta de cantores? Onde se esconde o poder das canções? Talvez se origine da mera estranheza de se existir canto no mundo. A nota, a escala, o acorde; melodias, harmonias, arranjos, sinfonias, ragas, óperas chinesas, jazz, blues: o fato de essas coisas existirem, de termos descoberto os intervalos mágicos e as distâncias que produzem o pobre punhado de notas, todas ao alcance da mão humana, com as quais construímos nossas catedrais sonoras, é um mistério tão alquímico quanto a matemática, ou o vinho, ou o amor. Talvez os pássaros tenham nos ensinado. Talvez não. Talvez sejamos, simplesmente, criaturas em busca de exaltação. Coisa que não temos muito. Nossas vidas não são o que merecemos. De muitas dolorosas maneiras elas são, temos de admitir, deficientes. A música as transforma em outra coisa. A música nos mostra um mundo que merece os nossos anseios, ela nos mostra como deveriam ser os nossos eus, se fôssemos dignos do mundo”.

Dentro dessa busca por dignidade, de companhia ou seja lá o que for, eu até queria buscar uma canção alegre, festeira, mas a primeira música que penso (e provavelmente as outras 99 são tão tristes quanto) quando preciso pensar em alguma música é “Workingman’s Blues #2”, de Bob Dylan, que, segundo minha Last Fm, é a música que mais ouvi nos últimos nove anos. Há algumas dezenas de coisas que me fascinam em Bob Dylan, e uma delas é toda beleza que se esconde por trás de uma aparente fragilidade vocal, que, para alguns, se intensificou neste milênio. Como escrevi no texto sobre o show em São Paulo de sete anos atrás, “não há nada mais atual que recusar o amargo, o ardido, o esganiçado, aquilo que não soa limpo (até o punk e o metal soam melodiosos hoje em dia”.

Sempre que esse assunto vem à tona me lembro de Beck, que certa vez escreveu: “Gosto de gente como Bob Dylan, que faz música para sacudir a cabeça das pessoas. Odeio quem gosta de dizer que Bob Dylan canta mal, que o show dele é uma porcaria e tal… Ora, esse cara nem precisava cantar. Todo mundo devia pagar ingresso só para ver o cara que escreve aquelas canções maravilhosas”.

Oque me interessa na voz de Dylan, porém, é o efeito do tempo sobre ela, as marcas de dores, desilusões, decepções. Sempre tenho uma frase na ponta da língua: “viver é acumular tristezas”. Estranho Rod Stewart e Roberto Carlos cantando hoje em dia como se a vida fosse um paraíso, e talvez até seja… para eles, como se a naturalidade da voz simbolizasse uma pele sem rugas (e sem dramas nem histórias), mas para reles mortais viver é, cada vez mais, “pagar uma conta por dia” (uma atualização politicamente correta daquele velho ditado que versava sobre “matar leões”, e que já está devidamente antiquado).

“Workingman’s Blues #2” atualiza para os tempos modernos um velho country de Merle Haggard. Enquanto o original versava sobre como o trabalho comprara o espaço da diversão (na letra, após uma semana de batente e muito cansaço, o cara planeja sair para beber uma cerveja quando o pagamento chegar), “Working Man’s Blues #2? avança criticando não só esse capitalismo que vendeu um sonho e acabou, no fim, comprando a alma de todos, mas também suas conseqüências, entre elas a mais visível: a divisão do povo em ricos e pobres.

Presente no grande álbum “Modern Times”, que Dylan lançou em 2006 (e que foi disco do ano em várias publicações, Scream & Yell incluso), “Workingman’s Blues #2” versa sobre a desilusão com a vida cotidiana, em que o lugar mais amado é “uma doce memória”, não o agora, não o presente, pois atualmente “dormir é uma morte temporária”. Nessa letra melancólica, Bob Dylan narra as desventuras dos trabalhadores, cada vez mais sufocados por um capitalismo voraz (“The buyin’ power of the proletariat’s gone down / Money’s gettin’ shallow and weak (…) They say low wages are a reality / If we want to compete abroad”), que muitas vezes força o individuo a situações que ele não deseja (“Well, they burned my barn, and they stole my horse / I can’t save a dime / I got to be careful, I don’t want to be forced / Into a life of continual crime”). A condução da canção destaca notas tristonhas de piano e um riff mastigado e choroso de guitarra fazendo a cama para a voz de Bob Dylan, absolutamente perfeita ao exibir as cicatrizes do tempo para contar/cantar esse blues lamento dos trabalhadores. É triste, mas é real, dolorosamente real, e sentir dor muitas vezes nos faz agir, tentar mudar a situação, ou, ao menos, refletir sobre ela.

dezembro 6, 2017   No Comments

Sid Vicious “encontra” o Pink Floyd em 2017

Essa Fender Black Strat acima foi de Sid Vicious (que usava uma camiseta escrita “I Hate Pink Floyd”). Nos anos 80, Joe Strummer comprou ela de presente para Zander Schloss, do Circle Jerks, que postou a foto ontem em seu Instagram, contando isso e explicando: “Eu emprestei ela para o meu amigo Gus Seyffert. Ele agora está em turnê com Roger Waters em direção a minha cidade natal, St Louis, que também é lar de Chuck Berry, o inventor do estilo de guitarra rock n roll”. Dai ele brinca: “Se você permanecer no rock n roll o suficiente, as coisas podem ficar estranhas… e muito legais”.

Outro detalhe: “The Black Strat is the nickname for a black Fender Stratocaster guitar played by David Gilmour of the progressive rock band Pink Floyd” (saiba mais)

Essas voltas do mundo deixam a gente meio tonto… risos

Grande dica do Marky Wildstone!

maio 30, 2017   No Comments

Meu único troféu…

Acho que nunca ganhei uma medalha na adolescência (fora aquelas tradicionais por chegar em 3673 numa corrida de 15 quilômetros aqui, outra ali), e fora futebol de salão (tomamos um chacoalho do Industrial num JUTA – eu era goleiro), disputei torneios de xadrez (eliminado nas oitavas no mesmo JUTA) e tênis de mesa (estadual interescolar, mas eu era reserva). Acho que participei de uns torneios de natação também… mas meu único troféu “esportivo” (não acho justas essas aspas, mas… risos) é esse de Dupla Campeã do Campeonato de Truco da Semana da Comunicação, na faculdade, 1996.

🙂

abril 19, 2017   No Comments

Numa sexta-feira santa no ano de 1973…

a música “Cálice” começava a ser composta por Gil e Chico Buarque.

abril 14, 2017   No Comments