Echo & The Bunnymen
Ao Vivo - São Paulo
23/09/99

por Marcelo Costa

Sabe quando você é apaixonado por uma garota e passa anos pensando nela? Ai, tempos depois você a encontra e ela continua sendo a mesma garota que você amava mas o brilho nos olhos já não é o mesmo, a esperança fugiu para algum lugar distante e os sorrisos parecem desculpas?

Bem, foi isso que senti ao ver o Echo & the Bunnymen ao vivo. Não é que o show tenha sido ruim, muito pelo contrário, mas eu esperava muito dessa banda. Tudo bem, Ian tem brilho próprio e magnetiza a audiência. Sua voz continua sendo uma das mais belas e o repertório não tem para ninguém.

Essa tour também serve para dar destaque definitivo ao grande guitarrista que é Will Sergeant (ouça Burned do Electrafixion, o prenúncio da volta com um Ian poderoso e Will arrasando nos riffs). Mesmo assim alguma faísca faltou. Não sei ao certo o que, sei lá, mas o principal é que o show dos Bunnymen é um show para se ouvir em silêncio, totalmente inverso ao que aconteceu nesta noite londrina na cidade de São Paulo.

O Echo é a banda que me ensinou a amar e a acreditar que o rock'n'roll vale a pena. Ainda acredito que vale a pena mas, o tempo, inevitavelmente, passa...

Rescue, que abre o primeiro álbum deles de 80, é a primeira e leva todo mundo ao delírio. Ian entra fazendo embaixadas com bitas de cigarro, coll ao máximo de terno cinza e tênis. Will Sergeant apenas pega a guitarra, e arrasa. A péssima acústica do Via Funchal incomoda tanto quanto o ginásio lotado cantando em coro todos os clássicos e soterrando a voz de Ian e os fraseados de guitarra. A culpa, na verdade, é da própria banda. Quem mandou eles lançarem uma coletânea no meio dos anos 80 intitulada Songs To Learn And Sing? Todo mundo aprendeu e agora quer cantar, alto.

O primeiro bloco comprova a tese de Ian que o Echo é responsável pelas melhores canções da música inglesa. O melhor rock'n'roll, ao vivo e a cores. O agito cede lugar a calma quando são tocados uma cover e um b/side (Loose, dos Stooges, e Fish Hook Girl, b side do single Rust, que, a propósito, não foi tocada), mas bastou Will Sergeant iniciar The Back of Love para a festa continuar. Até a chegada de duas canções do álbum novo. What You Going To Do With Your Life? é um belíssimo disco mas não funciona bem ao vivo. Até funciona para embalar casais e sozinhos tentarem algo (como o cara do meu lado que se ajoelhou para se declarar a uma garota).

Daí pra frente parece que algo desandou. A clássica The Killing Moon surgiu pálida e a volta para o primeiro bis trouxe uma capenga e irreconhecível Nothing Lasts Forever.

Lips Like Sugar e I Want To Be There tentaram consertar as coisas mas uma Ocean Rain também pálida foi o aceno de adeus. Faltaram várias canções (Silver, Bedbugs and Ballyhoo, A Promisse, All That Jazz, a nova Rust) o que me fez questionar a inclusão canções desconhecidas do repertório.

Na saida, Marcelo Orozco (Conselheiro Crispiniano do Scream & Yell) ante as minhas observações me perguntou o que mais eu queria ("Orquestras e tal?") e, sabe o que eu queria? Queria não ter perdido o show de 87 ou então ter visto algum da tour escandinava 84/85. Isso que eu queria Mas a gente não consegue ter tudo o que quer. Assim como eu não tenho aquela garota que eu amava e sei que será estranho quando encontra-la de novo. Sorrisos de desculpa. Acenos de adeus. O tempo passa.


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