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De volta ao mundo de Rob Fleming

Capa estilizada da trilha sonora do filme “Alta Fidelidade”

Estou relendo “Alta Fidelidade”. Não sei a razão. Na verdade, estou relendo este Nick Hornby no mesmo momento em que me encaminho para o final do soberbo “A Love Supreme, a Criação do Álbum Clássico de John Coltrane”, de Ashley Kahn. E olha, é bem raro eu ler dois livros ao mesmo tempo. Acho que isso deve ter acontecido poucas vezes na minha existência. Geralmente pego o livro e ou vou com ele até o final sem olhar pra tras, ou abandono em alguma esquina do quartinho da bagunça.

Alguns dias atrás, não lembro o motivo, me animei e separei três livros para ler neste fim de ano: “Alta Fidelidade”, “Pergunte ao Pó” (li meu primeiro John Fante neste semestre) e “O Álbum Negro”, do Hanif Kureishi, que é um escritor que adoro. A idéia era terminar o “A Love Supreme” e embalar em um dos três, mas o “Alta Fidelidade” pulou no meu colo e quando vi já estava na página 82 evitando a lista das coisas desagradáveis (não vou cair nessa de novo, Rob) e pensando como o ser masculino é tão particular.

Talvez o livro tenha voltado devido a uma promoção do Submarino, que tinha colocado vários livros do Horby a R$ 10. Ou então me animei com os bons comentários que “Juliet, Naked”, novo livro do escritor, tem recebido por ai. Ou talvez, ainda, eu esteja voltando ao mundo da literatura, território em que vivi dos 9 aos 29, e que desde então só vou passar férias rápidas. Sei lá. Além dos livros citados a fila ainda tem “Ensaios de Amor” (pra reler) e “Arquitetura da Felicidade”, os dois do Alain de Botton.

Aguardo ainda ansiosamente um exemplar da coleção completa de Oscar Wilde (amo os contos “infantis” no miolo do livro), que comprei na Estante Virtual, e já decidi que meu presente de natal será a coleção completa de Shakespeare, mas não essas novas em três ou quatro volumes, e sim uma em 22 livros, igual a que me acompanhou durante toda a adolescência em Taubaté. Já até liguei na Biblioteca Municipal da cidade para pegar o ano, a edição e a editora dos volumes que li, e que só faço questão de ser a mesma pelos extensos apêndices que dão um panorama interessante da escrita de Shakespeare.

Risos. Coisa estranha. Não tem nexo nenhum esse post. A idéia inicial era falar do “Alta Fidelidade”, dizer que recebi ele de natal em 1998 – num pacotinho cheio de badulaques vindo do Rio – com a seguinte dedicatória: “Para o meu Má, que entende quais são as coisas que valem a pena”. E citar algum trecho divertido que faça quem lê este blog ter uma coceirinha de vontade de ler o livro. Mas será que tem gente que ainda não o leu? Ian McCulloch, aqui, confessou para mim que tinha ganhado o livro do irmão, que não tinha lido, mas que talvez fosse ler (“sei que fala de música e shows”, ele disse).

Sei lá. É só um post sem pé nem cabeça. Melhor parar de enrolar (agora deu vontade de ver o filme, mas quase meia-noite não rola…) e…

“Eu sou o quê? Médio. Um peso-médio. Não o cara mais esperto do mundo, mas seguramente não o mais tapado: li livros como A Insustentável Leveza do Ser e O Amor Nos Tempos de Cólera, e os compreendi, eu acho (eram sobre garotas, certo?), mas não gostei muito deles (…). Eu leio o Guardian e o Observer, assim como leio o NME e as revistas de música; não tenho nada contra ir a Camden ver filmes europeus, embora eu prefira filmes americanos.

Minha aparência é legal; na verdade, se você colocasse, digamos, Mel Gibson numa ponta do espectro de aparência e, digamos, Berky Edmonds lá da escola, cuja feiúra grotesca era lendária, na outra, então acho que eu conseguiria, por pouco, ficar no lado de Mel. Uma namorada uma vez me disse que eu parecia um pouco com Peter Gabriel, e ele não é de todo mau, é? Sou de altura média, nem magro, nem gordo, sem pêlos faciais repugnantes, mantenho-me limpo, uso jeans e camiseta e uma jaqueta de couro mais ou menos o tempo todo a não ser no verão, quando deixo a jaqueta em casa. Voto no Trabalhismo. Tenho uma pilha de vídeos de comédia clássicos. Consigo entender aonde as feministas querem chegar, na maior parte do tempo, mas não as radicais.

Minha genialidade, se puder chamá-la assim, é combinar toda essa carga de medianidade numa estrutura compacta única. Eu diria que há milhões como eu, mas não há, na realidade: muitos caras têm gosto musical impecável mas não lêem, muitos caras lêem mas são gordos demais, muitos caras são simpáticos ao feminismo mas têm barbas idiotas, muitos caras têm um senso de humor como o Woody Allen mas se parecem com Woody Allen. Muitos caras bebem demais, muitos caras se comportam de modo idiota ao dirigirem um carro, muitos caras se metem em brigas, ou ostentam seu dinheiro, ou tomam drogas. Eu não faço nenhuma destas coisas, sério; se me dou bem com as mulheres não é por causa das virtudes que tenho, mas por causa das sombras que não tenho.”

“Alta Fidelidade”, de Nick Hornby (páginas 30 e 31).

Leia também:
– Cinco razões para uma mulher ler este livro, por Marta Orsini (aqui)

novembro 23, 2009   No Comments

Três Jason Bourne

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“A Identidade Bourne”, de Doug Liman (2002)
É o longa que deu origem à trilogia com tudo aquilo de impossível que pode acontecer em filme de ação hollywoodiano. Como Marcelo Forlani listou no Omelete (resenha completa aqui), “numa noite tempestuosa em alto-mar um tripulante de um barco pesqueiro consegue ver um corpo boiando. Após o resgate descobre-se que mesmo com dois tiros nas costas e o “banho forçado”, o cara está vivo. (…) comandante da embarcação é um italiano de uns 50 e tantos anos que fala inglês e tem a mão tão firme que consegue operar o nosso amigo mesmo com o barco balançando mais que a câmera de A Bruxa de Blair”. Ou seja, se você desligar o botão da realidade, “A Identidade Bourne” pode se transformar em um filme divertido. Segundo, Jason Bourne é imortal. “Me sinto tão pequena perto dele e seus 30 passaportes” (risos).

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“Supremacia Bourne”, de Paul Greengrass (2004)
A estréia fez um sucesso estrondoso, então nada mais Hollywood que investir em uma segunda história. Porém, desta vez, até que a trama toma mais corpo e aspectos psicológicos interessantes são inseridos na trama. Nada que vá fazer o filme ganhar mais do que uma nota 6 (a não ser que ele esteja sendo analisado como uma comédia, ai pode ir longe), mas há sobrevida. Curto e grosso: Jason Bourne, que perdeu a memória no primeiro longa, mas não nenhuma das mil e uma habilidades de combatente, está curtindo a vida numa ilha com sua gatinha, até que é descoberto e entramos novamente no ritmo acelerado de perseguições, lutas e tiroteios. Aqui o resultado convence mais, e ainda dá uma deixa para o terceiro longa.

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“Ultimato Bourne”, de Paul Greengrass (2007)
O mais bacana dos três. E o mais piegas. Nosso herói está escondido tocando a vida quando lê uma reportagem sobre ele no Guardian. E lá vamos nós em dezenas de cenas de ação entender tudo que aconteceu na vida de nosso amigo. Ao menos, o roteiro tenta tapar todos os buracos – poderia ter explorado mais a questão “Julia Stiles”, mas ok. De cara dá para cravar que cineastas realmente acham jornalistas idiotas, e que Jason Bourne não lembrar de suas conquistas amorosas é uma grande sacanagem. Aliás, no quesito conquistas, Jason Bourne perde de goleada de James Bond. Ok, não há como comparar Sean Connery no auge com Matt Damon, mas até que o baixinho surpreende com uma atuação bastante convincente. Juntos, os três filmes não são excelentes, mas também não são ruins. Se você tiver de bom humor ele pode até lhe tirar umas risadas…

novembro 23, 2009   No Comments