"Hot Fuss" - The Killers
por Leonardo Vinhas
Fotos - Divulgação / Site Oficial

lvinhas1@yahoo.com.br
16/01/2005

O quarteto The Killers gosta de arranjos luxuosos e até meio exagerados, mas isso não deve ter muito a ver com o fato de eles serem de Las Vegas, já que a voz e os teclados de Brando Flowers e os climas instrumentais (a cargo do guitarrista David Keuning, do baixista Mark Stoermer e do baterista Ronnie Vannucci) remetem diretamente aos new romantics ingleses dos anos 80. Seu álbum de estréia, Hot Fuss, foi aclamado como um dos melhores do ano de 2004 logo após seu lançamento. Como toda banda "vítima" de hypes, eles também sofrem acusações tanto de genialidade como de armação.

Essa preocupação com a "autenticidade" (ou "sinceridade") das canções se tornou uma coisa meio tola desde que o coronel Tom Parker assumiu o controle da carreira de Elvis. A música pop é, por natureza, um produto de consumo para prazer imediato e com validade um tanto breve. Os poucos que transcendem essas condições o conseguem por um misto de mérito, sorte de estar no lugar certo na hora certa e bons esquemas de divulgação. Mas um artista não precisa chegar a um estágio de Beatles para ser inesquecível. Quando ela conquista seu espaço na memória afetiva do ouvinte, ela já cumpriu seu papel muito bem.

O que nos traz a esse Hot Fuss. Os singles Jenny Was a Friend of Mine e Mr. BrightsideM estouraram nas paradas britânicas e americanas (principalmente nessas, já que os new romantics eram mais populares lá que nas ilhas da rainha) com aquela mistura de melodias e climas oitentistas com o peso que atravessou a década de 90. Nada original? Tome Jenny Was a Friend of Mine como exemplo. Ela tem estrutura melódica e produção similares ao que o Duran Duran fazia de melhor em seu auge, porém com um peso que o John Taylor e Simon Le Bon jamais sonhariam colocar em Rio ou Skin Trade, simplesmente porque não se imaginava isso na época. Pronto, temos algo original, sim - com influências claras e perceptíveis, mas que ninguém teve cérebro ou insight para fazer antes.

É essa a receita que vai dominar as melhores faixas desse Hot Fuss e vai embalar a dança solitária de muita gente no quarto. Se alguns DJs de casas noturnas forem minimamente sagazes, também vai entrar na trilha obrigatória de festas de muita gente - não só de caras de trinta anos que já se acham velhos o suficientes para serem saudosistas, mas também de uma molecada que sequer desconfia quem foi o Spandau Ballet ou o ABC. E assim os Killers cravarão seu nome nos corações e nas mentes de uma geração, ou pelo menos de um bom grupo de pessoas felizes.

Mesmo que no próximo disco eles só gravem duas canções que prestem (e a história prova que são grandes as chances disso acontecer), a força contagiante de canções como Smile Like You Mean It, Somebody Told Me e All These Things I've Done já justificou a existência dos Killers. Eles - e Franz Ferdinand, Interpol e mesmo outras menos inspiradas, como The Stills - estão recuperando o prazer de se fazer (e ouvir) música dançante, pesada e despreocupada, sem recorrer a expedientes acéfalos. Claro, aquela galerinha "pensante" vê nisso um problema, mas são pessoas que costumam ver mais graça em conceitos que em música e que raramente se divertem. Enquanto isso, a garotada classe média de vinte e poucos anos está com a sensação de que dançar é a melhor terapia que há. Caramba, desde os meus dezesseis anos de idade que eu não me empolgo tanto com música como agora...

Leonardo Vinhas tem 26 anos, não é saudosista e esquece dos problemas soltando a franga ao som de Hot Fuss.


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