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Histórias de viagem: Ismail na Turquia

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Em 2010, eu e Lili fizemos umas longa viagem de 40 dias pela Europa, e até hoje me lembro como decidimos o roteiro: após o Primavera Sound, em Barcelona, eu queria (precisava!) ver o Wilco em Roma, e a ideia era ir dali pra Escandinávia, mas o fator $ pesou nessa hora. Qual a saída? “Vamos ver qual é o voo mais barato da Easyjet saindo de Roma!”. E era… Atenas. Apenas 10 euros. Uou! Partiu. Dali esticamos para Santorini (até hoje um dos lugares mais espetaculares que visitei) e fomos parar na Turquia, um lugar incrível, um emaranhado de emoções.

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Entre as diversas anotações que eu tinha para a Turquia, uma delas era: “Não deixe de fazer o Nostalgic Bosphorus Tour”. Trata-se de um passeio de barco que sai do porto de Eminönü, quase no Mar Marmara, e vai até o porto de Anadolu Kavagi, quase no Mar Negro. O barco navega todo o estreito de Bósforo parando de um lado na Europa, do outro na Ásia – o rio separa os dois continentes e foi o principal caminho para que Rússia e países do Oriente Médio chegassem ao Egeu e ao Mediterrâneo, e consequentemente à Europa.

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Com esse plano em mente, acordamos cedo um dia e lá fomos nós navegar o Bósforo. 1h30 de passeio depois e estávamos na pequena vila de Anadolu Kavagi, que abriga as ruínas de um castelo bizantino que foi ocupado durante séculos visando a proteção da entrada do estreito para quem vinha do Mar Negro. Descemos do barco e fomos caminhar, comemos peixe fresco, fui proibido no restaurante de beber a cerveja que eu trazia na mochila (o consumo de álcool é proibido pelo Islã e muitos bares nem vendem cerveja) e… conhecemos o Ismail.

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Foi mais ou menos assim: eu sabia das ruínas do castelo bizantino, e fomos tentar subir à pé. Logo no começo da caminhada, um senhor grisalho nos parou e se ofereceu para nos levar até lá em seu carro. Achei incomum e recusei de forma discreta, agradecendo-o. Porém, quando cheguei ao pé do morro e vi que a caminhada iria ser longa (e a gente tinha ainda um barco para pegar de volta para Istambul), decidi voltar e aceitar o serviço de Ismail (que, se não me falha a memória, custou 15 euros).

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Ismail estava aposentado havia 25 anos depois de ter trabalhado por 35 na monitorização do estreito do Bósforo com o Mar Negro por parte do exército turco. Conforme fomos subindo o morro em seu carro, ele nos contava a história da vila: Anadolu Kavagi tem 4 mil habitantes, mil destes soldados que trabalham até hoje monitorando a entrada do Bósforo. Ismail contou detalhes das ruínas, relembrou histórias do exército, falou da família e deu a dica: no final da estrada paralela ao castelo, já no Mar Negro, há uma pequena vila de pescadores que faz um peixe ótimo (menos salgado que o peixe tradicional devido à baixa salinidade do Mar Negro).

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A gente ficou cerca de meia hora fuçando as ruínas do castelo, e ele ficou nos esperando. Vez em quando apontava para algum canto do Mar Negro e contava uma história rápida. Na volta, ele contava animado sobre uns tomates verdes que ele plantava em casa, e que eram bastante populares na região. Assim que paramos na vila, ele fez questão de entrar em sua casa, colher alguns e nos presentear. Na despedida, pedi para que fizéssemos uma foto e que ele anotasse seu nome no meu diário. Se a gente adorou conhecer esse lugar, boa parte do mérito cabe ao Ismail. Obrigado, caro amigo.

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agosto 11, 2016   No Comments