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FIB 2008, Sábado


Texto e fotos: Marcelo Costa

O dia em Benicàssim começa depois das 14h. É quando a comunidade branquela do mundo (eu incluso) e alguns poucos morenos acorda e abarrota as praias do balneário procurando um lugar para… dormir (e as meninas, fazer topless). Perdi o trem das 14h30 de Castellon para Benicàssim (assim, cheguei até a entrar no vagão, mas estava na dúvida se era aquele mesmo ou se eu estava pegando um trem para o sentido contrário. Era aquele) e tive que encarar a viagem de ônibus, que geralmente derruba o freguês de sono. Me desencontrei do pessoal do Alto Falante, encostei em um bar na orla, estiquei as pernas na cadeira e… três Amstel de um litro (cerveja de Sevilha) e eu já estava pronto para o ritual: capotar na praia.

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Arranjei um lugar “limpinho”, fiz da mochila e dos chinelos meu travesseiro, coloquei o relógio para despertar às 18h e sonhei com anjos. Acordei às 18h20 e só não perdi o The Ting Tings pois o show atrasou. Quando coloquei o pé direito na tenda, Katie White e Jules De Martino entraram no palco. Era um dos primeiros shows do dia, 18h40, solzão no alto, e o local estava abarrotado (repetindo a loucura do T In The Park). O duo novamente fez uma boa apresentação, com algumas criancas na plateia e clima de festa adolescente. “That’s Not My Name” (que bateu no número 1 da parada britânica), “Shut Up And Let Me Go” e “Great DJ” incendiaram a tenda.

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Primeira grande comida de bola da viagem: finado o show do Ting Tings, eu, Renata e Carol procuramos um lugar pra armar o boteco e esperar o próximo show. Enquanto isso, para uma tenda com 1/4 de sua lotação (ou seja, vazia), Jon Spencer levava ao FIB seu projeto paralelo de rockabilly Heavy Trash. Eu bebendo cerveja na grama e Jon Spencer – sem barba e de terninho – mandando ver no barulho na tenda FiberFib. Das coisas que acontece quando o line-up tem mais de 110 nomes confirmados. Pena. Mas vi meia hora de José González (aquele show bonito que a gente já conhece) e três músicas do Brian Jonestown Massacre (eu esperava mais do Anton; acho que o ótimo documentário “Dig!” superestimou a banda).

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De volta a tenda FiberFib, novamente com pouca gente, estirei-me no chão a dez passos da grade e vi a performance do American Music Club inteirinha jogado. O vocalista e guitarrista Mark Eitzel (foto abaixo) tira um faca cravada no peito a cada novo número trazendo as canções lá do fundo do âmago, onde você não acredita que alguém consiga buscar emoção. Eitzel é daqueles caras que poderia ficar rico vendendo honestidade em frasquinhos de 5ml, e o reconhecimento veio no pedido de bis, o primeiro que vi neste festival, mas que o pequeno público fez questão de pedir, e ganhou como presente a pungente e arrepiante “All My Love”, em versão comovente, de congelar a espinha. Puta show.

 Por falta do que ver, tive que encarar um show inteiro do My Morning Jacket. O Thiago, do Alto Falante, definiu bem: “Eles são até legais em disco, mas em show abusam do rock burrão”. Tem até guitarra Flying V. Era isso ou ver Tricky. Fiquei matando tempo até à meia noite, quando Alison VV Mosshart e Jamie Hince entraram no palco do Main Stage. Assumo: se eu não fosse casado (e ela também), eu pediria a Alison em casamento. Fácil. Ao contrário de Paula Toller, Alison é daquelas mulheres que solos de guitarra podem conquista-la. Ok, não são os solos do Kid Abelha, mas sim do The Kills, uma usina de barulho movida a bateria eletrônica e guitarradas. O show, no entanto, foi inferior ao do Campari Rock 2005, e terminou de forma abrupta como um coito interrompido. Alison gosta de partir corações e ir embora sem dizer adeus.

Depois de troca-los por Grinderman, na Bélgica, e por The Pogues, na Escócia, finalmente me vi frente a frente com o Raconteurs. Jack White conseguiu montar uma banda de garagem com todos os clichês do gênero (para o bem e para o mal). Tem longos improvisos e jams que na maioria dos momentos enchem o saco, mas quando a banda engata a quinta marcha, sai debaixo.

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Nenhuma música surge tal qual foi gravada em álbum. Eles recriam tudo, e em várias passagens se superam, caso da versão arrasa-quarteirão de “Steady, As She Goes”, mas não é “o” show. São simplesmente quatro bons músicos declarando paixão e devoção pelo barulho. “Many Shades of Black”, com Brendan Benson comandando, foi um dos grandes momentos, mas muita coisa boa do primeiro disco ficou de fora em favorecimento de faixas medianas do segundo. E vamos combinar: Jack White e Michael Jackson podem sair de mãos dadas no quesito brancura.

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A noite ainda teve Gnarls Barkley (que abriu o show com a festejada cover dos Violent Femmes, “Gone Daddy Gone”) tocando seu álbum de reggae dos anos 2000 (com direito a cover do Radiohead, “Reckoner”, do “In Rainbows”) e sanduíche de bacon com chouriço (aprovado) acompanhado de duas Jake and Coke. Quando cheguei no hotel, o relógio marcava quase sete da manhã, e eu precisava descansar, afinal este domingo é o grande dia do FIB 2008: na agenda Leonard Cohen e Morrissey. Segunda, correria: às 9h embarco de trem para Barcelona. Chego às 11h42 e saio correndo do vagão para comprar uma passagem de trem para o aeroporto (11h55), onde preciso estar até 12h35, horário final do check in do voo para Malága, na Andaluzia, onde tenho encontro marcado com Lou Reed às 21h. Torce por mim. Vai ser correria.

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Saiba como foram todos os dias do FIB 2008 e 2011

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