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Quatro respostas: Aliança Faro, IA, revistas

Uns meses atrás, a pedido dos amigos da Mondo Sonoro, da Espanha, respondi essas quatro questões…

O que você acha que uma associação como a FARO pode contribuir para o setor musical atual?
De muitas maneiras, mas, acima de tudo, amplificando os artistas locais emergentes e incentivando-os a romper limites. Isso tem um inevitável sabor utópico, mas essa é a moeda com a qual trabalhamos. O destaque do Brasil em julho foi Luiza Lian, e hoje, mais de 30 dias depois, Luiza Lian foi a TOP TUNES da semana da KCRW. Estamos em sintonia com o mundo pop e podemos trazer muito para a aproximação entre os países. Talvez devêssemos dar um passo além? Talvez devêssemos colocar artistas locais à disposição de outros países para entrevistas (dependendo do interesse de cada veículo de comunicação)? Não sei, mas sei que temos algo muito importante em nossas mãos, que é a experiência musical local para trocarmos uns com os outros. Isso é muito valioso.

Como você classificaria a experiência da associação da FARO até o momento?
Com uma montanha-russa de emoções 🙂 Pessoalmente, ter um contato mais próximo com a cultura musical de cada país tem sido um grande aprendizado para mim (e aqui vai um parêntese para minha frustração com a redução dos textos no Panorama, porque havia mais conteúdo e eu estava muito interessado nisso. Sei que isso pode não ser tão atraente para um leitor neófito, mas para mim foi uma pequena… lição. Aprendizado, na verdade). Conquistar leitores com esse material, no entanto, tem sido um desafio muito complexo (e aqui, especialmente no Brasil, temos uma série de questões históricas – que foram inclusive ativadas pela Ditadura – de distanciamento dos países vizinhos em prol do endeusamento da cultura made-in-USA), um trabalho de formiguinha que exige parceiros, amplificação e tudo o mais. É um dos projetos mais engenhosos em que o Scream & Yell esteve envolvido, mas não é um projeto fácil de gerenciar em um cenário muito complexo.

Que papel você vê as revistas de música desempenhando hoje em dia?
Para mim, é o mesmo de sempre: aprofundar o conteúdo além da música. Não basta gostar dela, é preciso entendê-la. É uma ideia fixa que muitas vezes é levada pelas modas e muitas vezes se perde, mas ainda acho que o caminho a seguir é ir mais fundo e, cada vez mais, ser crítico. No início da década de 2010, pensávamos que a crítica estava morta como indicador de tendências, pois a conexão cada vez mais direta do público com os artistas significava que o intermediário (o crítico) estava desaparecendo. No entanto, o volume de novos lançamentos musicais é impossível de ser acompanhado pelo ser humano comum (que trabalha das 8h às 17h e não é um aficionado por cultura pop como nós), que precisa recorrer a um site como o nosso para saber o que ouvir em meio à avalanche de novos lançamentos. Para mim, não mudou muito em sua forma, mas mudou em sua apresentação: passamos do impresso para a Web. Essa mudança implica em muitas coisas.

Como você vê o futuro das revistas de música e como acha que elas podem ser afetadas por novas tecnologias, como a IA ou outras?
Ainda estou comprometido com o conteúdo aprofundado. Acho que sempre haverá pessoas interessadas em conteúdo diferenciado (uma entrevista mais longa, uma resenha mais aprofundada). A IA, por outro lado, é desconhecida para mim. Música é emoção. Ouvir uma ótima música nova ou assistir a um show especial – ou, ao contrário, ouvir uma música ruim e assistir a um show detestável – dá origem a… palavras sentimentais (para o bem ou para o mal). O que a IA faria em relação a isso? As informações pontuais são replicáveis. Informações históricas também (acho que é fácil para a IA escrever uma resenha de “Exile on Main Street”, “Love After Love”, “Is This It” e “Fetch the Bolt Cutters” – talvez até “Super Terror”, que tem dois meses), mas sobre o agora, o que a IA poderia dizer sensorialmente sobre um show que viu hoje ou um álbum que acabou de ser lançado?

abril 12, 2024   No Comments