Onze Homens e Um Segredo
por Alexandre Petillo

Há tempos eu não via um filme com uma estratégia de divulgação tão maciça quanto a de "Onze Homens e Um Segredo". Inserções nos principais canais de TV, outdoors nas principais capitais do país e cartazes e luminosos em postes. Dinheiro jogado fora. Um filme com George Clooney, Julia Roberts, Brad Pitt e Matt Damon causa filas enormes em qualquer cinema, tendo somente o cartaz na porta. Sem contar que "Onze Homens e Um Segredo" é um dos 11 melhores filmes dos, ãh, últimos 11 anos. Isso é indiscutível. A qualidade do filme vai promover o boca-a-boca que consequentemente vai levar multidões aos cinemas. Nos EUA, por exemplo, ficou ao menos 5 semanas entre as 10 maiores bilheterias.

E sejamos francos: merece. Ao sair do cinema, caro leitor, prepare-se para sentir aquela vontade de assistir ao filme de novo. Se a grana estiver curta, segure-se para não correr até a loja de discos mais próxima para comprar a (excelente) trilha. Por quê? Oras, porque "Onze Homens e Um Segredo" é esperto e te pega de calças curtas e recupera a premissa básica que justifica a existência de Hollywood: entretenimento. Há um bom tempo que a fábrica de sonhos e diversão norte-americana não produzia um arrasa-quarteirão capaz de distrair o espectador sem agredir o seu cérebro. Atualmente, a palavra "entretenimento" no atual dicionário cinematográfico, se resume a filmes como "American Pie", "A Hora do Rush" ou "O Retorno da Múmia". 

Pelas mãos do craque Steven Soderbergh, "Onze Homens e Um Segredo" ultrapassa os limites da mera diversão, transportando o espectador, temporariamente para o mundo dos personagens, para o filme (você se lembra do último filme em que você se esqueceu totalmente do mundo exterior e realmente acreditou estar vivendo aquilo que está sendo projetado na tela?). Soderbergh consegue fazer com que cada personagem pareça um simples indivíduo aos olhos do público – mesmo que eles sejam definidos e escolhidos pela sua habilidade. 

"Onze Homens e Um Segredo" é um remake de um dos principiais filmes produzidos pelo Rat Pack nos anos 60. O Pack era um clube de atores/entertainers extremamente cool (no sentido original e apropriado da palavra), fundado por Humprey Bogard, mas levado às últimas conseqüências por Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e John Bishop. Na verdade, o original de 1960 é um tanto diferente desse. O filme de Soderbergh só mantém o título, o nome do protagonista e o pano de fundo da história. 

Sendo assim, podemos dizer que o filme foi refeito, não refilmado. A história? Bem, é assim: Danny Ocean (George Clooney) sai da prisão (cool, de smoking, sem dever nada a mr. Blue Eyes) com um plano ao mesmo tempo suicida e genial: assaltar três dos principais cassinos de Las Vegas. Para ajudar a efetuar o roubo, Clooney encontra o parceiro Dusty Ryan (Brad Pitt), que ganha a vida ensinando jovens atores a se comportarem como verdadeiros trapaceiros numa mesa de pôquer – entre os seus pupilos estão Topher Grace (o Erick Forman, da obrigatória série "That 70’s Show") e Joshua Jackson (o Pacey, da não mais tão obrigatória assim, série "Dawson’s Creek"), no papel deles mesmos em uma seqüência hilariante que já vale o ingresso. 

Unida, a dupla convoca os nove restantes e traça o plano do roubo. Por trás de toda essa armação, Ocean também está disposto a recuperar a sua mulher, Tess (Julia Roberts), que coincidentemente é namorada do arrogante Terry Benedict, o dono dos três cassinos alvos do roubo. Para que o plano dê certo, a gang escolhe o dia em que todas as atenções estão voltadas para outro evento e que o cofre esteja cheio. Isto posto, o golpe será durante a luta do boxeador campeão Lennox Lewis. E como é obrigatório numa noite de luta, o cofre do cassino deverá dispor de uma quantidade em dinheiro suficiente para garantir cada centavo apostado em seu salão. Pelas contas de Ocean, no mínimo, uns US$ 150 milhões.

O elenco é perfeito. Elliot Gould ( o pai do Ross, em "Friends") está hilário. O veterano Carl Reiner encarna com perfeição um velho picareta, protagonizando algumas das melhores cenas do filme. Matt Damon também está muito bem como Linus Caldwell, um novato talentoso e impetuoso que quer provar aos antigos companheiros do seu pai picareta que está à altura do velho. Completam o time Don Cheadle, Casey Affleck, Shaobo Qin, Bernie Mac e Scott Caan. Um time de larápios digno dos anos 00, quando a esperteza, a elegância e a dissimulação vencem qualquer parada. Recupera a sutileza do crime, de uma época onde reinava o cérebro, não o banho de sangue e carnificina que rondam os principais filmes de bandidos dos últimos anos, da escola Quentin Tarantino (na época do “Pulp Fiction”, o mundo era dominado por guitarras estridentes e nervosas, o que pedia certa dose de crueza).

Mas o grande trunfo de "Onze Homens e Um Segredo" está na tabelinha Clooney/Pitt. A interação dos dois é simétrica. Traduzindo para o esporte bretão: um entrosamento digno de um Pelé/Garrincha ou Edílson/Luizão. Os diálogos entre os dois parecem puro improviso, a sensação é de como se o personagem soubesse o que o outro está pensando. Parabéns para um roteiro esperto, objetivo e enxuto. Soderbergh também capricha na direção, mesclando cortes rápidos com planos longos, deixando o filme bem mais linear do que o cinema americano anda acostumado.

Vale também destacar a incrível capacidade que Clooney tem de incorporar bandidos carismáticos e charmosos. O ator vem se especializando nesse tipo de papel, em ótimas atuações como em "Irresistível Paixão" e  no sensacional "E aí Meu Irmão Cadê Você?"

O que torna o filme ainda mais atraente é saber que tudo foi feito na camaradagem. Clooney, depois de assistir o original de Oceans Eleven, achou que o filme tinha uma grande idéia, mas não conseguiu traduzir isso na tela. Disposto a mudar isso, comprou os direitos do filme para a sua produtora, a Section Eight, que mantém em sociedade com Soderbergh. Depois de convencer o diretor, Clooney utilizou de toda a sua lábia para escalar um elenco dos sonhos. Detalhe: a única condição imposta era de que cada um não ganharia nada pela sua atuação no filme, apenas uma participação na bilheteria (o que não é pouco, digamos). Percebe-se o prazer dos atores em atuar em "Onze Homens e Um Segredo". Segundo reza a lenda, durante os noventa dias da gravação em Las Vegas, logo após cada dia das filmagens, todo mundo se juntava para beber e jogar basquete – inclusive Julia Roberts. 

A próxima brincadeira? A dupla Clooney e Soderbergh está preparando "Confessions Of A Dangerous Mind", uma biografia de Chuck Barris, apresentador do programa norte-americano "The Gong Show" e agente da CIA. O filme será produzido por Soderbergh, dirigido e estrelado por Clooney, completando  elenco com Drew Barrymore, Rutger Hauer, Julia Roberts, Brad Pitt e Matt Damon. 

A esperança é que esse time continue recuperando o prazer em ir ao cinema para se divertir. Se por acaso você sair do cinema e reclamar que não se divertiu, ou que o filme é ruim, que você preferiria ter visto "O Quarto do Filho" ou outra coisa no Espaço Unibanco, por favor, não me convide para uma festa na sua casa.

Rat Pack? Que porra é essa?

Na locadora, peça "Os Maiorais" e seja feliz