"Pareço Moderno", Cérebro Eletrônico
por Tiago Agostini
Blog
05/10/2008

Depois da redescoberta dos Mutantes pelo público brasileiro no começo da década, de Caetano Veloso virar indie e lançar um dos melhores discos de rock de 2006 e de Paulo César Araújo fazer uma nova leitura sobre os cantores bregas dos anos 70 e biografar Roberto Carlos, nada mais natural do que o lançamento de Pareço Moderno, segundo disco dos paulistas do Cérebro Eletrônico. Porque, de alguma forma, cada um destes elementos citados anteriormente fazem parte central da formação e equação sonora da banda.

Formado por Tatá Aeroplano (voz e barulhos), Fernando Maranho (guitarra), Isidoro Cobra (baixo), Dudu Tsuda (teclado) e Gustavo Souza (bateria), o Cérebro é resultado de uma mistura de pessoas com diversos projetos musicais paralelos. O mais famoso e emblemático deles é o Jumbo Elektro - os cinco participam da banda. Essa experiência é a que acrescenta o outro elemento na sonoridade do Cérebro, o pop, tão presente nas músicas do Jumbo, que dá o toque final, principalmente na presença de palco da banda.

Falando desta maneira, o Cérebro poderia ser considerado apenas mais uma das diversas bandas atuais que misturam rock com elementos regionais, do brega e da MPB. A lista, só para ficar em nomes de destaque em 2008, é grande - Do Amor, Curumin, Wado, Marcelo Camelo, sem contar Móveis Coloniais de Acaju, Charme Chulo e o Cidadão Instigado. Cidadão que, aliás, talvez seja a banda que mais se aproxima do Cérebro quanto à proposta de flerte com o brega. Contudo, enquanto a banda de Fernando Catatau explora outras sonoridades regionais - principalmente do norte - o Cérebro foca em um romantismo e melodias bem construídas como nenhuma outra banda tem feito nos últimos anos.

"Pareço Moderno", segundo disco da banda, tem um clima lúdico e intenso, que facilmente prende a atenção. A belíssima balada que dá nome ao disco e narra as desventuras de um apaixonado que tenta ser indiferente à amada mas acaba sofrendo em silêncio é um bom exemplo. Com apenas três acordes e uma estrutura rítmica simples, ela vai ganhando força até irromper no refrão, quando você se pega gritando do fundo do peito os versos como se fossem seus. A música escancara, na letra, duas influências diretas da banda - Roberto Carlos e Sérgio Sampaio - e encarna no nome o grande paradoxo da banda: apesar dos barulinhos tecnológicos o som é totalmente retrô.

O clima continua com o ótimo no hino sexual "Dê" e seu ritmo crescente, a crítica à modernidade "Dominó Tecnológico" e ao meio rock brasileiro dos anos 80 "Me Atirar na Orgia". O disco termina em ritmo mais calmo, com a quase bossa de “Talentoso”, de autoria de Júpiter Maçã, e a balada "Sérgio Sampaio, Volta", mais do que uma homenagem ao ídolo uma canção de amor perdido. Tudo pontuado pelas letras simples e diretas de Tatá. Apenas "Mar Morro" e "Portal dos Sonhos", justamente as mais MPBísticas, deixam um pouco a desejar.

Com este disco, o Cérebro Eletrônico se torna o maior candidato a ocupar a vaga deixada pelo Los Hermanos no cenário nacional. Parecidas na atenção dispensada às melodias, as bandas se distanciam nas influências do passado em que cada uma bebe. Até por força de geografia, os cariocas do Los Hermanos reeditam o samba e os paulistas do Cérebro reprocessam a Tropicália que se formou mesmo em São Paulo. E com a principal diferença de que os Hermanos sempre tiveram aquela postura blasé e toda festa promovida em seus shows vinha da platéia, com a banda respondendo à empolgação do público. No Cérebro a diversão é proporcionada pela banda, dos primeiros acordes aos pulos de Tatá no palco.

O remix de Guab para “Pareço Moderno” que acompanha a caprichada edição do CD em digipack - com faixa interativa com fotos, histórias das músicas, letras e biografias dos integrantes - apesar de óbvio faz todo o sentido. Ao terminar a canção com o grande sucesso de Sérgio Sampaio, "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua", ele resume bem a intenção do quinteto. A festa está apenas começando.