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Duas cervejas trapistas da Westmalle

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Por duas vezes, nos séculos 18 e 19, os Monges Cistercienses da Estrita Observância foram proibidos e perseguidos (assim como as demais ordens monásticas). Em 1791, o mestre da Abadia de La Trappe, Augustinus de Lestrange Dubosc, temendo a perseguição causada pela Revolução Francesa, deixou o país e decidiu enviar monges para lugares distantes (como Itália e Espanha), pensando em novos assentamentos. Um terceiro grupo deveria ser enviado para o Canadá, mas parou na Antuérpia, onde o bispo local fez um convite: “Fiquem aqui”.

Não era só um convite. O bispo arranjou uma fazenda para o grupo nos Flanders, e nascia assim, em 1974, a Abadia Trapista de Westmalle (cujo nome original é Abdij Onze-Lieve-Vrouw van het Heilig Hart van Jezus), que só foi elevada ao posto de abadia em 1836, mesmo ano em que o abade Dom Martinus começou a construção de uma pequena cervejaria, com a primeira produção abastecendo o almoço dos monges em 10 dezembro de 1836. Nascia uma das mais famosas cervejas trapistas.

A cervejaria foi ampliada e reconstruída em 1865, com base em uma planta usada pelos monges trapistas de Forges (perto de Chimay). As vendas no local já haviam sido iniciadas em 1856 (além de cerveja, os monges faziam – e fazem até hoje – pão e queijo), mas a Westmalle só passou a ser vendida comercialmente em 1921. Hoje em dia, a Abadia Trapista de Westmalle, com cerca de 20 monges e 40 funcionários, produz 45 mil garrafas por hora de três tipos de cerveja: Dubbel, Trippel e a sazonal Westmalle Exttra.

A Westmalle Dubbel já mostra sua potência no aroma, extremamente alcoólico, parecendo inclusive mais do que os 7% que o rótulo antecipa. Assim que o nariz se acostuma com o álcool, notas adocicadas de frutas vermelhas (morango, cerveja) se misturam com melaço e caramelo num conjunto sedutor. Na língua, o conjunto é adocicado e cativante, remetendo primeiramente a cereja, depois a caramelo e licor. O finalmente e extremamente seco, mas deixa um rastro de frutado pelo caminho. Uma experiência.

Apelidada de “mãe de todas as Tripel”, a Westmalle Tripel, por sua vez, é uma porrada. O álcool é bem perceptível desde o primeiro momento, mas o aroma é muito mais que isso: é uma festa com notas de laranja, mel, floral, canela, lúpulo, malte e o que a sua imaginação sugerir. Na boca, há um rastro de amargor com toques de cítrico (principalmente laranja e um pouco de abacaxi) banhados levemente em álcool, que vão se aclimatando de forma majestosa. Ainda a acho intensa demais, mas, sem dúvida, é impressionante.

Hoje em dia é facilmente encontrar as duas Westmalle em bons empórios no Brasil, e embora os preços praticados aqui ainda sejam excessivos (entre R$ 15 e R$ 21 a garrafa de 330ml), o retorno do investimento é plenamente satisfatório. Vale, ainda, pensar em uma visita ao mosteiro. O site oficial dá todas as informações sobre visitas e até estadias mais longas, em que o visitante adentra a trilogia que comanda a abadia (da qual a cerveja é apenas para manter a congregação): viver para rezar, viver para a comunidade, viver para o trabalho. Quem sabe…

Westmalle Dubbel
– Produto: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 4,58/5

Westmalle Tripel
– Produto: Belgian Tripel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9,5%
– Nota: 4,75/5

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Bebendo Westmalle no Belgo, pedaçinho da Bélgica em Londres

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– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)

julho 17, 2012   No Comments