winston
A pureza do rock gaúcho
por Carmela Toninelo

Conta a lenda da criação da flor de lótus que certo dia, à margem de um lago, encontraram-se quatro elementos irmãos: o fogo, o ar, a água e a terra. Em um destino bem curioso, o encontro dos quatro foi às custas de tanto se prestarem a construir formas e mais formas, tornando-se escravos de suas obras e perdendo assim a própria liberdade em função do homem, o eterno ingrato. 

Cada um se orgulhava de se haver dedicado para que a vida se manifestasse através de formas sempre mais belas e mais perfeitas. Assim, para deixarem uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro, resolveram criar alguma coisa que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem. 

Construíram então uma planta cujas raízes estivessem no fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela. Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo de pureza e perfeição humana.

Num cenário social humano onde o poder da música persiste como arte suprema, bandas de rock depois de desfeitas viram lenda. Assim foi com Beatles, Pixies, the Clash, Sex Pistols, Nirvana. Mas o fato é que o ciclo de vida, morte e lembrança na terra permanece contínuo.

A banda gaúcha winston nasceu assim, dentro dum patamar lendário que certamente entrará para a história do rock nacional. Por enquanto, ela simplesmente brilha como imaculada produtora do som mais confessional e profundo. Porque é uma banda presente, bem como uma revelação.

Da mesma forma que a flor de lótus, winston tem seus quatro elementos. Aqui eles são o ar – Tiago Ribeiro nos vocais e guitarra, a água – Dudu Magalhães na guitarra e vocais, a terra – Pepe Perurena no baixo e vocais e o fogo – Peter Francis na bateria. O que pouca gente sabe é que a flor de lótus não é lenda em tempo presente, e existe em abundância em países como China e Japão, sendo a única espécie que brota somente da mais pura lama e sujeira. 

Assim não é estranho perceber porquê a banda dos quatro meninos tem como matéria-prima o fracasso, a frustração e a miséria humana. Usufruir de quesitos como esses e transforma-los em melodias psico subumanas e músicas que realmente transmitem algo, é o que winston tem feito de melhor. São sempre dedilhadas freqüentes de guitarra com batidas resplandecentes de bateria misturadas em letras fortes que te fazem ir longe. Sentir paz, é mera observação. Ela é tamanha que chega a doer.

As letras das músicas, na maioria assinadas por Tiago, Dudu e o antigo winston Nay, já fazem parte de um repertório exímio. São poucas as pessoas que conseguem entender alguém cantando "me chamo fracasso". Como em Harry Potter, parece que as pessoas normais gostam de ser chamadas de trouxas. Geralmente elas não preferem ouvir o que é realidade sofrida pra si mesmas. Talvez queiram ouvir letras fáceis de decorar. E claro, as melodias de winston se tocadas sem tanta microfonia são facilmente assobiáveis, isso os meninos aprenderam muito bem com o Rivers e sua trupe. Sendo assim os singles Me chamo Winston e Anoréxica já se tornaram assobiáveis, mas cada nota e palavra sai direto das feridas mais doídas dos meninos. Nada é montado ou fabricado.

A previsão do lançamento do primeiro CD independente da banda está previsto para o início do segundo semestre deste ano. Oito músicas já estão previstas sob a produção de Pedro Veríssimo que prefere não lapidar as músicas deixando o lado pop que elas naturalmente possuem, gerando um disco de rock puro como Foo Fighters. Além de Pedro, vocalista da banda também gaúcha Tom Bloch, o produtor norte-americano Charles Di Pinto que já trabalhou com Bidê ou Balde e Walverdes entrará como parceiro na direção. Também já estão cotadas participações como as de Gustavo “Mini” Bittencourt, dos Walverdes, de membros da Orquestra Juvenil da UFRGS, do baterista da Video Hits, Michel Vontobel e do guitarrista dOs Carlos, Raphael Macedo.

E como diz o baixista wisnton, Pepe “queremos que gostem da nossa música, das nossas letras e que entendam que aqueles nerd que tanto sofreram no colégio podem animar suas irmãs na festinha de 15 anos delas e que podem te fazer sentir compreendido também. É isso que queremos. Que gente como nós éramos se sintam compreendidos, que eles vejam que não estão sozinhos no mundo. Pelo menos eu penso assim. Não sei se minha banda inteira pensa assim. Mas eu penso. E no fundo todos se sentem assim.”

Pureza em rock como pureza de beleza natural talvez seja mero acaso. Lendas, com certeza, flor de lótus é e winston será. E se nada muda e continuamos parados, precisamos sempre de palavras de meninos nerds como eles para que possamos voltar a viver. Aqui é o mundo real, e dentro de cada um de nós também há um winston que segura o mundo

Carmela Toninelo é editora da Viés (www.vies.unisinos.br) e da Parklife (www.parklife.cjb.net).