Entrevista com Thedy Corrêa
por Marcelo Costa
Foto: Marcelo Nunes
maccosta@hotmail.com
24/05/2005

Thedy Corrêa é realmente um cara corajoso. No fim dos anos 80, logo no início da carreira de sua banda, o Nenhum de Nós, Thedy assinou com o grupo uma versão de Starman, do David Bowie, chamada Astronauta de Mármore, que fez um sucesso imenso de público tanto quanto ganhou a ira da crítica. Desta vez, inaugurando sua carreira solo (o Nenhum de Nós vai bem, obrigado), Thedy coloca o nome em jogo novamente ao verter alguns clássicos de um dos grandes compositores da música popular brasileira para um território eletrônico: Lupicínio Rodrigues se transforma em Loopcinio. Puristas vão surtar.

"Aqui - no Sul - nós chamamos o Lupicínio de Lupi. Em geral, quando alguém fala do Lupi, todo mundo já sabe quem é", diz Thedy Corrêa em um bate papo telefônico São Paulo/Porto Alegre. A idéia de Thedy foi apresentar o repertório clássico de canções como Ela Disse-Me Assim, Esses Moços (Pobres Moços), Se Acaso Você Chegasse e Felicidade, entre outras, para o público jovem, o mesmo que ainda lota shows do Nenhum de Nós ao redor do País. "Sem querer ser pretensioso, enquanto ninguém fizer algo como eu fiz vai ficar muito longe deles. E a minha idéia, a minha pretensão sincera, é fazer um serviço, fazer a minha parte, trazendo o repertório do Lupicínio em uma embalagem que essa galera nova entenda", justifica o músico.

Porém, quando se fala em eletrônica, não é a eletrônica de DJs, de pista, beats acelerados e baticum. Loopcinio é um disco charmoso, com elementos eletrônicos, batidas leves que desnudam as letras violentamente belas do compositor gaúcho em um clima de bossa. "A idéia era valorizar a palavra", conta Thedy, que acredita que a molecada vai entrar no clima de Lupi. "Por exemplo, você pega uma música como Recado Não Aceito. Hoje em dia, em tempos de celular, email, torpedo, MSN, tudo isso, a música fala: "Recado de você eu não aceito não". Ele quer o olho no olho, ele quer falar, ele quer ser direto. Tem tudo a ver com a moçada isso. Essa coisa de não substituir as relações por um tela de computador. Pode ir até um certo ponto, mas depois a gente precisa do toque, do olho no olho, da voz", acredita.

Segundo Thedy, mais de quarenta músicas foram selecionadas para o projeto em um primeiro momento. "Na segunda (tesourada) ficaram umas vinte. E até o final tinha umas quinze, e a gente foi lapidando e escolhendo aquelas que faziam uma história, porque o disco tem começo, meio e fim. As onze músicas contam uma história. Mas a obra dele é muito vasta", aponta o cantor, que chegou a estudar a vida de Lupi. "Li até teste de mestrado falando do Lupicínio", conta o vocalista, que recebeu o apoio nas programações e na produção de Sacha Amback. O percussionista Ramiro Musotto, o músico Milton Guedes, a cantora Adriana Maciel, o rapper Damien Seth e a filha Stellinha também participam do disco.

O resultado de toda essa combinação é um álbum bonito, que revela - mais uma vez - o grande compositor que foi Lupicínio Rodrigues. Ela Disse-me Assim abre o disco com a voz de Thedy a frente, a letra serpenteando sobre uma cama de teclados e uma percussão leve. Nervos de Aço, uma das canções mais doloridas de Lupi, ganhou um arranjo forte e denso. "Ela tem uma proposta, uma estética, um conceito, diferentes da versão original. Tem uma justificativa, pra mim, plástica: quando eu pensei no arranjo dela, ela estava muito mais perto de cinema do que de música", conta Thedy. Esses Moços (Pobres Moços) combina guitarra, baixo e programações com um rap em francês. "Eu sempre tinha isso na minha cabeça: 'Quem são esses moços hoje? Quais desses moços eu poderia retratar nesse disco?'. E quando eu fiquei sabendo que o Damien estava lá, eu pensei: 'Bah, Esses Moços é hip hop, é rap, é música negra'. Então eu peguei um sampler de soul music no saxofone. Fiz uma batida meio r&b, e quando ele entra com aquele rap, em francês ainda por cima, fica só a referência do hip hop. As pessoas não entendem direito, fica aquela coisa meio elegante, meio interessante por seu um rap. Eu queria causar essa sensação", conta.

Recado Não Aceito, uma das grandes canções do disco, conta com a participação de Adriana Maciel. "Ela é uma amiga minha de muito tempo. Foi visitar o estúdio e eu tinha muita vontade de fazer um dueto nessa canção, que é uma coisa que se fazia muito antigamente, quando a música tinha um discurso que cabia para os dois. Eu canto e ela canta porque a história serve pros dois, essa história de não mandar recado e falar frente a frente", explica. Vingança exibe a veia honesta da "poesia" de Lupi. "Eu gostei tanto quando me contaram / Que lhe encontraram bebendo e chorando / Na mesa de um bar", diz a letra.

Para o meio do álbum, canções suaves como a bela Volta ("Vem viver outra vez ao meu lado / Não consigo dormir sem teu braço / Pois meu corpo está acostumado", canta Thedy), Cadeira Vazia e Tola, que conta com a harmônica de Milton Guedes. O trecho final do disco começa a se delinear com a clássica Se Acaso Você Chegasse, brasileirísima. Felicidade abre com a voz de Stellinha, filha de Thedy. "Quando cheguei pra fazer Felicidade - e eu queria muito que ela tivesse no disco - eu estava quebrando a cabeça de como eu iria agregar algum sentido , algum significado novo. Era uma música que já tinha sido gravada tantas vezes, e tão bem gravada", explica Thedy. "Então eu ouvia muitas vezes, tocava no violão, mexia na harmonia. E um dia, eu estava trabalhando nela no estúdio, e a Stellinha estava sentada do meu lado, e quando eu comecei a cantar a música ela começou a cantar junto. E na hora eu pensei: está aqui. Ela esvaziou completamente o sentido melancólico da música e deu um outro sentido para aquilo que ela estava dizendo. Porque uma criança de quatro anos - na época (ela vai fazer seis agora) - cantando "Felicidade foi se embora e a saudade no meu peito" não combina. E ficou legal. E no fim é uma das músicas que as pessoas mais comentam do disco, dizendo que se emocionam muito quando a ouvem. Por isso eu falo do começo, meio e fim do disco. A gente vai conduzindo a um estado emocional que quando chega nessa música é uma paulada que ninguém espera", comenta. Sombras fecha o álbum "que me diz o quanto eu já fui feliz".

Loopcinio não substitui de maneira alguma as obras clássicas do mestre, mas dá uma sacudida no repertório do Lupi e o entrega de bandeja no colo da molecada (e é gostoso de ouvir em dias frios). Fãs de última hora do velho Lupi e puristas sairam em desagravo ao lançamento. Eu já disse por ai que levam a música pop a sério demais, e que todo mundo arranja motivo para pegar no pé de quem não gosta quando quer. Thedy fez um disco honesto em que interpreta com respeito a obra do mestre, e entrega um bom disco pop ao público. Puristas têm toda a razão de reclamar. Vão dizer que Lupicínio não é pop, sem se atentar que pop é abreviação de popular, e Lupi é imagem viva do cancioneiro nacional. Vão indicar os álbuns originais do compositor - Dor de Cotovelo de 1973, e Lupicínio Rodrigues de 1974, inéditos em CD e raros de se encontrar em vinil - as quatro coletâneas lançadas em 1995 (cujo maior destaque é o volume 1, Eu e Meu Coração) ou interpretações clássicas de suas músicas como a de Paulinho da Viola para Nervos de Aço, sem entender que a "homenagem" de Thedy é fruto de uma outra inspiração. Porém, todos somos infelizes e eternamente insatisfeitos. Alguns mais do que os outros. Mais. Thedy foi corajoso na empreitada.

Para fazer a capa do disco, Thedy foi ao Bar Naval, no Mercado Público de Porto Alegre, sentou na mesma mesa que Lupicínio se sentava, e recebeu do garçom aquilo que o compositor recebia todas as vezes que ia ao bar: uma folha de papel, um lápis e uma caixa de fósforos. "A capa explica o disco", acredita Thedy. "O cara com um Apple na frente, e anotando coisas em um papel", conta o músico, que não pretendia fazer shows, mas cedeu frente ao grande número de pedidos que têm chego ao escritório do Nenhum de Nós. "Eu pensei que isso não fosse acontecer, e aconteceu. Então eu vou fazer show. Agora em junho eu já devo estar montando o show, e vamos fazer capitais e vamos embora. Faz parte", diz o músico. O 11º disco do Nenhum de Nós também deve chegar às lojas em junho, trazendo treze músicas novas, onze delas inéditas. Thedy vai ter um 2005 agitado.

Confira a integra da entrevista:

Quando surgiu a idéia de gravar um disco com músicas do Lupicínio?
Surgiu assim. Cerca de uns três anos atrás, teve um pessoal aqui (em Porto Alegre) que me convidou para participar de um projeto cultural chamado "Encontros Insólitos", onde alguém de um gênero musical interpretava compositores de outros gêneros. No caso, me ligaram, para que eu, do rock, interpretasse músicas do Noel Rosa. Na hora, sem pensar, eu falei: "Não dá para ser o Lupicinio não?". E o cara falou: "Pode. Tudo bem". E eu desliguei o telefone e fiquei pensando: "Por que será que eu pedi pra mudar?". E eu me dei conta de que, na hora, o impulso foi de caminhar para um caminho mais conhecido de um cara que eu já tinha uma certa intimidade. Porque o Lupicínio aqui tem uma personalidade cultural muito presente. Por ser gaúcho e tal. Então armamos a data do show, e eu fui mergulhar no universo do Lupi para fazer o repertório de todos os shows. Estudei a vida dele, li até teste de mestrado falando do Lupicínio. No meio desse processo todo, pensei: pô, estou tendo um trabalho muito bacana, uma coisa muito estimulante, por que eu não aproveito e faço um disco? E na hora que me passou isso pela cabeça eu já sabia que seria um disco de música eletrônica e que iria ser do jeito que ele acabou ficando.

Aliás, e o nome Loopcinio...
Aqui nós chamamos o Lupicinio de Lupi. Em geral, quando alguém fala do Lupi, todo mundo já sabe quem é.

Na execução do show, você já o fez ele com base na música eletrônica?
Não. Na época eu ainda não estava aparelhado, digamos assim, para fazer um show de música eletrônica. Então eu segui um outro caminho. Até o repertório do show é um pouco diferente do disco. Era um show em que eu tocava guitarra semi-acústica com bastante efeito, delay e distorção, e que contava ainda com o João Vicente, que também toca no Nenhum de Nós, fazendo piano e teclado. Então eu cometi arroubos de loucura de fazer algumas músicas do Lupicínio quase um blues. Foi mais uma brincadeira, porque eu já sabia para onde eu queria ir. Então o conceito do show foi bem diferente do disco.

Quanto tempo você trabalhou no disco?
Ele leveu mais ou menos um ano. Entre começar a fazer algumas programações, escolher repertório. Chamei o Sacha Amback, que fez o disco junto comigo, ele é produtor, amigo e um grande músico. E eu trabalhava um pouco no meu estúdio, e ele trabalhava um pouco no dele. Ai eu ia para o Rio de Janeiro e a gente passava uma semana juntos sintonizando as idéias, sincronizando os computadores e trabalhando juntos. Uma coisa legal desse disco é que tivemos tempo para pensar, encaminhar as idéias, dar um passo para trás, outro pro lado, em algum sentido. Quando a gente foi mixar, agregamos também o Ramiro Mussoto, que faz percussão em todo o disco. E depois da mixagem, o trabalho ficou com o Renato Rocha, que é um cara genial que trabalha com o Nenhum de Nós há bastante tempo, e hoje em dia trabalha para a Marina, o Ney Matogrosso, e a Katia D, e agregou muito ao disco. Foi um trabalho bem calmo, bem pensado.

Como você vê o repertório do Lupicínio sendo apresentado para essa molecada de hoje em dia?
É diferente, mas sem querer ser pretensioso, enquanto ninguém fizer algo como eu fiz vai ficar muito longe deles. E a minha idéia, a minha pretensão sincera, é fazer um serviço, fazer a minha parte, trazendo o repertório do Lupicínio em uma embalagem que essa galera nova entenda. Então, por exemplo, você pega uma música como Recado Não Aceito. Hoje em dia, em tempos de celular, email, torpedo, MSN, tudo isso, a música fala: "Recado de você eu não aceito". Ele quer o olho no olho, ele quer falar, ele quer ser direto. Tem tudo a ver com a moçada isso. Essa coisa de não substituir as relações por um tela de computador. Pode ir até um certo ponto, mas depois a gente precisa do toque, do olho no olho, da voz. E quando eu digo uma "embalagem moderna", não é só no sentido musical. É moderno para os dias de hoje. Pegando um conteúdo como esse (do Lupicínio) e fazer ele soar e fazer sentido hoje também.

Quantas músicas você chegou a selecionar para depois ter que cortar e chegar nas onze do disco?
Bah. A primeira vassourada tinha quarenta músicas. Na segunda ficaram umas vinte. E até o final tinha umas quinze, e a gente foi lapidando e escolhendo aquelas que faziam uma história, porque o disco tem começo, meio e fim. As onze músicas contam uma história. Mas a obra dele é muito vasta...

Uma música que você destaca no disco...
Eu não vou dizer que eu goste mais de uma do que de outras, tá. Vou dizer que a que melhor simboliza a intenção do disco é Nervos de Aço. Ela tem uma proposta, uma estética, um conceito, diferentes da versão original. Tem uma justificativa, pra mim, plástica: quando eu pensei no arranjo dela, ela estava muito mais perto de cinema do que de música. De pensar uma interpretação, um clima meio contido, denso no começo. E eu neguei a melodia. Toda aquela primeira parte, em que o drama do cara parece uma coisa intima, ele mesmo. Então quando chega no refrão, que ele vai refletir sobre tudo ("Há pessoas com nervos de aço"), a música abre, entra um piano, pinta uma emoção. Acho que ali ela simboliza os caminhos do disco inteiro. O final dela lembra trilha sonora do filme do Hitchcock. E não porque eu queria dar essa tensão toda a ela. Eu queria dar expressão, a força da palavra rolando, do que aquela letra queria dizer. E isso não deixou o disco frio. A idéia era valorizar a palavra.

Tem bastante gente participando, né.
A Adriana (Maciel) é uma amiga minha de muito tempo. Ela já tinha gravado música minha e estava próxima. Foi visitar o estúdio e eu tinha muita vontade de fazer um dueto nessa canção (Recado Não Aceito), que é uma coisa que se fazia muito antigamente, quando a música tinha um discurso que cabia tanto pra um quanto pra outro. Eu canto e ela canta porque a história serve pros dois, essa história de não mandar recado e falar frente a frente. O Milton (Guedes) foi aquela coisa de "amigo vai visitar o estúdio e tu não vai sair daqui sem tocar alguma coisa" (risos). Ele arrasou. É um músico excepcional. Ele toca harmônica em Tola. E a Stellinha já é outro caso, pois ela é minha filha. Quando cheguei pra fazer Felicidade - e eu queria muito que ela tivesse no disco - eu estava quebrando a cabeça de como eu iria agregar algum sentido , algum significado novo. Era uma música que já tinha sido gravada tantas vezes, e tão bem gravada...

É quase uma canção de domínio público...
Isso. Então eu ouvia muitas vezes, tocava no violão, mexia na harmonia. Então um dia, eu estava trabalhando nela no estúdio, e a Stellinha estava sentada do meu lado, e quando eu comecei a cantar a música ela começou a cantar junto. E na hora eu pensei: está aqui. Ela esvaziou completamente o sentido melancólico da música e deu um outro sentido para aquilo que ela estava dizendo. Porque uma criança de 4 anos - na época (ela vai fazer 6 agora) - cantando "Felicidade foi se embora e a saudade no meu peito" não combina. E ficou legal. E no fim é uma das músicas que as pessoas mais comentam do disco, dizendo que se emocionam muito quando a ouvem. Por isso eu falo do começo, meio e fim do disco. A gente vai conduzindo a um estado emocional que quando chega nessa música é uma paulada que ninguém espera (risos).

E esse rap na Esses Moços...
Foi assim. Quando levei esse disco para a mixagem, e eu já sabia em que estúdio ia fazer, eu sabia que o Damien (Rice) trabalhava lá. E eu também sabia que ele era rapper. E a última música a ser trabalhada no disco foi Esses Moços. Eu sempre tinha isso na minha cabeça: "Quem são esses moços hoje? Quais desses moços eu poderia retratar nesse disco?". E quando eu fiquei sabendo que o Damien estava lá, eu pensei: "Bah, Esses Moços é hip hop, é rap, é música negra". Então eu peguei um sampler de soul music no saxofone. Fiz uma batida meio r&b, e quando ele entra com aquele rap, em francês ainda por cima, fica só a referência do hip hop. As pessoas não entendem direito, fica aquela coisa meio elegante, meio interessante por seu um rap. Eu queria causar essa sensação. Não foi uma coisa explicita: "Vou fazer um rap e colocar a letra de Esses Moços por cima". Não foi isso. Foi uma viagem. O Damien ouviu muito as outras músicas, eu expliquei a letra, contei toda a história do Lupicínio pra ele, e falei: "Qual o comentário que alguém faria hoje em dia a respeito disso?". E ele fez. Eu até pensei em colocar a tradução do conteúdo em francês, mas achei melhor não. Porque fala justamente das idas e vindas, de que o amor nunca vai terminar e termina. Ele fala isso no rap.

Eu estava conversando com um amigo no MSN agora há pouco, e ele estava me perguntando se eu era a favor ou contra downloads. E eu disse que era contra aqueles que acham que um disco são só as músicas que o compõe, que é só baixar o MP3 e você tem um disco. Um disco é quem participa dele, a capa, é um todo. E nisso o Loopcinio estava na minha frente. E você olha para a capa, e ela traduz o álbum...
Cara, você falou tudo.

Como foi a idéia dessa capa?
O cara que trabalhou a capa é um amigo, que normalmente não faz capas. Ele é publicitário, mas, em conversas, ele pediu para que eu o deixasse fazer a capa desse disco. E ele conseguiu fazer um negócio que me impressionou. A gente conversou muito sobre o projeto, e a capa que ele idealizou agregou sentido para o disco. É como você falou: ela explica o disco. E faz parte. Não consigo imaginar o disco sem aquela capa. Inclusive, a parte de trás, com Nervos de Aço escrita em vermelho, é a viagem dele, que acha que aqueles cabos da música eletrônica são os nervos de aço. Você tem toda a razão no que falou. Também sou a favor do download da música. Só não quero que as pessoas me peçam para dar dar de graça a única coisa que eu tenho pra vender, que é o meu ganha pão, o meu trabalho. Acho legal quando a pessoa baixa duas, três músicas do disco, e pensa: "Pô, gostei, vou comprar o disco". Isso é sensacional. O problema é o cara que baixa todas as músicas, não compra o disco, e ainda faz cópias pros amigos. Cria uma relação com um trabalho de alguém, que fez o disco e está lá, precisando da grana pra sobreviver...

Sem contar que a pessoa não está pegando o trabalho completo...
E às vezes, como você falou, tu perde a viagem desse disco do Lupicínio que eu fiz, se a capa não estiver junto. Tu perde um monte de coisas. Perde de olhar aquele bar, que era o bar que o Lupicínio freqüentava. Era naquela mesa que ele sentava. O garçom do bar ia lá servi-lo. No dia em que eu fui fazer a foto, o garçom veio e me disse: vou te entregar o que o Lupicínio me pedia quando vinha aqui. E ele me deu uma folha de papel, um lápis e uma caixa de fósforos. Está na capa do disco. O cara com um Apple na frente, e anotando coisas em um papel. O cara perde tudo isso se não tiver a capa.

E shows, você vai fazer?
Eu não ia, mas acontece que fizeram tantas ligações lá no escritório do Nenhum de Nós, pedindo para contratar aquele show do disco tal, e não foram nem dois, três ou quatros casos, foram muitos. E eu pensei que isso não fosse acontecer, e aconteceu. Então eu vou fazer show. Agora em junho eu já devo estar montando o show, e vamos fazer capitais e vamos embora. Faz parte.

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