Growl
por Wagner Xavier
Blog
01/04/2008

O rock raro desta vez chega para falar de uma banda que realmente faz jus ao nome da coluna. A banda em questão praticamente saiu ilesa do mercado fonográfico nos idos dos anos 70. Tendo lançado apenas um disco pelo selo Discreet, de Frank Zappa, ela é (des)conhecida como Growl, sexteto americano formado por Mick Small na guitarra, Dennis Rodriguez nos vocais e "rosnados", Richard Manuputi nos vocais, Danny McBride na bateria, Harry Brender na guitarra e vocal e Geno Lucero no baixo.

Como grande curiosidade os brasileiros, a capa do álbum de estréia do Growl, homônimo, é esteticamente parecida com o clássico dos Secos & Molhados. Em ambos os álbuns as cabeças dos integrantes estão expostas sobre bandejas, prontas para serem devidamente devoradas. Nossos heróis - na época Ney Matogrosso, João Ricardo, Gerson Conrad e Marcelo Frias - tiveram a idéia primeiro, pois o álbum dos Secos e Molhados foi lançado em 1973 e o Growl saiu em janeiro de 1974, portanto se alguém copiou alguém, ponto para nós.

Vale lembrar também que os Secos & Molhados surgiram antes do Kiss, portanto em matéria de rostos pintados, os brasileiros também saíram na frente. Além do enorme sucesso na época (um milhão de álbuns vendidos e sucessos como "O Vira", "Sangue Latino" e "Rosa de Hiroshima"), os Secos e Molhados ainda podem se vangloriar de toda sua originalidade, além é claro, de terem um dos melhores álbuns lançados no Brasil nos anos 70.

Polêmicas nacionais a parte, o Growl lançou seu álbum homônimo em 1974 e não decolou. Porém, "Growl", o álbum, é um disco bastante interessante, embalado por um rock and roll na linha blues hard rock com algumas levadas de rockabilly. O disco inicia com a clássica "Shake Your Money Maker", da Butterfield Blues Band, um blues rock interessante que remonta ao rockabilly dos anos 50, soando como se Jerry Lee Lewis tocasse rock and roll pesado e com guitarras solando todo o tempo. Lembra vagamente a também clássica "Route 66" na versão dos Stones. O início é promissor, puro rock and roll.

A próxima é "Young and Crazy", já mais no estilo 70's, destacando o vocal bacana que parece Johnny Winter em algumas partes. Muito boa faixa. Na seqüência surge "I Wonder", que segue na mesma linha da anterior. A pegada rock and roll e o vocal rouco e bem no estilo soul music de Rodriguez se destaca novamente. Belas guitarras marcam uma excelente faixa. "Working Man" e "Sadie" encerram o lado A com primor e mantendo o nível das anteriores. Para tentar relacionar o Growl com bandas conhecidas podemos posicioná-los entre Foghat, Savoy Brown, Johnny Winter e Creendence Clearwater Revival e outras bandas do tradicional blues e hard rock setentista.

O lado B começa com uma versão da clássica "Hound Dog" de Leiber e Stoller, imortalizada na voz do rei Elvis . A versão do Growl é carregada numa levada bem blues rock, swingada e com vocal rasgado. Uma maravilha de versão com direito a gaita de blues e tudo mais. "Take My Life" é outro rockão bacana que traz novamente as guitarras fazendo bonito. Na mesma linha ainda surgem "Things Aint't Better" e "Who's This Man", duas faixas arrasa quarteirão. O final do disco traz outra regravação, "I Just Want do Make Love To You", de Willie Dixon, já tocada por várias bandas desde os anos 60. Esta lembra um pouco a versão do Foghat, porém com vocais ainda mais pesados do que Lonesome Dave, fechando o disco em grande estilo.

Infelizmente o Growl não obteve a repercussão merecida, encerrando as atividades no mesmo ano em que lançou seu álbum de estréia sem conseguir sucesso nem chegar ao almejado segundo álbum. O vinil original é difícil (mas não impossível) de ser achado - tem que garimpar em lojas americanas - mas uma versão em CD felizmente foi relançada em 2007 pelo selo Lion. Vale a pena conhecer esta banda que, apesar da pouca duração e pequena discografia, nos brinda com uma obra que garante 40 minutos de prazer rock and roll, sem frescuras nem maiores complexidades. Um verdadeiro rock raro.


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