Free Jazz - 26/10/01 - São Paulo
Main Stage
Numa palavra: emoção

por Marcelo Costa

22h45 da noite de sexta, 26/10/01. Piso no Main Stage do Free Jazz na mesma hora em que os californianos do Grandaddy finalizam sua pequena obra-prima, The Crystal Lake, ao vivo. Era a última música do show...

Junto comigo, pelo menos umas duzentas pessoas perderam o show completo, e algo entre 400 e 500 entraram no Main Stage com o show rolando. A pontualidade do início da apresentação aliada a lentidão das filas fez todo esse pessoal perder o que, para alguns, foi um dos cinco melhores shows da vida.

Fazer o que? Reclamar com quem? Ok, Grandaddy se foi, o festival continua. Nada de chorar sobre a cerveja derramada...

No palco, Sigur Rós. Uhmmmm... lembro da primeira vez que me falaram deles. Era algo como "eles são um Mogwai, mas com vocais". Mogwai é legal e a expectativa positiva tornou-se fardo negativo. O Sigur Rós faz sinfonias, não rocks. Cantam na língua materna, o islandês, quando não em um dialeto próprio criado pela banda. Ou seja, o lance é esquecer as letras e se aprofundar na música. E a música é demencialmente chata. Cheia de nuances progressivas, vocalizações uterinas (e não há nenhuma mulher na banda, diga-se de passagem), algo de gospel, soul, rock e muito de pentelhação. O público conversava entre as canções, os bares estavam cheios, os banheiros, idem. Tudo isso, aliado à péssima acústica do Main Stage, comprovou que o Sigur Rós não era a banda perfeita para estar ali, entre o folk eletrônico do Grandaddy e o folk inocente do Belle & Sebastian. O Sigur Rós é banda para se ouvir sentado, como se ouvíssemos uma orquestra. É para se prestar atenção nas nuances das melodias. É para "viajar" nas viagens quase sem fim (cada música esbarrou, praticamente, os dez minutos de duração) de canções quase sem fim. E, finalmente, é para quem gosta de sinfonias progressivas, fato que 80% do público presente não gostava...

Já o Belle & Sebastian...

Inevitável não sentir uma ponta de desapontamento pela falta de Isobel Campbell, o que fez com que canções obrigatórias em shows deixassem de ser tocadas (Lazy Line Painter Jane, Seeing Other People) e mesmo a sixtie Legal Man perdesse no vocal feminino (Sarah, a outra violinista, consegue ter uma voz mais pequenina que a de Isobel).

Tirando isso, foi um puta show. Cada canção, já na introdução, levava o público ao delírio. Novamente a acústica prejudicou, mas ninguém estava prestando atenção a isso. Aqui e ali saltavam detalhes dos arranjos, mas o que funcionava mesmo eram as fortes batidas de violão.

Sleep The Clock Around, do terceiro álbum, The Boy With he Arab Strap, foi a primeira. Primeiro pensamento: é muito bom ver a história sendo escrita! Estávamos ali presenciando uma banda no ápice, com apenas cinco anos de atividade e todos os álbuns lançados no Brasil, tocando seu repertório com emoção e simplicidade. A alegria nos olhos do público era indisfarçável.

Desta forma era impossível não se arrepiar com a alegria de Stuart Murdoch, saltitando feliz no palco com sua camiseta dos Smiths. Impossível não se emocionar com Sarah exibindo seu fio de voz numa comovente versão de Baby, de Caetano, em português mesmo, excelente. Assim como Minha Menina de Jorge Ben, versão Mutantes, cantada pelo guitarrista Stevie Jackson, num show de riffs do novo integrante Bobby Kildea.

A banda troca de instrumentos a todo o momento. É tanta gente no palco que, em muitas músicas, o instrumento que sobra são as mãos, e dá-lhe palmas.Jonathan David, Judy And The Dream of Horses, Wrong Girl, The Model e The Boy With the Arab Strap foram cantadas em coro por um público predominantemente feminino e entusiamado.

"Se você me quiser, eu estarei lá, um garoto para cuidar de seus problemas. Mas parte do trato é que você sinta alguma coisa", eles cantam em Simple Things, décima primeira canção do show (foram, ao todo, 18). No Main Stage do Free Jazz, madrugada de 27/10/01, duas mil pessoas sentiam alguma coisa. Eu, particularmente, escrevo: emoção.

Só faltou o bis...


Set List
Sleep the Clock Around (The Boy With The Arab Strap)

Dirty Dream Number Two (The Boy With The Arab Strap)

Wandering Alone (inédita)

I Fought in a War (Fold Your Hands Child)

Me and the Major (If You're Feeling Sinister)

Jonathan David (Jonathan David single)

I Know Where The Summer Goes (This Is Just Modern Rock Song single)

The Model (Fold Your Hands Child)

Baby

Simples Things (The Boy With The Arab Strap)

The Boy With The Arab Strap (The Boy With The Arab Strap)

We Rule the School (Tigermilk)

The State I Am In (Tigermilk)

Judy and The Dream of Horses (If You're Feeling Sinister)

The Wrong Girl (Fold Your Hands Child)

Minha Menina

Legal Man (Legal Man Single)