ROCK RARO


ARCADIUM
por Wagner Xavier 
Wagner2505@yahoo.com.br
20/08/2003

Para hoje procurei selecionar um disco que considero uma verdadeira obra de arte. Novamente, um daqueles grupos que gravam apenas um disco, não acontecem e simplesmente somem do mapa...

Trata-se da banda inglesa Arcadium e do disco "Breathe Awhile". A banda era formada por Graham Best (baixo e vocal), Alan Ellwood (teclado e vocal), Robert Ellwood (guitarra e vocal), John Albert Parker (bateria) e Miguel Sergides (guitarra e vocal), sendo este último o principal cantor e compositor da banda. "Breathe Awhile" foi lançado pela gravadora Middle Earth Records em 1969 e certamente esteve muito a frente de seu tempo na época do lançamento (acho que já vimos este filme antes ...)

O disco tem forte influência do rock psicodélico tão comum na época, afinal "Sgt Peppers", "Youger Than Yesterday", "Forever Changes", "Surrealistic Pillow", ainda eram novidade e muita gente respirava estes ares também.

No meio de toda esta agitação, algumas grandes bandas se equivocaram um pouco no conceito e outras simplesmente criaram suas verdadeiras pérolas. O Arcadium faz parte do seleto segundo grupo.

A banda iniciou sua carreira fonográfica lançando o single com as canções "Sing my Song" e "Riding Alone", para, logo após estrear com "Breathe Awhile".

"Breathe Awhile" abre com "I’m on my way" (11:50). A música começa bastante esquisita, parecendo algo totalmente caótico e psicodélico e após mais de 5 minutos de expectativa a coisa esquenta e a interpretação de Sergides ganha corpo. Os teclados acabam se sobressaindo aos demais instrumentos. A música ganha pela naturalidade, originalidade e principalmente pela abstinência de técnicas na produção. Acabou me lembrando o clássico "Astral Weeks" de Van Morisson, não pelo estilo, mas pela forma tosca como foi gravado.

Na sequencia temos "Poor Lady" (3:58), que já começa de forma muito inspirada, novamente com teclados e baixo conduzindo a melodia. A voz entra na seqüência e novamente se destaca. Um clássico, que ainda hoje soa muito atual. Mistura de psicodélico, progressivo, com um grande melodia pop, no melhor estilo Beatles ou coisa parecida.

A terceira faixa, "Walk on the Bad Side" (7:34), é uma balada linda, com um velho teclado Hammond dando o charme necessário à canção.

A próxima é "Woman of a Thousand Years" (3.37), outra que também se destaca pela qualidade, lembrando algo como Mutantes, com suas surpresas vocais, no melhor estilo "Jardim Elétrico" ou "Ando Meio Desligado". Seria uma coincidência?
 
Uma das características da banda e, conseqüentemente, do disco é exatamente a liberdade de criação em cada uma das faixas resultando em mudanças de ritmo na melodia, letras surrealistas e introduções diversificadas. Tudo isto com extremo bom gosto e qualidade, sem perder a beleza nas melodias e nos solos. Um exemplo disto é a quinta faixa, "Change Me" (4:45), cujo vocal é simplesmente de arrepiar, com o solo de guitarra lembrando algo como "While my Guitar Gently Weeps" – o que dizer disto?

A sexta música é "It Takes a Woman" (3:51), a mais pesada dos disco, com destaque para a bateria e um belo final com apenas o teclado.

Para finalizar temos a longa "Birth, Life and Death" – o ciclo da vida. Fantástica, monumental!!!

O disco, apesar de não poder ser considerado como conceitual, se caracteriza pela densidade das canções e por estarem ligadas a uma mesma idéia central.

A edição em CD, lançada pela Repeitore em 2000 traz as duas faixas do single como bonus (um presentão), pois também se tratam de excelentes músicas.

Realmente, este disco é surpreendente, seja pela qualidade dos músicos, criatividade nos arranjos e principalmente pela atualidade com que nos soa hoje, mesmo que passado mais de 30 anos de seu lançamento. Sem dúvida, um prato cheio para os amantes do rock psicodélico do final dos anos 60.

Apesar de respirar pouco tempo, o Arcadium, através de "Breathe Awhile", deixou como legado ao mundo uma obra que certamente não morrerá de asfixia com o passar dos anos.

Compre, empreste, alugue, roube (faça o que melhor lhe convier), mas tenha este discão em sua discoteca básica. 

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