CALMANTES COM CHAMPAGNE
Imitação Tosca de Um Blog - Página 2 
Marcelo Costa

30/11/2004 - 00h27
Minhas férias estão acabando, mas não posso reclamar. Dentro do possível, consegui aproveitar bem. Aqui no S&Y, algumas coisas melhoraram. Muito mais textos novos, capa de CINEMA, COLUNISTAS, EDITORIAL, EXPEDIENTE e MÚSICA atualizadas. E vem mais coisa por ai, começando pela renovação da parceria com o site de cinema CINEFILIA, que voltará a ter textos publicados no S&Y. Bacana.

A única coisa ruim dessas férias foi não ter conseguido encontrar um apartamento a contento. Encontrei um, interessante, na rua em que moro, mas foi o segundo da fila e fiquei sabendo hoje que o primeiro confirmou que vai ficar com o imóvel. Outro que gostei muito e é em uma rua que eu já morei (Antônio Carlos) está um tiquinho acima da média de aluguel que quero pagar. Mierda...

Noite de domingo para segunda problemática. Insônia. Tudo estaria perdido se não fosse Audrey Hepburn. Eu já tinha desistido de ler uma edição da NME que está perdida por aqui e fui ligar a TV. Qual a minha surpresa quando encontro, na Band, sei lá que horas da madrugada, Audrey Hepburn e William Holden em Quando Paris Alucina (1964), no original, com legendas. Audrey está encantadora nesta deliciosa comédia que brinca com os clichês do cinema romântico hollywoodiano, isso 40 anos atrás. Mas há de se entender, já que a própria Audrey havia estrelado dezenas de comédias românticas antes de Quando Paris Alucina, uma delas, inclusive, com o próprio William Holden (Sabrina, do gênio Billy Wilder). Com um bom número de comédias românticas no catálogo, nada mais justo do sarrear seus clichês com um filme que homenageia o estilo enquanto faz paródia. Richard Benson (William Holden), é um roteirista que foi contratado para escrever uma história. Porém, nenhuma das 138 páginas que deveriam existir foram escritas, pois em vez de trabalhar no roteiro Benson ficou bebendo e se divertindo. Pouco antes da chegada do produtor a Paris, Richard contrata Gabrielle (Audrey Hepburn), uma secretária temporária, para ajudá-lo a fazer o roteiro (ela datilografa enquanto ele fala entre doses de uisque). E como resistir ao charme de Gabrielle? Bêbado, numa noite desastrosa, Richard confessa para a secretária: "Eu não me importo com nada. Nada. Ou melhor, eu me importo com dinheiro. E uisque, um bom uisque". Quando Paris Alucina é o cinema falando do cinema. Em um trecho impagável, Gabrielle pergunta ao roteirista se a censura não iria vetar a cena da cama do casal no filme. "Não. Eles não estavam fazendo nada demais. Eu cortei a cena antes. Quando voltar, teremos os dois na casa disputando um jogo". Corte para a encenação: Audrey Hepburn e William Holden jogando damas na cama (?!?). Mais para frente, Holden pergunta se Hepburn pode guardar um segredo: "Eu amo você", diz a mocinha. "Sou toda sua depois do jogo desta tarde. Será que isso não ficou explicito?", diz a bela dando ao jogo um carater extremamente sensual. Ahhhhh, Audrey Hepburn...

Bem, recebi por email e achei uma iniciativa muito interessante. Vale participar:
"Gostaria de divulgar que os correios abrem as cartinhas que as crianças mandam para o papai noel e tentam atender aos pedidos. Inicialmente, é feita uma triagem das cartas para atender as comunidades mais pobres, creches, orfanatos etc. Quem quiser e puder ajudar, pode ir no correio e ler as cartinhas, escolhendo aquela com que mais se identificar. O que tem de criança pedindo comida, emprego para a mãe, caderno para estudar etc, é duro... Uma das que foram apadrinhadas pediu um colchão para dormir... é triste, né? É claro que tem muito pedido de bicicleta, barbie, poli, video-game, esses sonhos de qualquer criança. Enfim, tem pedido para todo gosto e bolso! Depois que comprar o presente, basta entregar no próprio correio, que eles se encarregam da entrega. Em BH, as crianças que tiveram a carta apadrinhada, receberam uma carta convidando para uma festa que os Correios promove e onde o Papai Noel entrega os presentes. A criança que não for na festa, recebe o presente em casa. A cada ano, mais e mais cartinhas são atendidas e, hoje, várias empresas participam. Se alguém preferir, não precisa apadrinhar uma carta específica. Pode doar o que quiser, que o pessoal do correio seleciona para quem mandar."

26/11/2004 - 02h17
Quer saber como ferrar todo o seu décimo-terceiro em poucos dias? Bem, faça como eu. Entre em uma Loja Americanas da vida e saia com a dobradinha Laranja Mecânica e 2001, Uma Odisséia no Espaço, do Stanley Kubrick, em DVD, por R$ 24, os dois. Depois passe em uma lojinha na Rua Augusta e encontre O Filho da Noiva e Waking Life, cada um por R$ 12. E depois faça a besteira de ir na feira de livros que acontece na USP. Só hoje deixei lá R$ 27 pelo A Era dos Festivais, do Zuza Homem de Mello (que eu já tinha lido, mas queria ter em casa), R$ 25 pela biografia do Bob Dylan que saiu pela Conrad (que eu tinha ganho, com dedicatória, de uma amiga, mas acabou ficando com meu ex-chefe no meu ex-emprego), R$ 16 pela biografia do Bukowiski (outro biscoito fino da Conrad), R$ 16 por um bacana Manuel de Roteiro (isso mesmo, Manuel) que está saindo pela Conrad (sempre eles) e parece ser muuuito legal (quero investir nisso e na possível idéia de escrever um livro), e, por fim, R$ 10 em O Álbum Negro, do Hanif Kureishi, um dos escritores que mais li nestes últimos dois anos (com Intimidade e O Corpo e Outras Histórias). Isso sem contar nos CDs que tenho encontrado por ai...

Resultado: não me convide para beber, a não ser que você vá pagar. Minha conta está em um assustador vermelho, e a fatura do cartão de crédito, com os gastos em Buenos Aires, nem caiu na minha conta. Puuutz... natal magro por aqui... dureza.

E ainda pretendo dar uma outra passadinha na feira da USP, que termina nesta sexta, para pegar mais uns dois livros baratinhos (mesmo)...

SHOWS
O Seychelles, banda responsável por um dos shows mais bacanas que vi no ano, está em estúdio. Ano que vem sai Ninfa do Asfalto, o álbum. A banda acaba de disponibilizar, por tempo limitado, À Face do Tempo, canção que entrará no disco e já está sendo executada nos concertos da banda por aí, há algum tempo. A versão que está na net é da pré-produção do disco, e ela fica no ar por apenas 1 mês. Depois disso, fica por conta de vocês. Quem baixou, baixou. www.tramavirtual.com.br/seychelles

Domingo é um desafio. Enquanto o pessoal do Continental Combo (ex-Momento 68) promete agitar os sixties na Funhouse, a partir das 20h, o trio Karine Alexandrino, Cérebro Eletrônico e Cascadura faz a festa no Avenida Clube, no mesmo horário, no já popular programa 2 em 1 (excepcionalmente, neste fim de semana, 3 em 1). É escolher a balada e marcar presença.

23/11/2004 - 15h40
Acaba de aportar nas bancas o terceiro (e mais fraco) volume de A História do Rock Brasileiro, especial comandado pelo jornalista Ricardo Alexandre para a Superinteressante. Como atenuante, é perfeitamente compreensível que fosse complicado dispor em apenas 80 páginas a década mais movimentada do rock no País. O próprio Ricardo Alexandre escreveu um livro sobre o assunto (Dias de Luta).

Porém, a edição deixa a desejar em vários quesitos: 1) O espaço dado para bandas como Camisa de Vênus, Engenheiros do Hawaii e Plebe Rude (para ficarmos em três apenas) é ínfimo diante da representatividade das bandas citadas. 2) O fragmento da entrevista dos Titãs, concedida à Lorena Calábria em 1989, fica perdido no meio edição, sem explicar nem acrescentar. 3) Todo o material da Legião Urbana, grande destaque da edição, não traz nenhum texto novo que seja relevante, e ainda defende, erroneamente, que a banda é o que é devido ao sucesso de Faroeste Cabloco. Fragmentos de três entrevistas de Renato Russo tomam o lugar do que poderia ser uma análise distanciada do sucesso da banda, com entrevistas com Dado, Bonfá e gente que trafegava ao lado da banda, como o produtor Mayrton Bahia ou o paralama Herbert Vianna. 4) A premissa de que um trio de bandas independentes mudou o rumo da música no País no capítulo sobre a cena underground. É bom lembrar que os fanzines em papel já existiam por aqui, e que os na internet só foram surgir (com destaque) em meados da década seguinte. A cena independente nacional conseguiu espaço com muita batalha, suor e guitarras, e soube sobreviver ao mercado mostrando muita competência nos anos seguintes, mas a forma poética em que é apresentada traz muito de sonhador e pouco de real. 5) Estranho que a Legião seja o grande destaque da edição e apenas um disco da banda apareça entre os 25 da década, enquanto Titãs e Paralamas são representados por dois álbuns. Estranha também é a ausência de Supercarioca, dos Picassos Falsos, álbum que antecipou em vários anos uma rotina que deverá ser um dos motes do volume 4 do especial, que trará textos sobre os anos 90/00: a mistura de rock com ritmos brasileiros.

Porém, nem só de desacertos vive A História do Rock Brasileiro, Volume 3. O texto de Ciro Pessoa (relembrando o começo dos Titãs e a cena paulista) é excelente. Um pouco abaixo surge Ney Matogrosso, analisando de forma interessante à trajetória do fenômeno RPM. Ney foi responsável pela produção do show que deu origem à turnê Radio Pirata. Jamari França relembra com carinho do início dos movimentos da cena carioca nos primórdios dos anos 80 enquanto Luciano Marsiglia escreve sobre o movimento punk em São Paulo (com destaque para o festival O Começo do Fim do Mundo) e Luiz Cesar Pimentel rememora as guitarradas e as cabeleiras do heavy metal brazuca, com interessantes observações e fotos de gente da época. Em comparação com as duas edições anteriores, A História do Rock Brasileiro, Volume 3 fica devendo, mesmo assim vale uma conferida, principalmente porque logo o volume 4 chega às bancas, trazendo um box para que sejam guardados os quatro volumes.

Seguindo: mais um capítulo de Transversal do Tempo, box de Elis Regina. O oitavo disco da caixa acaba de sair do disc-man. Lançado em 1972, Elis, homônimo ao de 1973, é aquele em que a cantora é flagrada (na capa) sentada em uma cadeira azul no meio de um jardim, de vestido branco. Transpirando bossa, jazz e samba, este disco é, mais do que qualquer coisa, o álbum que traz as clássicas 20 Anos Blue, de Sueli Costa e Vitor Martins ("Ontem de manhã quando acordei / Olhei a vida e me espantei / eu tenho mais de vinte anos / e tenho mais de mil perguntas sem respostas"), Atrás da Porta (antológico retrato de fim de caso desenhado por Chico Buarque e Francis Hime) e Casa no Campo (o rock rural de Zé Rodrix e Tavito). Não bastasse estas três pérolas do cancioneiro nacional, Elis ainda traz a cantora emocionando com sua voz de cristal, no tom perfeito e sem os exageros que marcariam os discos posteriores, em canções como Olhos Abertos (Zé Rodrix e Guarabira), Bala com Bala (João Bosco e Aldir Blanc), Nada Será Como Antes, (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) e Mucupire (Fagner e Belchior), além da primeira versão, solo, de Águas de Março, inferior a versão registrada em Elis & Tom, mas mesmo assim magistral.

19/11/2004 - 01h27
Outro provável concorrente ao posto de melhor disco nacional de 2004 (em pé de igualdade com Wander Wildner, Wonkavision e Mombojó) aportou em casa nesta semana: A Farsa do Samba Nublado, o terceiro e melhor disco de Wado. Vou falar muito deste dele ainda...

Existe algo pior do que procurar apartamento para alugar? Existe uma centena de coisas piores, eu sei, mas neste momento estou um bagaço de cansaço de tanto que caminhei e camelei procurando o apartamento perfeito... amanhã tem mais...

Nesta sexta tem Cansei de Ser Sexy no Olido, ali no centro de SP, do ladinho da galeria do rock. Vou por ir, tá. Já vi o Cansei de Ser Sexy ao vivo e... não gostei.

No sábado tem Nada Surf em... TAUBATÉ. Tô pensando em ir...

Finalmente comprei um toca-discos, velhinho, mas está funcionando... agora é tirar poeira dos vinis... ou melhor, lavar os discos...

ABRE ASPAS
"Era transgressor na atitude. O Clube da Esquina não era jovem guarda. Não era um tipo de música fácil. As guitarras tinham arestas, as harmonias eram difícies. Em certo sentido, era o inverso dessas bandas de hardcore que existem hoje em dia, com os filhinhos de papai vestidos de preto, fazendo careta, tocando pesado - mas que no fundo são uns bundões. Era violão, mas era rock'n'roll".
FECHA ASPAS

Este é um pequeno fragmento do excelente texto que Samuel Rosa, do Skank, escreveu sobre o Clube da Esquina para o segundo volume da obrigatória História do Rock Brasileiro, especial da SuperInteressante. Só tenho uma coisa a dizer: palmas!

11/11/2004 - 13h28

Bem, bem, bem. Estou praticamente recuperado da viagem e com dezenas de coisas para escrever, escrever e escrever. Mas estou de férias, vocês sabem, então vou alternar atualizações do S&Y com sessões de cinema, visitas à Bienal, audições de discos, leituras e a procura pelo apartamento perfeito (e pelo toca-discos perfeito também). Vou postando tudo aqui, e o que merecer matéria, vai lá pra capa, fechado?!

Do capítulo "vamos visitar uma banca de revistas", três publicações chegam para nos convidar à leitura. O número 7 da bacana Outracoisa chega com o CD do duo gaúcho Réu e Condenado encartado. Já ouvi ao menos três vezes o disquinho e ainda não cheguei a uma conclusão séria sobre o troço, mas é bacana, isso eu garanto. Os moleques sarreiam o Smashing Pumpkins na capa do CD e posam de engracadinhos nas músicas. Na revista, o prefácio sobre os caras é de Frank Jorge. A Outracoisa ainda traz uma entrevista exclusiva com o Sr. Ministro Gilberto Gil e com Selton Mello. Está R$ 12,90. Vale.

O segundo volume da imperdível História do Rock Brasileiro, especial da Superinteressante, também aterrisa nas bancas. Após vasculhar os anos 50 e 60 (ver posts anteriores), o especial centra foco nos Anos 70 agora. Com Rauzito na capa, a revista destaca Tim Maia, os embalos da discoteca, Secos & Molhados, Novos Baianos, Rita Lee, Clube da Esquina, Gal Costa e os nordestinos Fagner, Belchior, Alçeu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. Com textos caprichados e fotos bacanas, História do Rock Brasileira chega às bancas custando R$ 12,95. É obrigatória. Ainda é possível encontrar o nº 1, com o Rei Roberto na capa, nas bancas.

Por fim, outro produto da marca Superinteressante chega às bancas. É o número 3 da divertida Flashback, capitaneada por Ivan Finotti. Os três volumes ainda podem ser encontrados em bancas de revista. O primeiro destaca Os Trapalhões, o segundo traz a Legião Urbana na capa e o número três recupera os melhores (e os piores) momentos da carreira de Roberto Carlos. Textos de Emerson Gasperin, José Flávio Júnior, Alexandre Inagaki, André Barcinski, entre outros. O bordão da revista é "clássicos, retrôs, vintages, nostalgias e outras saudades!". Os dois primeiros volumes saem por R$ 13,50 cada, cada uma com um CD encartado (a primeira recupera 30 jingles publicitários e a segunda 20 jingles políticos). A terceira custa R$ 7,95. :_)

01/11/2004 - 10h

Bem, lá se foi um mês de novas atualizações do S&Y. Gostaria imensamente de agradecer aos amigos, leitores e colaboradores que estão marcando presença nesse retorno. Costumo pensar que o S&Y e todas as minhas encanações com atualização morreram naquele novembro de 2002. O que temos hoje é um site mais leve, que vai sendo levado ao sabor da vida: instável, surpreendente e deliciosa.

Nos próximos dias, encaro minha viagem pelas terras de Maradona. Com isso, apenas nesta semana o site fica como está, e, acredito, que ainda existe muita coisa para ser lida por aqui. Na volta, um texto especial sobre o Libertines, uma entrevista com André Takeda, outra com Replicantes e algumas outras cositas devem pintar, sem pressa, na calma, ao sabor da brisa.

As férias começam nesta segunda. Amanhã bato cartão em Taubaté, para levar presentes para mãe mais maravilhosa do mundo (salve Dona Vilma e seus 53 anos). Depois de amanhã, Buenos Aires. Na outra semana, São Paulo e, no fim de semana, Ubatuba. Muitos planos, muitas idéias, muita vontade de fazer coisas diferentes.

O mundo começa agora. Apenas começamos. Sempre.

Ps. Gostaria, muito, de brindar com cerveja em copo de plástico com os amigos no show do Brian Wilson. Estarei por ali. A gente se encontra...

31/10/2004 - 01h14

Faltam dois dias para as férias... :~~~~~~~~~

26/10/2004 - 00h56

Abre aspas:
"Aquele verso de Panis Et Circensis ("Mandei plantar /folhas de sonho, no jardim do Solar") diz respeito ao Solar da Fossa, que era um grande cortiço transformado em hotel, em Botafogo, no Rio de Janeiro, onde hoje existe o Shopping Rio-Sul. Era um lugar barato e todo mundo da bossa nova, da jovem guarda e da tropicália conviveu ali. E os malucos realmente plantavam maconha lá ("folhas de sonho"). Mas a maluquice é muito relativa, as aparências enganam. Vi muito mais gente da MPB usando drogas do que roqueiros. O iê iê iê era careta, até".
Fecha Aspas.

Abre Aspas de novo:
Em 1968, todos eram tropicalistas - até a Beth Carvalho apareceu tocando theremin! Não tiro o merito de Gil e Caetano, mas tudo aconteceu porque o Rogério Duprat indicou Mutantes e Beat Boys para acompanhá-los. E não podemos esquecer que o Ronnie Von já tinha dois discos rigorasamente psicodélicos que são um primor. São seminais, foram seus Sgt. Pepper. O problema no Brasil é o excesso de ego. Todos querem ser os grandes descobridores e não 'liberam' as referências. Isso deforma a nossa história."
Fecha aspas.

Estes dois parágrafos antológicos são o começo e o fim do texto de Zé Rodrix (ainda existem mais três parágrafos no meio) no capítulo "Tropicalismo" da sensacional edição História do Rock Brasileiro, Vol. 1, Anos 50 e 60, editado por Ricardo Alexandre e bancado pela Superinteressante. Um pouco antes, Fernando Rosa tinha falado de alguns tesouros perdidos dos primórdios do rock brasileiro (Luizinho & Seus Dinamites, The Snakes, Conjunto Alvorada), enquanto todo mundo colocava a culpa em um filme, Rock Around The Clock (no Brasil, Ao Balanço das Horas), e o Rei Roberto via cinema: "No Cine Roxy passou Juventude Transviada, com o James Dean. Eu tinha um blusão como o dele".

O mais impressionante de tudo, porém, é ler o texto "Antropofagia", de Décio Bar e, no final, descobrir que a abordagem atualíssima foi publicada originalmente na revista Realidade, de 1968.

O final da edição ainda colhe os 25 melhores discos do período.

Com um trabalho sublime de edição, o primeiro volume de A História do Rock Brasileiro é simplesmente essencial. Detalhe: eu ainda não terminei de ler. Estou na página 63, ignorando os boxes (volto depois só lendo isso). Próxima parada: Mutantes, em texto assinado por Emerson Gasperin e fotos de arquivo excelentes.

Ps. Só faltam sete dias para as minhas férias! :_)

Ps 2. Será que o John Peel não teria direito a mais uns vinte anos prestando bons serviços à música mundial? Na boa: tem muita gente que deveria viver 100 anos. John Peel era uma destas pessoas. Salve, mestre!

23/10/2004 - 9h09


Começou a 28ª Mostra SP de Cinema, como sempre, uma loucura. Na noite desta sexta assisti ao francês Exílios, de Tony Gatlif, um excelente retrato daqueles que se sentem estrangeiros em qualquer lugar do mundo, além de uma declaração de amor à família e a religião.

Estou gripado... não se aproxime. E estou de plantão... e, sobretudo, estou contando os dias para as minhas férias. Só faltam 10!

É hora de uma passadinha em bancas de revistas para buscar tesouros perdidos. O grande Ricardo Alexandre (autor do livro Dias de Luta) é o responsável pela edição de um especial sobre o rock no Brasil que chega às bancas pela Superinteressante, custando R$ 12,95. O primeiro dos quatro volumes de História do Rock Brasileiro traz o Rei Roberto Carlos na capa e conta a história do rock no Brasil nos anos 50 e 60, época de Celly e Tony Campello, Sergio Murilo, Betinho e seu Conjunto, Ronnie Cord, The Jordans, Jovem Guarda, Tropicália, Mutantes. Com excelente edição, papel fino, um bom resgate de fotos e textos de Fernando Rosa, Carlos Primati, Sério Barbo, Luciano Marsiglia, Pedro Só e Zuza Homem de Mello, entre outros, a revista é uma pequena enciclópedia sobre o gênero. Raul Seixas está na capa da segunda edição (que cobre o período dos anos 70), Legião Urbana na terceira (anos 80) e Marcelo D2 fecha o pacote (anos 90/00). Por enquanto, só o Rei Roberto chegou às bancas. O ideal é comprar duas, uma para andar pra cima e pra baixo, outra para encadernar os quatro volumes.

Marcel Plasse coloca nas bancas a segunda edição de Pipoca Moderna, que tem como foco o mercado de DVDs, mas abre espaço para lançamento de música e cinema. Nesta edição, com Brad Pitt na capa (uma entrevista sobre Tróia que chega em DVD), uma análise sobre o sucesso da cinebiografia Cazuza - o Tempo Não Pára (assinada por este que vos escreve), um texto bacana do Luís Carlos Merten sobre Dona Flor e Seus Dois Maridos (a maior bilheteria nacional chega ao DVD), Marcel dissecando Betty Blue e Libertines, além de um textão sobre Brian Wilson. Bacana.

Dica: algumas bancas da avenida Paulista estão vendendo um pacote especial contendo dois exemplares da Outracoisa (Wander Wildner e Mombojó) pelo preço de uma, R$ 12,90. Vale, vale, vale.

18/10/2004 – 23h55
Estou morrendo de sono... e de fome...

Apesar do plágio de Offspring logo na abertura, Vertigo é o primeiro grande single do U2 desde Acthung Baby. Neste meio tempo, Bono e cia lançaram dezenas de boas canções (Stay, The Playboy Mansion, Kite, Two Shots of Happy, One Shot of Sad), mas nenhum rock de primeira. Vertigo abre com um riff venenoso de guitarra, voz carola do Bono, mais o baixo e a bateria fortes no refrão aumentando a expectativa pelo novo disco. The Edge até consegue enfiar uns harmônicos ali pelo meio sem soar datado. Na lata, Vertigo, a música, é melhor que os discos inteiros do Hives (nota 6) e do Libertines (nota 7).

Quarta tem Chemical Brothers no Pacaembu. Vou trabalhar lá... e pular muito.

Alucinação, segundo disco do Belchior, de 1976, está ecoando entre estas paredes. Clássico, o disco traz Apenas Um Rapaz Latino Americano, Como Nossos Pais, Velha Roupa Colorida, Alucinação (já regravada pelos Engenheiros) e A Palo Seco (gravada pelo Los Hermanos no Lual MTV). Tudo bem que, pessoalmente, eu prefira as versões de Elis (e a do Engenheiros), mas Alucinação é um disco a ser descoberto.

E já que eu falei em Elis Regina, acabo de passar pelo sétimo álbum dela do Box Transversal do Tempo, o homônimo Elis, de 1973. Com uma bela capa (Elis, de cabeça baixa, a contra luz) e arranjos entre o jazz e a batucada, Elis traz momentos memoráveis como Meio de Campo (Gilberto Gil), com os irresistíveis versos "Prezado amigo, Afonsinho / Eu continuo aqui mesmo / aperfeiçoando o imperfeito / dando um tempo, dando um jeito / Desprezando a perfeição". Outra de chorar é a linda versão para Folhas Secas (Nelson Cavaquinho/Guilherme Brito). Ainda merecem ser citadas a ótima Oriente (inferior a versão do próprio Gilberto Gil) e a bela letra de Agnus Sei (João Bosco/Aldir Blanc).

Momento culinária: almoço de domingo no Spoleto, gnhocci com tempero forte (salsa, cebola, alho, pimentão, bacon, calabresa e azeitonas) que fazia tempo que não me deliciava tanto. Gnhocci é algo que me faz lembrar de casa. Saudade (cuja visita do amigo Leonardo Vinhas – entre cinco rodadas de Bohemias no fim de tarde de domingo – é objeto de reforço). Janta de segunda: salada e suco: putz, tem de tudo nessa salada. Olha: anota ae: se você estiver por perto da Rua Maria Antônia, em São Paulo, qualquer dia de sua vida, coma algumas das saladas naturais do primeiro restaurante/lanchonete do Boulevard.
(isso é para compensar a minha ausência nestes dias) :_)

Agora, sério: acabaram os convites para ser Brian Wilson, Kraftwerk, Libertines, Mars Volta, PJ Harvey e Primal Scream no Tim Festival. E tem gente que ainda acha que não vale a pena trazer shows para o Brasil. E tem empresário que irá deixar o Morrissey fazer show no Chile e na Argentina e não irá investir em um show do cara aqui. Existem coisas no mundo que, verdadeiramente, eu nunca vou conseguir entender. Bem, o projeto Buenos Aires está em pé. Espero, até sexta, publicar uma matéria "Guia Personal Fest". Quero ver se alguém mais topa essa loucura. Já estou me vendo com a camisa do Corinthians indo conhecer La Bombonera, fuçando lojinhas de CDs e procurando algum lugar para um bom tango. Mas o tango só vai rolar se eu conseguir viajar no dia 03. Por enquanto, a viagem está prevista para o dia 04...

Sou a favor de downloads, acho que música na internet significa divulgação e o escambau (embora não exista nada mais revelador para um crítico do que o encarte de um CD), porém, baixar um filme na Web e ver na telinha do computador é um pecado contra a sétima arte. A ficha caiu depois que vários amigos me disseram que viram Kill Bill Vol. 2 assim e, meu deus, pode ter certeza que metade do impacto do filme foi perdido desta forma. Me chamem de purista, exagerado e o que mais vocês quiserem, mas baixar filmes na Web é um desserviço ao cinema, não no que envolve grana, mas no que envolve arte. Nada substitui a urgência e a revelação da escuridão da sala de cinema. Nada.

Perguntinha perdida no tempo: você já ouviu Live At Leeds, do The Who, o melhor show de rock de todos os tempos?


15/10/2004 - 07h58
Vou respirar fundo e tentar não reclamar da vida, hoje, tá. É fase, acredito.

Bom, para não ficar de mãos dadas com a melancolia, vamos falar de... música. Desde o meio da semana passada que Brian Wilson tem comandado os dias por aqui. Primeiro foi o Smile, que é sensacional, e agora é a vez de Gettin In Over My Head, o tal disco de inéditas com participação de Paul McCartney, Elton John e Eric Clapton. Enquanto Smile é futurismo (de 1967 para 2004), Gettin In Over My Head é uma declaração de amor aos sixties (de 2004 para 1967). A influência de Phil Spector na vida de Brian fica evidente no disco, que nada tem de clássico (ao contrário de Smile), mas funciona como máquina do tempo que é uma beleza.

Compras: passeio na minha lojinha preferida para se comprar MPB e achar coisas interessantes. Fui pegar dois discos do Itamar Assumpção que estou namorando há tempos, porém, acabei levando o Clube da Esquina (dica pros fãs do Bituca: nesta loja tem o box Oratório, dez CDs, R$ 120). Eu não tinha nada da ala mineira e achei por bem começar por esse. Comprei também o Acústico MTV do Rei Roberto (um pra mim, outra pra mãe) e fechei o pacote com o volume 5 da excelente série The Secret History Of Rock & Roll, lançada no Brasil pela BMG. No volume 5, ao contrário das coletâneas temáticas dos outros CDs, um passeio pela carreira de Leadbelly.

Acaba de sair no Brasil, com preço de disco simples, a versão remasterizada e dupla do essencial The Name of This Band Is Talking Heads. São 14 bônus tracks, incluindo uma nova versão para Psycho Killer e canções que não estavam no disco original, como The Big Country, Animals, Heaven e The Book I Read.

Na quarta-feira se esgotaram os convites para ver Libertines. Na quinta foi a vez de acabarem os 4 mil ingressos para ver PJ e Primal Scream no Tim. Repito aqui dois parágrafos que escrevi em uma nota no Terra: Quem quiser ver o Primal Scream ainda tem a chance de conferir o show da banda no Rio de Janeiro, enquanto PJ Harvey só estará disponível na América do Sul em Buenos Aires, Argentina, no dia 05/11, no Festival Personal. O Primal Scream se apresenta ao lado do Libertines no Rio de Janeiro, na segunda-feira (08) posterior ao festival, no Armazém 5 do Cais do Porto. Os ingressos para o show do Rio ainda estão disponíveis.

Vambora ver Polly Jean Harvey em Buenos Aires? Estarei lá!

LINKS
Você já ouviu Terminal Guadalupe, Lasciva Lula, Blemish, Walverdes, Wander Wildner, Seychelles? Bem, algumas das bandas que costumo citar aqui coloca material para download em seus próprios sites. Seria legal, além de ler, dar uma passadinha por lá e conferir o trabalho deles. Caminho das pedras:

Terminal Guadalupe (Curitiba)
http://www.terminalguadalupe.com.br/
Uma caixinha no lado esquerdo da tela disponibiliza os dois álbuns completos do grupo, além do clipe de Burocracia Romântica.

Lasciva Lula (Rio de Janeiro)
http://www.lascivalula.com.br
A banda acaba de disponibilizar a inédita Mimo. Na parte de MP3 do site, 16 músicas, incluindo os excelentes EPs Óleo de Saliva (2003), Primeira Edição (2002) e Lasciva Lula (2000), além de uma versão de Fala, dos Secos e Molhados.

Wander Wildner (Porto Alegre)
http://www.wanderwildner.com
Mestre Wander Wildner sempre disponibiliza algo legal em seu site. No momento estão para download as músicas Adeus as Ilusões (da coletânea Ritmo da Vida, Rodando el Mundo (do Paraquedas de Coração), a matadora versão de Whitout You do Badfinger, retirada da trilha sonora do bacanudo Houve Uma Vez Dois Verões, e, por fim, Lembrar de Ser Feliz Agora, nova música dos Replicantes.

Blemish (São Paulo)
http://www.blemish.com.br/
Uma das melhores bandas brasileiras das que cantam em inglês, o Blemish retorna reformulado como quinteto, e traz, ao cabo, o matador EP King Kong Evolution. É possível baixar as músicas na seção "Blemish News", logo depois da data 11/09.

Seycelhes (São Paulo)
http://www.pirex.com.br/
Um dos melhores shows de bandas novas que eu vi em 2004. Dá para baixar as quatro faixas da demo Mon'Amour no site Pirex. É só ir clicando na capinha e mandando ver. Minha preferida é Papel.

Walverdes (Porto Alegre)
http://www.walverdes.com
Uma das bandas preferidas deste que vos escreve colocou várias MP3 no Trama Virtual. O caminho está aqui, mas vale a pena entrar no site dos caras (que está reformulado) e dar uma conferida na discografia, letras, entrevistas...

Pato Fu (Belo Horizonte)
http://www.patofu.com.br/
Enquanto John e Fernanda não lançam material novo, vale a pena dar uma fuçada no site da banda. Na parte de "Brindes", versões para Coração Tranquilo de Walter Franco (também para a trilha de Houve Uma Vez Dois Verões), um remix de Made in Japan, a inédita A Barca, Spoc ao vivo na gravação do especial MTV (e que não saiu nem no CD e nem no DVD) e uma versão de Sobre o Tempo, feita pelos Los Hermanos e cantada por Fernanda, em um show em BH. Divirta-se.

13/10/2004 - 23h06

Existe algo mais cansativo do que estar vivo?

11/10/2004 - 00h55
Um feriado no meio do calendário

Passou da meia-noite há três minutos e esta terça-feira será meu último dia de feriado prolongado. Fiquei todos os dias em casa e eu estava precisando muito desta reclusão. Meu humor estava péssimo, meu estômago doía, tudo parecia desabar sobre a minha cabeça, mas nada como passar dias enfurnado debaixo do edredom. Do capítulo "é bom ser anti-social de vez em quando". Tudo melhorou. A dor de estômago está bem mais sociável com meu corpo, meu humor começa a dar mostras de sorrisos e as coisas parecem voltar ao seu eixo no meu mundo pessoal.

Belle & Sebastian rola no DVD enquanto procuro relembrar coisas para postar aqui. Bem, o natal não chegou, mas eu já comprei um chocotone. E só tem um pedacinho ali que não irá passar desta noite. No mais, gastei o tempo deste fim de semana na frente do vídeo. Foram cinco fitas: As Damas de Ferro é a tal comédia tailandesa inspirada em fatos reais sobre um time de vôlei de travestis. É tosquinho, mas bem interessante. Logo depois revi Desconstruindo Harry, do Woody Allen. Da outra vez que o peguei, ainda em Taubaté, eu iria devolver a fita sem assistir, mas insisti em não dormir. Apagava cinco minutos, acordava e assistia um trecho. Dormia de novo, acordava e via outro. É um grande filme, entre os melhores do Allen nos anos 90. O terceiro foi Sábado, do Ugo Giorgetti, que eu já vi ao menos cinco vezes, mas sempre me divirto. Logo depois vi Jackie Brown, do Quentin Tarantino, ainda inspirado pela grandiosidade de Kill Bill Vol. 2. Porém, não tem jeito: Jackie Brown é lento e arrastado demais. Incrível é que eu tenho o roteiro e adoro. Para fechar o pacote, o melhor filme: Os Amantes do Círculo Polar (1999), de Julio Medem, mesmo diretor de Lúcia e o Sexo. Aqui, Medem usa o acaso para contar a história devastadora do amor secreto e eterno de Otto e Ana. Difícil descrever a grandiosidade lírica desta pequena obra-prima sobre a paixão, o destino e a morte.

A segunda-feira foi bastante produtiva. Logo de manhã fechei a matéria da Nação Zumbi e a resenha da coletânea japonesa do Radiohead. A tarde, aproveitei e olhei quatro apartamentos (explico no próximo parágrafo) para, depois, ir lavar roupa na lavanderia da esquina da Consolação com a Caio Prado. Enquanto a máquina de lavar batia minhas camisetas surradas, eu terminava O Corpo & Outras Histórias, de Hanif Kureishi. Alias, também terminei Cassino Hotel, do André Takeda. Do livro do Hanif eu já escrevi a resenha. Do Takeda, papo para logo.

Estou querendo me mudar! O problema é achar o apartamento perfeito, no local ideal, por um preço "pagável". Foda. Já perdi um bacana na esquina da Avenida São João com a Rio Branco, uns dois meses atrás. Agora não encontro nada tãoooo legal. Dos quatro que olhei hoje, apenas um me interessou, mas o aluguel foge do meu pequeno orçamento. Mesmo assim vou fazer uma contraproposta cafajeste para a imobiliária. É preciso ter cara de pau de vez em quando. O apartamento ideal precisa ter uma sala bacana. Depois disso eu parto para os outros cômodos, mas se a sala não for bacana, nada feito. Quero ver se me mudo até o fim do ano.

Outra coisa que eu tenho procurado muito é um toca-discos. Está foda encontrar. Já caminhei a Rua dos Andradas e a Rua Santa Ifigênia inteirinhas e nada. Tenho que lembrar de dar uma busca no Google e ver se não acho um outro lugar que não queira extorquir o dinheiro que eu não tenho só para poder ouvir meus velhos vinis. Parece que ouvir discos virou algo cult e o preço dos aparelhos foi lá para as alturas. Diz ai: mó foda pagar R$ 300 em um toca-discos AIWA que só faz o prato girar em 33 ou 45 rotações e mais nada. Será que estou exagerando?

NOVIDADES
Música
Em Casa
Smile, Brian Wilson
Com Lag, Radiohead
Around The Sun, R.E.M.

No Disc Man
Elis - 1973, Elis Regina
Smile, Brian Wilson
King Kong Evolution, Blemish
Forever Changes - Remastered & Expanded, Love

Música do Momento
Música de Coração, Mariana Davies
Music When The Lights Go Out, Libertines
Be My Baby - Live, Brian Wilson

Filmes
Antes do Por-do-Sol (CINEMA) - Tão belo e inocente e cult quanto o primeiro.
Loose In L.A., Pretenders (DVD) - I love Chrissie Hynde.

Livros
Cassino Hotel, André Takeda - Existe futuro sem passado? Pense bem...

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"Ele faria da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro", O Encontro Marcado, Fernando Sabino, 1956.

Muito do que eu sou hoje, devo a este escritor.
Um minuto de silêncio por Fernando Sabino, por favor.


07/10/2004 - 01h51

Músicas, filmes e livros

Minha terça-feira foi um dos piores dias do ano. Pouco importa se eu fui o culpado por estragar meu dia, se tudo se resolveu depois e se a graça de estar vivo é saber que bastar estar andando para se tropeçar e enfiar a cara na lama. O mundo é feito de bobagens. É tudo muito simples. Ou deveria. O meu grande problema, porém, se chama dor de estômago causada pelo excesso de nervosismo. Você conhece isso?

Bem, para quem não conhece, vou tentar resumir. Primeiro sintoma: parece que alguém está socando a sua barriga com força, porém, de dentro para fora. Dois: a respiração falta. Três, mas só quando o nervosismo está incontrolável: tontura. Casualmente surgem lágrimas, mas elas não estão no pacote. Se existem lágrimas, o problema é outro, não a dor de estômago. Minha primeira crise violenta aconteceu 13 anos atrás, e me deixou de cama por vários dias. Minha mãe tentou de tudo, até um liquido horrível marrom (medicina alternativa), mas o que resolveu mesmo foram os calmantes.

E os calmantes fizeram parte da minha vida por muito pouco tempo, pois, como diriam os orientais, o segredo está no domínio da mente sobre o corpo. Ou seja: se eu conseguir não ficar nervoso, nenhuma dor de estômago me visita. Se eu ficar um pouquinho, é só uma dorzinha companheira que está aqui desde sempre. Porém, todos sabemos que nem todos os dias são perfeitos e, vez por outra, o nervosismo domina e a respiração falta. O bom é que, tontura mesmo, muito raramente. Já consigo domar meus sentimentos (ou acho que consigo).

Ah, detalhe importante de uma dor de estômago. Após acorda-la, ela demora a dormir. Pouco importa se eu alcancei um clímax de nervosismo às 17h30 da terça-feira. Nesta quinta, 00h53, a dor diminuiu, mas está aqui, após ter me castigado a quarta-feira inteira. Por isso decidi escrever. Escrever, para mim, sempre foi um desabafo. Acalma a alma. É aqui que muitas vezes me entendo.

A dor de estômago é prima distante da insônia. Não raramente, quando as porradas surgem, o sono quase sempre se vai. Para não ficar mais nervoso ainda, a saída é tentar distrair a mente tentando mantras, ou passando o tempo com aquilo que me resta: livros, discos e filmes.

Quando cheguei em casa na terça a noite, completamente devastado, encontrei um livro. Só por ser um livro de um amigo, já me bastaria para arrancar um sorriso, mas trazia uma dedicatória carinhosa. Já disse em outros lugares que não me dou bem com elogios. A verdade é que simplesmente acredito não merecer um. Morrerei achando que não faço nada tão especial assim. Apenas tento ser transparente, honesto comigo e, por conseguinte, com o mundo. E, convenhamos, ser honesto não é nada demais. Mesmo assim, sou obrigado a confessar que uma palavra amiga, uma opinião bacana, uma declaração de amizade, salvam o dia de qualquer um.

Cassino Hotel, segundo livro do amigo André Takeda, foi meu companheiro por boas horas que nem me lembro quantas foram naquela noite. De uma tacada só, devorei 104 páginas. A literatura do Takeda gruda na cabeça como se fosse uma pop song de três minutos. Só parei porque, em dado momento, o livro conseguiu me trazer ânimo para... trabalhar. Isso mesmo. Eu precisava finalizar um texto sobre Brian Wilson para uma revista de outro amigo, e o texto teria que ser entregue na manhã de quarta. Larguei o Cassino Hotel e fui me dedicar a ouvir Beach Boys tentando encontrar o sentido perfeito em cinco mil toques. A dor não em abandonou, mas me deixou dormir uma hora depois, ouvindo Patti Smith.

Acordei com a cara amassada, péssimo humor e com o estômago doendo. Eram 9h40 da manhã. Daria tempo para enviar a matéria por e-mail no netcafé ao lado de casa e correr para pegar a 'cabine' para jornalistas de Antes do Por-do-Sol (Before Sunset), marcada para às 10h30. Antes do Por-do-Sol é a dita continuação de Antes do Amanhecer, deliciosa fábula romântica cult de Richard Linklater, de 1995. Antes do Amanhecer consegue ser tocante sem ser clássico. Seria apenas uma história de amor, se histórias de amor pudessem ser precedidas da palavra apenas. Pensar uma seqüência para um filme desses é muito arriscado, porém, o diretor e roteirista Richard Linklater, apoiado pelos atores (e também roteiristas) Julie Delpy e Ethan Hawke conseguiram realizar o mágico: recriar a mesma atmosfera de dez anos atrás. Bem, vou escrever sobre o filme depois, mas, quer saber mesmo: Linklater jogou Antes do Amanhecer dentro de Waking Life (seu desenho filosófico) e ressurgiu com um belo e magnífico Antes do Por-do-Sol.

Durante o dia, dei uma folheada em Cassino Hotel (a história melhora a cada página virada) e apaguei ouvindo Dashboard Confessional. Alias, outro detalhe das dores de estômago: elas fazem com que você não sinta fome (depois ainda perguntam como consigo ser tão magro - risos). Acordei às 20h. Foi o tempo de tomar um banho e correr para o cinema. Provavelmente, se eu não estivesse tão melancólico e sentimental quanto estou, eu não teria gostado tanto de O Terminal. Existem filmes em que você precisa entrar no clima e acredito que este seja um deles. Também vou ver se o disseco em um texto especial, porém, o filme me fez rir, me acalmar e voltar mais leve para casa. Seria preciso mais?

Isso tudo me fez pensar nos 3 mil e tantos CDs que estão as minhas costas. Nas caixas de vinis espalhadas pelo quarto. Na pequena estante abarrotada de livros. Na mesa ocupada por pilhas de revistas. Nos DVDs e nos filmes em VHS. Olho ao meu redor e não acho maneira melhor de me explicar do que dizer que tenho tudo isso, mas não tenho geladeira, fogão nem microondas. Minha comida, meu alimento são livros, filmes e discos. Literalmente. O que me resta, agora, é me acalmar. Amanhã é outro dia, e sempre será outro dia. E nada como um dia após o outro.

Ps. Cerca de um mês atrás estive em Taubaté, visitando algumas das mulheres da minha vida (a saber: Vilma/Mãe - Cris/Irmã - Gabriela/Sobrinha - Patrícia/Comadre - Amanda/Afilhada), quando minha mãe pediu para que eu desse uma arrumada em meu velho quarto e visse o que prestava e o que mereceria ser jogado no lixo. Após remexer e revirar meu passado, acabei colocando para fora de casa duas caixas grandes cheias de memórias. E trouxe, para São Paulo, uma mochila enorme com cerca de 15 quilos de... papel. Cartas, e-mails impressos, declarações de amor, de ódio, envelopes, provas do colégio, rascunhos de poesia, bilhetes: o mundo em forma de desenhos, fotografias, palavras. A melancolia é irmã da nostalgia. E eu só queria que todas as pessoas que passaram pela minha vida, por minutos ou anos, saibam que elas são especiais e que eu não seria o que sou hoje se não fossem elas. É um fragmento de tempo que quase sempre nos escapa, e eu queria deixar registrado em algum lugar, e escolhi este aqui. Se você leu tudo isso até aqui, é quase certo que você irá gostar dos discos, filmes e dos livros que salvaram meu dia, e que vivem me salvando a todo momento. Talvez seja por isso que eu escreva. Para falar de livros, filmes e discos que possam salvar pessoas. Para estender nossas vidas. É muito pouco nesse mundo complicado, cheio de guerras e pessoas dizendo adeus, mas é o que eu posso oferecer. Eu disse que não merecia elogios...

Ahhhh, o estômago ainda dói... :_)


05/10/2004 - 07h50

Cansaço. Se eu pudesse resumir a minha segunda-feira em uma palavra, cansaço seria a escolhida. A cobertura das eleições foi punk. O boleto da empresa de taxi informa que cheguei em casa às 3h45 (de domingo para segunda). 13h eu já estava de volta trabalhando. Cansaço.

O fim de semana teve porre e rock. Balada na Funhouse (show com Last Pain - rock com pitadas de hard e garage de boa presença ao vivo - e Satan Dealers - banda Argentina que coloca muita bandinha americana no chinelo) com muita cerveja festejando a lei seca.

Projeto Buenos Aires confirmado. Eu e mais dois amigos devemos embarcar para a Argentina no dia 03/11, quarta-feira. O Festival Personal (Morrissey, PJ Harvey, Primal Scream, 2 Many Djs, Blondie, Death in Vegas, Electrix Six, Pet Shop Boys) acontece nos dias 05 e 06. Queremos voltar no domingo, dia 07, para receber a benção de Brian Wilson e ainda esbarrar com o Libertines. Na semana seguinte, aproveitando as férias, parada no 10º Goiânia Noise, este ano com um terço do MC5 no palco, escudado por Mark Arm do Mudhoney e pela garota do Bellrays. Depois, eu prometo, tiro uns dias em Taubaté para brincar de tio e padrinho com a Amanda e a Gabriela.

Mais um Elis Regina do box Transversal do Tempo. Pulei Elis & Tom, já dissecado em texto especial, e encarei o sexto disco da caixa (ao inverso, ok): Elis, de 1974, apaga as influências roqueiras de Falso Brilhante e Transversal do Tempo, centrando foco no jazz, bossa nova e batucadas. A rigor, o disco é dividido entre Gilberto Gil (O Compositor Me Disse, Amor Até o Fim), João Bosco/Aldir Blanc (O Mestre Sala dos Mares, Dois Pra Lá, Dois Pra Cá) e Milton Nascimento/Fernando Brant (Conversando no Bar, Ponta de Areia e Travessia), sobrando espaço para Na Batucada da Vida (Ary Barroso/Luiz Peixoto) e Maria Rosa (Lupicinio Rodrigues/Alcides Gonçalves). A perfeição dos arranjos ganha com a emoção da interpretação de Elis, de voz bêbada em algumas canções. Um belo disco de interpretações marcantes.


01/10/2004 - 10h03

Coisas rápidas hoje, tá. Tenho que ver se consigo comprar um toca-discos...
A Relespública está lançando o clipe de Garoa e Solidão, uma das melhores músicas do disco As Histórias São Iguais. O Fábio Elias falou um pouco de como foi feito o clipe e eu disponibilizei ele aqui. Confira!

Acabei de pegar a versão estendida do Max's Kansas City to Velvet Underground. Eu tinha a versão simples e adorava, por isso arrisquei uma grana nessa versão dupla. O encarte é bem legal, com aspas de Danny Fields, Moe Tucker, Billy Yule e Doug Yule relembrando os bons tempos. "Max's was really a fun place to hang out. We always had a great time there", observa a baterista, que havia dado á luz a sua filha cerca de um mês antes do show, motivo de não estar segurando as baquetas na apresentação que marcou a despedida oficial de Lou Reed do Velvet (descontando, claro, o retorno nos anos 90). Musicalmente, é uma caixinha de abelha. O zumbido marca presença por todos os lados, mas é um dos melhores bootlegs de todos os tempos. Para quem não conhece, é um show do Velvet em 1970 gravado em fita cassete por uma amiga no famoso clube e restaurante. Nesta nova versão, seis faixas foram acrescentadas: White Light/ White Heat, I'm Set Free, Sweet Jane (Version 1), Who Loves The Sun, Candy Says e Lonesome Cowboy Bill (Version 2). O batera Billy manda muito bem em White Light/ White Heat, que tem quase o dobro do tempo da versão de estúdio. Who Loves The Sun não está na integra e só quem gravou fitas cassete vai entender o que aconteceu (foi o tempo da garota virar a fita). E por ai vai... :_)

Tô cansado e com sono. E vou trabalhar no domingo de eleições...

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