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Barcelona: Primavera Sound, Dia 2

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Texto e fotos por Marcelo Costa

Preguiça em Barcelona. A quinta-feira acabou ás 5 da manhã com cerveja, sangria de caixinha e Jack & Coke, e a sexta só começou após uma bela massa no Pasta Bar, na Escudellers, 47, travessa das Ramblas (enquanto a gente acordava, o Wilco se amontoava na Revolver Records para um pocket show). O segundo dia do Primavera Sound não prometia emoções tão fortes quanto as do primeiro, mas surpreendeu com Girls e o show interminável de Robert Smith.

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O plano inicial era chegar cedo e tentar ver Laura Marling e o ex-Neutral Milk Hotel Jeff Mangum no auditório. A primeira não deu tempo, e o segundo obrigava a esperar em uma fila debaixo do sol nada convidativa. Achei mais justo dar uma rodada nos palcos: Chavez fazendo bonito no Mini, The Chameleons surpreendendo no Ray-Ban, Siskiyou repetindo a boa apresentação do I’ll Be Your Mirror e Rufus Wainwright cantando canções que já não lembro mais no palco principal.

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Mais tarde, enquanto Marianne Faithfull cantava de Rolling Stones a Decemberists, de Bob Dylan a Leonard Cohen no auditório, o duo Girls fazia uma baita apresentação no Mini, com guitarras altas, backing vocals arrasadoras e todos os hits cantados com paixão por um público emocionado. “Honey Bunny”, “Love Like A River”, “Vomit”, “Jamie Marie” e “Lust For Life” foram o destaque do show de uma banda que se encontra em seu melhor momento. Para rever.

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Dali, uma passada para tirar a prova dos nove do Big Star’s Third, e a coisa começou quente com Jeff Tweedy arrasando em “Kizza Me”. Ira Kaplan, do Yo La Tengo, voltou a fazer bonito em “O Dana” e Mike Mills comandou a festa em “Jesus Christ”. Tudo muito bonito, ainda que excessivamente contemplativo – só o fato do som estar mais alto que no show do Barbican já fez com que Alex Chilton sorrisse, onde quer que ele esteja. E aquela flautista e backing vocalista derretendo corações?

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Deixei o auditório – quando o Teenage Fanclub Norman Blake partia para o microfone – disposto a encarar o Cure. Duas do lindo “Disintegration” abriram a noite (“Plainsong” e “Pictures of You”), que prometia. Entre as oito primeiras ainda teve “Lovesong”, “In Between Days” e “Just Like Heaven”. Aproveitei “From the Edge of the Deep Green Sea” para ir olhar o Napalm Death no palco Vice. Vi seis músicas (algumas delas novas – gostaria de saber se alguém percebeu) e o Cure ainda tocava.

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Pausa para um lanche. Arranjei uma mesa no restaurante da sala de imprensa, fiz o pedido de um hambúrguer, trouxeram, comi, e o Cure ainda tocava. Voltei ao palco curado pela revista Vice, assisti às três primeiras do Mayhem, e o Cure ainda tocava. Perdi Dirty Three e Codeine, mas o Cure ainda tocava (o set list teve 36 canções!). Segundo consta, quando voltarmos hoje ao Primavera Sound, Robert Smith ainda estará no palco tocando.

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O último dia oficial do Primavera Sound (há, ainda, shows extras de Yann Tiersen e Richard Hawley no Arco do Triunfo no domingo) é o mais indie do festival: tem novamente Jeff Mangum (tentarei me esforçar mais desta vez) no Auditório, Saint Etienne e Kings of Convenience no palco principal, e, espalhados, Yo La Tengo, Beach House, Wild Beasts, Neon Indian, Shellac, Atlas Sound, Real State e The Weeknd. Acho que vou pegar uma praia…

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Leia também:
– Tudo sobre o Primavera Sound 2012 (aqui)
– Tudo sobre o Primavera Sound 2011 (aqui)
– Tudo sobre o Primavera Sound 2010 (aqui)

junho 2, 2012   No Comments

Werchter Boutique: a preguiça e o épico

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 Texto e fotos: Renato Moikano (@renato_moikano)

A edição 2012 do festival belga Werchter Boutique começou como apenas um show: Metallica em sua turnê de celebração dos 20 anos do lançamento do “Black Album”, o disco que tirou o quarteto americano do hall de principais nomes do metal e transformou o grupo em uma das maiores bandas do mundo. Em meados de fevereiro novas bandas começaram a pintar como coadjuvantes no festival. E em abril o line-up estava confirmadíssimo com Ghost, Gojira, Channel Zero, Mastodon e – vejam só – Soundgarden.

Bora sair do meu refúgio em Bruxelas rumo à pacata (e relativamente próxima) Werchter. O festival estava marcado para as 13h, e o trajeto entre Bruxelas e Werchter foi bastante tranquilo e organizado. Um trem deixa a estação ao norte da capital rumo a Leuven e o trajeto (em trens expressos) leva 15 minutos. Em trens urbanos, 45. Peguei o urbano mesmo para aprender o caminho para o aeroporto. Um trajeto que precisaria fazer na manhã seguinte.

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Em Leuven, a comitiva de fãs com camisetas pretas e cabelos compridos era imensa. Diversas placas sinalizavam o local exato de embarque nos ônibus que fariam o trajeto entre Leuven e o local do show nas cercanias de Werchter. Mais 20 minutos de ônibus e voilà. Chegamos? Ainda não. Mais uma caminhada de 20 minutos e finalmente cheguei à entrada.

Na contra-mão da tendência, o Werchter Boutique conta com uma pista-vip que ocupa toda a frente do palco. Além desse setor, dentro da área vip havia o Snake Pit: um espaço para cerca de 200 pessoas que ficava literalmente dentro do palco, em uma área delimitada por uma alça em forma de U. O local faz referência à turnê original de divulgação do “Black Album” entre 1991 e 1993 quando o Snake Pit foi montado pela primeira vez.

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Pontualmente às 13h, o Ghost iniciou sua apresentação. Um goth metal sem sal que passaria completamente despercebido não fossem os trajes da banda que se apresenta em batinas católicas e rostos pintados como se fossem…fantasmas! Uau! Que original. Próximo. Enquanto Gojira não entrava resolvi verificar como um metaleiro gourmet se sairia no festival. As opções eram bem óbvias: hotdog e o hambúrguer mais sem vergonha que já comi na minha vida.

Os preços eram relativamente normais para um festival. Uma cerveja Júpiter (bem gelada, sempre), coca-cola, energético ou água custava 1 Bon (a moeda do festival, equivalente a 2,50 euros). As comidas e sanduíches saiam por 2 Bons. Um estande da Jack Daniels vendia bebidas a partir de 3 Bons. Todos os caixas aceitavam cartão de crédito e euros. As barraquinhas de venda de merchandising oficial apenas grana viva.

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E tudo tinha fila. E grande. E ninguém choramingava. Portanto, você, que vai a festivais no Brasil e acha que tudo é desorganizado simplesmente porque tem fila, vê se larga mão dessa síndrome de pangaré de que tudo no Brasil é pior. E lembre-se, tem fila porque você está num maldito festival com mais dezenas de milhares de pessoas, catzo.

Eu tinha certa esperança que o Gojira me surpreendesse. Acho o som do grupo um pouco carente de punch, mas acreditava que a falta de um produtor bacana e competente poderia ter contribuído para que os discos do grupo fossem meio fracotes. Empolgação não faltou, tentativas de contagiar o público também não. Mas faltou peso. O show se arrastou e só serviu pra me mostrar que o próximo disco do grupo, “L’Enfant Sauvage”, deve ser apenas mais do mesmo.

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Channel Zero é uma banda belga tão farofa, mas tão farofa, que faz o Papa Roach soar como Black Sabbath. Por tocar para seus compatriotas contaram com simpatia de grande parte da audiência. Mas aqui, chegado, tem duas décadas de fuleiragem metaleira. Não iam me comprar só porque todo mundo estava cantando junto. E não compraram. Culpa do vocalista que ainda não se decidiu se quer cantar ou fazer pose. Uma hora no palco e chega.

Mastodon! Tentar resumir o show em uma palavra seria difícil, mas em duas dá pra tentar. Que tal: desgraça e injustiça? Desgraça porque, bem o Mastodon não fala, ruje. Do início ao fim do show tudo que eles fazem é despejar guitarrada em cima de você. Sem bom dia ou boa tarde, tocaram uma música atrás da outra. Já injustiça vem do público que ignorou completamente o grupo. A desgraceira começou com “Black Tongue” e “Crystal Skull”, e, após dez rounds, terminou com “Blood and Thunder” e “Creature Lives”.

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Nada de lamentar, porque quase imediatamente começou o show do Soundgarden. Esse sim eu não via a hora. Eram quase 20h em Werchter e o sol ainda estava marcando presença e bronzeando as banhas belgas. E lá vamos nós. Mas não foi! O Soundgarden fez um dos shows mais preguiçosos que já vi na vida. Cada integrante distante entre si, Chris Cornell arrastando os vocais e tentativas inúteis do baixista (aparentemente o único feliz em estar ali).

O tédio musical fez com que “Outshined”, por exemplo, não saísse da primeira marcha. E “Black Hole Sun” contou com um erro grotesco de Cornnel ao tentar voltar após o solo. Se era pra voltar desse jeito, confesso que preferia o insosso Chris Cornell em carreira solo fazendo shows sonolentos. Ainda assim estou ansioso para ver o show no Download Festival em Donninton Park, no próximo domingo, dia 9 de junho. Se for igual, prometo transformar minha preciosa cópia de “Badmotorfinger” em cortador de pizza.

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Já o Metallica foi nada menos que épico. O roteiro da turnê é o seguinte: introdução com a tradicional sequência do cemitério em “The Good, The Bad & The Ugly”, de Sergio Leone, com “The Ecstasy Of Gold” (do mago Ennio Morricone). Em seguida a banda abre com “Hit the Lights” (primeira faixa do primeiro disco que já completa 29 aninhos). Em seguida, “Master Of Puppets”, “Ride The Lightning” (executada pela primeira vez nesta turnê), “For Whom The Bells Tolls” e “Hell and Back”, sobra de “Death Magnetic” (2008) lançada no EP de “Beyond Magnetic” (2011).

Um intervalo e os telões começam a exibir um breve clipe com cenas das gravações do “Black Album”. Grande parte do material extraído está no documentário duplo “A Year And A Half” que acompanhou a gravação e a primeira perna da turnê em 1991. O clipe não economiza com várias imagens de Jason Newsted, então baixista do grupo que deixou o Metallica de forma traumática antes da gravação de “St. Anger”.

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A sequência de canções obedece a uma lógica interessante: o disco é executado de traz para frente. Então, o filé mignon do show vem com “The Struggle Within”, “My Friend of Misery”, “The God That Failed”, “Of Wolf and Man”, “Nothing Else Matters”, “Through the Never”, “Don’t Tread on Me”, “Wherever I May Roam”, “The Unforgiven”, “Holier Than Thou”, “Sad But True” e “Enter Sandman”. No bis teve “Battery”, “One” (com direito a nova iluminação toda com lasers) e o tradicional encerramento com “Seek & Destroy”. Épico!

E a saga não terminou aí. Lembram que no post anterior eu ainda não tinha descolado uma passagem de volta para Bruxelas. Bom, imperou a brasilidade. Tapei o destino final do bilhete que eu tinha comprado e consegui me esgueirar no último trem para Bruxelas. Mas, hey, eu não me orgulho disso, hein…

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junho 2, 2012   No Comments