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Category — EUA 2011

Coachella, Day 3

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“Hoje é o dia mais quente do ano em Palm Springs”, avisa David, o “nosso” taxista. A temperatura bateu perto dos 40 graus na hora do almoço do domingo, o que previa um dia enlouquecedor no meio do deserto, mas até que a sensação de calor no último dia do Coachella não foi maior do que a do sábado, quando o festival (e as tendas, e a grama, e qualquer beirada de sombra) pegou fogo e derrubou muitos incautos.

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Ao contrário da programação do sábado, lotada de coisas legais para serem vistas na mesma hora, o domingo parecia um cassino de apostas: o negócio era colar em alguma tenda buscando um nome desconhecido e correr o risco de ver um grande show. Mas isso é só para quem tem fôlego e joelhos para andar debaixo do sol de 40 graus. Na dúvida, fomos no garantido. Nada de inovar no último dia do festival.

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Chegamos ao festival exatamente na hora que começava o show de Angus and Julia Stone, na tenda Gobi. O disco deles tem me acompanhado nos últimos meses, e até comprei o CD na Amoeba, mas o show (hippie e docinho demais) não combina com o deserto (assim como Joy Division não combina com churrasco). Tudo quente demais e Julia desfilando sua vozinha encantadora para uma tenda disputada pela sombra, não pelo show. Esqueço o show e vou continuar com o CD…

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Um pequeno buraco na agenda (@renato_moikano se animou pra ver o Jimmy Eat World, e voltou decepcionado) e da-lhe Newcastle Brown Ale no copo. O festival recomeçou para nós quando o duo (baixo e bateria) Death From Above 1979 fez um estardalhaço no palco principal em um dos melhores shows do dia. A dupla canadense, que encerrou as atividades em 2006, quebrou um silêncio de cinco anos com um show poderoso. Tomara que se animem e continuem tocando juntos.

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O Duran Duran veio na sequencia, e não conseguiu seduzir a plateia. E olha que eles começaram pegando pesado com os hits “Planet Earth” e “Hungry Like The Wolf”, emendaram uma nova e sacaram da cartola o hino “Notorius”, mas nem Ana Matronic, do Scissor Sisters, que subiu ao palco para um dueto em “Safe (In The Heat Of The Moment)”, conseguiu conquistar a audiência. A baladinha “Ordinary World” foi a deixa para troca-los pelo National, que tocava no mesmo horário no palco Outdoor.

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Não poderia ter sido melhor. Chegamos exatamente nos três números finais em que as incendiárias “Fake Empire”, “Mr. November” e “Terrible Love” deixaram todo mundo rouco de tanto gritar. Pouco importa o que veio antes das três. O trio final matou a pau e valeu a caminhada. Dava até para voltar e pegar mais umas duas do Duran Duran, mas preferimos guardar energia para a grande atração rock and roll da noite, os Strokes, que atrasaram 10 minutos para começar o show (e tiveram que cortar três canções novas do set list – depois dizem que Deus não existe).

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Se você não tem arranjos complexos, canções densas e nem balões que mudam de cor, o que fazer para tentar tirar o troféu de melhor show do festival das mãos do Arcade Fire? Fácil: toque alto, muito alto. Foi o que a turma de Julian Casablancas pensou e decidiu fazer, e se não conseguiram arranhar o brilho do show do grupo de Win Butler (que fez história na noite de sábado), ao menos fizeram um baita show de rock com riffs de guitarra passando navalhadas no ar.

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Exibindo hits (“Hard To Explain”, “New York City Cops”, “The Modern Age”, “Juicebox”, “Reptilia”, “Last Nite”, “Take It Or Leave It” e “Under Cover of Darkness”, muito aplaudida), o grupo foi salvo pelo atraso, pois o público iria dormir se eles tocassem as canções novas cortadas do set list (“Games”, que rolou, foi bocejante, mas “You’re So Right” até que soou melhor). Casablancas alfinetou a produção, reclamando por estar “esquentando” a noite para Kanye West, posou de junkie de butique (como sempre faz), mas cantou muito em um típico show de banda de garagem, sem muita vibração, mas com boas canções tocadas no volume máximo. Um bom show nota 7 (um show nota 10 deles é tão difícil quanto ganhar na megasena).

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O som do show dos Strokes estava tão alto que PJ Harvey precisou retardar sua entrada no palco ao lado para que seu público pudesse ouvi-la. Enquanto os Strokes tocavam a última, PJ disparava “Let England Shake” na auto-harpa. Mais falante do que no show de São Francisco, Polly Jean alternou canções novas com velhos hits em um belíssimo show que, como pedia um cartaz no meio do público, deveria ser o principal da noite. Ainda tinha Kanye West (que, descobrimos no hotel, tocou 26 músicas), mas a necessidade de arrumar malas e se preparar para Los Angeles se fez urgente. Ou seja, foi isso: trocamos uma mala por outra.

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O saldo final do Coachella foi extremamente positivo: um show inesquecível (Arcade Fire), várias apresentações de responsa (Flogging Molly, Death From Above 1979, Cold War Kids, Tame Impala, Suede, Kills, New Pornographers, National, Strokes, Black Keys, Big Audio Dynamite) e a certeza de que é possível fazer um festival para 100 mil pessoas mantendo qualidade de serviço, de som e de estrutura. A organização do festival está de parabéns (só não precisava colocar o Kanye para fechar o festival, mas zuzu bem), e Coachella 2012 está logo ali. Prepare-se.

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Top Ten Shows
1) Arcade Fire
2) Death From Above 1979
3) Flogging Molly
4) Suede
5) PJ Harvey
6) Cold War Kids
7) Big Audio Dynamite
8 ) Strokes
9) The Kills
10) Tame Impala

Leia também: Coachella Day 1 (aqui) e Day 2 (aqui)

abril 18, 2011   No Comments

Coachella, Day 2

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Os joelhos pediram as contas, mas tem como aceitar a demissão no meio de um festival como o Coachella? Não, e se o drama faz parte, bora comer pizza, beber limonada e camelar muito entre um palco e outro. Se no primeiro dia tudo tinha dado certo para nós, o segundo começou enrolado: @renato_moikano foi barrado por causa da lente de sua máquina (uma 75/300, profissional), e o imbróglio nos causou a perda dos shows do Foals e do Gogol Bordello.

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Para situar as coisas: qualquer grande festival, Coachella incluso, aceita a entrada de câmeras não profissionais (e até semi-profissionais, como a minha), dessas que não trocam lente, mas câmeras profissionais apenas credenciados como imprensa. Renato precisou de muita esperteza e sorte, e o primeiro show do dia, pela confusão e pelo calor absurdo, acabou sendo o do Delta Spirit, por engano: a ideia era ver The Radio Dept., mas colamos no palco errado… e ficamos. E valeu, pois o show – sem novidades – foi bem bom.

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Perdi também Jenny (Lewis) and Johnny (Rice), pois só descobri depois, na loja do Record Store Day, que Jenny and Johnny eram eles. Coisas que só o calor faz por você. O primeiro grande momento do dia aconteceu no palco Outdooor, com o The New Pornographers (Neko Case de um lado do palco; Kathryn Calder do outro <3) fazendo aquele bom show característico da banda. No palco principal, o Broken Social Scene repetia (com a mesma intensidade e despojamento) o belo show que vimos na quarta anterior, em São Francisco.

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Ainda rolou ver duas músicas do Elbow, e desistir do show (arrastado), e se decepcionar com o Bright Eyes, que começou bem, mas fez todo mundo dormir no palco principal ao entardecer do deserto. Tudo bem: o Kills estava ali do lado para acordar e colocar em transe a audiência. Alison Mosshart é a dama que consegue transformar em sensual o simples ato de arrumar a altura do pedestal do microfone. Jamie Hince comanda a festa com guitarradas e bateria eletrônica. O show teve por base o bom disco novo, e contou com um trio de backings destilando o melhor da voz negra. Bonito.

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No palco principal, o Mumford and Sons colhia os frutos do enorme sucesso com um show capenga, que ameaçava pegar fogo, mas ficava só na ameaça. Não aprenda com eles: como preencher 50 minutos de apresentação se você só tem um disco de 35 minutos? Entrando atrasado, fazendo longas pausas e tocando música nova. O público, no entanto, aprovou. Dali o destino foi Big Audio Dynamite, afinal não é todo dia que você pode ver um ex-integrante do Clash em atividade.

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E Mick Jones não decepcionou. O som saia potente das caixas enquanto nos intervalos Mick Jones disparava pérolas de ironia britânica: “Eu era um Mumford and Sons 25 anos atrás”, mandou logo na primeira pausa. Depois, ao tirar o paletó, sarreou: “Posso usar um ‘casual day’, né. Afinal nós estamos no meio do deserto e vocês estão de biquíni e sunga”. O pequeno público (o que acontece: a molecada andou faltando nas aulas de história do rock?) dançou e cantou muito. Sai do show direto pra lojinha de CDs comprar a reedição de luxo do primeiro disco deles. Diz muito.

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O dia já estava bem bacana, mas eis que surge Brett Anderson e compania para fazer um show explosivo na tenda Mojave. Nada de blá blá blá: um hit colado no outro e tocado com furia para deixar todo mundo sem voz até o final sensacional com “Beautiful Ones” (lágrimas escorriam em vários rostos). O show estava tão hipnotizante que não teve como sair antes do fim, o que custou duas músicas do Arcade Fire (“Month of May” e “Rebellion, Lies”). Chegamos no começo da terceira, “No Cars Go”, mas só fomos entrar realmente no clima do show (e esquecer o impacto do Suede) em “City With No Children”, uma das grandes canções do grande “The Suburbs”.

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Atração principal do sábado, o Arcade Fire não frustrou as expectativas. Aliás, foi além. Comandados por um inspirado Win Butler, os canadenses fizeram um daqueles shows que as 100 mil pessoas presentes não vão esquecer tão cedo. Um clássico atrás do outro tocados com paixão e entrega. De “Crown of Love” a “Rococo”. De “Intervention” a “We Use To Wait”, “Keep The Car Running” e o final apoteótico com “Wake Up”, com dezenas de balões (que mudavam de cor sincronizados!) caindo sobre o público. “Ready to Start”, “Neighborhood #1 (Tunnels)” e “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, no bis, foram responsáveis por encerrar uma noite inesquecível e um dos grandes shows do ano.


Leia também: Coachella Day 1 (aqui) e Day 3 (aqui)

abril 17, 2011   No Comments

Coachella, Day 1

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O sol realmente arde no deserto. Após dez dias perambulando pelos Estados Unidos (Nova York e San Francisco com uma pequena parada em Las Vegas), apenas em Palm Springs foi possível tirar a bermuda da mochila e lamentar o esquecimento do protetor solar (obrigatório). A pequena cidade californiana ferve, e neste fim de semana respira a poeira do Coachella Festival, e a corrida atrás das disputadas pulseiras (que esgotaram em seis dias) terminou bem, mas muita gente caiu na enfermaria com insolação.

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Na verdade, tudo deu muito certo no primeiro dia do festival. Na ida rolou um taxi, que dividimos com mais três norte-americanos. Na volta, após uma extensa caminhada para sair do festival, conseguimos parar o taxi do David, um espanglish que não tirou o pé do acelerador até nos deixar no hotel – e também não largou o celular (imagina). Entre ida e chegada, muitos shows bacanas, algumas decepções, comida e bebida boas e com preço ok (tem Newcastle Brown Ale!!!) e a certeza de que o Brasil precisa camelar muito pra fazer um festival assim.

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Do começo. The Morning Benders mostraram músicas novas (mais eletrônicas) e empolgaram a galera da tenda Gobi, lotada. Após cinco músicas, a comitiva Scream & Yell partiu para o Stage (dispensando os chatões do Drums) para conferir o grande Cee Lo Green, que atrasou 20 minutos e só teve tempo de tocar quatro músicas, sendo que uma era “Crazy” (do tempo do Gnarls Barkley) e a outra “Fuck You” (além de uma versão bisonha de “Don’t Stop Believin’”, do Journey). Mesmo assim, apesar da banda fraca, o melhor pocket show do festival. Na quinta canção, a produção cortou o som mostrando que nem mesmo um hitmaker cheio de Grammys pode desrespeitar as regras.

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No palco Outdoor, os australianos do Tame Impala mostraram um som encorpado, que deverá render o show do ano em São Francisco (com Yuck, na próxima segunda), caso a velha guarda hippie apareça no Fillmore. Gostei muito mais do show do que do disco, e fiquei impressionado com a cara de moleques dos integrantes (principalmente do baixista: aquilo ali é “trabalho infantil” – risos), mas eles ainda precisam tomar bastante Toddynho para ser uma graaaaande banda ao vivo. Mesmo assim, bom show (e um futuro promissor pela frente).

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O Cold War Kids veio na sequencia e fez um show bonito ao entardecer do deserto. Nathan Willett continua cantando com uma paixão rara, e se enfiar o pé na jaca mais um pouco poderá herdar a coroa de novo Greg Dulli do rock and roll. Eliminando os hits do começo de carreira (uma pena “We Used to Vacation” ter ficado de fora do repertório), os californianos tocaram praticamente em casa com o público na mão, que cantou (e filmou e fotografou) todas as músicas. Todas. O final soul, já com a lua presente, foi belíssimo. Grande show.

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Antes de Mr. Brandon Flowers começar, deu tempo de ver três canções do Interpol, uma delas “Evil” e outras duas terríveis do quarto disco. Interpol ao vivo hoje em dia é assim: as músicas dos dois primeiros discos são bem legais, funcionam, apesar da apatia da banda no palco. As do terceiro eles deveriam pagar para o público ouvir, e nas do quarto alguém deveria subir no palco e dar uma sova nos quatro integrantes com sabonete enrolado numa camiseta do Joy Division. Eis uma banda que já passou da hora de acabar.

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Já Brandon Flowers passou da hora de brincar de carreira solo, né. Ele é cool, carrega a galera na palma da mão, mas o repertório de seu disco solo é fraquinho, fraquinho. Depois, na pista do palco principal tentando ouvir o Black Keys, foi possível perceber que ele tocou algumas do Killers. Só assim para salvar o show. Já a dupla de Ohio deveria pedir 50% de aumento no cachê para a organização do Coachella. O telão só rolou no meio da quarta música e o som, baixíssimo, frustou aquele que tinha tudo para ser o graaaaande show da noite (e um dos destaques do festival).

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Não que tenha o Black Keys tenha pisado na bola, imagina. Com o repertório de hits que os caras tem, e a entrega rock and roll da dupla, provável que fizessem um show bom até sem som, mas a expectativa deixou todo mundo na mão. Uma pena, mas um show para ser revisto (de preferência, no Brasil). Para fugir do rock fake do Kings of Leon partimos para o palco Outdoor, onde os mexicanos do Caifanes tocavam exclusivamente para a comunidade spanglish local. Tudo bem, não valia mesmo perder tempo com o Roupa Nova da cidade do México. Já tenda da Robyn estava bombada.

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Para fechar o primeiro dia, Flogging Molly, um grupo formado por irlandeses em Los Angeles ousando misturar punk rock como música tradicional celta (com direito a sanfona, banjo, violino e flauta). A reverência ao Pogues é claríssima, mas o peso e a interação com o público são absurdas. Dave King, o inenarrável vocalista violonista, brindou com Guiness e soltou a locomotiva punk gerando uma invejável roda de pogo no meio do Coachella. Apesar do peso, todos os instrumentos são perfeitamente audíveis (com destaque para o banjo, marcante) no som do Flogging Molly. Um show de lavar a alma e encerrar com chave de ouro o primeiro dia do festival.

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Leia também: Coachella Day 2 (aqui) e Day 3 (aqui)

abril 16, 2011   No Comments

Uma noite com PJ em San Francisco

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São 20h40, e o show está atrasado 40 minutos. O público que esgotou os ingressos do charmoso Warfield, em São Francisco, começa a ecoar “PJ, PJ, PJ”, e de repente o grito se torna uníssono clamando pela presença da cantora. Ela surge virgem, de vestido longo branco, mas com bota de couro negro e um arranjo também negro nos cabelos. Sequer olha para a plateia, pega sua auto-harpa e começa a desfilar as canções desoladoras de “Let England Shake”.

A faixa título abre caminho no campo de batalha seguida de outras duas canções – “The Words That Maketh Murder” e “All & Everyone” – do excelente disco novo e dão o tom que será seguido durante 99% da noite: Polly Jean Harvey em silêncio entre as músicas, e partindo para o microfone não como se estivesse cantando, mas sim narrando desgraças. Chega a chocar a disparidade de público e artista. A plateia urra a cada número, feliz, mas as letras de “Let England Shake” não inspiram felicidade, mas realidade.

PJ segue seu caminho tortuoso sem prestar atenção as pessoas à sua frente, escoltada pelos cavaleiros Mick Harvey, John Parish e Jean-Marc Butty. Ela só larga a auto-harpa na quarta canção da noite, “The Guns Called Me Back Again”, b-side do single “The Words That Maketh Murder”. São 21 músicas no set list, sendo 13 do álbum novo (12 do disco mais um b-side), o que demonstra não só fé na qualidade do repertório de “Let England Shake”, mas também muita coragem.

A audiência, que parece ter aprovado o álbum, aplaude efusivamente cada canção, mas vai a loucura mesmo quando a cantora saca da escuridão alguma pérola empoeirada pelo tempo, como “The Devil” (“White Chalk”, 2007), “The Sky Lit Up” (“Is This Desire?”, 1998) e “Pocket Knife” (“Uh Huh Her”, 2004), mas, inevitavelmente, é a dobradinha matadora da parte final que faz o coração de boa parte dos presentes quase parar: “Down By the Water” e “C’mon Billy” (com PJ de harpa em punho) surgem redentoras, brilhantes, inesquecíveis.

Mais de 70 minutos se passam e a única coisa que o Warfield ouviu de PJ Harvey foram canções. E ela pesca mais três números de “Let England Shake” e fecha o show de forma emocionante, quase pastoral, com “The Colour of the Earth”, canção do ex-Bad Seeds Mick Harvey, que dueta com PJ de forma lírica. Nem um goodbye, nada. Ela apenas se curva para os 2300 presentes e leva suas botas negras em direção ao camarim. Fim do show.

O público não arreda o pé frente a frieza da cantora. Aplaude, urra, faz coro. Ela resiste. O público insiste, 2300 pessoas em pé, e, quase cinco minutos depois, PJ surge sorrindo e fala a primeira frase da noite: “Incrível. Vocês são campeões”. Apresenta a banda e retorna ao tempo em que, vestida de micro-saia preta e top, dizia que precisava de uma pistola. “Big Exit” surge intensa, escorada no riff cortante, abrindo caminho para “Angelene”, outro hit improvável.

O show termina em silêncio com… a apropriada “Silence”. A voz de PJ ecoa pela excelente acústica do Warfield – como se ela estivesse entoando um canto lírico – e a musa deixa o palco dizendo obrigado – pela primeira e única vez na noite – seguido de adeus. Leva consigo o coração de muita gente, e isso a reforça para a próxima batalha. Afinal, todo dia é uma guerra, e PJ sabe melhor do que ninguém disso. Esta noite, no Warfield, ela saiu vencedora. E nós também.

Set List

Let England Shake
The Words That Maketh Murder
All & Everyone
The Guns Called Me Back Again
Written on the Forehead
In the Dark Places
The Devil
The Sky Lit Up
The Glorious Land
The Last Living Rose
England
Pocket Knife
Bitter Branches
Down By the Water
C’mon Billy
Hanging in the Wire
On Battleship Hill
The Colour of the Earth

Bis
Big Exit
Angelene
Silence

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Leia também:
– O novo disco político de Polly Jean Harvey (aqui)
– “A Woman A Man Walked By” retalha fases da carreira de PJ (aqui)
– “Let England Shake”: PJ retorna observa o mundo em guerra (aqui)
– PJ Harvey ao vivo no Paradiso: quebrando o protocolo da turnê  (aqui)
– “White Chalk” é denso, sombrio e renascentista (aqui)

abril 15, 2011   No Comments

As rachaduras do american dream

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Estou completamente chapado com São Francisco, a cidade mais rock and roll em que coloquei meus pés até hoje. Talvez rock and roll não seja a palavra certa, pois o psicodelismo, o flower power e a geração beat bateram demasiadamente forte na cidade, o que a deixou com um aspecto bastante particular: São Francisco parece lesada! Tudo aqui acontece em uma tremenda calma, e rachaduras no chamado “american dream” podem ser encontradas facilmente por todos os lugares.

O ponto central da cultura hippie da cidade é o distrito de Haight-Ashbury, delimitado por um lado pelo Parque Golden Gate e, por outro, pelo Buena Vista Park. Foi aqui que a contracultura decidiu se instalar nos anos 60, já que a região era a mais barata para se viver em São Francisco. Em 1967, ano de ouro do movimento hippie, Haight-Ashbury virou o centro do mundo com uma cultura de drogas ilegais, notadamente maconha e LSD, além de outras drogas alucinógenas.

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Corta para 2011: andando pela extensa avenida Haight, a impressão que se tem é que 1967 foi o ano que não terminou. A especulação imobiliária aumentou os alugueis na região, mas o bairro continua sendo uma meca hippie, com lojinhas espalhadas por toda sua extensão e vários tipos que parecem ter vivido o Festival de Woodstook (mesmo aqueles que, aparentemente, não eram nem nascidos na época). Várias lojinhas interessantes de discos se espalham pela rua (que ainda abriga o pub Magnolia), mas a grande vedete é a Amoeba Music, 2.200 metros quadrados de CDs, DVDs, vinis e muito mais.

Fundada por ex-empregados da Rasputin Records, a independente Amoeba se transformou no local de peregrinação de apaixonados por música em geral, com um acervo de mais de 100 mil CDs entre novos e usados. São três lojas: uma em Berkeley, outra em São Francisco e a terceira na Sunset Boulevard, em Hollywood. Imagine-se entrando em uma loja e observando isso aqui. A primeira sensação que bate é: deixa eu sair correndo. Mas o “passeio” vale a pena e é bom mostrar pulso forte porque você deverá encontrar tudo o que você quer e coisas que nem sabia que existiam.

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Tentei me controlar o máximo que pude. Consegui não pegar nenhum box de CDs (que seriam difíceis demais de levar nos próximos trechos de viagem) e me concentrei em coisas raras como as edições duplas de “Yankee Hotel Foxtrot”, do Wilco, de “Brothers”, do Black Keys, e do “Hardcore Will Never Die, But You Will”, do Mogwai, os álbuns remasterizados da Jon Spencer Blues Explosion, o single “Conquista”, do White Stripes, uma caixinha com quatro CDs de Woody Guthrie, o “Complete Reprise Sessions”, do Gram Parsons, e muita coisa de dois dólares. Tudo na foto.

Sai leve, mas com muitas sacolas e ainda vou comprar um toca-discos novo na filial de Los Angeles (150 dólares). Descemos a Haight observando a multidão hippie e paramos no bom Giovanni’s Pizza Club Deluxe, que além de boas pizzas tem ótimas cervejas no cardápio, como a local Anchor Steam (uma Pale Ale de respeito) e a Sierra Nevada Pale Ale (que já tinhámos provado em Nova York) além de Chimay e de uma boa cerveja de torneia, a pale ale Lagunitas. Um bom local para um brunch na região.

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Próxima parada: show do Broken Social Scene no Warfield, um teatro de vaudevillie dos anos 20 que desde os anos 70, sob a administração Bill Graham, transformou em palco de rock. Bob Dylan fez vários shows de sua turnê evangélica de 1979 aqui, mas o quem é quem da casa está exibido em fotos dos shows logo na entrada do charmoso teatro: Bjork em 90 com o Sugarcubes e solo em 1993, ano que também recebeu Iggy Pop, Guns em 91, Pearl Jam em 92, Nine Inch Nails em 94, Ramones em 95, Morrissey e Bowie em 1997, James Brown em 2000. A lista segue, aparentemente, infinita.

A noite não está sold out (só PJ Harvey, Ke$ha e Adele conseguiram esgotar os ingressos este ano), mas cerca de 80% dos 2300 lugares estão ocupados para prestigiar o grupo canadense. A base do show é o disco “Forgiveness Rock Record”, de 2010, e a banda parece muito mais à vontade do que no Primavera Sound, do ano passado. Erram entradas de músicas, e começam tudo de novo (e não foi uma vez só). Brincam com o público e revezam-se constantemente nos instrumentos. O show sobe num crescendo excelente, e quando Kevin Drew (cada vez mais parecido com Eddie Vedder) diz “Goodbye San Fran”, o público vai ao delírio em um bom show desencanado num lugar excelente.

Amanhã, PJ Harvey. Live! Tonight! Sold Out! Bora!

abril 14, 2011   No Comments

Top 15 de cervejas da viagem

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“Difícil alguma outra cerveja tirar a Brooklyn Blast do primeiro lugar até o fim da viagem”, escrevi anteriormente. E, em teoria, ela continua em primeiro, já que a Chimay é hors-concours e já integra o Top 100 de cervejas. A ideia é listar na viagem apenas as cervejas que nunca experimentei, mas como só tinha 14 decidi fazer uma homenagem aos belgas e deixa-los, por enquanto, neste top intermediário.

A Duvel Green também debuta na lista. A nova produção da Moortgat é uma cerveja mais leve que a tradicional Duvel, feita sob encomenda para o paladar norte-americano – que não é tão acostumado com cacetadas de 8,5% de graduação alcoólica. Gostei bastante dela (e do copo, com logo em relevo, lindo), mas ainda prefiro a versão famosa da casa. Também estreiam as duas boas cervejas do bar cervejaria Magnolia, de São Francisco, um lugar a ser visitado na cidade.

01) 5/5 – Chimay Blue Grande Reserve, Bélgica – 9%
02) 4,89/5 – Brooklyn Blast, EUA – 9%
03) 4,80/5 – Duvel Green, Bélgica – 6,8%
04) 4,63/5 – Brooklyn Summer Ale, EUA – 5%
05) 4,62/5 – Brooklyner Weissen, EUA – 5%
06) 4,11/5 – Guiness Extra Stout, Irlanda – 6%
07) 4,04/5 – Magnolia Pride to Branthill, EUA – 9%
08 ) 3,94/5 – Sierra Nevada Pale Ale, EUA – 5,6%
09) 3,90/5 – Brooklyn Pennat Ale, EUA – 5%
10) 3,71/5 – Blue Moon Belgian White, EUA – 5,4%
11) 3,60/5 – Magnolia Piper Pale Ale, EUA – 5,2%
12) 2,52/5 – Samuel Adams Noble Pills, EUA – 4,9%
13) 2,42/5 – Bass Pale Ale, EUA – 5%
14) 1,96/5 – Michelob Ultra, EUA – 5%
15) 1,95/5 – Bud Light Lemon, EUA – 4,2%

Top 100 – https://screamyell.com.br/blog/top-100-cervejas/

abril 13, 2011   No Comments

Uma semana nos Estados Unidos

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Sétimo dia de viagem, mas parece muito mais. A correria de Nova York detonou os joelhos, mas deixou boas lembranças. Antes de chegar a San Francisco, porém, rolou uma passadinha em Vegas, mais apropriadamente no aeroporto, onde deixei todas as minhas notas de 1 dólar. Eu só tinha quatro notas, e as perdi nas máquinas caça-niqueis viciadas. Só pra dizer: já joguei em Vegas (hehe). Incrível como a cidade parece pequena. E parece que a parte dos cassinos é um anexo do aeroporto, mas é bonito levantar voo olhando a cidade ficar pela janela.

Em San Francisco, porém, as coisas pareceram mais calmas. O metrô é mais calmo, a rua é mais calma, só o vento que não. E como venta nessa cidade. Parece que vai separar a alma do corpo. A rua em que estamos é a Market St, pertinho do Warfield, que hoje à noite terá Broken Social Scene e amanhã a deusa PJ Harvey (e semana que vem, Echo and The Bunnymen). A Market é uma avenida extensa. No começo, grandes grifes, tudo meio chique e tal. Já no local onde estamos tem cinema pornô na frente (com apresentações ao vivo), muito junkie andado pra lá e pra cá além de uma enorme loja da Virgin Megastore… fechada (ao lado de uma da Apple, abarrotada).

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Como perdemos metade do dia de ontem devido ao cancelamento do voo em Nova York, acabou sobrando apenas a noite para dar uma olhada na cidade. Primeira atividade na cidade: uma visita à loja da North Face atrás de uma blusa de frio – pra você ver que o negócio não está brincadeira. Como ventava muito desistimos do bondinho (o transporte público da cidade) e optamos por um taxi e partimos para o Magnolia, um pub bacana que produz sua própria cerveja. Já vou avisando, anota ae: http://www.magnoliapub.com/

Fui de um Piper Pale Ale, uma delicia de 5,2% e depois encarei uma poderosa Pride to Branthill, uma english strong ale de corar a alma com 9% que lembram um pouco a trapista Achel, sem soar tão agressiva quanto a belga. O Moicano arriscou uma Kalifornia Kölsch, que parecia mais fraca que o copo d’água que estava na mesa, porém acertou na segunda pedida, uma Stout of Circustance encorpadíssima e deliciosa de 6,17%. Para acompanhar, fish and chips (tradicionalíssimo com fritas bravas e muito óleo) e, de sobremesa, brownie de chocolate com bacon.

Isso mesmo, bacon.

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É o brownie de chocolate recheado de pequenos pedacinhos de bacon, uma barrinha de açucar queimado (com cheiro de bacon) e cobertura de chantili. Uma delicia. Não tem o que falar 😛 Hoje o dia amanheceu nublado. Depois choveu. Agora saiu sol. O guia avisa para nunca sair sem blusa, mesmo que esteja fazendo sol, porque as mudanças de tempo na cidade são normais. É, pudemos perceber. O roteiro de hoje está dividido: Renato vai para Alcatraz e para o parque Golden Gate. Eu vou procurar uma blusa boa (não comprei nada na North Face: quero uma blusa pra deitar no chão no Coachella) e visitar a Amoeba. E, talvez, andar de bondinho pelas colinas da cidade. Bora.

abril 13, 2011   No Comments

Cinco CDs comprados na viagem até agora

1) Portastatic: “Some Small History” (coletanea dupla de raridades e covers – edição foda)

2) Yo La Tengo: “Prisoners of Love” (coletanea tripla com um CD bonus de raridades – tem coisas muito boas no CD bonus)

3) Cat Power: “Speaking for Trees” (DVD/CD – sempre namorei esse DVD)

4) Pixies: “Live at Coachella” (Bootleg Oficial vendido pós show pela banda)

5) Autumn Defense: “Once Around” (tava 4 dolares…)

abril 12, 2011   No Comments

St. Mark’s Place, Little Italy e Tribeca

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A ideia para a segunda era ir às compras (na BH e na Apple), mas o dia que começou nublado logo foi se transformando em ensolarado, o que animou uma extensa caminhada pelo East Village, ali pela região que viu nascer, crescer e pogar o punk rock novaiorquino. Uma caminhada pela St. Mark’s Place, uma entrada na lojinha do Bill (que o Thiago Pereira tinha comentado neste texto aqui), o olhar por lugares que abrigaram desde a capa do álbum “Physical Graffiti”, do Led Zeppelin, ao primeiro do New York Dolls além de boa parte das histórias do livro “Mate-Me Por Favor”.

Na sequencia, descendo a Bowery, fica bastante perceptível como Chinatown está engolindo Little Italy. O pequeno grupo de imigrantes italianos aparece no mapa, mas nas ruas só se vê comércio oriental. Até mesmo na Mulberry Street, um pedaço da Itália dentro de Nova York, vê-se orientais vendendo, segundo o cartaz, o mais original gelato italiano que você irá experimentar longe do país da bota. Mesmo assim, um passeio pela Mulberry é essencial. Cantinas e pizzarias se amontoam com boas chances de boa comida.

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A escolhida para o almoço foi a Lombardi’s, que segundo o guia é responsável por uma das pizzas da cidade. O pedido – meia marguerita, meia pepperoni com queijo pecorino acompanhadas de Brooklyn Lager da torneira – vem caprichado e é aprovado. Lombardi, filho do dono, está gravando o que parece ser um comercial, e grandes câmeras circulam pelo local. Ele parece ser uma persona conhecida aqui. Na foto sobre nossa mesa ele posa em meio a um quinteto formado pelo elenco de “Goodfellas” (Ray Liotta, Joe Pesci, Robert De Niro e Martin Scorsese).

A visita à loja BH não rende nenhuma compra. A encomenda da Lili está em falta, e eu namoro, namoro e namoro um modelo atualíssimo (e muito melhorado) da minha câmera, mas desisto na hora de subir ao altar. O preço estava ótimo (com taxas deveria morrer uns 500 dólares), mas economizar é preciso, e deixo o templo do consumismo eletrônico em Nova York com as mãos abanando. Ninguém cai no ringue de patinação do Rockfeller Center (a pista estava derretendo frente ao sol da tarde), mas algumas quadras acima esbarro sem querer no Soup “Nazi” Man (ele tem até site), o que já fez valer o dia (embora eu não tenha provado nenhuma sopa – risos).

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A noite chega, e a parte Nova York da viagem precisa de uma despedida. O local escolhido é o Tribeca Grill, de De Niro. São quase 23h de uma segunda-feira, e o local já está fechando as portas. Decidimos ir a uma taverna, e entramos em uma qualquer que surge no caminho atrás de um bom hambúrguer e de uma boa cerveja. O resultado: descubro que a minha amada Duvel agora têm uma versão Green deliciosa (e menos violenta que a tradicional) e encerramos a noite com uma Chimay Grand Reserve que nos faz rir à toa (de tudo e todos).

Na manhã seguinte parto dormindo para o JFK para pegar o voo em direção a San Francisco. Esqueço a mochila em um dos transfers, e retorno para pega-la segundos antes da policial acionar o esquadrão anti-bombas. Ela sorri aliviada ao perceber que a mochila era minha, e parto em direção ao check-in tentando lembrar como a esqueci em um banco do metrô. Na fila do check-in, o aviso: o voo das 7h30 foi cancelado e vamos ser realocados em outro que faz escala em Las Vegas. “Vocês vão ter que esperar um tempo por lá, mas não se preocupe: o aeroporto de Vegas tem vários jogos para vocês passarem o tempo”, brinca a atendente.

Se é assim, bye bye Nova York. Vegas, lá vamos nós!

Mike Tyson que se cuide!

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abril 12, 2011   No Comments

No Soup For You

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abril 11, 2011   No Comments