"Antics" - Interpol
porJonas Lopes
http://www.yerblues.com.br
12/04/2005

Daquele turbilhão de bandas que surgiram como salvação do rock (uma ironia absurda - o futuro através do passado) nos últimos três ou quatro anos, a menos compreendida delas foi o Interpol. Claro, a imprensa incensou o grupo e o debute Turn On The Bright Lights estava em praticamente todas as listas de melhores de 2002. Mas faltou conhecimento de causa. A esmagadora maioria de textos sobre o disco (com poucas exceções) assumiu a preguiçosa tática de acusar os nova iorquinos de xerocar Joy Division, e nada mais.

Tudo bem, o vocalista Paul Banks possui um timbre bem parecido com o de Ian Curtis, mas querer limitar dessa forma o quarteto é um pecado. Não que eles sejam um poço de originalidade. Qualquer audição que se pretenda séria percebe semelhanças com vários outros ícones da era pós-punk, como Echo & The Bunnymen, Chameleons e até New Order (fase Movement). Mas em um momento com esses, com tanta banda fazendo a mesma coisa, separar o joio do trigo é essencial. Ao lado de British Sea Power, The Coral, White Stripes e Franz Ferdinand, o Interpol faz parte do trigo.

Este amálgama de influências que molda o som do Interpol se mantém intacto em Antics, lançado no Brasil pela Trama só agora, seis meses depois de sair lá fora. Engraçado é notar que, mesmo com a tal da pressão do segundo disco (que Banks já disse que a banda sofreu), as músicas novas são mais leves e pra cima que as do primeiro álbum. As composições estão mais compactas, as melodias menos sombrias. Algumas delas, como a balada Next Exit, chegam a ser ensolaradas. Outra balada, A Time To Be Small, é mais arrastada e tem um grande trabalho de guitarras.

As diferenças mais bem-vindas, no entanto, são os flertes com o lado mais dançante da nata do pós-punk (Talking Heads, Gang Of Four) nas ótimas Slow Hands, Narc e Lenght Of Love. Vertente presente em outros hypes do momento, como Franz Ferdinand e Radio 4, mas que ainda não havia dado as caras no Interpol.

As mudanças não chegam a ser tão profundas. A despeito do clima mais relax, a espinha dorsal do som da banda ainda está lá, nos riffs inspirados por Tom Verlaine, nas linhas de baixo marcantes e ganchudas (como a de Evil), nas melodias que seguem calmas até estourarem no refrão. Estes ingredientes formam o arcabouço de C'mere, Not Even Jail e Evil, herdeiras diretas de Turn On The Bright Lights. As letras, um dos pontos altos da estréia, mantêm a inteligência e as boas sacadas ("Time is like a broken watch/and make money like Fred Astaire", frase de Take You On A Cruise). Os versos também estão menos depressivos e um pouco mais esperançosos, ainda que uma esperança angustiada.

Ainda é cedo pra afirmar pra qual dos dois discos é o melhor - e essa questão é irrelevante, na verdade. Faltam em Antics canções individualmente brilhantes como Obstacle 1 e Stella Was A Diver And She Was Always Down. Mas o conjunto do trabalho novo é mais coeso e completo (e menos Joy Division, diga-se). Imagine então o que teria saído se os caras não tivessem sofrido com a pressão...


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