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The Traveling Wilburys Collection

O encontro em estúdio de grandes astros da música pop – que são amigos – deveria ser algo obrigatório nas tábuas divinas, um décimo primeiro mandamento a ser acrescentado numa futura revisão/atualização dos outros dez. Isso fica evidente quando se tem nas mãos o pacote “The Traveling Wilburys Collection”, que junta em dois CDs a integra dos dois álbuns do grupo (”Vol. 1? e “Vol. 3?), mais quatro faixas bônus e um DVD que conta com um documentário sobre as gravações do primeiro álbum (legendas em português) e ainda cinco videoclipes.

Mas que catzo é o Traveling Wilburys? Bem, o Traveling Wilburys foi um projeto formado em 1988 por Nelson Wilbury, Lefty Wilbury, Otis Wilbury, Charlie T. Wilbury Jr e Lucky Wilbury, codinomes de George Harrison, Roy Orbison, Jeff Lyne, Tom Petty e Bob Dylan, escudados pelo experiente baterista Jim Keltner. Essa turma se encontrou em estúdio para gravar a faixa “Handle with Care”, que faria parte do lado B do single “This Is Love”, extraído do álbum “Cloud Nine”, de George Harrison, mas o projeto foi além.

A química em estúdio deste quinteto de luxo fluiu tão bem que o grupo decidiu arriscar um álbum inteiro, composto e produzido em apenas dez dias (tempo que eles teriam em estúdio antes que Bob Dylan saísse em turnê). O resultado deste trabalho de astros pode ser conferido novamente agora nos dois CDs lançados pela banda em 1988 e 1990 (este último sem Roy Orbison, falecido dois meses após o lançamento do primeiro álbum), relançados agora no pacote “The Traveling Wilburys Collection”.

Porém, se as músicas já estão por ai faz quase 20 anos, o grande achado do pacote é a inclusão do DVD que documenta as gravações de “Vol. 1?. George Harrison toma à frente do grupo como um líder, mas cada membro sabe muito bem o que fazer em estúdio, muito embora Tom Petty assuma: “Nós passamos os vocais de cada um para ver em qual a melodia da música se encaixa melhor, mas como eu posso cantar alguma direito coisa depois de ter ouvido Roy Orbison cantar? Ele faz a gente tremer”, comenta rindo.

O documentário repassa a gravação de várias músicas do primeiro álbum, com cada um dos participantes comentando sobre a maneira de compor do outro. Interessantes takes de estúdio (principalmente de registros vocais) recheiam o DVD. O mais engraçado é que uma das melhores partes do documentário não seja de nenhum dos cinco Wilburys oficiais, mas sim do baterista Jim Keltner, que troca os pratos da bateria por uma geladeira (?!?) em “Rattled”, e grava sua parte na cozinha da casa em que a banda transformou em estúdio para compor o álbum.

“The Traveling Wilburys Collection” flagra a história de um grupo de amigos apaixonados por aquilo que sempre fizeram na vida: música. Canções como o country de boteco do velho-oeste “Last Night”, os rocks da idade pedra (ops) “Dirty World”, “She’s My Baby” e “Margarita”, o twist “Wilbury Twist” (com a seqüência de passos da dança desenhados no encarte), as dylanianas “Tweeter And The Monkey Man” e “If You Belonged to Me”, ou mesmo as inéditas “Maxine”, “Like a Ship”, “Runaway” (de Del Shannon) e “Nobody’s Child” (de Mel Foree e Cy Coben) são momentos em que a música pop manda raros cartões postais do paraíso.

novembro 26, 2007   No Comments

“O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford”

O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford”, de Andrew Dominik – Cotação 3/5

Jesse James foi um temido fora-da-lei que viveu no velho oeste norte-americano na segunda metade do século 19 e que ficou famoso por assaltar bancos, trens e matar pessoas com uma frieza rara naquela época. Jesse James ameaçava governadores, prefeitos e xerifes e tinha uma personalidade que dividia opiniões: alguns diziam que ele era um Robin Hood do velho-oeste; para outros, era um assassino frio e cruel. “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” não se preocupa em desvendar qual das opiniões é a certa, mas sim cavalgar pela história analisando o simbolismo de palavras fora de moda como honra e covardia.

A história flagra os últimos anos de Jesse James, quando ele já era uma lenda no velho-oeste, retratado em milhares de histórias em quadrinhos e reportagens de jornais que traziam todos os detalhes do homem: como ele sorria, como ele empunhava uma arma, como ele sabia a hora certa de atirar, e em quem. Com pouco mais de trinta anos, Jesse James trazia no corpo marcas não cicatrizadas de balas, cansaço nos olhos e vertigens no pensamento. Era perseguido não só pela policial, mas também por caçadores de recompensas que queriam ter seu nome gravado na História por terem assassinado o homem mais temido do oeste.

“O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” conta a história de um primo de Jesse James que cresceu admirando os feitos do fora-da-lei, mas acaba sucumbindo à ganância e ao desejo de ser alguém na vida, nem que seja para ser “o homem que matou Jesse James”. Ou seja, temos aqui mais uma daqueles filmes em que o público já entra no cinema sabendo o final do filme (o que não quer dizer muita coisa, já que o filme recordista de todos os tempos, “Titanic”, também tinha essa característica): Jesse James morre pelas mãos do covarde Robert Ford.

Porém, não é o final que interessa neste western dramático; ou melhor, não só final. O desenrolar da história – adaptada do romance homônimo de Ron Hansen – e, principalmente, suas conseqüências, é que fazem de “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” um filme a ser visto. O diretor Andrew Dominik perde o rumo em alguns momentos, culpa do roteiro que se complica metade do filme, mas é salvo pela excelente fotografia de Roger Deakins (colaborador de longa data dos irmãos Coen) e pela excelente trilha sonora assinada por Nick Cave e Warren Ellis. Os escorregões, no entanto, não evitam o óbvio: uma enxugada de 20 minutos deixaria o filme brilhante.

Excessos à parte, o filme se vale de uma grande questão: a fama sempre tem um dono, e mesmo que outro queira roubá-la, ele até poderá usá-la por alguns minutos (15, talvez, como professou Andy Warhol), mas ele nunca será o dono. Robert Ford (em excelente atuação de Casey Affleck) chega ao Olímpo após o feito, mas cai como Ícaro que sonhou em voar, voar, subir, subir, mas teve suas asas queimadas pelo sol. “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” se arrasta por quase duas horas para se fazer valer nos últimos vinte minutos, quando o fora-da-lei já está morto e as conseqüências de seu assassinato começam a surgir nas páginas em branco da História.

Brad Pitt levou a Copa Volpi de melhor ator no Festival Veneza por sua brilhante atuação, e embora tenha sido “esquecido” pela Variety (que publicou uma lista de apostas para o Oscar 2008 com oito nomes colocando Daniel Day-Lewis como favorito e não citando Brad Pitt; Casey Affleck está na lista de coadjuvantes), é tido como nome certo entre os indicados para a premiação (o que alguns julgam um acerto com um dos atores que levam público aos cinemas independente da qualidade da obra, isso em uma época em que as salas enfrentam perda constante de quorum).

Já o filme corre por fora como azarão em um ano de diversas películas medianas, mas pode surpreender, assim como quem não quer nada, atirando pelas costas e saindo com a recompensa. Se isso acontecer, a metáfora da história de Jesse James brilhará novamente. E em dois anos não lembraremos de mais nada. Onde estão os heróis de verdade? Onde estão os clássicos?

novembro 26, 2007   No Comments

Cinema: “Viagem a Darjeeling”

“Viagem a Darjeeling”, Wes Anderson – Cotação 1,5/5

Três irmãos que não se falam há mais de um ano marcam uma viagem de trem pelo interior da Índia com o intuito de se aproximarem e resgatarem a amizade. Simplório, né. Sim, parece, mas tudo que não se espera de um personagem de Wes Anderson é que ele seja simplório. Wes Anderson é meticuloso na criação de seus personagens. Ele vai lá em cima, no inexplorado, e dá aos seus personagens tinturas raramente usadas no cinema. Ele é bom nisso.

No entanto, um filme precisa muito mais do que personagens divertidos e surreais para ser considerado uma grande obra cinematográfica. Dá para se dizer, tolamente, que um grande filme é uma reunião de diversos pequenos acertos. E é mesmo. A história prova que não basta um elenco estelar para se obter um grande filme. E que um bom roteiro não sobrevive a um péssimo ator. Tudo se completa, por mais… simplório que isso possa parecer (e que as belíssimas exceções ousem contrariar).

Após conquistar o mundo com o excelente “Os Excêntricos Tenenbaums” (2001), Wes Anderson tropeçou em seu filme seguinte, “A Vida Marinha com Steve Zissou” (2004), mas não caiu, e cambaleante conseguiu alguns momentos sublimes entre vários superficiais ao contar a história de um lendário explorador subaquático (Bill Murray, renascido após uma gloriosa atuação em “Encontros e Desencontros”, de Sofia Coppola) num filme dedicado ao explorador Jacques Cousteau.

A consagração de um filme muitas vezes é a ruína de um diretor, a prisão que sua obra estará eternamente acorrentada. “Tenenbaums” trouxe ao mundo um bando de personagens deliciosos em seu mundo de problemas emocionais, e os inseriu em um drama familiar interessante e, por vezes, comovente. Porém, enfiou Wes Anderson em uma rotina rocambolesca de autocópia. “Viagem a Darjeeling”, novo longa de Anderson, é um passo à frente se comparado a “A Vida Marinha com Steve Zissou”, e um tombo se tomarmos por base “Os Excêntricos Tenenbaums”.

“Viagem a Darjeeling” apresenta Wes Anderson criando (agora a seis mãos, com auxilio de Roman Coppola e Jason Schwartzman) os mesmos personagens meticulosamente – e deliciosamente – caricatos: Owen Wilson é Francis, o irmão mais velho, aquele que na ausência do pai cuidou dos outros dois, Adrien Brody (Peter) e Jason Schwartzman (Jack). Francis está com a cara arrebentada, pois enfiou sua moto em uma montanha. Peter vai ser pai e Jack está tentando fugir da namorada (Natalie Portman). Os três estão, sem saber, indo atrás da mãe (Anjelica Huston) que os abandonou para virar freira.

O filme começa com um curta-metragem, “Hotel Chevalier”, que serve muito bem para enumerar as surrealidades de um personagem de Wes Anderson: Jack recebe uma ligação no quarto do hotel que está hospedado/escondido em Paris. Sua namorada (que ele abandonou nos EUA) diz que chegará em 30 minutos. Ele arruma o quarto, prepara uma música no iPod (”Where Do You Go To (My Lovely) “, de Peter Sarstedt) e a aguarda. Ela chega com um buquê de flores, um palito entre os dentes, marcas roxas pelo corpo e cabelos curtos. E domina a situação com se fosse o homem da relação.

Essa transferência de papéis acontece em vários momentos do filme. Francis comanda os irmãos, que reclamam do mais velho dar ordens, mas sentem falta de alguém para fazer a escolha certa por eles. Principalmente por que é tudo uma encenação familiar: Francis faz tudo como sua mãe fazia. Mas na ausência dos pais, eles se chapam com xarope, compram cobras venenosas e visitam templos hindus.

São três homens mimados em busca de um sinal, uma placa que os coloque na direção correta. A caracterização dos personagens é perfeita, a fotografia é magnífica, mas a história não convida o espectador a contemplar, muito mais participar. Wes Anderson filma como se estivesse exibindo os defeitos de um homem em um circo de horrores, e como ele já havia feito isso – e de forma mais convincente – em suas obras anteriores, tudo parece menor, rarefeito, desinteressante.

E isso se agrava quando fica perceptível que não há diferenças estéticas entre o personagens de Owen Wilson em “Os Excêntricos Tenenbaums”, “A Vida Marinha com Steve Zissou” e “Viagem a Darjeeling”; que quando uma velha canção dos Rolling Stones (”Play With Fire”) invade o ambiente como personagem principal remete a outras canções dos Stones que procuram causar o mesmo impacto em “Os Excêntricos Tenenbaums” (”She Smiled Sweety” e “Ruby Tuesday”); que quando Anjelica Huston surge em cena, é impossível não se deixar levar pelo deja vu dos filmes anteriores do diretor. E isso tudo apenas diminui as poucas qualidades de “Viagem a Darjeeling”.

Alguém pode dizer que Wes Anderson está criando a sua arte. Ok, eu mesmo já escrevi isso avalizando Woody Allen por se repetir tanto sem, no entanto, o poupar das verdades absolutas (a saber: “Igual a Tudo na Vida”, “Dirigindo no Escuro” e “O Escorpião de Jade” são lixo comparados a “Annie Hall”, “Hannah e Suas Irmãos” e “Crimes e Pecados”). Desta forma, Wes Anderson está criando a sua arte centrifugando o que fez de melhor, e se repetindo, gastando desavergonhadamente a fórmula que o apresentou ao mundo. “Viagem a Darjeeling” não é ruim; é só um lixo perto de “Os Excêntricos Tenenbaums”. Se tivesse sido lançado em 2000 seria um grande filme. Hoje é um pastiche. Fique com o original.

novembro 26, 2007   No Comments