Estou cagando um monte pra briga no mundo indie 
por Eduardo Palandi

O underground brasileiro está chamando. A cacófona mídia indie está em pé de guerra. Dizem que há uma disputa, entre jornalistas consolidados nos grandes veículos de imprensa contra a nova geração deles, a maioria egressa de fanzines. Tudo isso você já deve saber. Os jornalistas da velha escola abominam novidades em geral (embora andem nutrindo certa fascinação por novas bandas da Escócia e dos EUA), malham as novidades do Radiohead, do Travis e das bandas brasileiras.

Os indies surgidos mais recentemente, tanto na mídia quanto no cartório de nascimentos, e quem cresceram lendo e
aplaudindo a turma old-school, defendem as bandas brasileiras que começam a ganhar projeção agora, criticam uma forma de doutrinação dos experimentados, os comparam ao Caetano Veloso, questionam as posições dos mesmos.

Nas listas de discussão, onde pessoas nem sempre de bem com a vida fazem, pensam e "fazem que pensam" essa movimentação, todo mundo está se posicionando. Uns contra alguma coisa, outros a favor. Alguns tomam suas posições por birra de outros: "se fulano defende posição e bandas X, eu defenderei as bandas e a tendência Y, já que eu odeio fulano".

Mas cabe aqui uma pergunta: tomar posição pra quê? Tudo isso é pra quê? Pelo visto, trata-se agora de maniqueísmo. Aquela velha visão que muitas pessoas no mundo experimentaram durante a Guerra Fria, onde ou se era a favor dos EUA ou da URSS. Um representa o bem mais cândido e puro, o outro encarna o mal, com sua tirania e desprezibilidade. Cabia a cada um escolher seu lado ou deixar que alguém escolhesse. No entanto, a Guerra Fria acabou, o mundo não acabou e, dez anos depois, guardadas as proporções, é a mesma briga.

Decidi por não defender ninguém nessa história. Então, todos estão certos ou todos estão errados? Pouco importa. Eu escuto as bandas que eu quiser, eu leio as matérias ou não, e as interpreto da maneira que bem entender. Dane-se se eu gosto de tal comentário do José Flávio Júnior, me entusiasmo com uma dica do Álvaro Pereira Júnior (bons ou ruins, eles são todos iguais - todos com "Júnior" no nome), não recebo bem o que o Alexandre Petillo me recomenda, etc. É bem melhor assim. Brigando ou não, estão todos produzindo alguma coisa e estão sendo bem-remunerados, não?

A mesma coisa com futebol. Eu gosto, eu torço pro Santos, mas eu não me irrito a ponto de perder a compostura se meu time não é campeão (e, cá entre nós, isso acontece desde 1968). Os boleiros levam seu dinheiro ganhando ou perdendo.

Por outro lado, podem pensar que eu estou defendendo a união no mundo indie. Errado. Como alguém numa lista já disse e eu, terrivelmente, não me lembro do autor, "união é marca de açúcar". Não é apenas pelo fato de alguém ter uma outra banda ou um outro fanzine que eu vou procurar me aliar a ele. Eu faço aliança com quem tem idéias afins, e não com quem apenas tem idéias. Interessante notar que alguns defendem que essas brigas trazem qualidade aos trabalhos. Não é bem assim: pode ser que, com uma apuração dos "vencedores" da briga, esses passem a olhar mais para seus próprios umbigos, ao invés de melhorar seus trabalhos.

É basicamente isso. Eu escolho o que eu quero, independente de quem recomende. A turma do udigrudi brasileiro está se degladiando, se matando, se comendo? Que briguem. Enquanto isso eu vou ali comprar um sorvete e depois vou pra casa dormir. Quando a briga toma proporções dessas, é muito grande, chega a ser mainstream. Eu sou indie e fujo dessas coisas enormes.

Eduardo Palandi pode ser encontradom pelas alamedas de Aparecida travestido no grande mestre Opala