A MADAME AQUI
Uma História de Amor
por Flávia Ballve-Boudou

Acabei de assistir Closer - Perto Demais, o tal filme com Jude Law, Julia Roberts, Natalie Portman e o menos conhecido Clive Owen, que estava sendo aclamado (o filme!) como um dos melhores do ano nos EUA. Como faço com todo filme que me intriga e impressiona, quando cheguei em casa fui ler algumas criticas e fóruns na Internet, fui no site oficial dar uma olhada (a propósito, a belíssima, inesquecível, maravilhosa, perfeita-pois-resume-o-filme musica de abertura e fim de Closer, The Blower's Daughter, de Damien Rice, pode ser downloadeada em toda legalidade no próprio site oficial do filme. Corram lá antes que eles mudem de idéia).

Sinopse rápida e incompleta, porque o contrario mataria o filme: Dan (Jude Law), escritor wanabee apagadinho que trabalha redigindo obituários, encontra Alice (Natalie Portman), dançarina. Os dois se apaixonam. Dan publica um livro e a foto da capa é feita por Anna (Julia Roberts), por quem ele se apaixona. Sem saber, Dan acaba colocando Anna em contato com Larry, dermatologista, e estes dois formam um novo casal, que também poderá ser desfeito... O filme é a adaptação de uma peça de teatro de Patrick Marber.

Pois então, é impressionante como eu sou maria-vai-com-as-outras de vez em quando. Explico: sai do filme com a sensação, mas sem saber explicar, que tinha visto uma pequena obra-prima. Ao mesmo tempo, insegura, ficava filosofando: mas o fato de eu ter gostado significa que o filme *é* bom? E finalmente, lendo algumas opiniões e intensos debates em fóruns, encontrei os argumentos para dizer porque o filme é tão bom (ou porque eu gostei tanto, hehehe!).

Primeiro, é um filme de, para e sobre adultos. Sabe relacionamento bonitinho de filme, onde todos se desculpam no final, todos agem com os melhores sentimentos e os malvadinhos são punidos? Nada disso está em Closer. O filme mostra o lado seco, ruim, vergonhoso dos relacionamentos - aquela frase dita a mais, aquela que sabíamos que iria machucar o outro, que ridiculariza ou expõe uma fraqueza antes revelada em total confiança; a violência das rupturas; o quanto defeitos pessoais (egoísmo, covardia, insegurança) fazem parte da bagagem que carregamos para nossos relacionamentos, por mais que achemos que somos pessoas perfeitas e completas quando somos amadas; a as vezes dura realidade de uma relação.

Depois, ao trabalhar com diálogos crus, ao mostrar praticamente só os inícios e fins de relacionamentos e nada do "meio", que seria "a verdadeira relação" (de uma cena para outra, às vezes passou-se um ano, o espectador tem que ficar esperto), o diretor escolhe mostrar quase uma alegoria, um arquétipo dos relacionamentos amorosos adultos - como se o que acontecesse no cotidiano não fosse tão revelador quanto o encontro e a ruptura, ou talvez porque são esses dois acontecimentos que ficam em nossa memória ao final de uma história de amor...

E por fim, o que é muito maduro também no filme é a ausência de julgamento moral. As personagens que nos pareciam "vilãs" (acostumados que somos aos filmes "normaizinhos" de Hollywood com um bom e um malvado) não mentem; os "bonzinhos" são covardes e traidores ao revelar segredos; a personagem de moral dita "duvidosa" é a única que ama de verdade, incondicionalmente e pelo amor em si, não pela posse / destruição do objeto amado; e mais, e mais.

É uma historia de amor, que fala também de ciúmes, da relação masculino - feminino, de confiança, de entrega, das mentiras, de usar a pessoa que se ama, de fraquezas, de esperanças.

Ah, e ainda um último ponto: os atores estão maravilhosos em seus papéis - Clive Owen nos esmaga em algumas cenas, Jude Law tem algumas aparições (principalmente a cena no consultório do outro) esplendorosas e Julia Roberts faz uma personagem apagadinha - o que não foi uma má prestação de sua parte, mas justamente o tom certo para o papel! Apenas Natalie Portman dá umas escorregadas no "moderninha maluquinha" de vez em quando, mas talvez isso seja porque eu tenho pavor de personagens assim, dificílimas de serem feitas, apesar de cada "Thank you" na cena do bar transmitir uma emoção diferente.

"As real as it gets", apesar de amargo.

E tem Jude Law sorrindo no ínicio, em meio da multidão, que já vale pelo menos metade do ingresso...

flabb@wanadoo.fr

Blog da Flávia Ballvé-Boudou: http://www.tonterias.org/


Leia as colunas anteriores 

#1 - Uma partida de futebol
#2 - A vida pouco ordinária de Dona Linhares
#3 - O desafio nosso de cada dia
#4 - As pedrinhas são as notas, a melodia o caminho
#5 - La Politique
#6 - "Uau, você mora em Paris?"
#7 - O tempo que volta
#8 - Ohana
#9 - Dois filmes, uma coluna
#10 - A teoria das malas na esteira


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