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Em Los Angeles, desapaixonado

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Estranhei Los Angeles desde que chegamos à cidade. O ônibus nos deixou em uma parte afastada de Downtown, o centro antigo, dominada por mexicanos. Uma fábrica de tecidos, em frente a garagem da compania, oferecia vagas para costureiros com salário de 17 dólares a hora – e estava escrita apenas em espanhol. Tentamos seguir o conselho do David, “nosso” taxista em Palm Springs, e arriscamos o ônibus, mas estava tão lotado (e nós com tantas malas) que decidimos descer e procurar um taxi.

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De Downtown até West Hollywood, onde ficava o hotel, a paisagem mudou. Os prédios altos e teatros antigos abandonados do centro foram dando lugar a uma cidade plana conforme a Santa Monica Boulevard (trecho histórico da Route 66) invadia a cidade. Prédios baixos e ruas largas repletas de carros formaram a paisagem, mas ainda assim o glamour e o luxo da cidade do cinema parecia inexistente – com exceção da vizinha Beverly Hills, de grandes alamedas arborizadas, casas enormes e o centro tomado por grandes marcas, símbolo da vitória do capitalismo.

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Los Angeles é uma cidade fascinada pela fama. Das estrelas nas calçadas do Hollywood Boulevard a placas oferecendo mapas com o endereço da casa de todos os artistas até outdoors de revistas e websites avisando que compram e vendem fotos de famosos 24 horas por dia. “Comprar” é a palavrinha mágica norte-americana. Tudo está à venda – e por preços convidativos. Você pode comer um lanche x, mas incrementa-lo com dezenas de coisas por alguns dólares a mais. Quase tudo funciona assim em cidades que se transformaram em shopping centers.

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O outro lado da moeda da felicidade do supérfluo é que a pobreza está aos olhos de todos, e a falta e uma política governamental que atenda as pessoas sem teto faz com que os moradores de rua, a margem do “american dream”, passeiem pelas cidades com seus carrinhos de supermercado recheados de quinquilharias alimentando-se de restos de comida. A população de “homeless” norte-americana me impressionou – ainda mais em Los Angeles, em que carros caríssimos circulam nas ruas enquanto pobres almas caminham nas calçadas.

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O ônibus 4, que atravessa a Santa Monica Boulevard do começo ao fim, é uma aventura. A população de cachorros de West Hollywood vive muito melhor que metade do que as pessoas que se locomovem no transporte público. A arquitetura da cidade é exagerada, grandiloqüente e agressiva, e dezenas de outdoors (principalmente em Sunset Strip, o trecho mais famoso da Sunset Boulevard) anunciam os novos filmes das produtoras de cinema da cidade mostrado que a indústria, aqui, quer vencer pela insistência. Tudo isso soa amargo e cínico demais.

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O trecho da calçada da fama, no Hollywood Boulevard, é essencialmente turístico – incluindo os teatros Chinese e Kodak (o último, a casa da cerimônia do Oscar). Sunset Strip tem seu charme e dezenas de restaurantes interessantes assim como a Beverly Boulevard (com suas lojinhas de rua que servem caviar) e Melrose Place (o seriado diz muito sobre o local), mas a sensação de que é preciso uma carteirinha imaginária (com bandeiras Visa, Mastercard ou American Express) para apreciar a cidade é constante (e os passeios em ônibus turísticos reforça a impressão).

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Fizemos pouca coisa na cidade. Visitamos a Amoeba (outro rombo no orçamento), bebemos e comemos no Barney’s Beanery, caminhamos na calçada da fama e em Sunset Strip, visitamos o parque temático da Universal Studios (o tour pelos estúdios é bem legal, mas o preço do passe para o parque não é convidativo: 74 dólares) e assistimos a um jogo de beisebol do Los Angeles Dodgers, que apanhou em casa do Atlanta por 10 a 1 (e serviu para que eu aprendesse as regras do jogo, e experimentasse o excelente hot dog do estádio – hehe).

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E ainda teve Paul Simon fazendo um grande show no belíssimo Pantages Theatre, na Hollywood Boulevard, para uma plateia eufórica e histérica, que já na terceira música se levantava das cadeiras para aplaudir efusivamente o artista. A base da apresentação é, o disco novo lançado no mês passado, e a levada africana contagiante fez todo mundo gingar e sambar. Impressiona o poder que o compositor exerce sobre sua audiência. Foram quase duas horas de muitos aplausos para um show suingante e perfeito – incluindo dois encores, um deles aberto por “Sound of Silence”.

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Deixo Los Angeles com uma pontinha de decepção e curiosidade. Para conhecer uma cidade é preciso vive-la, admira-la, descobri-la, pois a primeira impressão normalmente comete equívocos. No entanto, uma questão urge: por que insistir em uma cidade que não causou paixão ao invés de dedicar-se a aquelas cujo amor a primeira vista foi enebriante. Insistir em tentar amar Los Angeles (e São Francisco, e Nova York, embora esta última seja mais fácil de nos conquistar) ou amar incondicionalmente Veneza, Paris, Londres, Praga e Barcelona?

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Enquanto penso o avião se aproxima de Chicago. A comissária de bordo avisa:  tempo nublado, 1 grau de temperatura. Mas o trecho entre o aeroporto e o centro foi bem inspirador. Talvez Chicago seja “a” cidade da viagem. Vamos ver… e esperar que o Arcade Fire ajude a nos deslumbrar…

Veja também:
– Diário EUA 2011: https://screamyell.com.br/blog/category/eua-2011/
– Fotos da viagem: Flickr do Marcelo (aqui) e Flickr do Renato (aqui)

Legendas das fotos acima: 1) Um dos símbolos de Hollywood 2) Crianças brincando de esconde-esconde 3) Placas de rua em Beverly Hills 4) O interior do Barney’s Beanary 5) Uma omelete com bacon, chilly, tomate, cebola e brie no Barne’ys 6) Trecho da Calçada da Fama 7) Reprodução de cenário na Universal Studios  8 ) Lance do jogo Dodgers vs Atlanta 9) Paul Simon ao vivo no Pantages Theatre 10) Efeitos especiais na Universal Studios

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