CALMANTES COM CHAMPAGNE
Álvaro Pereira Júnior

por Marcelo Costa
12/08/2002

Qual a sua opinião sobre o jornalista Álvaro Pereira Júnior?
Aline Cristina Meneguini - SP/SP
Douglas - São José dos Campos/SP

Álvaro sempre foi um dos meus jornalistas preferidos. Na fase em que a revista Bizz estava em baixa, a coluna do Álvaro na Folhateen era o único lugar para ler sobre boa música. Eu costumava recortá-las e, nos tempos das diligências (correios, correios), xerocar para enviar a amigos e pessoas que me escreviam pedindo o S&Y on paper. Tenho ainda, pelo menos, umas cento e cinqüenta colunas recortadas, sendo que, dessas, umas duas dúzias são antológicas. Drugstore ao vivo em uma noite londrina, a volta do Echo & The Bunnymen, paixão rock and roll, Ira!, Nick Hornby, estava tudo primeiro ali, dissecado, bem interpretado. Resgatei algumas das minhas colunas preferidas, uma seleção mesmo. Confira aqui

Álvaro fez sua estréia na Folhateen em março de 93. No fim de 99, o jornalista embarcou para o EUA, destino São Francisco, onde iria morar dali em diante. E a partir dai, Álvaro perdeu a mão para escrever bons textos. Primeiro sintoma: o jornalista começou a perder mais tempo criticando os ícones da MPB do que falando de bandas novas que valessem a pena num exercício supremo de mau-humor.

Criticar a MPB é algo que contaminou alguns dos nossos melhores jornalistas, o que é uma pena, já que se não fossem eles falarem de Caetano e Gil, ninguém mais falaria (eu mesmo, nada tenho contra a MPB e até gosto). Ou seja, de modo contrário, estes jornalistas estão mantendo a MPB na mídia enquanto muita banda legal lança discos sensacionais que passam desapercebidos porque o espaço foi ocupado por alguma piadinha acerca de Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e Titãs. 

A coisa ficou mais grave no retorno do jornalista ao Brasil. Numa coluna logo após sua volta, carinhosamente intitulada "Seja esperto e não leia esta coluna", Álvaro lamentava a falta de assunto. Dizia: "Não é o caso do Brasil. Culturalmente 'no pasa nada', como se diz no México. Os filmes em cartaz, eu já vi há meses. Show não tem. E as toneladas de revistas gringas que assino estão paradas em algum porão dos Correios, da Receita Federal ou sei lá de onde", mais do que justificando a acomodação que tomou frente de seus textos, já que, agora, a informação tinha que vir até ele quando, sabemos, um jornalista tem que ir atrás das noticias. Mais para frente, detonou Cidade dos Sonhos e desceu a lenha na organização do cenário independente brasileiro porque queria ir em um show, mas não rolou porque o show havia sido cancelado. Mau-humor em estado bruto. 

O que me incomoda é que a Folhateen é um espaço do jornal Folha de S. Paulo dedicado aos adolescentes. Nas votações de melhores do ano do caderno sempre vence aquilo que está tocando nas rádios ou está ganhando destaque na MTv, ou seja, a maioria é baba da pior qualidade. Uma coluna como a "Escuta Aqui" deveria tentar seduzir estes jovens leitores, tirá-los do caminho das chamas do inferno (foi proposital, caro leitor - risos) apresentando música que vale a pena, livros que podem mudar a sua vida e filmes que emocionem. Alguns desses itens eu mesmo encontrei em textos dos dois jornalistas citados nesta coluna. e de outros representados na seção "matérias antológicas" deste site. Mas, já faz um bom tempo que Álvaro não brinda seus leitores com uma coluna inspirada. 

André Forastieri, que assinava uma coluna antes de Álvaro na Folhateen, o jornalista preferido desta publicação, escreveu certa vez uma coluna "manual" para jovens que gostariam de se meter a escrever sobre música (nos moldes de Lester Bangs). Ao final, a deixa: "E lembre-se que escrever sobre rock não é exatamente uma carreira. Tem poucas coisas mais ridículas do que um velhote pai de família que vive de escrever sobre a nova bandinha que despontou nos confins do Missouri. Por isso, os jornais e revistas costuma ter o bom senso de substituir críticos coroas por garotos cheios de gás. Como, talvez, você."

Serve como recado, Álvaro. 

É claro que, sempre, existe outra saída. No caso, o jornalista voltar a escrever colunas decentes. Todo mundo merece o benefício da dúvida, certo. 

No mais, se você quer ler colunas de cultura pop de primeira qualidade, as três preferidas do S&Y neste momento seguem abaixo:

POP, POP, POP
http://www.uol.com.br/sergiodavila/

A POP, POP, POP é escrita de Nova York por Sérgio Dávila e tem casa na Folha Online, no UOL. vasculhe as colunas anteriores que sempre tem algo imperdível. 

JUKEBOX
http://www2.uol.com.br/super/aberta/colunas/index_juke.html

A JUKEBOX é escrita por Jardel Sebba, jornalista e editor da revista VIP (a melhor revista nacional da atualidade) e tem casa no site da revista Super Interessante Online. Confira. 

PENSATA
http://www.uol.com.br/folha/pensata/

Espaço da Folha Online dedicada a seus colunistas. A dica aqui é Lúcio Ribeiro, sempre com alguma novidade para contar. É só procurar na lista de colunistas. As colunas anteriores estão acessíveis também. 

Marcelo Silva Costa, 32 anos, acha que o mundo está uma droga, mas assumir o mau-humor, ficar falando que ele está uma droga e não fazer nada para melhorá-lo é perda de tempo. E o tempo, sabemos, é algo precioso. Adaptando de Woody Allen: "Viver é um droga, mas infelizmente passa tão rápido". Anote.

maccosta@hotmail.com


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#1 - Entrevista
#2 - O Futuro da Internet