Astromato: rock-indie-pop made in Brasil
por Alexandre Petillo

Existe um dilema que aflinge as bandas independentes nacionais: cantar em inglês ou em português. Alguns defendem o idioma pátrio. Outros acham que o inglês é a língua oficial do rock. E existem aqueles que não se importam.
Representando o primeiro time - com estilo -  temos o Astromato. A banda de Campinas une com perfeição os elementos "melodias pop + rock indie + distorção + boas letras em português". E é perfeito. Músicas como "No Macio, No Gostoso" e "Cadeialimentar" podem muito bem frequentar os pontos mais altos das paradas brasileiras. Isso se as rádios nacionais ficarem inteligentes. Em um bate-papo com o Scream & Yell, o vocalista e guitarrista Armando fala sobre cantar em inglês, influências, Campinas e planos para o futuro. 

Scream & Yell -  Enfim, cantar em inglês ou português?

Armando -  O inglês muitas vezes soa melhor para o tipo de música que a gente faz, o rock, pois normalmente é encarado como a língua mãe deste estilo, onde as palavras se fundem mais naturalmente e a melodia se encaixa mais facilmente. Vendo desta maneira, o inglês deve ajudar. Por outro lado a minha língua não é o inglês e dificilmente será com ela que conseguirei me expressar da melhor maneira. Não tenho o domínio das nuances que cada colocação pode estar sugerindo, por exemplo. E tem ainda um outro aspecto, citando um pedacinho de uma música nossa da primeira demo: "será possível entender exatamente o que eu sinto? não, acho que não. Palavras são tão imperfeitas, perceba meu corpo, meu olhar, meus gestos, minha voz, meu jeito de falar”.  Hoje em dia, faz muito mais sentido pra mim compor na minha própria língua, tentando facilitar o entendimento ... acho que a gente acaba se colocando mais próximos às pessoas que estão nos ouvindo.

SY -  Como foi o começo da banda?

A - Em 1994, Pedro, Frebs e eu começamos a tocar juntos numa banda que se chamava Weed, juntamente com o baterista Alexandre. Cantávamos e inglês e fazíamos um som menos trabalhado e talvez um pouco mais direto que o do Astromato. Em 98 o Pedro passou 9 meses fora do país e voltou com várias  composições em português (inclusive No Macio, No Gostoso), achando que tinha muito mais a ver com ele estar cantando em nossa própria língua. Essa idéia acabou fazendo muito sentido pra gente e assim fomos tomando este caminho. Mudamos o nome da banda para Astromato (inventamos este nome durante um churrasco!) e as composições acabaram saindo muito mais confortavelmente e mais sinceras também.

SY - Quais foram as músicas que você ouviu e teve aquele estalo: “Eu quero montar uma banda”?

A - A primeira vez que pensei nisso foi quando saiu o primeiro disco da Legião Urbana. Ouvia o tempo todo, tentava tocar junto no violão e pensava, na época, que queria aprender a tocar de verdade para formar uma banda. Mas foi quando fui apresentado ao Psychocandy do Jesus & Mary Chain  que senti que era isso realmente o que queria fazer.

SY - Quais são suas principais influências, tanto em relação às letras quanto às músicas?

A - A principal é seguramente o Jesus & Mary Chain. Acho muito bonito o jeito como eles falam de amor, pessimismo, otimismo, viagens ... gosto dos três acordes de blues, suas pentatônicas, tudo direto e ao mesmo tempo trabalhado, lapidado. Gosto de Teenage Fanclub, seus vocais harmoniosos, o bom humor nas letras ... gosto de Legião (mais os 3 primeiros discos). O próprio Astromato é uma grande influência para ele mesmo. Somos três compositores com diferenças e similaridades e um acaba de alguma maneira influenciando o outro na hora de compor.

SY - Quais são os planos para o futuro?

A - Nossos planos imediatos estão relacionados ao CD que está prestes a sair. Nos próximos meses estaremos fazendo shows de lançamento e divulgação deste trabalho que contará com 17 músicas. O que a gente gostaria mesmo é poder ter condições de continuar a fazer o que a gente tem feito, ou seja, de tocar, gravar, compor...seria muito bom se pudéssemos fazer isso de maneira mais profissional, é claro.

SY - Campinas era uma cidade bem ativa na cena independente brasileira, ainda mais por sediar o maior festival indie que o país já viu, o Juntatribo. De repente acabou tudo. Acabou o festival, acabou o rock na cidade?

A - Acho que Campinas teve mais destaque no cenário independente nacional a partir do primeiro Juntatribo e até um ano após o segundo. Explicar este destaque não me parece muito difícil, pois até então não fora realizado no país um festival do caráter e porte do Juntatribo, que por sua vez sempre contou com a participação de bandas da cidade. Muitas destas bandas acabaram lançando seus próprios trabalhos ou saindo em coletâneas divulgadas em todo o Brasil mais ou menos nesta época, época em que o cenário independente não contava com muitas das facilidades que possui hoje. Sendo mais direto, eu acho que o Juntatribo foi um importante dinamizador local (não só local) que propiciou um maior destaque de bandas locais. Acho que em todo Brasil sempre existiram muitas bandas só que hoje me parece mais fácil as bandas estarem aparecendo em todo lugar. Naquela época as bandas daqui puderam aparecer mais ao resto do Brasil. Acho que teve uma queda na "cena" e a partir de uns dois anos pra cá começou a crescer novamente. Apesar deste "ralentando" algumas bandas continuaram existindo e tocando por ai, como por exemplo os Muzzarelas e Lethal Charge. Eu acho meio estranho nunca ter existido um grande nome de expressão nacional no âmbito da "música jovem" oriundo desta cidade.

SY - Que discos você tem ouvido? 

A - Darklands e The Complete Peel Sessions do JMC, Thirteen do Teenage Fanclub, White Magic fo Lovers do Drugstore, Sparkle and Fade do Everclear, o último do Josh Rouse, várias músicas pinçadas através do Napster, inclusive uns trechinhos de um show do Freeheat ... Aliás, uma observação em relação ao Drugstore: não sei se é viagem, mas quando ouço a Isabel Monteiro cantando me parece realmente que é uma brasileira cantando em inglês, apesar dos não sei quantos anos que ela mora na Inglaterra ...