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Posts from — outubro 2018

Ouvindo: “Mermaid Avenue: Complete Sessions”, Billy Bragg and Wilco

Durante a primavera de 1992, Nora, a filha de Woody Guthrie, o cara que no auge do macarthismo norte-americano ousava tocar com um violão que trazia estampada a frase “essa máquina mata fascistas”, convidou o cantor e compositor inglês Billy Bragg para escrever músicas para uma seleção de letras inéditas de seu pai. Bragg havia se apresentado em um concerto em homenagem a Guthrie no Central Park, em Nova York, e Nora fez a conexão por acreditar que aquele britânico defendia os mesmos ideais que seu pai. Woody Guthrie havia deixado mais de mil letras inéditas completas escritas entre 1939 e 1967, e como ele não escrevia música em partitura, nenhuma dessas letras tinha melodia, e apenas uma vaga notação estilística. Nora queria que uma nova geração se apossasse das letras criticas de seu pai, e Billy Bragg aceitou o desafio, convocando para a tarefa o grupo Wilco, de Chicago, que havia acabado de lançar “Being There”, seu segundo álbum pouco antes (curioso que Nora também ofereceu o material de seu pai a Jay Farrar, parceiro de Jeff Weedy, do Wilco, no Uncle Tupelo – Farrar lançaria sua versão em 2011, “New Multitudes”). Lançado em 1998, “Mermaid Avenue” arrebatou uma indicação ao Grammy e muitos fãs tanto quanto colocou “California Stars” no repertório do Wilco. Este pacote reúne os três volumes das “Mermaid Avenues”. O segundo disco saiu em 2000 e o terceiro neste pacote com as sessões completas em 2012 acrescido do DVD que registra a produção, “A Man In The Sand”, de 1999. São 47 faixas emocionantes, algumas delas contando com a participação de Natalie Merchant (como “I Was Born”, do volume 2, com Natalie sendo acompanhada ao violão por Bragg). Entre as minhas favoritas estão “Secrets Of The Sea”, uma canção totalmente Wilco do segundo volume, o single “She Cames Along To Me” (totalmente Billy Bragg, um cara que admiro pacas), a declaração de amor a “Ingrid Bergman” e, claro, “All The Fascists”, uma letra atualíssima que diz que “todos os fascistas estão fadados a perder / O ódio racial não pode impedir / Pessoas de todas as cores marchando lado a lado / Marchando por esses campos onde um milhão de fascistas morreram”. Afinal, fascistas não passarão! <3

outubro 30, 2018   No Comments

Ouvindo: “Inflikted”, Cavalera Conspirancy

Um disco antigo (oxi, lá se vão 11 anos!) – Lembro como se fosse hoje no café da manhã minha primeira audição de “Inflikted” (2007), o disco que reunia os irmãos Cavalera 11 anos (coincidência) após a saída de Max do Sepultura, em 1996. E foi uma audição emocionante que se revelou ainda mais especial quando o Tiago Trigo chegou na redação do iG e, sem falar nada, coloquei os fones de ouvido nele e dei play no som: “Caralho, eles voltaram! O que é isso?”. Era o Cavalera Conspirancy, e era um discaço. Inevitavelmente também era nostalgia, a volta a um tempo especial que nenhum fã queria ver terminando como terminou (e o que tenho para falar sobre o pós 1996 está na resenha do doc “Sepultura Endurance” – leia aqui). Voltei a esse tempo nostálgico e a esse último disco dos irmãos que realmente me chapou (até peguei o segundo, “Blunt Force Trauma”, de 2011, mas não me animei a ir atrás dos dois seguintes – como boa parte do público) ao publicar no site a entrevista do Homero com o Iggor (aqui) devido ao shows que ele faz com o irmão revisitando a era “Beneath The Remains” / “Arise” em várias cidades brasileiras nessa semana. Nunca mais será antológico e inesquecível como aquele RDP / Sepultura no Olympia, 1996 (minha mandíbula quase estilhaçou no cotovelo de alguém em meio ao pogo, nada que a cerveja e o nível alcoólico não aliviassem na hora – já os dias seguintes…), mas sempre será divertido, barulhento e revigorante. Sempre.

Ps. Velhice é uma merda: quando você menos percebe se vê em 1991 com uma camiseta preta surrada do Sepultura suando horrores sob o sol castigador de Taubaté… todo feliz (risos).

 

outubro 29, 2018   No Comments

Ouvindo: o debut do Alabê KetuJazz

Fruto da colaboração do percussionista francês (radicado no Brasil) Antoine Olivier com o saxofonista brasileiro Glaucus Linx, o Alabê KetuJazz tem a missão de unir a percussão forte do candomblé da nação Ketu com a liberdade estilística do Jazz. Com 10 canções criadas a partir dos rituais do candomblé, o disco “Alabê KetuJazz” (disponível em todas as plataformas de streaming, YouTube incluso) é um bom exemplo de como é possível admirar e amar a beleza da música respeitando suas origens, suas fontes, sua cultura. Antoine escreveu um faixa a faixa especial (publicado no Scream & Yell – leia aqui) comentando os ritos sagrados que percorrem cada uma das 10 canções. Sobre “Saudações”, a faixa que abre o disco, ele escreve: “Da mesma forma que o grupo sempre canta para Exú e Ogum antes de subir ao palco, abrimos o disco com saudações para pedirmos suas bênçãos, para abrirmos nossos caminhos e vencermos nossas lutas”. Benção. Sobre “Opanijé Xaxará”, que ganhou o clipe abaixo, Antoine explica: “Opanijé é o toque sagrado entoado para o Orixá Omolú, que é acompanhado por uma dança dramática, dialogando com a dualidade e efemeridade das coisas. A melodia do sax simboliza o Orixá presente, contando sua história através do movimento do som, assumindo o papel do Orixá incorporado na festa de Candomblé. A música surgiu de dentro do toque dos atabaques seguindo o ritual. É a potência da vida e da cura homenageando Omolú, passando pelas nuances de nossas existências, pelos ires e vires de nossa evolução espiritual. O início é força da vida e da cura homenageando o Orixá, e as paradas rítmicas anunciam a doença e morte. O fim marca a volta à cura e à saúde”.

outubro 29, 2018   No Comments

Ouvindo: “All The People”, Blur

Um disco antigo para lembrar de coisas boas… Nos anos 90, sempre ouvi mais Oasis do que Blur, mas isso foi mudando conforme o Oasis foi se repetindo (após “Be Here Now”, de 1997) e o Blur descobria a América (com “Blur”, de 1997, e “13”, de 1999), e de alguma forma se aproximava de mim. Fato é que na virada do século eu ouvia mais Blur (a ponto de ir atrás dos primeiros discos, que tinham passado meio batido por mim) com direito até a escrever um faixa a faixa empolgadaço de “Think Thank” (2003) no Scream & Yell. Dai que quando comecei a rascunhar o roteiro de viagem de férias pela Europa em 2009 (minha segunda vez no Velho Mundo, a primeira da Lili) e a banda confirmou um show de retorno no Hyde Park, o coração acelerou. Madruguei no dia de início de venda dos ingressos e consegui um par. Essa semana estávamos eu e ela revendo as fotos dessa viagem (e comentando com Martín, ainda na barriga) e deu uma saudade tão boa desse dia 02 de julho de 2009, em que estávamos em meio a 50 mil pessoas celebrando a volta do Blur.

Um dia antes eu tinha visto Tindersticks e Big Star (com Alex Chilton) num “puxadinho” do Hyde Park, e enquanto nos divertíamos no pedalinho no lago do Hyde Park, o Blur passava som, e só aquilo já serviu para aumentar a ansiedade, que seria plenamente saciada no dia seguinte. A banda estava afim, o público estava afim, Londres estava afim (um dia de sol lindo), nós estávamos afim. Foi especial e ainda hoje é especial. Ao escrever sobre esse dia no Scream & Yell o defini como um “fragmento de perfeição no mundo pop”, aquele momento raríssimo em que todas as coisas boas da vida estão sincronizadas. Tempos depois eles lançaram o áudio desse dia em CD junto a um documentário caprichado (com a integra do show) e ficou mais fácil lembrar-se de Damon Albarn contando que fez “Parklife” nas corridas que fazia no Hyde Park (inclui esse momento numa lista de momentos especiais em shows), do coro do público acompanhando Grahan Coxon em “Tender” e de me imaginar com os braços levantados em meio a multidão na capa e encarte do disquinho. Daqueles dias especiais que vão ficar para sempre. Sempre.

outubro 28, 2018   No Comments

Ouvindo: “Beleza e Medo”, Paulinho Moska

Um disco novo – ok, antes uma confissão: até uns poucos anos atrás, eu nunca tinha parado para ouvir um disco do Paulinho Moska com atenção. Era um misto de preconceito adolescente com sua banda anterior (Inimigos do Rei), tolice e rebeldia grunge (a carreira solo dele começa quando a cena de Seattle se expande até o meu quarto) e isso começou a mudar num show com ele, Fernanda Takai e Andrea Echeverri (Aterciopelados) no CCBB SP em 2011 (escrevi na época aqui). Eu estava começando a mergulhar nessa paixão pela América Latina que me toma cada vez mais hoje (aliás, o nome do bebê que esperamos para dezembro, eu e Lili,  se chama Martín, com sotaque espanhol, e o acento ali é só pra deixar óbvio – desculpa ae Martin Scorsese, George Martin, Ricky Martin e todos aqueles que leem esse nome de uma maneira americanizada) e foi interessante vê-lo ali, “descobri-lo” ali. O turnpoint foi o disco que ele gravou com o grande Fito Paez em 2015, “Locura Total”, que ouvi muito, muito, e adorei. Este “Beleza e Medo” (2018) é o décimo disco solo dele (contando o com Fito e não contando os três discos ao vivo) e foi antecipado pelo single… “NENHUM DIREITO A MENOS” (achei justo escrever em caixa alta às vésperas de uma eleição que poderá se revelar uma enorme perda de direitos), cuja letra, entre outras coisas, diz: “Nessa nação onde se mata e trata mal / Mulher e pobre, preto e jovem, índio e tal / Onde nem lésbica, nem gay, nem bi, nem trans / São plenamente cidadãos e cidadãs / Não quero mais cantar meus versos mais amenos / Não quero mais nenhum direito a menos”. Além dela vale destacar “O Jeito É Não Ficar Só”, “Bem na Mira” e “Pela Milésima Vez” (parceria com Zeca Baleiro, um cara que eu adoro), mas o álbum tem uma unidade bonita (méritos do Liminha que toca baixo, guitarra e percussa) que me fez redigir esse mea culpa tardio: Paulinho Moska é um grande cara!

outubro 26, 2018   No Comments

Ouvindo: “Ao vivo no Jazz na Fábrica”, Matthew Ship

Um disco novo: um dos melhores eventos musicais que a cidade de São Paulo já teve (premiado pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes), o Jazz na Fábrica do Sesc Pompeia proporcionou algumas dezenas de shows incríveis, que guardo com emoção no coração. Um deles, em 2016 (ano em que tive a honra de assinar todos os textos sobre os artistas no livreto do evento), foi o de Matthew Ship, no teatro. Assisti a esse show na parte superior, observando o pianista de costas travar uma luta de boxe com as teclas. Foi daqueles shows de lavar a alma, e que agora o Selo Sesc coloca nas lojas em CD (amo esses registros, algo pouco usual no Brasil, mas que o Sesc vem investindo com paixão e capricho) ao preço de R$ 20. São 11 canções (entre elas standarts como “Summertime” e “Angel Eyes”) que tem o poder de transportar o ouvinte para aquela noite mágica de música, caricias e luta de 19 de agosto de 2016. Imperdível. Abaixo, uma foto minha desse show. <3

outubro 25, 2018   No Comments

Ouvindo: “Black Sessions”, The Delgados

Já me perguntaram algumas vezes: se você tivesse uma banda, como ela soaria? E dou sempre a mesma resposta: indie punk pop guitarreira como o Ash ou melodicamente guitarreira e deliciosamente poética e cínica como a escocesa The Delgados. Com cinco discos de estúdio lançados entre 1994 e 2005 (mais três ao vivo oficiais), o Delgados fez fama com seu grande segundo disco, “Peloton”, que combinava de maneira lirica e suja as vozes e guitarras de Emma Pollock e Alun Woodward. O belo single “Everything Goes Around The Water” (com arranjo de cordas, flauta e guitarradas) ganhou clipe e resume a banda de maneira perfeita. Depois vieram os lindões “The Great Eastern” (de 2000 e meu favorito) e “Hate” (de 2002, se você me conhece há um bom na web já deve ter me visto compartilhando “you ask me what you need: Hate is all you need” 🖤) e a despedida “Universal Áudio” (2004). Esse bootleg flagra os escoceses num dos programas de música ao vivo mais bacanas do mundo, o francês Black Sessions, e essa cópia tosca minha nem toca inteira, mas o que toca é de emocionar (tem ele em MP3 ae? Me passa, please!). The Delgados é uma daquelas bandas que quem conhece, adora, e quem não conhece vai adorar um dia… Aliás, uma dica: a Emma já lançou três discos solo, o mais recente é de 2016. Vale ir atrás também!

outubro 25, 2018   No Comments

Ouvindo: “Alma de Gato”, Tatá Aeroplano

Seguindo o esquema de alternar um disco novo com um antigo, esse é um lançamentaço: “Alma de Gato” é o quarto álbum solo de Tatá Aeroplano (descontando um belo disco com @Bárbara Eugênia e os dois álbuns com o codinome Frito Sampler), um cara por quem tenho profunda admiração e respeito pela maneira cuidadosa que vem conduzindo sua carreira. “Alma de Gato” é reflexo direto da mudança de casa de  Tatá, que em 2016 trocou o bairro de Santa Cecília pela Vila Romana (ambos em São Paulo) e começou a “frequentar intensamente as ruas, parques, centros culturais e casas de shows das redondezas”. Segundo ele, “esse novo disco está cheio de vivências e experiências dessa nova fase na cidade de São Paulo”. O álbum está disponível (físico) no site do Tatá (http://tataaeroplano.com) e no seu portal de streaming favorito. Sempre tô fervilhando de ideias de coisas que quero fazer, e a ideia do momento é uma série de entrevistas em casa, bebendo cerveja. Já começou (preciso decupar o papo delicioso que tive com Olavo, doLestics) e logo quero beber e conversar com Tatá aqui em casa. Aguarde (e, enquanto isso, ouça o disco) 🖤🎸

outubro 25, 2018   No Comments

Ouvindo: “Country Mouse, City House”, Josh Rouse

Um disco “antigo” (de 2007). Na primeira metade de sua carreira, Josh Rouse (natural de Nebraska, USA) quase sucumbiu ao alcoolismo enquanto vertia belas canções depressivas e grandes álbuns. Para combater o vício que estava colocando sua criatividade em xeque, Josh Rouse abandonou os Estados Unidos e foi morar na Espanha, se apaixonou (pela cantora Paz Suay) e encontrou a paz que procurava. Desde “Subtitulo” (2006), seu sexto álbum e primeiro no auto-exílio, que ele vem numa escalada de felicidade que contagia pessoas que torcem pela alegria do próximo. Este “Country Mouse City House” foi lançado em 2007 (comprei o vinil na maravilhosa Grimey’s, loja de discos – com porão que já registrou até show do Metallica – em Nashville). Ao falar sobre o disco, Josh conta que seu “som é o dos songwriters dos anos 70. É o meu estilo favorito de música e tem algo que muitos lançamentos modernos não tem”. Como escrevi no final da resenha sobre o disco em 2007, ele não diz o que é esse algo, mas arrisco uma palavra: alma. 🖤🎸

outubro 24, 2018   No Comments

Ouvindo: “Sam’s Town”, The Killers

Matando saudade de uns discos que eu não tenho a mínima saudade. Até achei que tivesse escrito sobre “Sam’s Town” no site na época, mas nem isso deu vontade. Achei um trechinho dum comentário na resenha que fiz sobre “Day & Age”: “Brandon Flowers é o fanfarrão da década. Surgiu clonando o rock britânico (mesmo sendo de Las Vegas) na estréia e depois deu discos de Bon Jovi e Springsteen para os amigos ouvirem. O resultado, “Sam’s Town”, lembrava Queen e U2″. Mas, ok, os shows são bons (e o do Lolla neste ano um dos melhores que eles fizeram por aqui – quem mais tava naquele Tim que acabou as 6 da manhã da segunda-feira?) e “When You Were Young” é um puta single (essa versão deluxe traz duas faixas bônus no CD e um DVD com clipe e making of de “When You Were Young”). Saldo final: deu vontade de ouvir “Hot Fuss”.

outubro 23, 2018   No Comments