R.E.M. - Ao Vivo no Rock in Rio III 

Por Marcelo Costa
Fotos: Divulgação
Janeiro de 2001

Antológico. Clássico. Inesquecível. Essas três palavras resumem o show que o R.E.M. fez no Rock In Rio. Eram cinco horas da tarde quando eu recebi o set list oficial do show que o REM faria a noite. O burburinho na imprensa era de que, realmente, a banda havia decidido premiar o público com um repertório clássico, especial. Restava saber como seria ver uma ex-college band em cima de um palco imenso como o do Rock In Rio. E, saiba, caro leitor, o REM “só” fez um dos melhores shows de rock que já passou pelo Brasil. Pode soar exagerado se você não foi um dos 170 mil presentes ao espetáculo, mas quem estava lá presenciou uma comunhão inesquecível entre banda e público. Foi simplesmente religioso, aquela sentimento que só um artista sincero (perdão pelo termo batido) consegue transmitir.

Era 1h15 da madrugada de sábado para domingo quando Michael Stipe, Mike Mills e Peter Buck subiram ao palco e, escoltados por mais três músicos, iniciaram o show com “Finest Worksong”. A decoração do palco era a mesma que a banda usou na tour UP, com várias camadas de néon formando desenhos para iluminar as canções da banda.

E a banda estava terrivelmente afiada. Michael, dizem, tomou um ecstasy para entrar no palco. Talvez isso explique sua surpreendente performance. Ao contrário do que é usualmente, Stipe brincou com o público, reclamou do calor, mas disse estar feliz por estar numa cidade tão sedutora como o Rio de Janeiro. Mais, correu por várias vezes no corredor tocando as mãos dos fãs, quando não oferecendo sua cabeça, careca, para que os mesmos tocassem. Chegou a emocionar quando anunciou “So Central Rain” como uma "canção muito muito muito antiga" ou quando, antes de cantar “What's The Frequency Kenneth?”, disse “Olá, Brasil. Essa banda chama-se REM”. E mais, cantou absurdamente bem. Desde as mais antigas, como as citadas, até as duas inéditas (She Just Wants To Be – The Lifting, ambas, excelentes e com potencial de single) que farão parte de “Reveal”, álbum que deve chegar às lojas mundiais só em março/abril.

Peter Buck controla a parte instrumental da banda com maestria. Se a base da canção são os teclados, o guitarrista se coloca em frente, como se estivesse vigiando. Ele toca muito. Sola, faz base de violão e o bandolim em “Losing My Religion” é de emocionar o mais cético mortal. Já Mike Mills é rocker de uniforme e carteirinha, alem de fazer um backing vocal extremamente perfeito. A banda que acompanha o trio (Joey Waranker na bateria, e os guitarristas Ken Stringfellow e  Scott McCaughey) também já estão entrosados e a performance como um todo é ok.

Vários momentos mágicos marcaram a apresentação da banda. Em “The One I Love” Michael desceu para tocar o público. Em “Everbody Hurts” a banda ficou toda ao redor da bateria, iluminada por pouca luz, como se tocasse em um pequeno pub. Quase no fim, o momento pop do show. Um garçom entra empurrando uma mesa com uma garrafa da conhecida pinga Velho Barreiro. Várias caipirinhas feitas e todos os músicos bebem, brindando “Caipirinha. Brasil!”. Em seguida, claro, “Pop Song 89”, para alegria dos fãs.

É difícil falar mais. Talvez o exemplo que fique seja Michael Stipe gritando infinitamente “and I fell fine” no fim do show (com a antológica “Is The End” fechando lá pelas três da manhã). A banda já havia saído. Peter deixou sua guitarra ligada e microfonando no palco. Mas Michael parecia querer estender esse momento e ficou ali, gritando “and I fell fine” por quase dois minutos, que pareciam eternos. Agora, parecem mesmo. É difícil falar mais.

E se eu disser antológico, clássico e inesquecível...

 
Set List

Finest Worksong (Document) 1987 
What's The Frequency Kenneth? (Monster) 1994 

Fall On Me (Life's Rich Pageant) 1986 

The Wake Up Bomb (New Adventures In Hi Fi) 1996 

Daysleeper (Up) 1998 

Great Beyond (Trilha Sonora "Man On The Moon") 2000 

She Just Wants To Be (Reveal) 2001 - inédita 

Stand (Green) 1989 

So. Central Rain (Reckoning) 1984 

At My Most Beautiful (Up) 1998 

The Lifting (Reveal) 2001 - inédita 

One I Love (Document) 1987 

Find The River (Automatic For The People) 1992

Losing My Religion (Out Of Time) 1991 

Bis

Walk Unafraid (Up) 1998 
Man On The Moon (Automatic For The People) 1992

Everbody Hurts (Automatic For The People) 1992 

Pop Song 89 (Green) 1989 

It's the End Of The World As We Know It 
(And I Fell Fine) (Document) 1987