Desfile
de Marcelo SIlva Costa

Deixa que eu beba essa noite inquieta.
eu e a lua cheia.
meu sentimentalismo me floreia,
mas deixa que eu beba a tristeza:
em toda vileza há um pouco de nobreza...
 

Deixa que eu beba essa noite inquieta.
deixe que eu encontre a vereda,
a saída dos meus tormentos.
vou caminhando com meus passos cegos e lentos,
deixo-me estar leve e ser levado pelos ventos...
 

Deixa que eu beba essa noite inquieta.
deixe que eu mate o desejo
enfrentando o que não vejo,
que eu receba a estrela que cai com um beijo
e siga a cantiga entre anjos e demônios num cortejo...
 

Meus caros amigos, o poema é meu refúgio,
meu crepúsculo.
às vezes é um belo sonho,
outras um terrível pesadelo.
a vida é bela, cruel e efêmera.
a morte é efêmera, cruel e bela.
meus caros amigos, a palavra é incerta
e todo poeta lida com essa incerteza.
Meus caros amigos, ainda há inocência:
deixem que eu beba essa noite inquieta.