High Fidellity
Como fazer a sua própria trilha sonora 
Por Marcelo Silva Costa
Rob Fleming está chegando ao Brasil, aos poucos. A sua encarnação, em película, só chega aos nossos cinemas no final de outubro, mas a trilha sonora do filme, High Fidellity, já está nas lojas, para comoção/confusão geral do público de Nick Hornby.

Mas, peraí. Quem é Rob Fleming? O que é High Fidellith? Nick Hornby?  Se você não é capaz de responder nenhuma dessas perguntas eu sou obrigado a imaginar outra: em que planeta você esteve nos últimos cinco anos?
High Fidellity é livro, do escritor inglês Nick Hornby. Rob Fleming é o personagem central dessa aventura romântica afundada em cultura pop e perdida em meio à pilhas e pilhas de velhos vinis. 

O livro, além de sucesso absoluto de vendas, virou cult para todos os fãs de cultura pop que, a saber, são aqueles que gastam seu suado dinheirinho em cds de bandas que pouca gente conhece (como os escoceses do Belle & Sebastian), discutem filmes como se estivessem discutindo teologia e devoram livros e revistas como bombons de chocolate recheados com morango.

Além de ser livro que vale a pena, a grife High Fidellity inspirou, no Brasil, uma peça de teatro elogiadíssima (A vida é cheia de som e fúria - em que todos saiam satisfeitos após TRÊS HORAS de peça) e um filme com John Cuzak assumindo o papel do tal Rob Fleming.

As primeiras notícias sobre o filme eram desesperadoras. Cuzak, que comprou os direitos de filmagem, transportou a trama de Londres para Nova York e, heresia heresia, mudou o sobrenome de Rob Fleming para Rob Gordon. Muitos se prepararam para o pior.

Quando a trilha sonora chegou ao Brasil muita gente foi de garfo e faca querer a cabeça de Cuzak, afinal a trilha não traz as pérolas musicais que se encontram no livro. Está tudo errado então ? 

Não, e calma lá. O filme só estréia no fim de outubro (quem viu lá fora garante, é bacana) mas a trilha é antológica sim. E faz pensar. Será que não serão esses os clássicos de John Cuzak? Isso, imagine que você tem o livro nas mãos, para filmar. O que você faria? Filmaria tal qual é ou adaptaria com elementos da sua vida, já que o livro é um pedacinho da vida de cada leitor obcecado por cultura pop? Você usaria a trilha sonora de Nick Hornby ou faria a sua?

Parece que John Cuzak optou pela segunda e, inclusive, a mudança no sobrenome de Rob parece ser um alerta sobre isso. Se o que interessa é a música, High Fidellity, a trilha sonora, é um banquete. As mais deliciosas obscuridades da música pop para cortar corações roqueiros. Eu não vou falar o nome das canções, mas não espere nenhum clássico desses nomes: Thirteenth Floor Elevators, Kinks, Love, Bob Dylan, Elvis Costello & The Attractions, Stevie Wonder. Isso se podemos não chamar canções como Who Loves The Sun do Velvet Underground (que eu só conhecia numa versão com o Teenage Fanclub, veja só) de clássicas.

Renda-se. A grife Nick Horby continua intacta, para o bem de todos os Robs, do Brasil e do mundo. 

Marcelo, 30, é editor do zine de cultura pop Scream & Yell, e é, também, um Rob Costa.