A dupla Damon & Naomi atraiu bom público às suas duas apresentações no Teatro do Sesc Vila Mariana. Muitos temiam que, ao vivo, o jeito "devagar quase parando" das canções do casal pusesse muitos para dormir, mas não foi o caso. Os "ex Galaxie 500" Damon Krukowski e Naomi Yang devem muito desse êxito à presença de Michio Kurihara, guitarrista da banda japonesa Ghost, que com seus floreios e climas, dá uma nova dinâmica ao som do, agora, trio. 

Michio fica atrás com sua Gibson SG, Damon (que se assemelha à um Van Morrison mais jovem) ao violão no canto esquerdo, enquanto Naomi (com sua beleza um tanto anti-convencional) fica no centro do palco revezando-se no baixo elétrico e no harmonium (uma mistura de órgão com sanfona...). Baterista? Pra quê?

Dão a impressão de ser gente muito calma e tranquila. Ambos também se revezam nos vocais, embora caiba a Damon o papel de mestre de cerimônias da noite, tarefa da qual ele se desimcumbe com louvor. Bastante loquaz, ele introduz as canções, que saem de todos os seus álbuns: "More Sad Hits", "Wondrous World Of...", "Playback Singers" (lançados no Brasil via Trama) e "Damon & Naomi with Ghost", esse último gravado em parceria com o já citado grupo nipônico. 

O lançamento mais recente é "Song To The Siren - Live In San Sebastian", que como dá para perceber, é um registro ao vivo. Eles tocam a canção título, que é uma cover do folk-singer Tim Buckley (pai do falecido Jeff). Fazem também uma cover do obscuro The Jacks, cantada em japonês mesmo por Naomi, que trata de se eximir de possíveis imperfeições: "Meu japonês é tão bom quanto o meu português..." diz ela. Antes de começar "The Navigator", Damon conta que ao compor essa música tinha a intenção de soar como Milton Nascimento: "Sei que falhamos, mas na nossa cabeça estávamos emulando Milton..."  Ressalta também as semelhanças urbanas entre São Paulo e New York, dentre outros "causos". 

Na confortável atmosfera que se formou no local, estando o público em perfeita sintonia com os músicos, até uma trivial troca de corda de violão não se tornou maçante (cordas do violão estouraram em ambos os dias). No transcorrer das canções, quem se deixasse levar pela imaginação poderia visitar praias distantes, bosques tranquilos e outras paragens, tudo isso acomodado em uma poltrona do simpático teatro do Sesc.  Existem coisas boas que a música pode fazer por você. 
 

"Nós vamos tocar "The Navigator" agora. Ela fez parte da trilha sonora de um filme. O filme era muito divertido. Já, a música, é miseravelmente triste". Palavras de Damon Krukowski, parceiro de Naomi Yang, mais conhecidos como Damon & Naomi, o duo que seguiu junto após o termino do legendário Galaxie 500 (o outro membro, Dean Warehan, montou o Luna).

Mais do que explicar uma canção, a frase de Damon serve para explicar todas as canções do duo, o que, de forma alguma é uma critica. As canções da dupla são pequenas elegias musicais em que dois, no máximo três acordes menores (dó, ré e lá, eventualmente um fá) construem paisagens sonoras soturnas e delicadas. Se em álbum, a música funciona como nostalgia de um tempo que sabe se lá se vivemos, ao vivo, a simplicidade ganha forma e contornos especiais. 

A tour que passou pelo Brasil divulga o quinto álbum do duo, o recém lançado "Song To The Siren", registro ao vivo da tour do álbum em parceria com o músico Michio Kurihara, "With Ghost" (2000), ambos inéditos no Brasil. 

A iluminação é simples. O palco, idem. De um lado, Damon Krukowski e seu violão. No meio, Naomi Yang dividindo-se entre o harmonium (um primo distante da nossa sanfona) e o contrabaixo e, do outro lado, o guitarrista Michio Kurihara. Tanto Damon quanto Naomi permencem sentados durante toda a apresentação, enquanto Michio consegue destilar bons riffs de sua guitarra. A leveza paira no ar. Damon explcia todas as canções, faz brincadeiras como a do inicio desta resenha e conta "oneeeeeeeeeeeeeee. twooooooooooooooooooooooooooooooo. threeeeeeeeeeee" de um forma tão pesarosa e lenta que parece que não vai chegar ao "fouuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuur". Melancolia total, tocante e bonita, como toda a apresentação da banda.