Quarta tolice
de Marcelo Silva Costa
 

Antes de tudo, eu amo você. 
Perdoa dizer isso. 
Antes de tudo. 
Apesar de todo o amor que me consome escolho a morte. 
O coração apaixonado desiste da sorte sem saber como desistir de amar sem desistir de respirar. 
É fácil? 
Me explica direito. 
Me mostra o alvo.
Me empresta o mapa. 
Vou roubar um beijo.
Vou brincar com espadas. 
Antes de tudo, nada. 
Uma tristeza forte vasculha o peito procurando vinho, sinais e defeitos. 
Tento fingir que não é comigo. 
Tento enganar a mim mesmo. 
Não é fácil.
Quem disse que era mentiu primeiro. 
Faço sinal pois sou o próximo.
E espero. 
Por mim. 
Por ela. 
Pelas estrelas. 
Medo, medo. 
Medo.
Desistir é sempre um ato supremo de covardia. 
Desistir quando tudo parecia ser perfeito. 
Parecia. 
Minha pobre alma procura refúgio em velhas fotografias. 
O passado nunca foi tão presente. 
Onde está a menina? 
Anúncio de tempestade. 
Abra as janelas para que meus fantasmas sintam a chuva. 
É sempre a mesma permuta. 
Palavras que mais confundem do que explicam. 
Você consegue ouvir o que estou sentindo? 
Não acontece. 
Nada acontece. 
Deixo meus anjos admirarem a paisagem.
Entre o terminar tudo e o seguir juntos há uma cidade que eu não conheço. 
Há uma história da qual não pertenço. 
E detalhes tão pequenos que não dizem respeito a mim. 
Como felicidade. 
Eu me viro aqui, com minhas coisas. 
Tenho infindáveis maneiras de abraçar o abismo. 
Fico na dúvida se é virtude ou castigo. 
Se é amor ou suicídio. 
Se é loucura ou fascínio.
Se é paixão pelo eterno ou vicio pelo imperfeito. 
Você sabe que eu amo Neil Young. 
Você sabe o quão sou inconstante. 
Urgente. 
Tudo leva tempo, toma tempo, gasta tempo, perde tempo. 
E quanto tempo nós temos? 
Que horas você acorda? 
Quanto tempo vamos caminhar de mãos dadas? 
Qual será a próxima parada?
Perguntas sem respostas.
Vou imaginar um final feliz para esta história.
Vou brincar de amar em segredo. 
Vou tentar roubar outro beijo. 
Eu sou um péssimo ladrão, mas aprendo rápido. 
Não quero esclarecer sentimentos. 
Não quero chorar em silêncio. 
Um e-mail que chega me diz que sempre tenho uma história triste para contar. 
È para se orgulhar? 
Antes de tudo, deixa pra lá.
As tolices se multiplicam em meu coração.
É por isso que existo.
Perdoa sentir isso.
Guardo para você um espaço em meu coração, um pedaço da minha alma.
É hora de ir embora e eu nem fiz as malas.

Você guarda as minhas coisas como se fossem suas?