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Category — Causos

Martin Scorsese, eu e a morte

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Foto: Marcos Pacheco

Comecei nesta semana a ler o quarto livro do ano, o que por si só já é um recorde de muitos anos. Ok, estou roubando um bocadinho na conta. Terminei o obrigatório “O Resto é Ruído”, do Alex Ross, em janeiro, mas comecei a ler mesmo em setembro ou outubro, quando voltei a pegar metrô e trem para o trabalho, o que trouxe a leitura de volta ao meu cotidiano (faço parte do grupo de pessoas que não pode ler em ônibus nem carro – enjoo na certa).

O segundo livro foi “A Visita Cruel do Tempo”, romance magnifico de Jennifer Egan. Agradeço imensamente à Ana Carolina, da Intrinseca, por ter me enviado o livro. O Gabriel já tinha recebido um para resenhar para o site (aqui), mas a Ana mandou assim mesmo um para mim. Nas entrelinhas, um “você precisa ler isso”. Obrigado, Ana. Egan me pegou de jeito. No meio da correria não calculei todo o impacto do livro sobre mim, mas foi forte, beeeem forte.

Sobre o terceiro, “Sexo na Lua”, de Ben Mezrich (o mesmo autor de “Bilionários por Acaso”, que originou o filme “A Rede Social”), falo um pouquinho mais em resenha (curta, mas direta) para uma revista (quando sair aviso aqui). E, então, comecei o meu quarto livro de 2012, “Conversas com Scorsese”, do crítico e documentarista Richard Schinkel, edição da Cosac Naify que segue o modelo do ótimo “Conversas com Woody Allen”, de Eric Lax.

Assim como Lax, Schinkel conheceu seu “objeto de estudo” no começo dos anos 70. Eric Lax conheceu Woody em 1971 (e as entrevistas começaram em 1973) enquanto Richard Schinkel convidou um amigo para uma projeção em casa de “Jejum do Amor” (1940), de Howard Hawks (“Uma das melhores de todas as comédias românticas”, grifa o crítico), e esse amigo trouxe Marty. A amizade seguiu, mas as entrevistas do livro começaram a ser feitas apenas em 2004.

“Acredito, de fato, que a coisa mais importante que descobri sobre Marty foi o poder que o passado exerce em seu trabalho”, conta Schinkel no prefácio. “Estou falando, por exemplo, da forma como a violência se apresenta em seus filmes. Ela aparece tão de repente. Raramente existe uma preparação para ela. Ele quer que fiquemos tão chocados – e tão atentos – como ele foi um dia (em Little Italy). É a assinatura gravada de sua sensibilidade”, analisa.

Estou apenas no começo do livro (página 60 de quase 500), mas me impressionou como o medo era um integrante vivo da rotina de Scorsese quando criança, uma criança asmática, o caçula de uma família numerosa que vivia em um apartamento de dois cômodos e meio numa rua do bairro italiano (e mafioso) de Nova York – e que conseguia um pouco de paz apenas dentro de um cinema e da igreja (ele foi coroinha e cogitou ser padre).

Impressionado com a quantidade de vezes que Marty usa a palavra “medo” (ou equivalentes) em 30 páginas (as que tratam de sua infância em Little Italy), comecei a rememorar minha própria infância, olhar para trás para identificar algum sentimento, algo que tenha ficado para trás (análises, ahh, a idade – risos). Não é questão de comparar, apenas uma curiosidade sobre si mesmo, mas óbvio que a minha infância foi bem mais calma que a do cineasta.

Ainda assim me lembrei de algo que tomou boa parte dos meus primeiros anos – não sei ao certo de quando a quando, mas me parece algo entre os quatro até os seis (talvez mais tarde, não sei). Mas durante meses (ou anos) eu deitava na cama e me via… morto. Ok, não me via, mas via o caixão, e sabia que eu estava lá. E sabia que era um eu velhinho, ou seja, não era uma preocupação de “posso dormir e não acordar”, mas sim uma preocupação… futura.

A vida era leve nessa época (pais exigentes e carinhosos, futebol com a molecada na rua, não tenho lá tantas memórias até a primeira série, aos 6 anos, quando a vida realmente “começa”), e não sei de onde esse sonho surgiu, e porque me acompanhou tanto tempo, mas um dia do nada ele foi embora (provavelmente trocado pela paixão pelo futebol, ou por uma das meninas da sala de primeiro ano, ou, claro, por uma das professoras de catecismo – tão óbvio). Dos sonhos estranhos…

Voltando a Scorsese (e 2012), já estou fazendo um planejamento mental de filmes para ver nos próximos dias. Amo o tristíssimo e dolorido “A Época da Inocência” (1993), embora não o veja desde os anos 90. Marty fala muito de “Os Infiltrados” (2006) no começo do livro, e deu vontade de revê-lo, assim como alguns do começo da sua carreira que nunca vi – “Quem Bate à Minha Porta?” (1968), “Caminhos Perigosos” (1973) e “Alice Não Mora Mais Aqui” (1974).

Outro que até tenho na estante e nunca assisti é “O Rei da Comédia” (1983), mas quero mesmo rever “Gangues de Nova York” (2002 – na época gostei tanto que escrevi isso aqui). Revi “Goodfellas” mês passado, e “A Cor do Dinheiro” (1986), “Taxi Driver” (1976) e “Cassino” (1995) estão fresquinhos na memória (revi os três em 2011). Já “A Última Tentação de Cristo” (1988) me venceu duas ou três vezes…

A leitura está rendendo como há tempos não rendia. Mas ainda tenho os dois Jonathan Safran Foer na fila (e a Nicole Krauss também), comprei a coleção “O Tempo e o Vento”, do Érico Verissimo, para reler (um dos meus livros preferidos desde sempre) e ainda tenho “Escuta Só”, do Alex Ross e muitos outros me olhando na estante (Shakespeare e Oscar Wilde pedem atenção e ainda tem os quatro volumes do… Marcel Proust). Devagar e sempre.

Leia também:
– Leia o 1º capítulo de “A Visita Cruel do Tempo”, de Jennifer Egan (aqui)
– “O minimalismo e o rock and roll”, trecho de “O Resto é Ruído” (aqui)
– De Luis Buñuel para Erasmo Carlos (aqui)
– De volta ao mundo de Rob Fleming (aqui)
– Os filmes prediletos de Woody Allen: 15 americanos, 12 europeus (aqui)
– Woody Allen de 0 a 10, por Marcelo Costa (aqui)
– “Quem precisa pensar sobre tamanhas bobagens”, Woody Allen (aqui)

março 20, 2012   No Comments

Os sete brotos da orquídea

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 Não lembro quando eu e Lili ganhamos essa orquídea, mas ela nos acompanha já faz um bom tempo. Quando chegou, num vasinho, estava esplendorosa, com as flores belíssimas – como mando o figurino da floricultura. Achávamos que, após as flores murcharem, ela não teria mais frutos, mas ano a ano ela vem nos surpreendendo.

Ano passado, porém, houve uma pequena tragédia familiar. Estávamos fazendo a mudança para o apartamento novo, mais ou menos nessa mesma época, e ela estava novamente com vários brotos prontos para abrirem em flores. Eu tinha na cabeça que iria levá-la em meu colo, no carro de um amigo, para protegê-la, mas em meio a correria, o pessoal da mudança a trouxe, e quebrou o caule.

Ou seja, em 2010, nossa orquídea não deu flores. Ficamos chateados (tenho uma relação meio paternal com as plantas em casa), e até achamos que ela não daria mais frutos, mas eis que, de três meses para cá, os brotos começaram a aparecer totalizando sete ao final. Um deles não vingou, mas hoje três abriram alegrando o apartamento em meio ao domingo cinza que brinda São Paulo. Das coisas simples da vida…

outubro 16, 2011   No Comments

36 jeitos de ver um mosquito esmagado…

Uma das obras primas de Caco Galhardo. Clique na imagem para ler

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agosto 18, 2011   No Comments

Devidamente diplomado

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Também sou diplomado em Stella Artois, mas no Campeonato de Tirador de Chopp (esse aqui) fiquei em nono lugar (de nove participantes)

julho 20, 2011   No Comments

Histórias do Ultraje a Rigor

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Lembro como se fosse hoje. Outubro de 1985. Um garoto sonhador entrando em uma loja de discos para gastar parte de seu primeiro salário em discos de vinil. O emprego, como aprendiz de escritório, pagava “Hum mil e trezentos cruzados” (está na carteira de trabalho), e entre outras coisas serviu para comprar cinco discos, entre eles, “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, do Ultraje a Rigor.

Corta para 2002. A primeira edição da revista Zero está sendo burilada, e uma seção da revista atende pelo nome de Fundamental, nada mais do que a versão da Zero para a Discoteca Básica da Bizz. Para fugir do óbvio escalando um disco dos Beatles ou dos Stones para figurar no número 1 da revista, a saída é a seguinte: qual disco de rock nacional simboliza para o brasileiro o que um disco dos Beatles significa para um inglês? O escolhido foi… “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, texto assinado por mim.

Outro corte, agora 2011. Recebo um convite para mediar um bate papo com a presença da autora da biografia do Ultraje, Andréa Ascenção, e alguns integrantes da banda, que marca o lançamento do livro “Nós Vamos Invadir Sua Praia”. O exemplar do livro chega em minhas mãos meio em cima da hora, mas a leitura (leve e gostosa) revela um excelente trabalho de pesquisa e entrevistas com diversas curiosidades que pegaram de surpresa até alguns integrantes da própria banda.

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A mesa é composta apenas por mim, Andréa, Roger e Marcos Kleine, o atual guitarrista da banda, mas antes mesmo de começar o ex-baterista Leospa é convocado para o papo. Durante a conversa ainda chegam Osvaldinho e Bacalhau. São mais de uma hora de histórias divertidas, curiosidades e muitas, mas muitas risadas. O áudio não está lá aquela maravilha, mas quem quiser saber como foi o papo (boa sorte) pode baixar o arquivo aqui. O livro, via Editora Belas Letras, já está nas lojas.

O saldo foi positivo – acredito. Gostei de como conduzi a conversa, de como toda coisa fluiu de forma divertida, e o que faltou ser dito (95%) está no livro. O papo, no entanto, me levou para um tempo em que tudo parecia… especial. Viver o rock nacional nos anos 80 em meio a uma abertura política foi importante para toda aquela geração. Foi importante para mim. E o Ultraje foi uma das bandas que melhor soube explorar esse viés histórico de forma humorada e anárquica.

Conduzir um papo com eles talvez seja uma forma de agradecer e/ou retribuir um monte de coisas. Muitas vezes esquecemos que somos frutos do meio em que vivemos, influenciados não só pela genética, mas também pelos amigos, pelos professores, pelas situações do dia a dia, e pela cultura, seja um livro ou, nos anos 80 especialmente, o rock nacional. Lembro como se fosse hoje. Outubro de 1985. O Marcelo Costa dos anos seguintes começou a nascer ali…

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Ps. Obrigado Ana, pelo convite, e parabéns Andréa pelo livro. Um grande abraço ao Ultraje.

maio 20, 2011   No Comments

Dia da Poesia

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Há uma caixa em algum lugar no “armário da bagunça” com mais ou menos três mil páginas datilografadas (em máquina de escrever) de poesias que escrevi entre os 13 e os 30 anos. Era pra ser mais. Aos 15 perdi um caderno que continha umas duzentas tentativas de poemas. Foi – felizmente. Naquele início, meus textos eram inocentemente piegas. Terríveis. Coro só de lembrar.

Não que os textos da caixa do “armário da bagunça” sejam lá relevantes, mas gosto de olhar o desenvolvimento da escrita e do pensamento. São todos poemas numerados, e os primeiros, terrivelmente ruins, só persistiram durante tanto tempo para servir de contraponto de amadurecimento (pessoal e literário) com alguns poemas ali pelo meio que, humildemente, ficaram razoavelmente bons.

Enviei alguns poucos para concursos (animado por leituras de Rainer Maria Rilke), e um deles ficou entre os dez finalistas de um em Ubatuba. É uma das noites inesquecíveis da minha vida. Era uma igreja antiga na orla da cidade, e todos os poemas estavam expostos para um bom público que comentava entre si. Li todos, e até achei que eu tivesse chance (e eu devia realmente ter – meu poema era bom).

Cada finalista deveria ler (ou indicar alguém) seu poema. Lembro que fiz uma encenaçãozinha para valorizar muito da ironia que aqueles versos continham, mas fui atropelado por uma senhora, uns 60 anos, que leu seu poema (que na parede parecia tão sem graça) de maneira tão desoladora que foi impossível não chorar. No entanto, o vencedor foi um português, que por algum motivo estava preso, e foi defender seu poema acompanhado de alguns policiais.

Não lembro palavras de seu poema, mas ele falava sobre as saudades que ele sentia de sua terra natal. Nunca vou esquecer que ele começou sua declamação assoviando o hino português. Naquela igreja, naquele silêncio, não precisou muito para fazer quase todo mundo chorar. Ele ganhou o primeiro prêmio. Eu fiquei em quinto (acho). Dormi na praia admirando o mar e o barulho das ondas.

Outra lembrança boa. Numa Semana da Comunicação, na Universidade de Taubaté, decidimos montar uma sala com varais de poesia, e quem quisesse poderia colocar textos seus ali. Para incentivar, eu e mais alguns estendemos poemas aqui e ali. Haviam cartolinas em branco presas pela sala, caso alguém quisesse deixar algum recado. Numa delas alguém que assinava apenas com as iniciais dizia que tinha “roubado” um poema meu do varal, porque… precisava dele. Tenho a cartolina em algum lugar…

Última. 1999 ou 2000 (a foto que abre o post). Mostra de Cultura Independente, em São Paulo, um evento grande que movimentou a Funarte. O pessoal do Cardosonline estava por aqui. O Thee Butchers’ Orchestra fez um show fodaço no teatro. Eu – ao lado da Alessandra (uma amiga com quem troquei poesias durante muuuito tempo) e do Davi (que, se não me falha a memória, estava dividido entre tocar violão e um copo) – declamei uma seleção de poemas meus intercalados com alguns da Ale e outros escolhidos a dedo (com “Atmosphere”, do Joy Division).

Para o trecho final, separei um cavalo de batalha que eu já tinha usado em um trabalho da faculdade: “Os Provérbios do Inferno”, de William Blake. Um amigo, Cezar Zanin, estava filmando, e ao final da declamação, quando ele veio me cumprimentar, seu filho pequeno, assustado e cabisbaixo, dizia ao pai: “Ele mata criancinhas” (em alusão ao verso de Blake que diz: “Melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos insatisfeitos”). Rimos e o acalmamos, mas ele ficou olhando suspeito para mim toda a tarde.

Não lembro ao certo qual foi a última vez que escrevi uma poesia. Deve fazer uns oito ou dez anos, e alguns textos sobre discos e filmes até se aproximaram de um verniz poético. Da mesma forma, parei de ler poesia. Amo Ana Cristina Cesar, os primeiros anos de Vinicius, Guilherme de Almeida, vários sonetos de Shakespeare, Rainer Maria Rilke, Drummond, Blake e Maiakovski. Tenho um Borges que comprei uns seis anos atrás, e nunca li. E tentei Gabriel García Márquez, mas faltava algo. Talvez sangue. Sei lá.

De qualquer forma, não me vejo escrevendo poesia hoje em dia. Talvez, um dia, quem sabe, eu invista minha loucura em um romance, mas é impossível garantir qualquer coisa sobre esse propósito. No entanto, vez em quando, volto aos meus poemas antigos, e eles me consolam. Há dias em que os odeio ferozmente. Detesto as citações, as rimas, tudo. Em outros aceito grande parte deles com carinho (e respeito por seus – e meus – prováveis defeitos). É quase certo que, um dia, eu faça um ritual e coloque fogo em cada página (acalanto esta idéia desde os 15 anos).

Por enquanto, meus mais terríveis escritos permanecem escondidos na caixa no armário aguardando o juízo final. Alguns sortudos – menos piores – foram publicados aqui. Outros circularam por diversos fanzines (não lembro quais e muitos vezes me surpreendo quando esbarro sem querer em um). E um deles virou música. Essa aqui. Indiferente aos seus destinos, todos eles tiveram uma função bastante importante em minha história: mantiveram-me vivo.

Um bom motivo para brindar ao Dia da Poesia.

E para ler Manoel de Barros… afinal… “por pudor sou impuro

março 14, 2011   No Comments

Sobre a dor e a sofisticação

“Em minha aldeia, onde nasci em 22 de fevereiro de 1900, pode-se dizer que a Idade Média se estendeu até a Primeira Guerra Mundial. (…) Tive a sorte de passar minha infância na Idade Média, época ‘dolorosa e sofisticada’, como escreveu Huysmans. Dolorosa em sua vida material. Sofisticada em sua vida espiritual. Justamente o contrário de hoje”

Luis Buñuel

fevereiro 10, 2011   No Comments

Adeus ano velho, Feliz ano novo

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2010 se foi. Ainda bem. Não que o ano tenha sido ruim, muito pelo contrário. 2010 foi o ano em que o Scream & Yell foi mais comentado, falado e repercutido, e, por isso, o ano em que mais acumulei trabalho. Chegou uma hora em que eu não mais sabia se era noite, dia, se estava ouvindo um disco novo ou antigo, se estava escrevendo para uma revista, fazendo pauta para o podcast, editando textos para o site ou me preparando para as oito horas de trabalho no iG. Ou indo a shows.

Comecei 2010 trabalhando, discotecando na casa de um amigo na virada do ano e depois na Funhouse, e foi bom demais tocar “Milez iz Ded”, “Be My Baby” e “Smells Like a Teen Spirit” em alto volume no segundo dia do ano. Será que começar o ano trabalhando me fez trabalhar mais? (risos). Na seqüência vieram a segunda revisão do “Pequeno Livro do Rock”, da Conrad (esse), resenhas para a Rolling Stone e para a Billboard além dos primeiros rascunhos da terceira tour europeia.

Antes, porém, começou a saga da procura do novo ap, algo que tomou praticamente boa parte do tempo livre no primeiro semestre (e muita da paciência – rolou até vontade de processar a imobiliária). O drama que começou em fevereiro só se resolveu no começo de agosto, com uma nova casa, novos andares para a estante de CDs, um pouco de gastrite e muita dor nas costas (como disse um cara uma vez, ao pegar uma caixa de livros da minha mudança: “Cultura pesa”).

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No fim de fevereiro começamos a publicar os grandes entrevistões (o bate papo com Wado em casa em novembro de 2009 foi o start). Primeiro vieram Heitor (Banda Gentileza) e Nevilton (leia aqui), que nos ajudaram a consumir 10 litros de cerveja enquanto discutíamos o novo cenário da música brasileira. Depois Romulo Fróes, em uma entrevista antológica resultado de uma noite regada a muita Leffe (leia aqui). Stela Campos e Lulina dividiram copos de cerveja tcheca conosco (leia aqui) enquanto o amigo Helio Flanders abriu o coração em um papo honestíssimo (leia aqui).

Os entrevistões surgiram da necessidade de abrir um espaço sério para discutir a música brasileira pelo olhar de uma geração que está no underground, mas devia (merecia) estar no mainstream. O método não é nada novo, mas é o mais próximo que chegamos de transformar uma entrevista em uma conversa de bar – com alguma ordem… e algumas cervejas. O repercussão foi excelente (chegou – sem crédito – até na Folha após publicarmos uma carta aberta de João Parayba, que rendeu e continua rendendo – essa), mas ainda é preciso discutir muito para entender as possibilidades que os anos 10 trazem para a nossa música. Pretendemos continuar o processo, mas isso é futuro, e aqui estamos resumindo o passado.

Em março começamos a produzir as festas Scream & Yell, na Casa Dissenso, dos amigos Erick e Muriel. Durante o ano rolaram shows de Charme Chulo, Cérebro Eletrônico, Romulo Fróes, Superguidis (em parceria com os amigos do Urbanaque) e Terminal Guadalupe lá, cinco bandas que respeitamos e admiramos muito – e fizeram grandes shows recheados de momentos inesquecíveis (meu preferido foi esse). Em março, ainda, comecei a escrever uma coluna mensal para a revista Noize, e concedi uma de minhas melhores entrevistas para a o Vinicius Bracin (leia aqui).


O grande evento pessoal do ano começou no dia 14 de maio: eu e Lili partimos para trinta dias na Europa, começando por Budapeste e seguindo por Viena, Bratislava, Praga, Barcelona, Roma, Atenas, Santorini, Istambul, Londres e Ilha de Wight. Difícil resumir tudo em um parágrafo, mas vou arriscar um top 3: Wilco no teatro Parco Dela Musica, em Roma (aqui). O barzinho em Ôia, Santorini, com uma janela com a melhor vista de todos os tempos (aqui). A final do mundial de hóquei no gelo (que a República Tcheca levou) na praça central de Praga (aqui). A viagem toda está contada aqui. Eu me divirto relendo.

Em julho foi a vez de anunciarmos a união do sites Scream & Yell, Urbanaque, Move That Jukebox! e Agência Alavanca sob o nome Confraria Pop. O projeto – que esperamos que cresça muito em 2011 – produziu noites encantadoras na Livraria da Esquina com shows de Apanhador Só, Nevilton, Rosie and Me, Do Amor, Banda Gentileza, Lestics, Jair Naves, Pélico e Rafael Castro. Bom demais estar cercado por pessoas especiais.

Também em julho começamos a gravar o Scream & Yell On The Radio, na Rádio Levis, sob auxílio do grande Edu Parez (@eduparez). O programa semanal foi ao ar (e continuará indo em 2011) todas as sextas a partir das 15h no http://radiolevis.com.br/ e você pode fazer o download de todos os 20 programas que gravamos em 2010 aqui ou aqui. No começo éramos eu e Tiago Agostini (@tiagoagostini), mas com o tempo fechamos a equipe com Marco Tomazzoni (@marcot_) e Tiago Trigo (@ttrigo). Na segunda quinzena de janeiro começamos a temporada 2011. Aguarde.

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No segundo semestre aconteceram várias coisas “estranhas” (risos), mas excepcionalmente legais. Levei Robert Crumb para comprar vinis em São Paulo (e talvez este aqui seja o meu provável texto preferido do ano), fui entrevistado pelo eterno Ultraje a Rigor Roger Rocha Moreira (aqui), joguei bola no Canindé com Rai (aqui) e tive a honra de dividir uma importantíssima mesa de debate com Jan Fjeld, do UOL, e Alex Needham, do Guardian, em um ciclo de palestras no Itaú Cultural (aqui).

O Scream & Yell completou dez anos em novembro, assinou parceria de conteúdo com a MTV e participou de diversas ações de publicidade, divulgação e coberturas de shows e eventos (Festival SWU, Feira Música Brasil e Planeta Terra em destaque – aqui, aqui e aqui). O perfil @screamyell no Twitter integrou listas bacanas de perfis essenciais (leia mais aqui) como a da revista Superinteressante (@revistasuper), da revista Vip (@revistavip)e da revista Bula (@revistabula).

Agora junta tudo isso: escrever e editar o Scream, editar e gravar podcasts, produzir as festas Scream & Yell, participar da festas e reuniões da Confraria Pop, escrever as colunas pra Noize, planejar e fazer uma viagem de 30 dias, uma mudança de apartamento, discotecagens aqui, cervejas acolá, shows e oito horas de trabalho diário (incluindo plantões). Tenho lá um pouco razão de estar cansado vai, mas estou imensamente feliz de ter chegado ao fim de 2010 tendo feito tudo isso ao mesmo tempo agora. Não tenho mais o pique que eu tinha aos 20 anos, mas tenho me esforçado bastante para fazer o que o meu coração acredita ser o certo.

2010 se foi. Ainda temos o especial de melhores do ano, que entra no ar na metade do mês, mas já respiramos 2011. Há muito o que fazer, e muitas ideias novas e parcerias legais estão surgindo. Espero, sinceramente, que 2011 seja tão cansativo quanto 2010, desde que seja tão produtivo quanto. O ano que começa, mais uma vez, parece o último ano do resto de nossas vidas. Desistir nunca foi uma opção. Não temos escolha. Mas vou tentar, ao menos, me organizar melhor. Chega uma hora (na vida e no futebol) que já não conseguimos (e nem precisamos) ir atrás de todas as bolas, mas ainda assim participamos das principais jogadas da partida. Acho que essa hora chegou. A palavra agora é foco. E, ainda, sonhar. Se não estivesse sonhando eu não estaria aqui.

Um 2011 especialíssimo para todos nós.

janeiro 2, 2011   No Comments

Roger and me

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Umas semanas atrás me chamaram para bater papo com o Roger sobre música e tal. Alguns stills do vídeo em que eu e Roger trocamos de função: ele foi o jornalista, eu o entrevistado. Cool (hehe).

agosto 16, 2010   No Comments

Novo ap, SWU, BRMC e Rodrigo Lemos

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Vazou o disco do Arcade Fire (que é bem bom), Rodrigo Lemos (ex-Poléxia) colocou seu primeiro EP solo para download, Mano Menezes foi para a seleção, BRMC fez um cover de um cover do Pogues, Roger Rocha Moreira me entrevistou, tomei uma baita porre de cervejas gringas na sexta-feira e eu e Lili finalmente assinamos o contrato do nosso novo apartamento (aos 45 minutos do segundo tempo).

Do fim para o começo: saímos da Bela Cintra para subir uns setecentos metrôs para morar na Fernando de Albuquerque, quase na esquina da Bela Cintra. Esse apartamento sempre foi uma de nossas primeiras opções por estar reformado, ser grande e bem, localizado. O dono é um economista argentino que pareceu ser bem gente boa.

Temos que entregar esse apartamento no próximo fim de semana, ou seja, temos cinco dias para encaixar coisas. Já assinamos a papelada, mas devemos pegar às chaves na próxima quarta, mais tarde quinta-feira. Na sexta já pedi folga para acelerar o processo de desmontagem das coisas no velho ap, e lá vamos nós: apartamento novo, vida nova.

A semana promete ser corrida. Tem uma pauta boa pela frente, programa da rádio Levis a ser gravado na segunda-feira, caixas a serem fechadas para mudança e o provável anúncio do próximo passo do Scream & Yell. E no próximo fim de semana ainda vai rolar discotecagem no lançamento do novo clipe do Charme Chulo (veja o flyer e coloca na agenda). Haja pique.

O lance do Roger foi bem divertido. Ele me entrevistou pruma parada ae sobre o espírito do rock and roll, e 20 anos atrás eu nunca poderia ter imaginado isso acontecer. Tirando o fato dele me sarrear dizendo que sou uma mistura do Leoni com o João Barone, o papo fluiu bem e assim que tiver algo coloco por aqui.

Outras idéias minhas foram publicadas no ótimo Rock’n’Beats, numa pauta sobre sustentatibilidade e o polêmico SWU Festival (leia aqui). Tenho uma série de reservas ao festival até o momento. Acho que o planejamento foi feito de forma errada (isso se existiu planejamento) e o line-up apresentado até agora mostra que o festival está atirando para todos os lados. Mas ainda vale dar um voto de confiança. Vamos ver onde isso vai dar.

O BRMC decidiu regravar em estúdio o clássico “Dirty Old Town”, canção de 1949 que ganhou uma versão poderosa dos Pogues, em 1985, produzida por Elvis Costello. Eles tocaram essa versão no show que vi deles em Viena, dois meses atrás, e aqui ela aparece em versão despojada em comemoração dos 50 anos das botas Dr. Martens. Você pode assistir ao clipe e baixar a canção em MP3 de graça aqui. O projeto da Dr. Martens ainda terá o Raveonettes regravando “I Wanna Be Adored”, do Stone Roses. Tudo aqui.

Quem também está voltando com material novo é Rodrigo Lemos, ex-Poléxia, que libera seu primeiro EP solo de forma gratuita. “Lemos, EP” traz cinco faixas (gostei de “Alice” e “Menina Laranja”) com participações de Alexandre Rogoski (Baque Solto), Diego Perin (Banda Gentileza) e Vinícius Nisi, Luís Bourscheidt e Thiago Chave, os três da Banda Mais Bonita da Cidade. Você pode baixar o EP aqui e ler uma entrevista com o Lemos aqui.

Por fim, ainda quero ouvir um pouco mais “The Suburbs”, o novo e intenso disco do Arcade Fire, que vazou na sexta-feira. Os caras já lançaram dois discos matadores (falei do “Funeral” aqui e do “Neon Bible” aqui) e fazia muito, mas muito tempo, que uma banda não chacoalhava o cenário pop deixando todo mundo na expectativa. Se diz algo, a primeira audição de “We Used To Wait” causou arrepios. Fodona, massssss… aguarde.

julho 25, 2010   No Comments