Sisters of Mercy - Live in São Paulo
por Pedro Damian
Blog
Fotos - Adriano Moralis
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23/05/2006

Após uma espera de 16 anos, o tenebroso Andrew Eldricht desembarcou no Brasil em 19 de maio com sua renovada banda Sisters of Mercy para fechar a turnê Bite the Silver Bullet, comemorativa dos 25 anos da banda. Antes da primeira apresentação, em São Paulo (no dia seguinte, 20 de maio, fariam o segundo e último show em terras brasileiras, no Rio de Janeiro), muito se comentou sobre o repertório, que deveria ser basicamente o mesmo de 16 anos atrás, quando a banda tocou hits de seus primeiros singles e dos álbuns First and Last and Always, Floodland e Vision Thing no Projeto SP. O comentário tinha razão de ser: de lá para cá o Sisters não lançou absolutamente nada, graças, segundo o temperamental Eldritch, a uma briga judicial com o selo norte-americano East-West, que teria impedido o lançamento de material novo.

Isso é verdade em parte, apenas. As músicas novas que o Sisters tocou em seus shows nos últimos 16 anos não seriam suficientes para completar um disco. E muitas delas aparentam terem sido "compostas nas coxas" (é só baixar os shows de 2000 para cá no soulseek - de qualidade sonora tão lamentável quanto os bootlegs dos anos 80 e 90 - e conferir). Mesmo assim, Mr. Eldritch afirmou, em coletiva de imprensa antes do show, que o mesmo seria baseado em "seis, sete ou oito músicas novas", e que do primeiro disco, talvez o mais apreciado pela sua grande legião de fãs, tocaria no máximo uma (First and Last and Always). Na mesma coletiva, o líder do Sisters demonstrou muita má vontade em relação aos hits do grupo - os quais enchem qualquer pista de dança gótica.

A turnê traz um set list básico, que é pouco mudado de show para show. Este dura aproximadamente uma hora e meia e é composto de 19 ou 20 músicas, de acordo com o humor de Eldritch. Na parte belga da turnê, por exemplo, o set list com 19 músicas foi assim dividido: uma música do Sisterhood (Givin Ground), nenhuma de First and Last and Always, três clássicos antigões (Alice, Temple of Love e Anaconda), quatro músicas de Floodland (Dominion e Lucretia inclusas), duas de Vision Thing e nove músicas novas (ou seja, todas as novas composições, incluindo as duas feitas em 2006, Summer e Slept), e uma bastante apropriada: (We Are the Same) Susanne. Será?

Não. Eldritch está errado. O Sisters não é o mesmo. Nem pior, nem melhor, mas diferente. Ainda mais pesado que na era Vision Thing, a grande constatação foi ver que ao vivo eles não são nada daquilo que passam nos bootlegs. As novas canções, que no MP3 de vários concertos pareciam ter sido feito "nas coxas", precisam ser apreciadas "in loco" para serem melhor compreendidas. Os pontos altos do show foram When You Don't See Me e Susanne, justo duas das nove que eram desconhecidas do grande público. A novíssima Summer também é excelente. Entretanto, a catarse geral aconteceu mesmo nos clássicos de Floodland (Lucretia, This Corrosion, e, principalmente, Dominion).

O set list seguiu religiosamente o que tem sido utilizado na turnê, ou seja, nada de músicas do First and Last and Always e só três pré-Floodland (Alice, Anaconda e Temple of Love que, aliás, encerrou o show). A apresentação ocorreu com uma incrível pontualidade brasileira (55 minutos de atraso) e durou, conforme o previsto, exatamente uma hora e meia, período no qual foram tocadas 19 músicas.

A abertura foi bem pesada, para mostrar ao público brasileiro que o Sisters of Mercy de hoje é uma banda de Goth Rock com uma grande queda pelo hard rock. Provam isso as quatro músicas de abertura. A primeira foi uma nova, Crash & Burn, que é bem ao estilo das mais "heavy" de Vision Thing. E, na seqüência, foram tocadas três deste álbum (a esquisitona Ribbons e as rapidíssimas Doctor Jeep e Detonation Boulevard, estas emendadas uma na outra). Demorou perto de nove músicas até o público, dominado por quarentões, explodir de vibração com o primeiro hit esperado: Dominion. Se até a nona música o repertório foi dividido entre músicas de Vision Thing e inéditas, dessa parte do show em diante a divisão ocorreu entre canções de Floodland, três antigonas e outras inéditas.

Eldritch, com sua reluzente careca, parecia estar à vontade, tanto que, após This Corrosion, disparou: "Here is the best place for me". Beleza. Sinal de que o retorno não será tão demorado. No final de Temple of Love (música de fechamento de show, tão fartamente divulgado na Internet que o público nem exigiu muito um bis), velhos e novos fãs, satisfeitos com o show, não cansavam de dizer, nem todos nestes termos: "o Sisters é foda!". Após 16 anos, Andrew Eldricht deu um show de competência em terras brasileiras.

Links:
Site Oficial do Sisters of Mercy