"One Soul Now", Cowboy Junkies
por Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
17/08/2004

Com mais vinte anos de carreira, a família Cowboy Junkies sobrevive ao largo da grande mídia fazendo música que não acrescenta nada de novo em termos de evolução, porém, arranha a alma do ouvinte com belíssimas canções em que se destacam os riffs de guitarra sublimes de Michael Timmins e o vocal imponente e totalmente particular de sua irmã, Margo.

One Soul Now, décimo álbum na história dos Junkies, é mais uma aula de como tocar o blues e o folk da maneira que eles devem ser tocados: como se fosse a última. A edição nacional, lançada pela Sum Records, traz de bônus o EP Neath Your Covers Part 1, em que os Cowboys levam para seu território sombrio canções de Bruce Sprigsteen, The Cure e Neil Young.

Formado em Toronto, em 1980, pelos irmãos Michael (guitarra), Margo (vocal) e Peter Timmins (bateria) e o amigo Alan Anton (baixo), o Cowboys Junkies lançou seu primeiro álbum, Whites Off Earth Now!, pela major RCA em 1986. A aclamação surgiu com o disco seguinte, The Trinity Session (1988), álbum gravado em uma igreja com apenas um microfone e que trazia, ao cabo, uma cover mágica de Sweet Jane, do Velvet Underground, que ecoou em todos os cantos do mundo. No disco seguinte, The Caution Horses (1990), o grupo mostrou um lado mais calmo, melodioso e apurado.

Desde então, um álbum novo do Cowboy Junkies trafega entre a rispidez de riffs de guitarra deliciosamente sujos e a leveza de baladas violentamente matadoras, tendo como fonte o blues e o folk de raiz tocados em formato rock. É mais ou menos isso que o ouvinte irá encontrar em One Soul Now, sucessor do excelente Open (2001, lançado no início do ano no Brasil também pela Sum), com o adendo importante que, ao fazer sempre a mesma coisa, a banda acaba melhorando cada vez mais naquilo que sabe fazer melhor: canções arrebatadoras.

"Abandon All Those Precious Things - One Soul Now", diz a primeira linha da faixa título, que abre o disco. Um zumbido de guitarra acompanha a voz mágica de Margo, até o refrão redentor. Why This One tem clima blues e abre com "Of All The Lives To Live Why This One? Filled With Could Have Been. No Fun". Deve crescer muito ao vivo. As canções seguem, alternando dedilhados e solos de guitarra, baixo batendo no estômago, o vocal bonito, até a explosão do refrão. The Stars of Our Stars e No Long Journey Home se diferenciam pelo clima alegre. Notes Falling Slow e He Will Call You Baby são blues doloridos e arrastados. "Irony oh Irony / You Are A Treacherous Son of a Bitch / Pretending Not To Care / About The Heights You'll Never Reach" canta Margo no refrão de Simon Keeper e até os palavrões ganham novo significado em sua boca.

No CD 2, uma das mais lindas canções de Bruce Springsteen (se não for a mais linda) ganha tratamento reverencial dos Junkies. A banda muda quase nada em Thunder Road, mas não deixa de ser arrepiante ouvir a voz de Margo. Já o The Cure perde sua Seventeen Seconds (de 1980) para os Junkies. A versão da banda é tão forte, tão blues, que parece uma nova canção... e melhor. Uma gaitinha abre a última música do disco, Helpless, de Neil Young. "Blue, Blue Windows Behind The Stars", canta Margo. Enquanto boa parte da crítica confunde novidade com qualidade, o Cowboy Junkies segue colocando discos clássicos no mercado sem muito barulho ou alarde. É um mundo estranho e sombrio este que a gente vive, definitivamente.

Site Oficial Cowboy Junkies