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A intimidade de Paul McCartney

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Terminei ontem o meu sexto livro de 2012. “A Intimidade de Paul McCartney”, de Howard Sounes, se junta à listinha que já tem “O Resto é Ruído”, do Alex Ross, “A Visita Cruel do Tempo” e “O Torreão”, de, Jennifer Egan, “Sexo na Lua”, de Ben Mezrich e “Conversas com Scorsese”, de Richard Schinkel (além da releitura do primeiro volume de comédias de Shakespeare). 2012 está rendendo, ao menos para leitura.

Gostei bastante de “A Intimidade de Paul McCartney”. Já tinha aprovado a prosa rápida de Howard Sounes na ótima “Bob Dylan, A Biografia”, e nesta versão beatle, o jornalista vai muito além dos outros livros que pretendem rememorar os fab four. Claro, há bastante pimenta e fofoca de bastidores no livro, além do julgamento de Sounes ser bem pesado com Paul McCartney, embora ele tente relevar isso nos agradecimentos.

“Eu não tinha a intenção de critica-lo nem glorifica-lo excessivamente em sua carreira”, argumenta o jornalista. “Tentei contar a história épica de sua vida de modo verdadeiro e justo”, contemporiza. A justiça, porém, é diferente para cada pessoa, e Sounes pesa a mão em diversos momentos, como por exemplo quando esculacha (com certa razão e raríssimas exceções) quase toda produção musical solo do ex-beatle.

“A Intimidade de Paul McCartney” é um livro para ser lido com bastante cuidado, porém, tem muitos méritos. Traz histórias interessantes dos tempos dos Beatles que foram vetadas tanto na biografia (chapa branca) de Paul, “Many Years From Now”, de Barry Miles, tanto quanto no “Anthology”, mas seu maior mérito é dividir a vida de McCartney em duas fases: Beatles e carreira solo (o Paul pós Beatles é praticamente ignorado em “Many Years From Now”).

Sounes baixa a guarda com respeito (e chega a emocionar, embora solte uma ou outra farpa nas entrelinhas) no capítulo que relembra a morte de Linda e esmiúça o trágico casamento com Heather Mills, com a facilidade do acesso público aos documentos do divórcio, 68 páginas que escancaravam a vida de Paul (listando todas as suas propriedades, todo seu dinheiro e cenas do cotidiano do ex-beatle que viraram festa nos tabloides ingleses).

Fãs até devem ficar ofendidos com a pena afiada de Sounes (que pega pesado em algumas comparações com Dylan, por exemplo, quando diz que Bob, “no melhor de seus momentos, é um homem profundo, enquanto Paul, no melhor, é apenas um bom compositor – e um letrista medíocre”, ou quando esmiúça a fixação por Paul em viver do passado e continuar tocando as canções do mesmo modo de 50 anos atrás nos shows atuais, enquanto Dylan opta por recriar seu repertório toda noite), mas o saldo é bastante positivo.

Abaixo, um dos trechos hilários do livro, que, de certo modo, exibe o poder de sedução de Paul McCartney (como se suas canções já não bastassem pra isso)…

“Paul não divulgou suas experiências com a cocaína e a heroína à imprensa em 1967, isso aconteceu 30 anos depois. O pouco que ele relatou sobre ter usado LSD causou polêmica suficiente em uma época na qual os jornais estavam cheios de matérias sobre astros pop e pessoas próximas a eles presos por uso de drogas. Um amigo fotógrafo dos Beatles, John ‘Hoppy’ Hopkins, foi preso por posse de maconha no dia em que ‘Sgt Peppers’ foi lançado. Além disso, a batida policial na casa de campo de Keith Richards levou Robert Fraser, Keith e Mick Jagger a sentenças de 6, 12 e 3 meses de prisão, respectivamente. Os Stones foram soltos mediante fiança em poucos dias, esperando o julgamento do recurso, mas Fraser cumpriu quatro meses. Embora a intelligentsia considerasse as sentenças injustas, o editor do Times escreveu um elogiado editorial que ajudou os Stones a ganhar o recurso – havia uma sensação de que a policia, mancomunada com os tabloides, estava em busca do maior prêmio de todos: prender um beatle. A confissão sobre o LSD de Paul causou estranheza em John, George e Ringo, que se viram assunto de escrutínio indesejado sobre o uso de drogas, com a ironia de que Paul fora o último entre eles a experimentar ácido. ‘Pareceu estranho para mim’, comentou George anos depois para o documentário ‘Anthology’, “porque estávamos tentando fazê-lo tomar LSD havia mais ou menos um ano e meio – e um belo dia lá estava ele na televisão falando sobre isso”. Com essa declaração, George pareceu sugerir que Paul desejava atenção.

Em Liverpool, os McCartney ficaram preocupados com a noticia de que o membro famoso da família estava usando drogas. Tia Ginny convocou uma reunião de família para discutir a situação, o que a levou ao sul para resolver tudo pessoalmente com o sobrinho. ‘Então ela foi à Londres ficar com Paul’, conta o parente Mike Robbins. ‘Cerca de cinco ou seis dias depois ela voltou, e todos nos reunimos – eu vou lembrar disso para sempre – em sua pequena casa em Mersey View. A família perguntou se Ginny conseguira vê-lo, e a senhora de 57 anos tirou um baseado da bolsa de mão e perguntou, de maneira sonhadora: ‘Vocês já experimentaram um desses?’. A parentada acendeu e fumou a erva. ‘Rimos feitos uns doidos’, revela Mike. ‘Essa era a Tia Ginny’”.

E esse era Paul McCartney. Muito prazer.

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Paul McCartney na Ilha de Wight / Foto: Marcelo Costa

Leia também:
– Sobre Scorsese e filmes que salvam almas, por Mac (aqui)
– Martin Scorsese, eu e a morte, por Marcelo Costa (aqui)
– Jennifer Egan manipula o leitor em “O Torreão”, por Mac (aqui)
– “Sexo na Lua”, de Mezrich: sem a sorte de Zuckerberg, por Mac (aqui)
– “O minimalismo e o rock and roll”, trecho de “O Resto é Ruído” (aqui)

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