EDITORIAL
FEVEREIRO 2002

DESCULPE-NOS PELO TRANSTORNO. ESTAMOS TRABALHANDO PARA MELHOR ATENDÊ-LO
(VEM AÍ A REVISTA ZERO, MAS SÓ ENTRE NÓS, TÁ?)

Questão de oito meses atrás, com experiência em web, tanto pelo site quanto por trabalhos paralelos, percebemos que não poderiamos desperdiçar a principal vantagem da internet: a rapidez. Sim, não dá para tratar a internet como midia impressa, em que tudo é compilado numa edição (diaria = jornal / semanal/quinzenal/mensal = revistas). A facilidade do mecanismo da web permite a velocidade na atualização das noticias e negar essa vantagem é não querer ver o futuro. 

Isso dito, decidimos criar um mote (insano) para o S&Y:  "um texto novo a cada dia". Hoje, passado um ano, podemos dizer que conseguimos cumprir com a palavra, na maioria dos dias. O conteúdo existente no S&Y é de se dar orgulho e poucos seres vivos, além dos editores, conseguiram ler tudo que está no site (você não vale, Heleninha). Música, cinema, literatura, quadrinhos ... Está tudo aqui, sem dever nada para grandes veículos culturais. Podemos dizer, sem falsa modéstia, que foi um ano glorioso.

Trabalho insano, sim. Insano porque é extremamente difícil manter um site atualizado todos os dias, com matérias quentes e notícias relevantes. Ainda mais quando esse site é independente, e não recebe qualquer ajuda financeira. É movido a sangue, coração e suor dos editores e colaboradores. 

Os colaboradores. Graças a Lester Bangs, cada vez mais podemos contar com bons colaboradores, gente disposta a fazer mais do que apenas ouvir ou ler, gente que se coça e se presta a escrever (bem) sobre o que percebe. Somos felizes por contar com uma família tão boa assim. 

Mas neste janeiro o site foi deixado de lado. Quase nada foi modificado. Parte pelo especial "MELHORES DE 2001", que tomou muito tempo. E parte por um sonho. Tudo bem, somos culpados de sonhar, mas mesmo assim queremos nos explicar. 

O sonho de todo o jornalista é ter a sua própria revista. E o Scream & Yell também terá a sua. Em um esforço conjunto e sobre-humano está na boca do forno a revista ZERO – A MAIS NOVA REVISTA DE MÚSICA DO BRASIL. Reunindo estes dois editores, mais os nossos irmãos Luiz César Pimentel, Daniel Motta e Abonico R. Smith. 

Sim, é verdade. 

A revista está pronta, linda, com matérias quentes, resenhas ferinas e o fino do melhor jornalismo gonzo. Não a toa, a nossa editora atende pelo nome de Lester. 

A nova Bizz? Não, a ZERO não aborda apenas música, mas cobre toda a cultura pop. Mas mesmo que ainda existisse a Bizz, ou se existissem outras 100 publicações especializadas em música e cultura pop no país, a ZERO também existiria. Diferente de tudo que existe atualmente nas bancas de jornais, a ZERO é uma revista feita por apaixonados por cultura, gente acostumada a torrar 80% do salário com discos, filmes e livros. 

Para esse público – que esgotou os ingressos do último Free Jazz e formou filas para assistir "Vanilla Sky" – o mercado editorial é ridículo. Todas as revistas e cadernos culturais brasileiros resolveram seguir a cartilha ditada pelas assessorias de imprensa. Dificilmente pode ser encontrada, em alguma publicação, uma matéria cultural escrita depois de um profundo trabalho de reportagem. As matérias mais parecem bulas de remédio, tamanha a assepsia. Podemos estar errados, mas parece que esses profissionais não conseguem produzir algo além do que aprenderam nas salas de aula da faculdade e escolheram o jornalismo cultural como a maneira mais rápida e fácil de se manter na carreira.

Tsc, tsc, tsc. Com a benção de Lester a intenção da ZERO é deixar de lado a imparcialidade jornalística e escrever com o coração. Para nós, intensa emoção é o primeiro critério para se julgar música. Esse critério, é o último em todos os outros lugares. Porque não dá para ser impávido enquanto ouve o primeiro disco do Clash. 

Como definir a ZERO? Um encontro do melhor dos finados Melody Maker e Notícias Populares – dois dos maiores veículos da história do jornalismo mundial, assassinados em 2000. Música como paixão e as melhores histórias da nossa cultura pop, popularescos demais para a "alta cultura", mas totalmente rock para a gente. 

Muita gente pode achar loucura investirmos em um sonho numa época tão doida quanto esta, mas, inevitavelmente, o tempo não para. Para que deixar para amanhã a revista que pode ser feita hoje! 

Loucura? Maluquice? Pode ser. Mas a Rolling Stone também começou como uma revista independente, com um capital de apenas US$ 5 mil. E a Tia Mimi também achava que John Lennon nunca ia conseguir alguma coisa na vida com seu violão.

Os Editores


Equipe da revista ZERO, em foto de Diogo Gomes. 
Da esquerda para a direita:
Daniel Motta, Marcelo Silva Costa. Luiz César Pimentel e Alexandre Petillo