Esse Você Precisa Ouvir
"Burned", do Electrafixion

Por Marcelo Costa
Janeiro de 2000

A década de 90 não começou muito bem para Will Sergeant e Ian McCulloch. Depois de lançarem alguns dos melhores discos de todos os tempos, na década de 80, sob a alcunha de Echo & The Bunnymen, e de realizarem centenas de shows memoráveis (os do Brasil, em maio de 1987, são considerados por muitos como os melhores shows já realizados em solo pátrio), Ian e Will estavam perdidos.

Em 1988, Ian deixava os Bunnymen. No ano seguinte saia o tocante Candleland e logo depois o fraco Mysterio. Ótimas canções se perdem nos dois álbuns que se ressentiam de um guitar hero. Já o Echo recrutou um novo vocalista e lançou em seguida o álbum Reverberation. O álbum não fica devendo nada à produção daquele ano (1989) mas perde de longe se comparado aos primeiros álbuns do Echo. Temos ali um guitar hero... mas faltam canções. Em seguida o Echo & The Bunnymen acabou.

A virada de 92/93 foi tempestuosa para o rock and roll. O grunge, capitaneado pelo Nirvana, arrombou a porta da Indústria e o mundo todo descobriu centenas de bandas que corriam pelos corredores do underground. Paralelamente, Ian e Will já vinham se aproximando e a volta do Echo começava a ser fomentada. Mas ao invés do Echo o que surgiu foi o Electrafixion. Com Ian e Will a frente, mais Tony McGuigam na bateria e Leon da Silva no baixo, o rock and roll voltou a ser perturbador.

Se sempre disseram que o Echo & The Bunnymen era uma mistura de Beatles, Doors, Velvet e Stones, passados pelo furacão punk, o Electrafioxion nada mais é que o Echo (e todas as influências supracitadas) passado pela tempestade grunge. A sujeira das guitarras impera. Will se coloca quilômetros a frente dos outros guitarristas, tamanho a gama de efeitos e riffs que toca. Se você não esperava ouvir mais nada de novo no mundo do rock, aqui temos Will Sergeant inventando riffs impossíveis. Um autêntico guitar hero como não se faz mais. Já Ian continua cantando maravilhosamente bem. E escrevendo muito.

Depois de um EP, Zephir, veio Burned. O álbum começa com Fell My Pulse, um riff repetido, leve, até que dezenas de pedais de distorção encubram a melodia enquanto Ian nos pede para sentir sua pulsação. Sister Pain, a próxima, é show de Will. Na letra Ian procura o perdão. Em Lowdown, Ian pede amor, mapas e um sensação de direção. Já em Never ele assume que "pensei que tivesse as respostas, agora não sei".

 Após Burned saiu o single triplo Live Album Box, com algumas faixas inéditas e uma cover alucinante de Loose dos Stooges (que fez parte do set list dos shows brasileiros do Echo em 1999) provando o quanto Ian e Will ainda são bons em cima de um palco. Foi aí que o baixista Les Pattinson topou a volta e Ian e Will retomaram o Echo, melodioso e apaixonado. Mas o estrago já estava feito.

Um crítico à época, disse que esse era o disco que Blur e Oasis se matariam para fazer. Vou além: esse é o disco que toda galera grunge ficou devendo após o estouro da cena. Ian, em entrevistas, assumiu que no Electrafixion estava tentando soar como Kurt Cobain. Conseguiu algo mais. Na canção Mirrorball o vocalista/letrista diz: "Preciso de uma surpresa nova, preciso ser redimido". Eis Burned, uma surpresa. A redenção de Ian e Will. A redenção do próprio rock and roll.

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