Faixa a Faixa
Pixies 
Surfer Rosa
por Leandro Miguel de Souza

Dizer que os Pixies foram a maior banda do final da década de 80 é chover no molhado. E se eu te dissesse que "Doolittle" é a obra máxima do quarteto, estaria sendo redundante de novo, certo? I don’t think so...

Em "Surfer Rosa", o crossover sônico de surf music, punk rock, violência lírica, country music e "mariachismos", brilhantemente esboçado pela banda na estréia "Come On Pilgrim", adquiriu uma massa sonora impressionante. Tal aperfeiçoamento, deve-se principalmente à tosca, tosca, tosca produção do animal Steve Albini, que "engordou" o som do grupo com toneladas de sujeira. Albini desconstruiu os vocais psicopatas de Black Francis, os solos tortuosos da guitarra de Joey Santiago, as linhas de baixo vigorosas de Kim Deal (na época Mrs. John Murphy) e a bateria "pegadora" de David Lovering e os embrulhou numa antiprodução, desleixada até o pâncreas, que definiu o som dos jovens de Boston em sua forma mais intensa. 

Claro que você vai me dizer: "Pô, mas e o Doolittle? Apesar de sua candura, também é violento, perturbador, e espetacular!". Assim te respondo: Claro. "Doolittle" é um puta disco, que indiscutivelmente possui o leque de composições mais variado e consistente da carreira dos Pixies. Para o disco, quando decidiram vestir suas canções com uma roupagem mais requintada, a produção de Gil Norton caiu como uma luva.. Mas imaginem os rompantes furiosos de "Doolittle" ("Debaser", "Dead", "Tame", "Crackity Jones", "There Goes My Gun") produzidos pelo desbocado Albini. Urros de prazer só de imaginar como seriam. 

Sangue, suor, lágrimas, destruição. Grandes discos de rock n’roll resultaram da soma desses ingredientes. Mas os Pixies não se contentaram em só seguir a cartilha. Ao adicionar traços esquizofrênicos muito particulares à equação, tornaram seus discos muito mais do que grandes. Tornaram-os clássicos. "Surfer Rosa", como um diamante bruto, tão valioso quanto se fosse lapidado, é pedra fundamental para compreender, não só o rock alternativo, e sim o rock como um todo.  Um espetáculo sincero e puro em sua brutalidade. Mas vamos parando por aqui porque, afinal de contas, todo e qualquer superlativo é esmagado aos primeiros acordes dessa obra-prima. Enjoy!!! 

Reconheço que é tarefa árdua tentar descrever as indescritíveis canções do disco, mas vamos lá:



Bone Machine

O disco já começa com uma das músicas mais "afudê" de todos os tempos. David Lovering abre os trabalhos com um assalto percussivo, seguido de uma simples e emblemática linha de baixo. Então, para o delírio da torcida, cavalgando em distorção, as guitarras entram em campo acompanhando os demais e completando essa maravilha. Berros estremecedores, backing vocals celestiais, êxtase coletivo. Os vocais de Black Francis assustam: "I was talking to the preachy-priest about kissy-kiss. He bought me a soda, he bought me a soda and tried to molest me at the parking lot". 

Break My Body

O baixo comanda a canção, com guitarras improvisando uivos elétricos. A letra baixo-astral e o refrão fundo-de poço acompanham o tom soturno da melodia e culmina com Deal e Francis repetindo o verso "Somebody got hurt" até se autodestruir de forma brusca.

Something Against You

A faixa inicia com uma guitarrinha ligeira antecipando a melodia. Ao fundo, sente-se a bateria chegando, e junto com ela as guitarras apitam. Você sabe que será inevitavelmente atingido por uma pancada sonora devastadora. Mas mesmo assim você não sai. Por quê? Porque é muito bom. Em meio ao caos sonoro, Black Francis manda versos enlouquecidos: "I’ve got something against you. And I’m gonna use it!!".

Broken Face

Uma faixa com um título desses não poderia ser ruim. Curta e grossa. Black inicia com um falsete estranho, sucedido por um atropelo regado a microfonias, quebras de ritmo e uma letra bizarra. Urgência e dinamismo levados às últimas conseqüências.

Gigantic

As batidas da baqueta de Lovering marcam a entrada da emblemática linha de baixo de Kim Deal. A bela voz da baixista leva a canção calmamente, sendo ameaçada pelos riffs de Santiago até que no refrão, a banda simplesmente ARRANCA O CHÃO DEBAIXO DE SEUS PÉS E FAZ VOCÊ DESPENCAR NUM ABISMO DE BARULHO, mas de alguma maneira sedutor e angelical em sua paixão. Brutalidade e doçura casadas no céu.

River Euphrates

Aqui nada parece ser como é. Capaz de fazer o ouvinte se sentir tocado pelos deuses enquanto escuta os maravilhosos la-la-lás da Mrs. John Murphy, como faz se sentir espancado pelos demônios ao ouvir o refrão com os vocais ensandecidos de Black Francis duelando com a pixie. Uma canção demolidora.

Where Is My Mind

Em Surfer Rosa está contido o hino da juventude perdida: "Where is My Mind" (aquele som que rola nos créditos finais de "Clube da Luta"). O que se pode dizer dessa faixa? O QUE SE PODE DIZER? Que "Debaser" o cacete! Essa é a canção-símbolo da banda, uma sinfonia fantasmagórica, com o dilacerante riff de Joey Santiago e Black Francis colocando o coração no microfone, mandando versos tão confusos quanto belos: "Saída na água. Veja-a nadando".

Cactus

A crueza da bateria e baixo tecem a colcha para os versos perversamente apaixonados do vocalista: "Ensangüente sua mão num cacto, limpe no seu vestido e o mande para mim...". No meio da canção é possível escutar gritos soletrando o nome da banda: P-I-X-I-E-S. Acabou de ganhar uma versão de David Bowie em seu mais recente álbum, "Heathen". Não a toa, é a melhor música do disco de Bowie...

Tony’s Theme

O baixo inicia e Kim Deal dedica a canção a um superherói chamado Tony. Santiago dispara um riffzinho acelerado para acompanhar. Francis representa Tony, o aprendiz de herói, abusando da loucura nos vocais, para o deleite do ouvinte. 

Oh My Golly!

Começa com uma sucessão de pancadas na bateria. De repente um violão frenético invade a canção, junto com Francis mandando ininteligíveis versos em espanhol. Os hispanismos mancos de Francis contrastam com a melodiosa voz de Deal, criando um transe hipnótico e completamente fora de controle, tamanha a porra-louquice da faixa.

Vamos

Um diálogo estranho antecipa a canção: ouve-se a voz de Black Francis ao fundo: "You Fucking Die!!!!". Alguém pergunta a ele o que estava fazendo... deixa pra lá, aqui está o diálogo na íntegra:

"You fucking die’ I said, to her 
I said ‘YOU FUCKING DIE’, to her 
Huh? What? No, no! I was talking to Kim 
I said ‘you fucking die’ 
No, I was just- we were just goofing around 
No, no. It didn't have anything to do with anything 
She said: ‘Don't you- anybody touch this is my stuff’
And I said ‘You fucking die’ like that 
I was finishing her part for her 
You know what I mean?"

Legal, não? Segue-se então uma pequena microfonia, sinalizando o início da canção propriamente dita. Um violão estranho faz base para alguns versos em espanhol a cargo de Francis. David Lovering e Kim Deal mantém-se imutáveis durante a canção (exceto o refrão), que na verdade é um palco para um pesadelo guitarrístico promovido pelos apocalípticos efeitos de distorção de Santiago e os gritos implacáveis do vocalista. Apenas quatro minutos e pouco, mas com a maior pinta de épico. Grande canção.

I'm Amazed

Começa com uma conversa entre os dois vocalistas (Black e Deal), para desaguar em um rockzinho turbinado, uma letra estranha (muito estranha), e novamente Santiago temperando o arranjo com efeitos ensurdecedores ao fundo, principalmente no refrão. 

Brick Is Red

A última faixa do álbum carrega consigo o clima de despedida necessário para finalizar o espetáculo. Uma guitarrinha surf cuspindo riffs estilosos, enquanto Deal e Black descrevem o prazer lânguido da morte: "Hang me. It’s not time for me to go, it’s not time for me to go". Bah!!

Ano passado, a Sum Records, num louvável serviço de utilidade pública, lançou "Surfer Rosa" em terras brazucas, optando pela versão européia (ueba) do álbum que acompanha de uma grata recompensa para quem foi paciente: "Come On Pilgrim", o EP de estréia da banda. O EP sozinho já vale pelas maravilhosas "Isla de Encanta" e "Nimrod’s Son", mas não é só isso. Ainda tem "Come On..." (a primeira versão de "Vamos", um pouco menos insana), a orgásmica "Caribou", a "surfy" "Holiday Song" e a surpreendentemente pop "Ed Is Dead". Também está no disco "I’ve Been Tired", uma das melhores performances vocais de Black Francis. Mas essas eu deixo pra você descrever. 

Post Scriptum Indispensável: Para os fãs de "Surfer Rosa" que leram o texto até aqui pra ver seu eu escrevi direitinho sobre o disco, aí vai uma bela sugestão: Quem ainda não ouviu, corra atrás de "McLusky Do Dallas", da banda britânica McLusky, recém-lançado no Brasil pela Sum. A produção do fera Steve Albini resultou em um álbum acachapante. A semelhança com "Surfer Rosa" é gritante, extremamente gritante (entendeu o trocadilho, né?). Com certeza, o legado dos Pixies rendeu mais uma maravilha. Agora é esperar pra ver se serão esquecidos, ou viverão pra confirmar seu talento. Enquanto isso, CORRA ATRÁS!!!

Leandro Miguel de Souza, 18 anos, disputa ferrenhamente a  posse de seu corpo com Lúcifer desde os 11 anos de idade, quanto escutou "Doolittle" pela primeira vez.


Matérias Antológicas
Pixies 
Death To The Pixies - 1987/1191
por Lúcio Ribeiro
texto publicado no caderno Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 25/11/1997

A partir desta semana, nas lojas de discos brasileiras, ali perto de onde estarão empilhadas cópias e cópias do novo CD de Caetano Veloso, deverão estar repousando na prateleira alguns poucos e bons exemplares do CD duplo "Death to the Pixies".

Recém-lançado nos EUA e na Europa, o álbum é uma coletânea da cultuada banda de Boston finada em 1993, que carrega no bojo o rótulo de uma das mais importantes do rock de todos os tempos.

"Death to the Pixies" traz em seu disco 1 cerca de 17 músicas içadas dos cinco álbuns do grupo, já devidamente inscritos na história da música alternativa, do début "Come on Pilgrim" (1987) até o derradeiro, "Trompe le Monde" (1991).

O CD 2 vem com 21 canções ao vivo gravadas por uma rádio holandesa durante show em setembro de 90, na cidade de Utrecht.

Além dessa versão lançada no Brasil, há uma edição limitada de "Death to the Pixies" à disposição dos fãs da banda em loja de discos importados.

O produto é mais caprichado, os CDs vêm em uma caixa, são mais bem ilustrados e carregam um encarte que, perto da versão "normal", parece um livro de arte.

Os Pixies fazem parte da cena americana do final dos anos 80 que chacoalhou o rock e deu ao gênero a forma que é imitada até hoje.

Na virada para os anos 90, o maior drama existencial da juventude roqueira do planeta era escolher uma banda predileta entre Sonic Youth, Nirvana e a banda de Frank Black e Kim Deal, os Pixies.

Para muitos, incluindo Kurt Cobain, não havia dúvida. "Eu vinha desesperadamente tentando escrever a melhor música pop de todos os tempos. Estava basicamente querendo compor no estilo dos Pixies", disse o líder do Nirvana à revista "Rolling Stone", em 95, sobre a composição de seu super-hit "Smells Like Teen Spirit".

O cult em torno dos Pixies pode ser medido pela performance de venda na Inglaterra da coletânea da banda americana.
Na semana do lançamento desse "Death to the Pixies", o álbum entrou direto no Top 20 da parada geral britânica e em terceiro na parada independente. Um feito para um álbum duplo.

Até a estratégia de resgate do culto ao Pixies na Inglaterra, armada pela gravadora 4AD, teve caráter inovador. Em espaço publicitário normalmente dedicado a shows ao vivo, havia um anúncio com o nome Pixies em letras garrafais, seguido de datas e horários de 20 programas de diferentes rádios do Reino Unido em que seria tocada a versão ao vivo da música "Debaser", o primeiro single tirado de ''Death to the Pixies''.

A imprensa inglesa festejou o lançamento da coletânea como se estivesse diante de um Beatles reencarnado. Frases como "a mais importante banda do rock" e "principal banda extinta da última década" percorreram textos sobre o CD "Death to the Pixies" em jornais não-musicais e de peso como "The Sunday Times" e "The Guardian", respectivamente. Já a badalada revista francesa "Les Inrockuptibles" publicou no mês passado um suplemento especial de 16 páginas dedicado à banda de Boston. Se você quiser impressionar alguém neste Natal com um disco, a pedida é esse "Death to the Pixies".




LEIA entrevista com o guitarrista e vocalista Frank Black e mais sobre os Pixies
"Os Pixies não voltam mais", diz Frank Black
por Lúcio Ribeiro

Os Pixies não voltam mais. Frank Black joga assim um balde de água fria na cabeça dos fãs da banda mais animados com o lançamento da coletânea e com os boatos do retorno do grupo à ativa.

Black, que é considerado dono de um dos berros esganiçados mais legais do rock, afirmou estar mais interessado em assinar logo com uma nova gravadora e soltar o primeiro álbum de sua nova banda: Frank Black and the Catholics.

O guitarrista não mostra muito entusiasmo com o lançamento de "Death to the Pixies", a não ser para os que nunca ouviram a banda poderem ter contato com seu som às vezes surf, muitas vezes barulho, algo espanhol, letras estranhas sobre coisas desconexas, mas que fizeram história no rock.

Em um telefonema São Paulo-Los Angeles, a Folha falou com Francis Black, que nos tempos dos Pixies era Black Francis e tem o pomposo nome de batismo de Charles Michael Kitteridge Thompson IV.

Lúcio Ribeiro - Essa coletânea "Death to the Pixies" é um sinal de que a banda está voltando?

Frank Black - Não, não. Eu não tenho nenhum interesse nisso. Os Pixies já fizeram suas músicas.

LR - Foi você quem escolheu as músicas da coletânea?

Black - A gravadora me ligou e pediu para dar opiniões sobre as canções. E dei. A verdade é que eu já fiz os álbuns dos Pixies. Eles já estão por aí. Essa compilação é uma boa chance para as pessoas que nunca tenha ouvido a banda.
Em termos de sentimento, em relação ao disco, ele não é meu "bebê". Eles pegaram elementos de meus cinco ''bebês'' e fizeram esse. O disco é um tipo de Frankenstein. Estou exagerando, claro.

LR - Os Pixies acabaram por problemas de relacionamento entre você e a Kim Deal (Breeders)?

Black - A razão de a banda ter acabado foi que eu já tinha experimentado tudo nos Pixies, trabalhado o suficiente com aquelas pessoas. Kim Deal... A verdade é que eu já estava cansado, desmotivado. Era a hora de ir embora.

LR - Onde anda o guitarrista Joey Santiago? E David Lovering?

Black - Eu vejo Joey quase sempre. Ele é muito meu amigo, tocou comigo no Frank Black, a banda. Ele tem um grupo novo agora, mais ainda vai voltar a tocar comigo. Sua banda nova se chama The Martinis. Quanto a David, não sei.

LR - Foi falado muito aqui no Brasil que você tocaria em SP em setembro? Por que você não veio?

Black - Eu irei, mas ainda não dei o "sim". Nós temos que montar uma turnê inteira para sair daqui e tocar. Custa muito dinheiro para eu tocar em SP duas noites e voltar aos EUA. Para fazer essa turnê, eu tenho que tocar em SP, Rio, América do Sul, um pacote.

LR - Muitas bandas de rock costumam dizer que os Pixies são o grupo que mais influenciou o gênero nos últimos 20 anos. Como você vê a importância de seu grupo para a música alternativa?

Black - Fico muito feliz, mas eu não me sinto sobrecarregado com isso. Muita gente lança bons discos, as pessoas vão lá e compram. É bom quando algumas dessas pessoas ficam tão interessadas pela música que vão montar suas bandas. Fico feliz que os Pixies tenham dado essa contribuição.

LR - Como está sua carreira solo?

Black - Hoje mesmo rompi com minha gravadora. Estou celebrando isso. Finalmente deram o dinheiro que me deviam. Era a American Recordings. Estou para assinar com a "Play It Again, Sam" na Europa. Terminei um CD novo em março e vou ver se consigo lançá-lo o mais rápido possível. Será o primeiro da minha banda nova: Frank Black and the Catholics.


O mundo vê os Pixies

"Se você tiver que comprar apenas dois álbuns neste ano, compre 'Death to the Pixies'. Duas vezes"
New Musical Express (Inglaterra)

"A compilação essencial para a mais importante banda do rock."
The Sunday Times (Ing.)

"A mais legal banda extinta do rock americano da última década."
The Guardian (Ing.)

"Grande canções, grande cara, grande mulher, grande banda."
Melody Maker (Ing.)

"Catalítica e inspiradora."
Mojo (Ing.)

"A melhor banda dos últimos 10 anos."
Select (Ing.)

''O maior grupo de rock do mundo.''
Les Unrockuptibles (França)

PLAY "Está saindo no Brasil esta coletânea primorosa (dois CDs) da banda americana que moldou o rock 
da virada dos anos 80/90. Letras bizarras, aparentemente desconexas, que pretendiam dizer nada 
mas acabaram retratando uma época. Compre já."
Escuta Aqui - Álvaro Pereira Júnior


O rock vê os Pixies
"Eu simplesmente amo cada pequena coisa que os Pixies fizeram."
Dave Grohl, líder da banda Foo Fighters

"É a banda dos anos 80. É trágico que um dos fatores que determinaram o final do grupo 
foi a certa indiferença que os Pixies sofriam de seu próprio país."
David Bowie

"Eu vinha desesperadamente tentando escrever a melhor música pop de todos os tempos. 
Estava querendo compor no estilo dos Pixies."
Kurt Cobain, ex-líder do Nirvana

"Fiquei enciumado quando eles lançaram o 'Trompe le Monde'. Como alguém pode fazer um disco tão bom."
Bob Mould, ex-Hüsker Dü

"Fui a um show deles em Londres e nunca vi nada tão forte na música. 
Desde então, passei a ser completamente influenciada por eles."
PJ Harvey, cantora




Death To The Pixies - 1987/1191
por Lúcio Ribeiro
FAIXA A FAIXA, POR FRANK BLACK

A pedido da Folha, o ex-guitarrista e vocalista Frank Black, dos Pixies, contou histórias, faixa a faixa, das canções que compõem o álbum "Death to the Pixies"

Cecilia Ann
"Esta é uma cover de uma velha surf music dos anos 60. Apareceu em uma compilação. 
Senti-me envolvido pela música e gravei no 'Bossa Nova'. De quem era? Acho que do Surftones."

Planet of Sound -
"'Planet of Sound' é uma referência, claro, ao planeta Terra. Eu imagino que há lugares na Terra que não tenham som. Então fiz um som com muito barulho para ver se ele chega a esses lugares. 
Eu imagino muitas coisas. Então imaginei isso."

Tame
"Na demo tinha um piano nela. Era um pouco mais lenta que a versão gravada no 'Doolittle'. 
Acho que a versão demo é melhor que a do disco."

Here Comes Your Man
"Essa é outra que provavelmente tenha ficado melhor demo, que deve aparecer em algum single. 
Mas não posso reclamar. Eu ganhei muito dinheiro com a versão do disco."

Debaser
"Luis Buñuel"

Wave of Mutilation
"Ela tem duas versões (uma em 'Doolittle' e outra, mais lenta, no single 'Here Comes Your Man'). 
É uma das únicas músicas do catálogo dos Pixies que eu toco em meus shows solo."

Dig for Fire
"Problemática canção, por causa da interferência do produtor (Gil Norton) nela. 
Levamos muito tempo para gravá-la. Não é uma canção perfeita, talvez porque pareça Talking Heads."

Caribou
''É sobre reencarnação, assombração e coisas estranhas assim."

Holiday Song
"Fiz com Joey Santiago, antes mesmo de nós formarmos a banda. Gosto muito."

Nimrod's Son
"Ela se refere a uma passagem bíblica sobre incesto. Tirei de um conto de ficção 
sobre um garoto que se machucou em um acidente de moto 
e descobriu que ele era produto de um relacionamento incestuoso. Parece filme, não?"

U-Mass
Essa é um tipo de canção cínica a respeito da vida universitária. 
Eu tenho certos sentimentos negativos sobre toda essa vida universitária."

Bone Machine
"Uma música que tem a típica levada à la Pixies que virou a marca da banda. 
(Black cantarola a linha de baixo.) É um som bem simples, mas deu a cara para o jeito de tocar da banda."

Gigantic
"Também do 'Surfer Rosa'. Outra que tem o espírito Pixies de que lhe falei."

Where Is My Mind?
Quando escrevi essa canção, estava no meu apartamento. Aí minha namorada me disse:
'Hei, esta é muito boa!'. Foi seu conselho para que não mexesse mais nela. Não mexi."

Velouria
"É inspirada em histórias sobrenaturais vindas de uma montanha na Califórnia chamada monte Chester 
e também de uma ilha no Pacífico."

Gouge Away 
"É minha visão sonora da famosa história de Sansão e Dalila. Alguns tópicos bíblicos parecem rock'n'roll para mim."

Monkey Gone to Heaven
"Por alguma razão, é a música dos Pixies que provavelmente mais influenciou outras bandas. Eu não sei por quê."



Notas do editor

**A versão dupla de "Death To The Pixies" com o cd ao vivo surgiu em tiragem limitada no Brasil. Agora, a versão atual compreende apenas as 17 faixas acima, comentadas por Frank Black. Mesmo assim, ainda está em catálogo no exterior a versão dupla. Seguem as músicas que compõe o show e o cd 2:

1. Debaser
2. Rock Music
3. Broken Face
4. Isla de Encanta
5. Hang Wires
6. Dead
7. Into the White
8. Monkey Goes to Heaven
9. Gouge Away
10. Here Comes Your Man
11. Allison
 12. Hey
13. Gigantic
14. Crackity Joness
15. Something Against You
16. Tame
17. Wave of Mutilation
18. Where Is My Mind?
19. Ed Is Dead
20. Vamos
21. Tony's Theme

**A versão lenta de "Wave of Mutilation" que Frank Black comenta no faixa a faixa está contida no cd "Complete B-Sides". No cd ao vivo ela aparece também nesta versão lenta. 

**Lúcio Ribeiro escreve a coluna "Download" todas as segundas no caderno Ilustrada, colabora com a revista FRENTE e assina uma coluna na seção Pensata, da Folha Online. É só clicar aqui e procurar o nome dele na lista de colunistas.