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Dylan com café, dia 27: Empire Burlesque

Bob Dylan com café, dia 27: Você já deve ter lido a frase “Bob Dylan estava perdido” uma dezena de vezes nestes cafés, mas agora é sérião: é 1984 (e 1985… e 1986…) e Bob Dylan está perdidaço. Assim que a turnê “Real Live” terminou, Bob começou uma peregrinação doida pelos estúdios mais variados testando canções inacabadas com todo o tipo de músicos (a ficha técnica soma mais de 30 nomes) atirando para todos os lados, sem concisão nem direção. A saída então foi pegar um grupo dessas canções quase sem nenhum parentesco (um terço delas gravadas com os Heartbreakers de Tom Petty, outro com Sly & Robbie mais o guitarrista que estivesse por perto – podendo ser Ron Wood ou Al Kooper – e um terceiro com quem tivesse paciência para adentrar o mundo bizarro da cabeça de Bob Dylan, algo que faltou aos músicos da banda de Al Green) e jogar nas mãos do produtor de dance music Arthur Baker com um pedido: “Dá um jeito de transformar isso num disco, por favor” (tipo Phil Spector, Beatles e “Let It Be”, ainda que as canções de Bob neste momento não estejam neste mesmo alto nível).

O resultado é “Empire Burlesque”, lançado em junho de 1985, um disco cuja produção atropela as gravações originais com um trator, tecladeira e bateria eletrônica (datadíssima) tirando o viço das canções em prol de um brilho e padrão sonoro de época. Dai tu pensa: o culpado é Arthur Baker? Sim e não. Tire a prova: os bootlegs “Naked Empire” ou “Clean Cuts” (abaixo) trazem as gravações originais, e ao mesmo tempo em que Baker salva “Tight Connection To My Heart” (o original era um sub-Bruce Springsteen cara de pau pelo qual Bob iria ser muito sacaneado se tivesse lançado enquanto a primeira versão, uma sobra de “Infidels”, carregava um sotaque velvetiano que faria Lou Reed sorrir e seria oficializada no box “The Bootleg Series – Volumes 1/3”, de 1991, com o nome de “Someone’s Got a Hold of My Heart”) e “When The Night Comes Falling From The Sky” (que soava como uma versão popero mequetrefe de “All Along The Watchtower” fase “At Budokan”), ele assassina a alma rock n’ roll de “Trust Yourself” e “Clean Cut Kid” transformando vinho em sangue.

Arthur Baker fez o possível mas, ainda assim, “Empire Burlesque” não é um disco tão ruim quanto dizem. Só é… datado. E pesadamente triste. Três canções do disco ganharam clipes (todos disponíveis no post). Nas letras, Bob finge estar feliz por um relacionamento terminado (“Seeing The Real You At Last”), é flagrado trágico numa prisão observando apaixonados morrerem na escuridão (“When the Night Comes Falling from the Sky”) e também vê seu amor morrer (“Never Gonna Be The Same Again”). A bonita “I’ll Remember You” ganhou sobrevida no filme “Masked and Anonymous”, de 2003, e foi salva. Já “Dark Eyes”, único momento voz, violão e gaita do disco, serve para aumentar a sensação de abismo entre o Dylan “das antigas” e este Dylan yuppie oitentista.

Especial Bob Dylan com Café

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