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George Costanza merece ser feliz

Texto que escrevi em 2012 para o site “Movimento Seinfeld”, hoje em dia fora do ar, que eu trouxe pra cá porque não queria perder…

The Opposite
George conclui que todos os seus instintos estão errados e decide começar a fazer tudo ao contrário do que normalmente faria.
por Marcelo Costa

Se todos os seus instintos estão errados então o oposto tem de estar certo.

Leia de novo a frase acima. Leu? Agora tente relembrar todas as burradas que você fez na vida, e pense o que teria acontecido se você tivesse feito exatamente o contrário. Complicado? Um pouco. Embora acredite que as coisas aconteçam porque tem que acontecer (se você perde o ônibus é porque você realmente tem que chegar atrasado ao trabalho, e não necessariamente se apaixonar pela loirinha que – hipoteticamente – pegou o mesmo ônibus e estava sentada no lugar exatamente ao seu lado, duas horas antes), não sou apologista do positivismo (já fui atropelado, e a enfermeira até era bonitinha, mas a única lembrança que guardei da história foram alguns pontos na nuca), o que mais ou menos quer dizer que, se pudesse voltar no tempo (algo assim meio “Peggy Sue”, de Francis Coppola), fácil que eu faria o oposto de algumas coisas que realmente fiz (não todas, mas… faria). Parece meio roubar no jogo, né. Eu sei, mas a gente merece ser feliz um pouquinho, principalmente na segunda chance.

George Costanza também merece ser feliz um pouquinho. Na verdade, um episódio inteiro. E aqui está The Opposite para fazer jus ao cara mais feladaputa de todas as séries jamais escritas. Calma lá, George é meu amigo. Eu posso dizer a verdade sobre ele. Na verdade, se for para dizer a verdade, somente a verdade, George é um pouquinho de mim, de você, do seu amigo, do seu primo, do nosso pai, de todos os homens. Porque George é tudo aquilo que nós somos quando estamos completamente livres em nosso habitat natural, o mundo todo particular e isolado do pensamento macho e politicamente incorreto masculino. Estou exagerando, tudo bem. Ele é só um pouquinho do que cada um de nós é, e do que a gente não mostra para as mulheres (eu nunca pegaria um doce de dentro do lixo, nunca transaria com a faxineira do meu trabalho – no meu próprio trabalho, e esperaria as mulheres, crianças e idosos saírem na frente em um incêndio… e por aí vai), afinal merecemos ser felizes (a gente merece, acredite).

Desta forma, após 85 episódios (cinco temporadas com pequenos espasmos de felicidade), nada mais justo que, uma vez na vida, George fosse realmente feliz (ainda mais que nos 84 episódios posteriores ele vai… bem, você sabe, e se não sabe deveria saber), nem que para isso ele precise fazer exatamente o contrário do que faz normalmente, o que inclui, veja só, dizer a verdade. A verdade é uma das facas mais afiadas do relacionamento moderno (seja com uma mulher, seja com seu chefe, seja com um amigo, seja com seu tio), com exceção das pessoas que vivem na França (leitora amiga, faça o teste: pergunte para um francês se, depois de se empetecar toda, você está bonita. E esteja pronta para ouvir a verdade). Art Vandelay, ops, George Costanza, é mestre nas mentiras de perna curta, mas em The Opposite ele sente o poder da verdade: “Meu nome é George. Estou desempregado e moro com meus pais”, diz ele para uma garota, que… se apaixona por ele. Tudo bem que não era uma Michelle Pfeiffer (mas sim Dédée Pfeiffer, sua irmã mais nova), mas depois de tantos foras, tudo começa a dar certo para ele.

O que, por sua vez, não deixa de ser extremamente irônico e brilhante! Os carros o fecham no trânsito abarrotado de Nova York, e ele sorri, fazendo o contrário do que faria normalmente. Em uma entrevista de emprego, solta os cachorros para o presidente da empresa, e é contratado. Você pode até dizer que isso é irreal, mas nesse mundo louco sem Deus, acredite, tudo é possível. E tudo é possível por The Opposite também tratar de… one, two, three: acaso e sorte. Não é a toa que na Roda da Fortuna, quando tudo começa a dar certo para George Costanza, as coisas vão de mal a pior para Elaine Benes. Até soa como uma lei de compensação, da qual Jerry Seinfeld permanece na mesma (uma cena deletada presente nos extras deste episódio é magnífica: após sair saltitando de um pé na bunda, ela esbarra em uma garota e, lá está ele namorando de novo), mas Cosmo Kramer se dá mal. Ou seja: a sensação que fica é de que o mundo perde sua órbita, suas características naturais, quando George fica feliz. É uma leitura meio carola, eu sei (dia desses a gente discute o episódio final na mesa de um bar), mas o que importa é que ele será feliz até os últimos segundos deste episódio. E ele merece.

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