Discografia Comentada

R.E.M.
por Marcelo Costa

"Vá se saber por que eu tenho essa obsessão com o R.E.M. Mas a verdade é que, fora os Beatles, eles são a única banda da qual amo, exatamente, tudo. Ouso dizer que o R.E.M. é, para mim, a banda mais importante dos Estados Unidos nas últimas décadas", Ana Maria Bahiana em "Belas Canções Sob o Ceú da Califórnia".

Ok. Por mais que o coração seja domado por Ian McCulloch e seu Echo & The Bunnymen e a razão seja devota do The Clash, hoje em dia, aqui e agora, se eu tivesse que escolher apenas uma banda, se fosse me dado o direito de eleger a maior banda de todos os tempos, está banda seria o R.E.M.

Por vários motivos. Talvez por ser a banda que soube sair do circuito independente e dialogar com multidões com a mesma simplicidade de quem está tocando em pequenas bibocas (quem presenciou a apresentação da banda no Rock In Rio 3 pode confirmar). Talvez pela integridade. Talvez por um repertório de canções sublimes e singulares. Pela unicidade na carreira, pela constante criatividade em alta, por não virar auto-cópia após 20 anos. Pela guitarra de Peter Buck que, não bastasse criar belas melodias nas seis cordas, ainda toca com delicadeza impar o bandolim. Pelas letras extremamente particulares de Michael Stipe e sua voz, triste. Pelo baixo seguro e o backing sessentista de Mike Mills, que ainda brinca com o orgão. Por tudo. E por nada. A maior banda de todos os tempos? Talvez. Você decide.

Marcelo Costa

Ps. Os cinco primeiros álbuns do R.E.M. foram lançados pela micro gravadora independente IRS. Aconselha-se procurar as edições "IRS YEARS VINTAGE ano" que trazem entre quatro e sete bônus tracks por álbum. Para ilustrar melhor a carreira da banda, recorri a pequenos ensaios escritos pela imprensa brasileira (e internacional) sobre os álbuns.



Chronic Town (1982) IRS 

"Ainda sob a boa repercussão de seu single de estréia (lançado em julho de 1981 pelo selo Hib-Tone), o R.E.M. volta ao estúdio com Mitch Easter (Let's Active) para produzir estas cinco faixas que já prenunciavam a explosão criativa do primeiro álbum do grupo. Gravado em outubro de 1981, o disco só foi lançado dez meses depois pelo selo indie IRS, com as músicas remixadas". Celso Pucci

"'Chronic Town' é uma cidade dentro da mente". Bill Berry 1983

Para uma banda que tocava em versão hardcore para que as pessoas não percebessem que eles não sabiam tocar nada, 'Chronic Town' é uma surpresa e tanto. Tudo que fez a fama do quarteto na primeira fase está aqui: letras ininteligíveis de Stipe, dedilhados folk de Buck e a cozinha encorpada de Berry e Mills. Lançado como EP em vinil 12 polegadas, bateu 20.000 cópias em um ano. Em CD, engordou a coletânea de out-takes 'Dead Letter Office'. Marcelo Costa

Sucesso – "Carnival of Sorts"
Melhor Música – "Carnival of Sorts" – "Gardening at Night"
Preferida – "Gardening at Night"
Nota – 8


Murmur (1983) – IRS

"Há quase consenso em se afirmar que o álbum de estréia do R.E.M. é uma das obras-primas dos anos 80, que abriu perspectivas para as college bands e todo o circuito independente. Mas, acima de tudo, é na soma da tradição do country rock com melodias e recursos não convencionais, que reside o brilho perene destas doze canções". Celso Pucci

"Chamamos o disco de 'Murmur' porque é uma das sete palavras mais fáceis de se pronunciar na língua inglesa".
Michael Stipe 1987

Quanto tempo é preciso para se obter uma obra-prima? O R.E.M. precisou apenas de 26 dias para finalizar sua estréia. O resultado é, parafraseando a resenha da revista Rolling Stone de 1983, 'inteligente, enigmático, envolvente'. Folk rock com toques psicodélicos ou, para usar uma expressão em voga, alternative country da melhor qualidade (Jeff Tweedy deve ter esse álbum com destaque em sua prateleira). A versão IRS Years acrescenta mais quatro faixas: a versão R.E.M. para o clássico velvetiano 'There She Goes Again', mais três canções ao vivo de um show em Seattle, 1984, entre estas, 'Gardening at Night'". Marcelo Costa

Sucesso – "Radio Free Europe" – "Talking About The Passion" – "Perfect Circle"
Melhor Música – "Radio Free Europe" - "Perfect Circle"
Preferida – "We Walk"
Nota – 10
36ª Posição Na Billboard


Reckoning (1984) IRS

"Aqui se escancara a opção de Peter Buck pelo rock and roll, cuja urgência emoldura os versos enigmáticos de Michael Stipe. Faixas como '7 Chinese Brothers', 'So Central Rain' e 'Pretty Persuasion' mostram uma guitar band consciente de sua musicalidade, tão singular e fluida como a recomendação da capa: 'Arquive debaixo d'agua'". Celso Pucci

"No céu, anjos não estão mais tocando harpas, mas rickenbakers. E estão tocando canções do R.E.M." - NME 1984

Seqüência direta da estréia, 'Reckoning' ampara-se no rock básico e acerta em cheio o alvo. A versão IRS traz cinco bônus, a maioria gravada ao vivo em estúdio sem nenhuma produção, toscas e geniais, sendo que duas são covers ('Tighten Up' de Archie Bell e 'Moon River' de Henry Mancini). Marcelo Costa

Sucesso – "So Central Rain" – "Pretty Persuasion" – "(Dont Go Back to) Rockville"
Melhor faixa – "7 Chinese Brothers"
Preferida – "Camera" – "Time After Time" - "(Dont Go Back to) Rockville"
Nota – 10
27ª Posição na Billboard


Fables of Reconstrucion – Reconstrucion of Fables (1985) IRS

"Mesmo com a assinatura do lendário produtor de folk rock inglês Joe Boyd (Nick Drake), este disco gravado em Londres não chega a decolar. Reflete um tempestuoso período que quase pós fim ao grupo e soa confuso entre arranjos de cordas e metais, apesar das boas tiradas como 'Old Man Kensey' e o hit 'Cant Get There From Here'". Celso Pucci

"Dark, dank and paranoid". Michael Stipe 1985

Um dos álbuns mais fracos da carreira do R.E.M. traz, na versão IRS Years, mais cinco faixas, incluindo a bacana cover do Pylon ('Crazy') mais uma versão acústica de 'Maps and Legends'. Marcelo Costa

Sucesso – "Cant Get There From Here"
Melhor faixa – "Old Man Kensey" – "Wendell Gee"
Preferida – "Maps and Legends" – "Wendell Gee"
Nota – 6
28ª Posição na Billboard


Life's Rich Pageant (1986) IRS

"O título é uma citação repetida pelo personagem de Peter Sellers, o inspetor Closeau. O som, nas mãos de Don Gehman (John Cougar, The Blasters) ganha em corpo, mas perde em sutileza e espontaneidade. Despontam as primeiras preocupações políticas em canções como 'Fall on Me' e 'Cuyahoga'". Celso Pucci

"Eu acredito que este é o melhor registro que fizemos neste estilo". Peter Buck 1986

A ordem das canções na capa é uma bagunça total, não confie. São listadas dez faixas, mas a versão original continha doze chegando a dezoito na IRS Years. Destacam-se nesta última uma cover tosqueira para 'Toys In The Attic' do Aerosmith, uma cover mais lírica de um clássico do The Everly Brothers ('Dream - All I Have To Do') e uma versão acústica da bonita 'Swan Swan H'. 'Fall on Me' é, até hoje, uma das canções prediletas de Michael Stipe no repertório R.E.M.. Marcelo Costa

Sucesso – "Fall on Me"
Melhor Faixa – "Swan Swan H" – "Fall Me"
Preferida – "Swan Swan H" – "Fall Me" – "Just a Touch"
Nota – 7
21ª Posição na Billboard


Dead Letter Office (1987) – IRS

"Uma coleção de out-takes, b-sides e covers (Velvet Underground, Roger Miller, Aerosmith, Pylon), que longe de ter a unicidade de um álbum, mesmo assim consegue encantar pelo despojamento e crueza de várias canções (algumas retiradas diretamente de demos). A versão em cd original traz as cincos faixas do ep 'Chronic Town'". Celso Pucci

"A virtuous compost, being a compendium of oddities collared, and b-sides compiled" – subtítulo.

Para se conhecer a fundo o R.E.M. é preciso uma audição cuidadosa dessa delicia tosca que é 'Dead Letter Office'. Meio coletânea de raridades, meio brincadeira entre amigos, temos várias covers e várias inéditas. Destaque para 'Femme Fatale' do Velvet Underground e 'King Of Road' de Roger Miller, sem contar 'Voice of Harold', versão alternativa de '7 Chinese Brothers'. Não bastasse incluir o ep 'Chronic Town' na integra, a versão IRS Years ainda traz dois bônus: uma versão de 'Gardening At Night' acústica e uma inédita, 'All The Right Friends', regravada posteriormente para a trilha sonora do filme 'Vanilla Sky'".  Marcelo Costa

Sucessos – nenhum
Melhor Música – "Crazy"
Preferida – "King of The Road" – "There She Goes Again"
Nota – 10
52ª Posição na Billboard


Document (1987) – IRS

"Peter Buck queria chamar este album de 'Last Train To Disneyworld'. Com perfeita coesão a banda traça aqui um implacável painel dos EUA ('Welcome To The Occupation' – 'Exhuming McCarthy') sem se esquecer do bom humor – em 'It’s The End Of the World As We Know (And I Fell Fine)' – e do primeiro hit do grupo a atingir o Top Ten americano: 'The One I Love'". Celso Pucci

"É nosso disco mais masculino". Michael Stipe 1987

Na primeira parceria com Scott Litt (que duraria quase dez anos), o R.E.M. volta a fazer um álbum fundamental. 'Document', que além do título citado por Celso Pucci quase se chamou 'Lester Bangs' ou 'Mr Evil Breakfast', reúne onze canções inspiradas. A versão IRS Years é imperdível. Traz seis bônus, incluindo versões acústicas para 'The One I Love' e 'Disturbance At The Heron House', retiradas de um cassete gravado ao vivo em um guitar shop, além de um medley matador com 'Time After Time'/'Red Rain' (Peter Gabriel)/'So Central Rain' em uma rádio holandesa". Marcelo Costa

Sucessos – "The One I Love" – "Finest Worksong" - "It's The End Of the World As We Know (And I Fell Fine)"
Melhor Música – "The One I Love"
Preferida – "Welcome To The Occupation" – "The One I Love" - "It’s The End Of the World As We Know (And I Fell Fine)"
Nota – 10
10ª Posição na Billboard


Green (1988) Warner

"No seu primeiro disco por uma grande gravadora, o quarteto logrou em manter a independência que sempre caracterizou seus trabalhos. Concebido no inicio como um projeto exclusivamente acústico, o álbum acabou comportando boas intervenções elétricas como em 'World Leader Pretend', 'Orange Crush', além das guinadas pop de 'Stand' e 'Pop Song 89'". Celso Pucci

"Foi como separar todas as peças e tornar a juntá-las para formar algo coeso". Michael Stipe 1989

A estréia do quarteto na poderosa Warner funciona como um álbum de adaptação/transição. A questão na época era: o R.E.M. se vendeu? Meio que sim, meio que não. Parece que no sufoco de lançar um álbum cuja todas as críticas talvez viessem com essa dúvida, a banda fixou o repertório em seu lado acústico, ligando 'Green' a estréia 'Murmur'. O resultado, mesmo nas canções mais pops, é excelente. Traz, ao final, uma canção sem título que não consta na capa do álbum e a primeira letra de Stipe a constar de um encarte, 'World Leader Pretend'. Marcelo Costa

Sucessos – "Pop Song 89" – "Stand"
Melhor Música – "World Lead Pretend"
Preferida – "World Lead Pretend" - "You Are The Everything" – "Stand"
Nota – 9
12ª Posição na Billboard


Out Of Time (1991) Warner

"Abandonando a configuração de guitar band – em constante revezamento dos músicos por vários instrumentos –, o R.E.M. fez um disco ênfase nos teclados, arranjos elaborados e até uma seção de cordas. Incorporaram pela primeira vez participações especiais (Peter Holsapple, KRS One, Kate Pierson), conseguindo um resultado arrebatador. Celso Pucci

"Não é um disco de rock and roll. É um disco sobre memória, tempo e amor". Michael Stipe 1991

E, após dez anos de batalha no underground, o R.E.M. conquista o sucesso de massa com mais de dez milhões de cópias vendidas deste que é o menos R.E.M. dos álbuns do R.E.M., mas é tão sublime quanto os outros. Buscando fugir das amarras da indústria, os integrantes trocaram de instrumentos (Peter Buck toca bandolim em 'Losing My Religion' e 'Half a World Away' enquanto o baterista Bill Berry toca baixo em 'Half a World Away' e 'Country Feedback' para o baixista Mike Mills assumir o órgão, entre outras), abriram a porta do clube para convidados (Kate Pierson do B'52s dueta com Stipe em 'Shiny Happy People' e 'Me In Honey' enquanto o rapper KRS One vocaliza em 'Radio Song'). No meio disso tudo a banda ainda consegue escrever uma bela canção a lá Beach Boys: 'Near Wild Heaven'. Marcelo Costa

Sucessos – "Losing My Religion" – "Shiny Happy People" – "Radio Song"
Melhor Música – "Losing My Religion"
Preferida - "Losing My Religion" – "Near Wild Heaven" - "Me In Honey"
Nota – 10
1ª Posição na Billboard


Automatic For The People (1992) Warner

"'Automatic For The People' é um dos discos mais intimistas e sombriamente belos já feitos. É também o álbum menos comercial do R.E.M.. Nenhuma de suas doze faixas gruda automaticamente no ouvido. É preciso ouvir e ouvir e, quando menos se espera, está-se diante de uma possível obra-prima.(...) O disco entrou direto no segundo lugar da Billboard e encabeçou a parada inglesa. Mas, quanto ao rock, esse, ficou de fora. Quase não se percebe a bateria no disco. É quase uma depuração mais despojada de 'Out of Time' (já em si depurado). (...) E, ainda que denso e tendo a morte e a nostalgia como elementos fundamentais em sua atmosfera, 'Automatic For The People' é um disco leve. Como às vezes é leve a respiração". Daniel Benevides

"Nos fizemos um álbum de folk rock orquestra". Peter Buck 1992

Que tal você vender dez milhões de cópias de um álbum e, na seqüência, lançar outro totalmente diferente e, mesmo assim, vender doze milhões de cópias? Se acreditar em seu próprio caminho valeu realmente a pena alguma vez na vida de alguém, talvez seja aqui. Pisando no freio, Stipe conseguiu aquilo que queria desde 'Green': um álbum totalmente acústico. E triste. E maravilhoso. E soberbo. E intocável. Letras tocantes, musicalidade impar, um álbum arrebatador. Como curiosidade, o ex-baixista do Led Zeppelin, John Paul Jones, ficou responsável pelos arranjos orquestrais de quatro faixas do álbum, entre elas, 'Drive' e 'Everbody Hurts'. Marcelo Costa

Sucessos – "Everbody Hurts" – "Drive" – "Man on The Moon"
Melhor Música – Todas
Preferida – "Drive"
Nota – 10
2ª Posição na Billboard


Monster (1994) Warner

"Após dois anos sem gravar, quatro sem excursões, o R.E.M. volta com um álbum 'malicioso', tipo 'lixoso e óbvio', nas palavras de Stipe. O disco 'podreira' que há tempos eles prometiam se consolidou. O que se insinuava em 'Automatic For The People' – segundo Stipe, um 'disco punk lento como 'Horses' de Patti Smith – ficou claro em 'Monster', o que pode deixar os fãs radicais de cabelos em pé. Guitarras ululantes a lá Stooges/Neil Young/Television darão a tônica musical. Vocais 'enterrados na mixagem', no estilo 'Rolling Stones dos áureos tempos' irão fazer a moldura sonora, pouco ligando se alguém está entendendo boa parte das letras". Celso Pucci

"'Monster' é um álbum de punk rock. Na sua cara. E muito sexy: quase todas as canções são sobre sexo e relacionamentos". Michael Stipe 1994

Após a tempestade grunge, impossível não enfiar os pés na pedaleira fuzz e fazer barulho. O R.E.M. ampara-se em Neil Young e Stooges para fazer rock and roll dos bons, tosco algumas vezes, glam outras, barulhento quase sempre. Para se ter uma idéia, Mr. Thurston Moore enche de microfonias 'Crush With Eyeliner'. 'I Took Your Name' cita o nome de Iggy Pop na letra. E a esporrenta 'Let Me In' serve-se de toneladas de guitarras para homenagear o amigo Kurt Cobain, morto durante as gravações, no momento em que Stipe e Cobain tramavam um trabalho conjunto. Marcelo Costa

Sucessos – "Strange Currencies" – "Bang and Blame" – "What's The Frequency, Kenneth?"
Melhor Música – "Bang and Blame"
Preferida – "Bang and Blame" – "I don't sleep, I dream"
Nota – 9
1ª Posição na Billboard


New Adventures in Hi-Fi (1996) Warner

"Das muitas coisas de que gosto nesse novo disco do R.E.M., a sensação de imediatismo, de flagrante, de idéias em movimento, é algo que me interessa particularmente. Gosto das novas texturas da música do R.E.M., mais angulosas e ácidas, especialmente a partir de 'Monster'. E, desde que Michael Stipe resolveu começar a escrever coisa com coisa, ele tem ficado muito mais interessante. Quando ele diz, ao descrever uma discussão entre namorados, em 'New Test Leper', que permaneceu 'calado durante cinco comerciais/sem mais nada a dizer', todos nós sabemos exatamente do que ele está falando. 'Electrolite', a canção sobre Mulholland Drive, é a derradeira faixa de Hi Fi. Difícil ouvir uma vez só".
Ana Maria Bahiana 1996

Gravado na 'estrada', em passagens de som e em estúdios durante a tour de divulgação do álbum 'Monster', 'New Adventures in Hi-Fi' consegue unir todas as facetas dos últimos quatro álbuns do R.E.M.: intervenções acústicas como 'New Test Leper' e 'Be Mine' convivem lado a lado com as guitarreiras 'The Wake Up Bomb' e 'Departure' e canções melodiosas conduzidas por pianos ('Electrolite' e 'How The West Was Won And Where It Got Us'). Destaque para a matadora e barulhenta e cheia de efeitos 'Leave', a participação de Patti Smith em 'E-bow The Letter' e a tiração de sarro de Stipe com o Oasis na letra/parodia de 'The Wake Up Bomb'. Marcelo Costa

Sucessos – "Electrolite" – "Bittersweet Me"
Melhor Música – "Leave"
Preferida – "Electrolite" – "Bittersweet Me" – "Be Mine" - "Leave"
Nota – 9
2ª Posição na Billboard


Up (1998) – Warner

"Os integrantes do R.E.M. constumavam declarar que, 'se um de nós desistir, vamos acabar com o grupo'. Essa promessa foi colocada à prova há um ano, com a saída do baterista Bill Berry. Então o que fariam Stipe, Buck e Mills, enquanto trio? A resposta está muito bem dada em 'Up'. O disco apresenta melodias sutis, elaboradas a partir de timbres básicos de guitarras, teclados e outros instrumentos eventuais. Estes, por sua vez, criam uma trama perfeita para Stipe desfilar seus versos enigmáticos e suas baladas pungentes". Celso Pucci

A saída do baterista Bill Berry, ligada a problemas de saúde e cansaço de turnês, modificou o modo R.E.M. de gravação. 'Up' conta com músicos convidados (o baterista Barret Martin do Screaming Trees além de Scott McCaughey - ex-Posies - e Joey Waronker) e centra foco em baterias eletrônicas, teclados esparsos e muita melancolia. Uma bela balada a lá Beach Boys ('At My Most Beautiful'), uma citação de uma velha canção de Leonard Cohen ('Suzanne' em 'Hope'), o velho R.E.M. de sempre (na balada 'Daysleeper' e no rock 'Walk Unafraid') e uma faixa darkissima ('Diminished') encerrada com uma coda quase infantil ('I'm Not Over You'). O velho R.E.M. sobrevive com estilo.

Sucessos – "Daysleeper" – "At My Most Beautiful"
Melhor Música – "At My Most Beautiful"
Preferida – "At My Most Beautiful" – 'I'm Not Over You"
Nota – 8
3ª Posição na Billboard


Reveal (2001) Warner

"Produzido por Pat McCarthy, o mesmo de 'Up', o décimo segundo álbum de estúdio do R.E.M. – o segundo sem Bill Berry – mostra que os quarentões de Athens continuam com tesão por boas melodias. Já nos primeiros segundos, sabe-se que a intenção do R.E.M. versão 2001 não é muito diferente da do R.E.M. do finzinho do milênio passado. (...) As experimentações continuam. Mas logo tudo vai se encaixando: belas melodias, letras intrigantes e harmonias bem trabalhadas. (...) 'Reveal' é uma mistura do experimental 'Up' com o baladeiro 'Automatic For The People'". Juliano Zappia

"Para mim, discos de verão são aqueles que você põe para rolar durante uma festa e, antes que termine, já quer ouvir de novo. O R.E.M. sempre vai soar um pouco triste por causa da minha voz, mas acho que o álbum é bem 'pra cima' e melódico". Michael Stipe 2001

Após o susto do quase fim que deve pairado sobre a cabeça do trio à saída de Bill Berry e o atestado de sobrevivência com 'Up', o R.E.M. chega mais a vontade em 'Reveal', um álbum tão feliz que chega a incomodar. Eu mesmo demorei meses para entender a pseudo felicidade de Stipe e encontrar em 'Reveal' um punhado de belas canções. Alguns tiquezinhos eletrônicos, baladas matadoras e muito lirismo na voz e nas letras de Stipe. Marcelo Costa

Sucessos – "Imitation of Life"
Melhor Música – "She Just Wants To Be"
Preferida – "The Lifting" – "All The Way To Reno" – 'Ill Take a Rain"
Nota – 8
6ª Posição na Billboard


Around The Sun (2004) Warner

"O clima pode ser até o mesmo de Automatic for the People (1992), mas a inspiração infelizmente não é. Caso o próximo álbum não ultrapasse este em termos de qualidade, seria uma ótima idéia que a banda encerrasse suas atividades, tendo todo um respeito e respaldo de público, crítica e demais artistas. Algo que eles estão começando a perder. Vocês não imaginam como é difícil escrever isto, mas é um fato." Tomaz de Alvarenga

"Penso que, talvez, Mike e Michael ficaram um pouco atordoados em como o último disco foi mal recebido. Eu não fiquei. Eu já sabia que o disco não era tão bom antes mesmo de terminá-lo". Peter Buck 2008

O desencanto com o mundo, com as pessoas e com a vida marca este tristonho "Around The Sun", o primeiro disco do R.E.M a ser achincalhado por toda a crítica, com razão. Marcelo Costa

Sucessos – "Electron Blue"
Melhor Música – "Electron Blue"
Preferida – "Electron Blue" - "Leaving New Yor"
Nota – 5
13ª Posição na Billboard


Bootlegs

Ao vivo é que o R.E.M. é mais R.E.M. do que nunca. Quem comprovou com olhos e lágrimas no Rock In Rio sabe do que estou falando. Da quase centenas de bootlegs matadores de shows de 1982 até o Rock in Rio, destacam-se as duas apresentações da banda para o "MTv Unplugged" (terceira e quarta capas acima). A primeira, em abril de 1991, divulgava o álbum "Out Of Time" e conta com versões acachapantes de "Losing my Religion", "Is The End" e a cover do The Troggs, "Love Is All Around", com Mike Mills na voz principal (que a banda gravou para a trilha sonora do filme "I Shot Andy Warwol"). Como bônus, o encontro conhecido como "automatic baby" entre R.E.M. e U2 com Stipe cantando, Buck tocando guitarra e Larry Mullen e Adam Clayton na cozinha numa versão arrepiante de "One". O segundo unplugged (maio 2001) destaca versões belíssimas para "Electrolite", "At My Most Beautiful" e "So Central Rain". No quesito shows, a apresentação completa que a banda fez no Rock In Rio 3 é de fácil aquisição e é perfeita. Bacana também são "Philadelfia 1984", "Perfect Circle" (sem data, mas registro da tour "Green") e "Covering", este último reunindo 22 covers. 
 

No quesito material oficial raro, o item de maior destaque é a caixa "Automatic Box": quatro cds com canções inéditas ("Fretless", lançada posteriormente na trilha sonora do seriado "Friends"), instrumentais, covers (Syd Barret, Leonard Cohen, Iggy Pop) e b-sides. Há também uma versão bacana dos singles do álbum "Out of Time" reúnidos em um box chamado "singles collection" destacando 12 faixas ao vivo, incluindo uma versão para "Tom's Dinner" de Suzanne Vega. Não bastasse preencher seus singles com canções inéditas matadoras, a banda é assídua freqüentadora de trilhas sonoras. "Batman e Robin" traz a porrada "Revolution". Austin Powers traz a cadenciada "Draggin The Line". A trilha de "Por Uma Vida Menos Ordinária" traz uma suave versão de "Leave". Sem contar a trilha sonora do filme "Man on The Moon" com vários temas instrumentais compostos pela banda, além da canção homônima retirada do álbum "Automatic For The People" e da bela inédita "The Great Beyond". 
 

Coletâneas 

No setor coletâneas, a fase Warner nunca teve um balanço. Já a fase IRS tem esse quatro itens acima. Logo após a saída da banda da IRS, a gravadora fez um acordo com a Warner e cedeu material para "The Best Off" (lançada a revelia do quarteto). "Best Off" não traz nenhuma novidade para o fã completista, mas é excelente para o neófito que não quer arriscar de uma vez na discografia inicial. "Eponymus" saiu um pouco antes é bem mais interessante. Traz a versão original de "Radio Free Europe" (diferente da contida em "Murmur") e a rara "Romance" (retirada da trilha sonora do filme "Made In Heaven"). "Essencial - In The Attic" reúne algumas das melhores raridades da série IRS YEARS VINTAGE enquanto "Singles Collected" reúne outros dos vários b-sides inéditos da banda, além de lados A obrigatórios. De salivar o desejo de pobres mortais são as edições especiais para fã clubes. Nestas, o R.E.M. sempre capricha com alguma raridade máxima. No fã clube oficial constam 14 singles especiais. Do primeiro, "Parade Of The Wooden Soldiers" de 1988 (que além da faixa título, inédita, ainda traz uma cover do Television, "See No Evil") ao último, "Let Me In" de 2001, brotam raridades. Se você tem o coração fraco é melhor nem ler o que vem a seguir: covers de "Wicked Game" de Chris Isaak, o clássico gay "I Will Survive", uma versão de "Lucky" com o Radiohead mais Stipe nos vocais, "Country Feedback" com Neil Young nas guitarras e uma cover de Neil, "Ambulance Blues", com o R.E.M. de banda de apoio e muitas inéditas. Em 2003 chegou ao mercado "In Time", coletânea cuja edição especial trazia 15 faixas raras (entre b-sides e apresentações em programas de TV). Em 2006 foi a vez de "The Best of The IRS Years", que - assim como "In Time" - também traz um CD bonus com mais 21 faixas raras.

Para finalziar, participações extra banda. Michael Stipe canta em tudo que é lugar. De Neneh Cherry (produção do álbum e backing em "Trout") a 10.000 Maniacs (no álbum "In My Tribe" e no single "Few and Far Between") até Patti Smith (backings no álbum "Gung Ho"), Billy Bragg (backings nos álbuns "Don't Try This at Home" e "You Woke up My Neighbourhood"), Kristin Hers (no álbum "Hips and Makers"), Grant Lee Buffalo ("Jubille"), entre outros. Já o trio Mills/Buck/Berry já deu suas saidinhas. A mais famosa foi chamada de Hindu Love Gods. Acompanhando o amigo Warren Zevon no álbum "Sentimental Hygiene" de 1987, o quarteto gravou, meio que de curtição, várias covers ilustres. As sessões foram prensadas no homônimo e muito bacana "Hindu Love Gods" (1990), em que Prince ("Raspberry Beret") convive ao lado de Robert Johnson ("Traveling Riverside Blues" - "Walking Blues"), Willie Dixon ("Wang Dang Doodle") e Woody Guthrie ("Vigilante Man"), entre outras versões matadoras. Peter Buck já trabalhou em álbuns dos Indigo Girls (o primeiro, junto Mills e Berry), Billy Bragg e Nando Reis. Além de baixo e orgão, Mills também é designer. A capa de "Moon Safari" do Air leva sua assinatura. Alias, as edições especiais dos álbuns Warner são delicia para fãs. O álbum "out of Time" surge com um álbum de fotografias amarrado por um laço. "Automatic fot The People" vem em uma caixinha de madeira e o encarte em papel vegetal. "Monster" traz um livreto de 52 páginas. "New Adventures in hi-fi" é um livro de 68 páginas. "Up" transforma-se em poster e "Reveal" traz um encarte com fotos de Michael Stipe em mais de 40 páginas. 


No Brasil

A fase Warner da banda está em catálogo e é bem fácil de se encontrar, com preços variando entre R$ 23 e R$28. Da fase IRS, "Document" circula na versão IRS Years com bônus e a coletânea "Best Off" também é de fácil acesso, ambos variando de R$ 23 e R$28 também. A coletânea "Singles" chegou a circular no mercado nacional, mas está fora de catálogo. Toda primeira fase da banda nunca viu as prateleiras brasileiras no formato digital. Em vinil, apenas "Murmur" não ganhou edição nacional. Assim, os cds importados variam entre R$ 40 e R$ 50 e estão todos em catálogo no exterior, com exceção de "Essencial - In The Attic". As edições especiais são limitadas, podendo ser encontradas com muita sorte, claro, com preços bem "especiais".