"Seita" Los Hermanos segue firme em São Paulo
por Bruno Martins Ondei
Fotos: Bruno Martins Ondei

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28/09/05

Caros jornalistas, críticos musicais e outros chatos de plantão, preparem-se para morder a língua. O Los Hermanos está de volta aos palcos e, como sempre, arrebatador, competente e fazendo os nerds da primeira fila chorarem.

A carreira dos cariocas segue um rumo pouco usual entre as bandas brasileiras. Deram uma bela banana para a indústria, gravam discos como, onde e quando querem e são insuperáveis sobre o palco. O que se viu na última sexta-feira em São Paulo, no re-rebatizado CIE Music Hall (quando vão parar de mudar o nome dessa casa??) deixou os fãs com um belo sorriso no rosto.

Fãs estes que se tornam mais ecléticos a cada show. Se antes o visual dominante era o "mamãe-me-empresta-a-bata-que-quero-ser-hippie", desta vez via-se desde garotos com boné voltado para o lado até uma garota com uma espécie de chifrinho na cabeça (???).

Após lançar um disco de MPB ("criativamente" denominado 4), a banda subiu ao palco com vontade de mostrar as novas músicas. Prova de confiança no novo álbum, o grupo abriu a apresentação com três canções recém-lançadas. A terceira delas foi a de trabalho, O Vento, que se mostra poderosa ao vivo.

Sei que não é novidade para quem acompanha a carreira dos "hermanos", mas a maioria da platéia cantou TODAS as músicas do início ao fim. Melhor dizendo, a platéia gritou todas as músicas do início ao fim. Em alguns intantes, chega até a incomodar.

Nem o momento "João Gilberto", com a seqüência Sapato Novo e Fez-se Mar, quando Marcelo Camelo empunhou um violão, tirou a animação do público. Pelo contrário, os casais aproveitaram para trocar beijos e dançar juntinho.

A banda, que até a metade do show não trocou mais que duas palavras com o público, resolver acordar a partir de Todo Carnaval Tem Seu Fim, música em que os fãs têm papel fundamental. Você sabe qual é, né?

Passaram a ficar mais comunicativos e até o sempre comedido Bruno Medina deu sinais de empolgação. Como ponto alto, vale citar a nova Condicional, que ganha um peso extra no palco. Além, é claro, dos hits Sentimental, Cara Estanho, A Flor e O Vencedor, que fechou o bis.

Alguém aí não sabe que o Rodrigo Amarante tem um comportamento bem estranho durante os shows? Pois é, ele tem. Desta vez, o vocalista ensaiou até uma dancinha ao estilo John Travolta em Pulp Fiction, passando os dedos sobre os olhos.

Camelo também teve seu momento "dança estranha" durante Paquetá, segurando um instrumento que eu não pude identificar e rebolando com o gingado que (não) lhe é característico.

Vale citar ainda a performance de Amarante durante Quem Sabe, solitária canção do primeiro álbum que ainda resta no set da banda. Durante boa parte da música ele ficou agachado na ponta do palco, cantando junto com os fãs. Bonito de se ver. Ah! E eles não tocaram Pierrot...


"Pedala, Los Hermanos"
por Juliano Costa
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28/09/05


Beavis & Butt-Head, se estivessem vivos e pudessem captar a MTV Brasil via cabo ou parabólica, iriam odiar: "Que porra é essa?", perguntaria Beavis. "São os Loser Manos", responderia Butt-Head.

Ok, Los Hermanos não é "porra". É uma baita banda. Ou foi, durante algum tempo. Pelo menos foi com essa sensação que saí do CIE Music Hall (antigo DirecTV, antigo Palace, antigo Palestra Itália, sei lá), sexta, dia 23. Sim, porque a torcida cantou e pulou todas as músicas do Bloco e do Ventura. Mas saiu para tirar água do joelho ou pegar mais uma cerveja no bar a cada música do 4, o novo CD - menos numa música chamada Condicional, uma pancada sensacional.

As novas músicas não funcionaram. Já não empolgavam no CD e ficaram ainda mais chatas ao vivo. São lentas demais. Nada contra baladas. Baladas são legais. Mas essas músicas não são baladas. São outra coisa. Não sei exatamente o quê. Não dá para definir. São apenas... estranhas. E chatas. Muito chatas.

Deu vontade de subir no palco e dar um "pedala" no Amarante e no Camelo. "Toca mais rápido! Mais rápido", gritaria o Beavis, tenho certeza. "Yeah! Mexe esse traseiro", emendaria o Butt-Head.

Em algumas músicas, repito, eles mexeram, sim, o traseiro magro e politizado deles. Quando tocaram rápido, empolgaram. A Flor, Todo Carnaval Tem Seu Fim, Cara Estranho. Último Romance fica ainda mais linda ao vivo. Eles mandam bem, afinal. Não dá para discutir. Mandam muito bem. Quando querem.

Porque quando não querem... meu Deus. No ritmo de um acorde a cada 12,3 segundos, as músicas do 4 se arrastavam, irritavam. Não dá para entender o que eles querem. Não é rock, não é pop, não é balada. Bossa Nova? É isso? Poxa, sempre achei que Bossa é algo legal, bonito mesmo, deve dar uma baita moral com as menininhas. Mas duvido que seja... "isso". Não, não, não pode ser. Bossa é bom, me falaram.

Acho que é outra coisa. Acho que Amarante e Camelo estão é nos testando. Chegaram ao patamar de quase imortais (Bloco e Ventura são do cacete!) e querem ver se a gente pode engolir qualquer coisa. Eles fazem melhor, eu sei, você sabe. Até os fãs xiitas da banda sabem - aqueles que também usam barba, sandália cangaceiro elegante e agora disfaçam o pin da estrelinha vermelha em suas bolsas de lona. Todos sabem que os Manos fazem coisas mais legais. Por isso o show foi tão xoxo quando eles tocaram as músicas do 4. Todos ali queriam era as músicas do 5. Ou do 2 e do 3.

Sim, é preciso muito culhão pra peitar a torcida e tocar exatamente o que ela não quer ouvir. Fuckin good, diz aí Beavis! Vamos lá, aplauda os barbudos você também, Butt-Head! Para uma banda que começa o show pontualmente às 22h (show bom tem que ter no mínimo duas horas de atraso) porque os integrantes tem que dormir cedo, é preciso reconhecer que eles estão evoluindo para se tornarem rock stars de verdade. Agora só falta trocar o velho Escort por uma limusine, Camelo!

Mas, caralho, ser legal não é ser (tão) diferente. É preciso jogar pra torcida também. Eu ainda curto vocês, barbudos, curto pra caralho. Mas se vocês fizerem do 5 um 4 Parte Dois, eu vou ficar irritado. Vou querer chutar uns traseiros. Vocês vão virar "a banda que poderia ser a mais fudida, mas que viajou na batatinha e ficou insuportável". É sério: se continuar assim, vocês vão vender menos que o Lenine. E vender é legal, viu? Se não fosse, os Beatles seriam a pior banda de todos os tempos. E não a melhor.

Então façam um novo Bloco ou um novo Ventura, por favor. Façam algo que eu entenda e possa assobiar. E guardem esse 4 no mesmo lugar que vocês enfiaram a pobre da Anna Júlia - que, aliás, é muito legal.

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"4", dos Los Hermanos, por Carlos Eduardo Lima
"Bloco do Eu Sozinho" - Los Hermanos, por Marcelo Costa
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Entrevista Los Hermanos 2003, por Martin Fernandez
Los Hermanos - Uma constatação e uma idéia absurda, por Juliano Costa

Site Oficial do Los Hermanos