Jack Johnson
por Mariângela Carvalho
mari_cpc@yahoo.com.br
18/04/2005

Há um tempo atrás, assisti a um clipe que se passava na praia, coqueiros, mar azul. A música falava das coisas da vida. Pareceu-me bonito, legal – até saudável, mas logo passou. Tempos depois, esse clipe voltou, e me pegou de um outro jeito. Adaptando Morrissey: "Mudou a música ou mudei eu?".

A tal música era Times Like These e o cara era o Jack Johnson. Pensei logo em ir atrás de mais coisas, conhecer o sujeito, mas a idéia passou. Um dia fui a uma dessas grandes lojas, que te deixam absurdamente pobre quando se é cliente. A trilha-ambiente da seção de discos era o novo In Between Dreams, do rapaz do clipe, e ele só sossegou quando peguei seu disco, junto com o anterior, On and On, e coloquei ambos embaixo do braço. Saí feliz com o que tinha, sem nem mesmo saber porquê e fui embora ansiosa para ouvir tudo em casa, com calma.

A banda leva o nome do vocalista e guitarrista, mas conta ainda com um percussionista, Adam Topo, e um baixista, Merlo. É tudo meio havaiano, com aquela calmaria que só pode ser imaginável à beira do mar. É suave e bonito, uma música perfeita para um final de domingo. In Between Dreams e On and On não são longos, mas a sensação que passam é que duram o suficiente para se pensar em tudo que se deve pensar.

As canções falam de assuntos comuns, mas a combinação das frases de impacto na medida certa e dos toques tribais - que vez por outra aparecem - é a mais certeira em muito tempo, como exemplificam as belas Good People e Breakdown. Em Gone, do segundo disco, Jack canta sobre aquilo que pode ser deixado pra trás sem amargura (já que nada vai mudar seu próprio jeito de ser). Já em Banana Pancakes, o amor é dissipado na linda frase "farei panquecas de banana pra você", enquanto Belle se utiliza de três diferentes línguas para exprimir o simples desejo de se falar com alguém.

Jack não compõe aquele tipo de música que tem um real propósito de fazer você querer sair e quebrar as regras. Suas canções não são intimistas, nem vão dar respostas para todos os problemas. São, simplesmente, músicas para se ouvir com calma, sentado no sofá, em clima descontraído, de "tire-seus-sapatos-é-final-do-dia", "luau com pôr-do-sol", "céu púrpura e ocioso e perfeito para o nada".

Poderia até ser surf music, mas não é. Poderia ter milhões de batidas fortes, mas não tem. O clima é de reggae preguiçoso, com algo de bossa nova em alguns momentos, mas não deve ser definido assim. Poderia te induzir a qualquer coisa, mas não o faz. A simplicidade se explicita a cada música, e cada frase de poesia se esvai na melodia vagarosa e preguiçosamente serena que te leva para o mesmo Hawai que o inspira.

Todos no grupo, obviamente, são surfistas e por isso mesmo esta é a temática ao longo de todos os discos, o que caracteriza de maneira pueril uma música sem elos ou referências – pelo menos por enquanto. Constellations, por exemplo, dá conselhos simpáticos sobre os ventos do oeste enquanto Situations apresenta quatro situações para pensar, e The Horizon Has Been Defeated conta como horizonte se acabou. Tudo da forma mais simples possível.

Antes de ser músico, porém, Jack era cineasta. Foi o sucesso da trilha (pirata, diga-se de passagem) que compôs para seu documentário, The September Sessions, que o animou a formar a banda. Com apoio de Bem Harper, Jack transformou a trilha de September Sessions em seu álbum de estréia, Brushfire Fairytales. Na seqüência vieram On and On (que traz a tal música do clipe) e In Between Dreams. Todos perfeitos para se ouvir com o sol se pondo. Ou com o sol nascendo. A escolha é sua. Eu estou ouvindo, agora.


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Site Oficial Jack Johnson