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Posts from — setembro 2011

Opinião do Consumidor: Bourganel Brewery

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Inaugurada no sul da França em 1997, a Bourganel Brewery especializou em cervejas exóticas e aromáticas mantendo um nível de graduação alcoólica padrão de 5% em suas lagers, que, porém, desaparece no conjunto variado que inclui adição de castanhas portuguesas, mirtilo, mel e verbena. O foco é o paladar feminino, e tem dado resultados. A cervejaria – que começou artesanal – aumentou o maquinário em 2004 e lançou novas experiências nos últimos anos. São cervejas para poucos, mas vale a curiosidade.

Como o nome e o rótulo entregam, a Bourganel Au Miel de Châtaignier leva em sua formulação mel de abelha. O aroma dulcíssimo impressiona logo de cara. O mel vem à frente com o malte floral em segundo plano, distante, sem conseguir competir em balanço. O paladar segue o que aroma adianta com mel e caramelo se destacando bastante, mas com um bocadinho de amargo marcando presença – principalmente no final. No fim das contas até que a Au Miel de Châtaignier se prova interessante.

Já a versão Nougat da Bourganel é absolutamente estranha. Você consegue imaginar uma cerveja com aroma e sabor de… torrone? Parece que esqueceram uma barrinha do doce dentro de um copo da cerveja. O aroma tradicional de cerveja desaparece com amêndoas, chocolate e torrone encobrindo o malte, que desaparece na fórmula (apesar dos 5% de graduação). O sabor é enjoativo e lembra um suco aguado de amêndoas (talvez misturando horchata com uma pilsen tradicional você chegue ao mesmo resultado). Decepcionante.

Partimos então para a terceira representante da casa, a boa Bourganel aux marrons de l’Ardèche, uma cerveja com castanha portuguesa em sua formulação. O aroma interessante remete não só a castanha, mas também a chocolate, caramelo e nozes. O paladar, entre o aguado e o pastoso, é despido quase que totalmente de amargor, sem que apele excessivamente para a doçura – o final, inclusive, fica no meio termo. Eis uma cerveja extremamente leve com a característica Bourganel de não parecer uma cerveja.

Está achando tudo meio exótico? Imagine então uma cerveja verde. É a Bourganel Bière à la Verveine Velay, que ganha essa cor devido à inserção de extrato alcoólico de verbena, uma flor da região da cervejaria com poder de calmante contra nervosismo e distúrbios gastrointestinais relacionados ao estresse. É sério! O aroma não traz nada de álcool, mas sim uma disputa entre menta e erva cidreira. No paladar, esqueça o amargor. Ele até chega a tocar o céu da boca, só que desaparece em fração de segundos. O malte, no entanto, faz um charme maior, mas no fim a Verveine parece mais chá que cerveja.

Fechando o lote francês, a Bourganel Aux Myrtilles, uma especial de blueberry, uma pouquinho menor do que uma uva cuja característica principal é seu suco… azul. A versão Boruganel que traz o suco da fruta fica entre o azul e o vinho. O aroma é adocicado e muito frutado (que lembra o que, para nós, seria amora). Nada de malte nem de álcool. O paladar é levíssimo, com o amargor suave (remetendo a limão) manchando o adocicado do mirtilo. Parece um suco de uva que passou da validade.

Os cinco rótulos acima foram apresentados no 1º Beer Experience e estão sendo trazidos ao Brasil pelo bar Melograno, de São Paulo, custando entre R$ 20 e R$ 24 (a garrafa de 750 ml). Localizada no Vals-les-Bains, na região das Ardenhas, nos Alpes Franceses, a cervejaria fica a quase três horas de Marselha (sete horas de Paris) e recebe, anualmente, cerca de 4 mil visitantes. Não é uma cerveja para todos os momentos nem paladares, mas vale dar uma chance (principalmente se você não gosta do amargor tradicional).

Ps. as garrafas são lindas…

Teste de Qualidade: Bourganel Au Miel de Châtaignier
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: França
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,60/5

Teste de Qualidade: Bourganel Nougat
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: França
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 1/5

Teste de Qualidade: Bourganel aux marrons de l’Ardèche
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: França
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,67/5

Teste de Qualidade: Bourganel Bière à la Verveine Velay
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: França
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 1,75/5

Teste de Qualidade: Bourganel Aux Myrtilles
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: França
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 1,55/5

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Leia também:
– Que tal uma cerveja de banana? E de manga? (leia aqui)
– Wells Banana Bread: uma cerveja que merece ser provada (aqui)
– Bacuri Beer, uma cerveja com fruto amazônico (aqui)
– Primeiro Beer Experience, em São Paulo, por Marcelo Costa (aqui)

setembro 12, 2011   No Comments

Vamos beber e ouvir boa música?

 Neste sábado, 10 de setembro, o Scream & Yell e o Urbanaque se despedem da Casa Dissenso, e um pedacinho de nós vai ficar por lá. Os sócios do Urbanaque já eram mais descolados em fazer festas com bandas, mas nós estreamos no métier apenas no ano passado, quando convidamos os amigos do Charme Chulo para se apresentar na primeira Festa Scream & Yell.

Na época, março do ano passado, escrevi aqui mesmo neste blog: “Fazer uma primeira festa ajudou a gente a entender a mecânica de produzir um show, se preocupar com a qualidade da discotecagem, do som da casa, com a proposta do lance todo. Demos nosso primeiro passo, tomamos prejuízo (faz parte, né), mas vamos repetir a história nos próximos meses”. E repetimos várias vezes levando Cérebro Eletrônico, Romulo Fróes, Terminal Guadalupe e Superguidis para tocarem na casinha.

Foram todos shows fodas com vários momentos inesquecíveis: do Cérebro tocando quase que todo o então disco novo ainda não lançado “Deus e o Diabo no Liquificador” (e a melhor versão de “Pareço Moderno” que vi ao vivo) passando pela apresentação mágica de Romulo Fróes (que tocou com exclusividade duas músicas novas e fez de “A Anti Musa” o encontro perfeito do samba com Sonic Youth).

O show do Terminal Guadalupe foi um daqueles que o clima da casa estava perfeito. E Dary Jr. ainda improvisou nossa parceria, “Como Se Fosse a Primavera”, no final. E o Superguidis, a primeira parceria dividida com o Urbanaque, foi nossa primeira noite sold out na Dissenso – com um show tão foda, mas tão foda dos Guidis, que é difícil lembrar e acreditar que a banda acabou.

Mas tudo bem: o tempo passa, os Guidis se foram e Andrio (ex-Superguidis) e Liege (Loomer) baixam em São Paulo para mostrar pela primeira vez ao vivo como soa o Medialunas, o novo projeto do casal. Quatro músicas já estão disponíveis no Soundcloud da dupla (ouça aqui), e servem para mostrar que o show do Medialunas promete muito.

E já que será uma noite especial, de despedida, convidamos também um dos caras responsáveis por um dos grandes discos nacionais de 2011 (e de 2008 também, se você teve a sorte de ouvir “O Último Dia de Um Homem Sem Juízo”), Pélico, que irá fazer uma apresentação intimista (acompanhado de violão, sanfona e baixo) mostrando as canções do belo álbum “Que Isso Fique Entre Nós” (baixe aqui).

Os amigos da Casa Dissenso vão aproveitar a data para fazer um liquida-tudo imperdível na lojinha (se você foi em alguma das festas sabe que lá há muita coisa foda). Todo o acervo da loja – toy art, vinis, cds, livros e miniaturas de RPG, HQs e livros de arte e música – estará com descontos de até 80%. O saldão começa no dia 10 de Setembro, sábado, e segue até o fim do mês.

Não dá para chorar sobre o uísque derramado. Se uma porta se fecha, a gente dá um jeito e sai pela janela. E relembra o quanto fomos felizes na casinha sempre dividindo boas cervejas importadas, discotecagens surreais e papos sensacionais com a Lita, com a Muri e com o Erick (eles já estão prometendo o Dissenso Studio pra logo). Não me lembro de um dia que não tenha saído da Casa Dissenso com sorriso no rosto.

Já temos outra festa marcada, Scream & Yell e Urbanaque, com a banda alemã Tusq e Eletrofan no Beco 203, dia 05/10. Mas sobre isso a gente conversa depois. Ou então, na própria Dissenso. Aguardo a sua presença nessa noite especial em que vou até levar parte do meu estoque de fanzines em papel e deixar numa caixinha para quem quiser pegar. Neste sábado, 10 de setembro, um ciclo se encerra. Venha comemorar conosco. Vai ser foda. Você nos concede o prazer dessa festa?

setembro 9, 2011   No Comments

Três vídeos: Nina Becker ao vivo em SP

Diante de um bom público numa quarta-feira paulista, Nina Becker subiu ao palco do Studio SP toda charmosa de vestido vermelho e acompanhada de uma excelente banda (Bartolo e Gabriel Bubú nas guitarras, Thomas Harres na bateria e Eduardo Manso no baixo) para apresentar o videoclipe minimalista de “Toc Toc” (assista aqui) e mostrar canções de seus dois álbuns, “Azul” e “Vermelho”, além de algumas boas surpresas.

Da dobradinha de discos surgiram – em versões encorpadas – “De Um Amor Em Paz”, “Madrugada Branca”, “Toc Toc”, “Lá e Cá”, “Tropical Poliéster” e “Flor Vermelha” (entre outras). No quesito surpresas, “Supermercado de Amor” (com Nina descendo na pista para dançar) arrancou sorrisos da plateia enquanto o dueto com Barbara Eugenia (as duas cantando “L’amour em Prive”, de Serge Gainsbourg) fez muita gente suspirar.

Nina aproveitou o bom clima para mostrar uma parceria nova com Marcelo Callado, a ótima “Marco Zero” e cantar sua já tradicional versão de “Estrada do Sol”, que ficou fora dos discos, mas permanece no show. Outra versão reverente marcou presença: “Luz Negra”, de Nelson Cavaquinho, dedicada ao parceiro Romulo Fróes, que voltou a ser citado na canção de encerramento, “Noblesse”, parceria novíssima da dupla.

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Foto de Liliane Callegari. Veja mais fotos do show aqui

setembro 8, 2011   No Comments

Futebol Cards: Grandes Jogos

Não lembro direito o ano, mas foi no começo dos anos 80, provável que antes da Copa de 1982, na Espanha, mas sinceramente não me lembro. O grande chiclete da criançada, o Ping Pong, lançou uma coleção de cards colecionáveis que retratavam 52 grandes jogos entre times brasileiros de 1973 a 1979. Era a segunda grande coleção Ping Pong (a primeira era sobre jogadores), e a minha primeira.

Os cards vinham em um enorme chiclete prensado e eram divididos em grupos de dois: o primeiro trazia a ficha técnica do jogo; o segundo, o relato. Juntei todos, claro, e hoje, 30 anos depois, tentando organizar a bagunça do quarto, os encontrei. Dos 104 cards da época, 99 ainda sobrevivem na minha coleção (provável que os outros cinco estejam por aqui, em algum lugar – um dia eu acho).

Procurando no Google encontrei a relação de todos os jogos (aqui) e um arquivo com 75 dos cards escaneados (ah o mundo maravilhoso da internet – baixe aqui). Há até um site de colecionadores de cards Ping Pong (vale fuçar os arquivos da coleção de jogadores aqui). Além descobri que no Mercado Livre existe à venda quase todos os cards da coleção. Abaixo, cinco dos cinqüenta e dois jogos.

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setembro 8, 2011   No Comments

Duas (ou três) vezes PJ Harvey

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Foto e vídeos: Marcelo Costa

Pela segunda vez em sua carreira (de quase 20 anos), Polly Jean Harvey foi escolhida pelo júri do Mercury Prize como a artista do ano (2011) no Reino Unido. A primeira foi em 2001, quando lançou “Stories from the City, Stories from the Sea”. Agora ela repete o feito (vencendo Adele, Anna Calvi, Elbow e James Blake, entre outros) com o o difícil e sensacional “Let England Shake”. Junto com o prêmio, PJ ganhou 20 mil libras (cerca de R$ 70 mil).

Instituído em 1992, o Mercury Prize já premiou, entre outros, o Primal Scream (“Screamadelica”, 1992), Suede (pelo álbum homônimo de 1993), Portishead (“Dummy”, 1995), Pulp (“Different Class”, 1996), Franz Ferdinand (pela estreia, homônima, de 2004) e Arctic Monkeys (“Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” (2006). No ano passado deu XX. PJ não só foi a primeira mulher a ganhar o prêmio (2001), como o único artista a ganhar o Mercury Prize duas vezes.

Lembro dela falando em algum lugar sobre a surpresa pelo sucesso de crítica do álbum e defendendo com unhas, dentes e longos vestidos o repertório de “Let England Shake” ao vivo: nos dois shows solos que vi dela neste ano (em São Francisco e Amsterdã), PJ Harvey tocou não só o álbum inteiro, mas ainda um b-side do disco. Das 21 canções do repertório (na Holanda foram 23), 14 eram canções do disco novo, canções de 2011.

Nos festivais (“encontrei-a” também no Coachella e no Primavera Sound), em que – diferente de um show solo – parte do público não foi ali especialmente para vê-la, ela respeitava a audiência fugindo da persona séria do show (presa à temática do disco): sorria, conversava com a audiência (Amsterdã e São Fran só ouviram um “Thank You” no bis) e tocava os hits antes (mas sem abrir mão das canções novas). Abaixo, três vídeos que fiz em três shows diferentes deste ano.

Polly Jean Harvey, um belo exemplo de como manter uma persona artística viva e interessante no mundo pop.


Bitter Branches, Warfield, São Francisco, 14/04/2011


Down By The Water, Festival Coachella, 17/04/2011


Sky Lit Up, Paradiso, Amsterdã, 31/05/2011

Leia também:
– Ao vivo: PJ Harvey, Clapton, Winwood, Art Brut e The Kills (aqui)
– “Let England Shake” encanta a cada página virada, por Mac (aqui)
– Tudo sobre o Coachella 2011 (ou quase), por Marcelo Costa (aqui)
– O melhor do Primavera Sound 2011, por Marcelo Costa (aqui)
– Uma noite com PJ em São Francisco, por Marcelo Costa (aqui)
– “A Woman A Man Walked By” retalha fases de PJ, por Mac (aqui)
– “White Chalk” é denso, sombrio e renascentista, por Mac (aqui)
– “Stories From The City, Stories From The Sea”, por Mac (aqui)

setembro 7, 2011   No Comments

Sessões no heliporto da Folha de S. Paulo


Romulo: assista a “Para Quem Me Quer Assim” e “Boneco de Piche


Tulipa Ruiz: assista também a “Da Menina” e “Brocal Dourado


Vanguart: assista também a “Das Lágrimas” e “Semáforo

setembro 5, 2011   No Comments

Cinco fotos: Istambul

Clique na imagem se quiser vê-la maior

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Um gato preto na Mesquita Azul

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A Cidade

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Sofia

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Luzes

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Janela

Veja mais imagens de cidades no link “cinco fotos” (aqui)

Leia também:
– Tour 2010, uma viagem meio sem pé nem cabeça, por Mac (aqui)

setembro 3, 2011   No Comments

Roteiros de uísque na GQ #6

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A nova edição da GQ já está nas bancas com Wagner Moura na capa e muita coisa interessante (como os bastidores do “Nevermind”, do Nirvana, trazendo depoimentos de todo mundo que importa – de Greil Marcus a Butch Vig e advogados, empresários e, claro, Chris, Dave e Jack Endino) além duas coisinhas minhas: indicações de lojas de discos legais pelo país e tours de uísque pelo mundo.

A primeira pauta é bem simples, mas muito útil: uma listinha com comentários rápidos de lojas “pontos de resistência” que insistem em vender CDs e vinis em nove capitais brasileiras (além de garantir bons papos no balcão – não à toa a pauta se chama… “Alta Fidelidade”). A volta do vinil, inclusive, tem abastecido várias destas lojas. Vale olhar a listinha (e ir às lojas).

A segunda tem base na viagem que fiz em julho para a Irlanda (e que contou com uma pequena esticada até Benicàssim). O mote era conhecer as destilarias de uísque (com jeitão de museus) da badalada Jameson em Dublin e Cork. O roteiro incluiu muita coisa legal (aprendi a fazer Irish Cofee – última foto -, bebi uísque retirado direto do barril e me apaixonei pelo folk irlandês – contei aqui).

Na revista falo deste tour pela Old Distillery Jameson, em Dublin, e sobre outros três tours bacanas e muito interessantes de uísque – na Escócia e nos Estados Unidos. Você sabia, por exemplo, que existem cidades nos Estados Unidos em que a Lei Seca ainda vigora? Está tudo na revista, já nas bancas.

Pra fechar, Martin Wain, do jornal argentino La Nacion, que também estava na Irlanda, conta um pouco sobre a história toda. “Verás que tiene algo de ficción”, ele avisa no email brincando enquanto o texto descreve: “No hay que creerle a un mexicano cuando dice ‘una más y nos vamos’. Tampoco a un chileno de ojos colorados ni a un paulista que a estas horas no entiende nada de español, aunque lo hable casi perfecto”. Leia aqui.

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Leia também:
– Muricy Ramalho na GQ #5, por Marcelo Costa (aqui)
– Uma noite inesquecível em Cork, na Irlanda (aqui)
– Tudo sobre a edição 2011 do Festival Benicàssim (aqui)

setembro 3, 2011   No Comments

Entrevista para o Verdades Particulares

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por Bárbara Bom Angelo

‘Texto curto, rápido e direto. De preferência com fotos mil. Esse é o padrão em que querem, há tempos, amarrar a internet. Só que tem vezes que você quer algo com mais sustância, sabe? Tipo comida de mãe? Você quer ler impressões mais profundas de um disco, um show, um filme ou um livro e para isso não ter que correr para um jornal ou revista. Afinal, você quer agora – é o mal dessa nossa geração instantânea.

Quando essa vontade bate, o lugar para onde vou de olhos fechados é o Scream & Yell, site de cultura pop que já está em seu décimo primeiro ano de vida. Antes de estabelecer casa no mundo digital, o S&Y era um fanzine de papel e tinta que rodava feliz pelas ruas de Taubaté, interior de São Paulo. Ele vinha cheio de textos sobre música, filmes e comportamento e se manteve assim até mesmo quando mudou de mídia definitivamente em 2000. O editor Marcelo Costa resolveu vir para a capital paulista de vez e não mais restringir todo aquele conteúdo bacana a uma só cidade.

Gosto de imaginar o Marcelo como um Rob Gordon tupiniquim. Rob, para quem não lembra, é o personagem principal de Alta Fidelidade, do Nick Hornby, que é viciado em música e em fazer listas de tudo o que for possível. Quem frequenta o blog pessoal do Marcelo sabe bem do apreço que ele tem pelo escritor britânico e também em bolar os seus próprios Top 5, que ficam sempre em destaque e acabam servindo para mim como uma espécie de guia. Mas atenção, ele garante ser bem mais confiante que Rob e outros tipos de Hornby.

Eu tendo a concordar com ele, ainda mais depois de gentilmente aceitar dar a entrevista que você confere abaixo ao Verdades para contar um pouco mais do S&Y e de si mesmo.”

Essa é a vida que você sempre quis? Escrever sobre o que gosta, viajar bastante, ir a vários shows… Está faltando algo?
Eu tive um pouquinho de sorte no trajeto até agora (e vou precisar de mais um tantinho para prosseguir), mas quando olho para trás fico muito feliz com tudo o que aconteceu. Ainda assim tento não pensar tanto no que aconteceu e sim no que vai acontecer. É uma metáfora interessante: quando observo o tanto que caminhei, me sinto feliz e realizado; quando penso no tanto que ainda falta para caminhar, parece que não sai do lugar. A vida segue…

Como fazer para não perder o tesão editando há 11 anos o mesmo site?
E quem disse que eu não perco? Existem dias ruins, em que a vontade de abandonar tudo é enorme. Deletar e-mail, Facebook, Twitter, largar o site e… sair por aí sem rumo, lenço e documento. Felizmente existem dias bons, em que um bom texto me faz sentir que, sim, vale a pena continuar fazendo o que eu faço. Sigo balançando entre os dois extremos e… risos… parece outra metáfora da minha vida.

O Scream & Yell vai na contramão do que muitos acreditam ser o que funciona na internet: textos curtos. Por lá, a gente encontra entrevistas, críticas e reportagens bem longas. E dá mais do que certo. Por quê?
Eu não tenho a resposta, mas acredito que existem pessoas interessadas em conteúdo, em algo mais elaborado, profundo, irônico. Quando começamos só queríamos provocar, sabe. Fugir do lugar comum. Fazer algo que a gente gostasse realmente sem precisar seguir algum hype. E conseguimos um espaço de que me orgulho. No entanto, um tempo depois apareceu gente escrevendo textos longos, então inverti a provocação tentando resenhar discos em 500 e 1000 toques. Provocar é essencial. Tirar o leitor (e você mesmo) da zona de conforto. Isso me interessa.

Como dar conta de tudo o que você precisa ouvir, ler e assistir? Como não deixar as coisas que você mais gosta virarem obrigação?
Algumas coisas acabam virando, inevitavelmente, mas o que me salva ainda é um bom disco, um bom filme, um bom livro, uma boa foto. Quando algo bom toma a alma da gente, a obrigação passa a ser falar disso, estender o entendimento, contaminar outras pessoas. Não é uma obrigação – no sentido negativo do termo – escrever 11 mil toques sobre o disco do Decemberists. Eu preciso escrever do disco porque quero que pessoas que não o conhecem, o descubram. Se vou dormir às 5 da manhã em uma viagem porque eu queria escrever sobre o que aconteceu naquele dia é porque quero que essa pessoa que lê participe da minha experiência e tenha, assim, vontade de ter a dela.

Qual banda anda consumindo seus ouvidos ultimamente? Está ansioso por algum show que vai rolar em breve?
Tenho tentado não ouvir Decemberists (risos), mas é tão difícil. Sobre shows, tenho pensado bastante no Pearl Jam. Acho que será especial. Mas se tivesse que escolher um seria o show gratuito que o Arcade Fire fará em Montreal, 22 de setembro, encerrando a turnê “The Suburbs” em casa. Tem tudo para ser histórico.

O que você faz só para você?
Vejo filmes (muitos), ouço discos (muitos também), leio livros (poucos) e bebo cervejas (não muitas… risos). De vez em quando cozinho… bem de vez em quando.

Acompanho muito o desenvolvimento dos seus roteiros de viagem, especialmente porque eu adoro fazer o mesmo. Qual a próxima?
Não há nenhuma desenhada neste momento, mas pequenos prováveis roteiros. Por exemplo: estou pensando em ir ao cruzeiro do Weezer, em janeiro, e descer de lá para a casa de um amigo na República Dominicana passando pelo Haiti e por Cuba. Não deve acontecer, mas é uma ideia. Outra envolve a Escandinávia (incluindo San Petersburgo). Há ainda uma viagem de carro pela Itália, a necessidade de conhecer Portugal e a vontade de ir ao Fuji Rock Festival, no Japão. Ou seja: são vários roteiros que se adaptam a oportunidade do momento.

Quais são os lugares que você visitou que roubaram seu coração?
Veneza é a número 1, e acredito que o texto sobre a cidade assinado pela Cathy Newman, editora especial da National Geographic, pesa no olhar poético que tenho sobre a cidade. Mas só um pouco: bastou olhar as casinhas empilhadas sobre o mar da janela do avião para o coração derreter. Santorini também é algo inacreditável. Praga, Paris e Amsterdã são mais táteis, mas não menos apaixonantes. Por fim, Cork – pelo folk irlandês.

Em que lugar de São Paulo você encontra um pouco de Taubaté, a cidade onde cresceu?
Eu nasci em uma maternidade no Belenzinho, pois, segundo minha mãe, não havia nenhuma na Mooca, onde morávamos na época. Fui para Taubaté com cinco anos e cresci olhando a vida com olhar de interior. Mas meu coração sempre bateu por São Paulo. Então, hoje em dia, só encontro Taubaté quando pego no telefone para falar com a minha mãe, a minha irmã e a minha sobrinha. Sempre fui São Paulo, mesmo quando não estava aqui.

O que tem de paulistano em você?
O jeito meio workaholic de ser, talvez. Sinceramente, não sei. Paulistano é meio blasé porque se acostumou a ter acesso a tudo (e isso é um grande defeito), então não se importa em perder um show ou um filme hoje, “porque semana que vem tem outros shows e filmes”. O bom de viver em uma cidade de interior é aprender a valorizar a necessidade. Ir ao cinema e não ter filme nenhum para ver (mas não perder de maneira alguma quando aparecer algo interessante). Será que sou paulistano mesmo? Certa vez, em uma troca de cartas com uma amiga carioca, escrevi:

De resto, tudo bem. É impressionante como essa poluição toda me faz bem para alma.

E ela: Meu Deus, os paulistas realmente não são deste planeta. Isso é porque você não mora no Rio: eu vejo o mar e o sol e a lagoa e a montanha todos os dias… todos os dias Deus me lembra que estou viva.

Não sei se tenho algo de paulistano realmente, mas me emociono todas as vezes que o piloto do avião diz que o pouso na cidade está autorizado e as casas e prédios começam a crescer e se multiplicar pela janela do avião até o infinito. Sei que estou em casa.

Não podia deixar Nick Hornby de lado nesta entrevista. Tirando Alta Fidelidade, qual o seu livro preferido dele? Você se vê um pouco em Rob Gordon ou em algum outro personagem?
“Um Grande Garoto” ocupa a posição número 2, mas “Juliet Naked” mexeu bastante comigo também. Acho que, de tudo que ele escreveu, só não gosto mesmo da segunda metade de “Uma Longa Queda”. E eu devo ter coisas mínimas de vários personagens, mas não acredito que tenha um em especial que me absorva por inteiro. Não sou tão confiante, mas ainda assim sou mais confiante que os personagens dele (risos). Ou ao menos acho…

E falando em livros e Nick Hornby… Nos seus Top 5 do Calmantes com Champagne falta uma lista de livros. Qual o ranking do momento?
Não tenho lido tanto, sabe. Isso é algo que São Paulo tirou de mim: o prazer silencioso da leitura, algo que sobrava nos anos em Taubaté. Mas se eu tivesse que levar cinco livros para uma ilha deserta, eu iria roubar na contagem e incluir “O Tempo e o Vento”, do Érico Veríssimo (sim, os sete volumes, mas se você insistisse muito que eu não poderia levar tanto peso, eu deixaria os dois volumes relativos ao Arquipélago), “As Obras Completas”, do Oscar Wilde (parece muito, mas é só um volume gordinho em papel bíblia), “O Chão Que Ela Pisa, de Salman Rushdie”, “O Macaco e a Essência”, de Aldous Huxley e os dois volumes pequeninos de comédias, tragédias e sonetos, de Shakespeare (na edição marrom da editora Abril, de 1981). Esses cinco livros me fariam feliz até o fim dos tempos. Se você fosse boazinha eu pediria, ainda, “Crime e Castigo”, de Dostoievski, uma coletânea de poetas franceses do século XIX (organizada por José Lino Grünewald e lançada pela Editora Nova Fronteira em 1991) e a coleção “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust (que está completa aqui na minha estante, mas que ainda não li). Droga, não inclui a coletânea “Seleta”, da Lygia Fagundes Telles nem as três coletâneas de tirinhas sobre Deus, do Laerte, e nada do Manoel de Barros… Posso levar 10?

Veja outras entrevistas aqui

setembro 2, 2011   No Comments

Três filmes que não pretendo ver de novo

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“A Árvore da Vida” (“The Tree of Life”, 2011)
Avaliação dos críticos do Guia da Folha: Amir Labaki deu 1 estrela e atacou: “Majestosa presepada”. Pedro Butcher deu 3 estrelas e cravou: “Belo e ambicioso”. As opiniões de Suzana Amaral e Marina Person também são totalmente contrárias e a única certeza que fica é: preciso ver para ter a minha própria opinião. Eu vi e… odiei. Amigos elogiam a beleza do filme, algo que não me comoveu – e olha que sou assíduo espectador da National Geografic (sério, me desculpe, mas “Soy Cuba” é muito mais bonito, e mais cinema, com menos recursos – 47 anos antes). Outros falam em religiosidade (e ando, cada vez mais, caminhando para o ateísmo, graças a Deus). Fazia tempo que eu não via um filme tão chato. Porém, entendo o Festival de Cannes. A Palma de Ouro é uma carta de intenções e o prêmio precisa representar algo. Desta forma, a vitória de “A Àrvore da Vida” ampara jovens cineastas mostrando-lhes que é possível fazer cinema sem se vender para Hollywood – e ainda assim ter sucesso e respeito. Se tivesse no júri, eu também teria votado em Terrence Mallick (a concorrência não ajudava – que fase, amigo). Mas continuaria achando o filme um grande embuste. Eternamente.

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“Planeta dos Macacos: A Origem” (“Rise of the Planet of the Apes”)
Christopher Nolan é o culpado por toda essa onda de refilmagens que tomou Hollywood nos últimos anos. Após o brilhante “Batman Begins” (2005), uma torneira (que goteja ouro) foi aberta e a Indústria – de olho em modismos – não perdeu tempo. “Planeta dos Macacos: A Origem” é a nova investida e a receita continua dando certo: em quatro semanas em cartaz nos EUA, o filme já faturou 150 milhões de dólares (contra 93 milhões de orçamento), mas o resultado deixou a desejar. Ok, a parte de efeitos visuais é estupenda: os chimpanzés, orangotangos e gorilas criados via computação gráfica parecem absolutamente reais (e, barbada, já devem ter garantido o Oscar da categoria ao filme). Porém, a história moralista e piegas não está à altura dos efeitos seguindo a risca a cartilha de estereótipos: há um cientista bom que busca uma cura para o câncer e o Mal de Alzheimer; e há um cientista mal que irá arruinar tudo por pensar unicamente no dinheiro. Por mais que existam paralelos reais (aids e ebola surgiram de estudos científicos), “Planeta dos Macacos: A Origem” tropeça feio no moralismo de botequim de esquina. Logo tu, Hollywood, quer criticar a ganância? Bocejo.

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“Onde Está a Felicidade” (2011)
Terceira parceria de Bruna Lombardi com o maridão Carlos Alberto Riccelli (ela atua e escreve o roteiro, ele dirige), “Onde Está a Felicidade” é bem intencionado, mas tropeça em erros bobos: 1) o filme é uma comédia (que quer ser romântica beirando o pastelão), mas faltam piadas na história. A trama segue serpenteando pra lá e pra cá, mas pouco se ri. 2) Bruna alonga demais a primeira parte, que deveria servir de ponto de partida para a mudança espiritual de seu personagem. Ela tem um programa de TV, foi demitida e descobriu que o marido a estava traindo virtualmente. Não precisava gastar mais de meia hora nisso. 3) Ao invés de causar empatia no espectador, o roteiro faz dos personagens malandros otários, que, claro, são pegos no final. Apesar da cena magnífica da chegada dos peregrinos em Santiago de Compostela, local em que se passa a segunda parte da história, a opção não funciona porque falta profundidade aos personagens. 4) Não é porque um anunciante investiu uma grana no filme, que você vai colocar a perder toda a parte final da história para satisfazê-lo – como eles fizeram fechando o filme no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí (cujo governo patrocinou a película). Quem sabe o próximo…

setembro 1, 2011   No Comments