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Mostra SP: “Segurando as Pontas”

“Segurando as Pontas”, de David Gordon Green – Cotação 3/5

Dale Denton é um funcionário do governo encarregado de entregar intimações. Não só. Denton também é maconheiro e namora uma das garotas mais bonitas da escola (embora seja bem mais velho e já tenha saído da escola). Em uma de suas visitas ao seu fornecedor de marijuana, Saul (James Franco), Denton sai da casa do traficante com um pacote da excelente Pineapple Express, fumo de altíssima qualidade que só Saul tem na cidade.

Porém, a sorte não está do lado dos nossos amigos chapados. Denton vai entregar uma intimação para um dos chefes do tráfico na cidade, e acaba presenciando um assassinato. Ao sair da cena do crime, deixa uma ponta do baseado para trás, o que basta para o chefão descobrir que aquele baseado é nada mais nada menos do que Pineapple Express. Dai pra frente, o óbvio. Os traficantes partem atrás de Denton e Saul que numa fuga tresloucada causam confusão atrás de confusão.

“Segurando as Pontas” é mais uma comédia da grife Judd Apatow (“O Virgem de 40 Anos”, “Superbad”) e é impossível sair mal-humorado da sala de cinema. Beirando o cinema pastelão, “Segurando as Pontas” cria situações cômicas e surreais que fazem o espectador rir desesperadamente. O carisma da dupla Seth Rogen e James Franco brilha em um filme que se faz de idiota, mas levanta bandeira contra o uso de drogas culpando-a por todas as bobagens acontecidas na tela.

O filme estreou bem nos EUA, e apesar de toda maconha queimada na tela até a última ponta sugere carolice e valoriza a amizade de uma forma tão sutil que até espanta a manada de elefantes que passa pela tela a todo o momento arrancando gargalhadas do público. Há méritos no jovem cinema pipoca de Judd Apatow, que se sai bem ao enfrentar as armadilhas do tema permitindo a comparação ilícita: como filme, “Segurando as Pontas” faz você rir sem parar. Só não vicie!

Foto: Divulgação

outubro 26, 2008   No Comments

Tim Festival: Gogol Bordello, National e MGMT


Foto: Divulgação / Tim Festival

Na quarta noite do Tim Festival em São Paulo (sexta, 24), a Arena montada no Parque do Ibirapuera recebeu DJs para o palco Tim Festa. E foi mais ou menos isso que aconteceu em duas das apresentações. O norte-americano Dan Deacon chegou quebrando tudo e colocando todo o som do palco no último volume. Ouvidos foram desvirginados nas três primeiras músicas com o som alcançando decibéis mais altos dos que os que o My Bloody Valentine vem executando em sua recente turnê.

Como apenas barulho não basta para garantir uma boa apresentação, Dan Deacon abaixou o som, desceu para a pista e ali, no meio da galera, montou uma quadrilha eletrônica que alternava momentos que lembravam tanto Four Tet quanto Nine Inch Nails enquanto os presentes faziam brincadeiras, um perfeito aquecimento para o que viria a seguir. O punk cigano de Gogol Bordello foi recebido com histeria – merecidissima – pela platéia paulistana.

Liderados pelo vocalista e ator Eugene Hutz (foto), o grupo promoveu um baile punk com dançarinas vestidas com top do Santos Futebol Clube, guitarras metalizadas, bateria hardcore, acordeon, violino e muito vinho. O som parece uma porrada de carros entre o pessoal do Pogues com a turma de Henry Rollins. Em vários momentos é possível reconhecer passagens do Clash, mas a grande referência é o Mano Negra, que por sinal foi homenageado na última canção do show, “Mala Vida”, simplesmente sensacional. Um dos shows do ano.

  

Fotos: S&Y/Marcelo Costa (http://www.flickr.com/photos/maccosta/)

No sábado de manhã, a provável última oportunidade para ver a lenda Sonny Rollins ao vivo no Brasil. Após o elogiado desempenho no Auditório do Ibirapuera, na terça-feira, um dos últimos remanescentes da época de ouro do jazz retornou ao local, mas desta vez para se apresentar virado para o parque, ao ar livre. Um sol forte castigava a pele paulistana enquanto meninas tentavam pegar um bronzeado de biquíni e homens buscavam cerveja. O show foi arrebatador, mas a constante movimentação do público e as conversas paralelas atrapalharam a audição, principalmente em números mais lentos.

  

Fotos: S&Y/Liliane Callegari (http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/)

À noite, encerramento da edição paulista. Comandados por Matt Berninger, o National fez uma apresentação absolutamente perfeita na Arena. O show foi um repeteco das apresentações que vi no Rock Werchter 2008 e no FIB, com a vantagem de que no Brasil o grupo se apresentou à noite, e não no meio de uma tarde européia com sol a pino e tenda abafada. O som atmosférico, às vezes gélido e quase sempre épico, do grupo de Nova York pede a escuridão como complemento como se precisasse dela para dançar apaixonado entre sorrisos e lágrimas.

Não à toa, Matt trava durante todo o show um duelo contra o microfone. Ele agarra o objeto de uma forma que lembra muito Beth Gibbons, do Portishead, e solta sua voz forte que corta a atmosfera como se fosse um machado. Há resquícios de Joy Division, Leonard Cohen e Nick Cave, mas o parente mais próximo é a elegância do Tindersticks. O repertório alterna grandes momentos dos dois últimos álbuns como “Start a War” e os quase hinos “Secret Meeting”, “Baby, We’ll Be Fine”, “Squalor Victoria”, “Mistaken for Strangers”, “Apartment Story”, “Fake Empire” e “Mr. November”.

Para o final da apresentação, valorizando o duo de metais que deu um colorido especial ao show, um presente para o público paulista (e brasileiro) que não foi dado aos belgas e espanhóis: “About Today”, do raro EP “Cherry Tree”, em versão jam session dedicada a um fã brasileiro. Extremamente soltos no palco, os músicos levaram a canção ao ápice instrumental para estilhaçá-la em barulho na frente de todos. Após entregar a garrafa de vinho que bebia (e set list, e autógrafos, e toalhas) para uma fã na frente do palco, Matt deixou o local aclamado pela audiência. Show inesquecível.

Foto: S&Y/Liliane Callegari (http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/)

O mesmo não pode ser dito do MGMT. Ao vivo, a veia eletrônica da dupla Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden foi trocada por psicodelia progressiva setentista em formato banda (acompanhados por James Richardson na guitarra, Matthew Asti no baixo e Will Berman na bateria). Longos solos de guitarra marcaram a apresentação, que poderia ter feito bonito no Monterey Festival 67. O timbre vocal de Ben Goldwasser lembra em alguns momentos o de Geddy Lee, do Rush, enquanto a tecladeira emulava ícones prog numa mistura estranha e cansativa.

Metade do público vibrava enquanto a outra bocejava. Nem o cirquinho armado no começo do show – que culminou no julgamento e enforcamento de três bichinhos de pelúcia – serviu para aproximar o quinteto do público. O cenário mudou radicalmente nas duas últimas canções, os hits “Time To Pretend” (tocado com banda, mas de forma econômica e muito parecida com a original) e “Kids” (sem banda, com playback instrumental, programação e um solo metaleiro no final). Serviu para mostrar que a banda poderia ter feito um bom show, mas não fez.

Amargando o descaso do público, que aumentou nesta última noite, mas faltou nas anteriores, o Tim 2008 mostra que preços altos e artistas pouco conhecidos não garantem um festival. Mais: bons shows como os de Klaxons, Gogol e National mereciam um público maior, mas após três anos de desorganização em São Paulo, a grife Tim viu o público abandonar o evento. Pena. A produção melhorou: a tenda montada no Ibirapuera funcionou (embora na última noite, com um público maior, houvesse filas imensas no banheiro) e o som estava ok. Resta à produção manter os acertos de 2008 e repensar a proposta para 2009 para voltar a ser o melhor festival do país. O público agradece.

Leia também:

– Tim 2008: Punk rave do Klaxon vs tristeza de Marcelo Camelo (aqui)
– Tim 2008: Kanye West faz “showzinho” (aqui)
– Tim 2007: Björk brilha no fraco Tim Festival SP 2007 (aqui)
– Tim 2006: Patti Smith, Devendra, Yeah Yeah Yeahs (aqui)
– Tim 2006: Beastie Boys são aclamados no Tim Curitiba (aqui)
– Tim 2005: Strokes, Costello e Television (Weezer e Mercury Rev) (aqui)
– Tim 2004: Libertines e Brian Wilson (PJ Harvey e Morrissey) (aqui)
– Tim 2003: White Stripes, Los Hermanos e Beth Gibbons (aqui)

outubro 26, 2008   No Comments