Penelope - ao vivo
São Paulo - 11/07
por Alexandre Petillo

Todo mundo sabe que as noites de sábado são imprevisíveis, surpreendentes e até cruéis. Desde que os jovens instituiram a diversão no planeta, sábado à noite tornou-se um momento crucial. Todo mundo espera que algo aconteça (ou faz acontecer) numa noite de sábado. 

Alguns se escondem no aconchego do lar. Outros enfrentam o perigo em cultos ao hedonismo, pregados em qualquer discoteca. Eu já recomendo uma alternativa bem mais interessante: um show da Penélope

Não é um show de rock pesado, mas tem seus momentos hardcore. Não é pop descartável mas os refrões chicletudos custam a sair da cabeça. A banda soteropolitana passou por São Paulo - num sábado a noite - trazendo o show de lançamento do seu segundo (e muito bom) disco, o Buganvília

As cadeiras do teatro do Sesc Pompéia estavam quase preenchidas (de pessoas animadas), mesmo tendo como concorrente, na mesma noite e na choperia do mesmo lugar, um artista teoricamente mais popular, o Jairzinho Oliveira (não, eu não vou dizer, "aquele que era do Balão Mágico") 

Logo nos primeiros acordes da primeira música, "Filme da Alma", já é possível perceber que a próxima hora será, pelo menos, agradável. Em "Nada Melhor Pra Mim", a vocalista e guitarrista Érika Martins, canta tudo que você precisa ouvir: "gosto ainda mais do que eu posso entender/E até entendo saber que existem coisas boas fora do meu alcance/Mas pra mim/Nada melhor/Nada melhor pra mim do que estar com você". 

O pop pulante e animado continua com "A Menor Distância Entre Dois Pontos". É hora de sair de órbita com os versus "há sentido na ficção/Na realidade não/E pensando com a razão/ Eu prefiro a ilusão". 

A banda soa (como se espera) bem mais pesada ao vivo. O baterista Mário Jorge não economiza pauladas e o guitarrista Luisão pisa na distorção. Érica Nande, a baixista, toca seu instrumento com uma habilidade rara em muitos músicos por aí. No teclado, Constança Scofield, faz o gênero fria e objetiva, blasé, como uma Nico morena. 

Já a cantora Érika é o ponte de referência, o imã. Dona de uma simpatia cativante e de um magnetismo imbatível, torna impossível tirar os olhos dela depois da primeira olhada. A dancinha de garotinha e os trejeitos de bailarina conquistam e quase te fazem esquecer o péssimo som do microfone na primeira metade do show. 

"Namorinho de Portão", "Holyday" e "O Circo", do primeiro disco, ajudam a levantar a galera. Durante "Ciranda da Bailarina", uma cover pesadona da música de Chico Buarque e Edu Lobo, Érika desabotou a enorme saia/cortina que usava inicialmente e revelou uma micro-saia tentadora, enquanto cantava "reparando bem/Todo mundo tem pentelho/Só a bailarina que não tem". "Pessoal, vamos levantar!", disse em seguida. Não foi preciso dizer duas vezes, dezenas de homens acotovelaram-se na frente do palco, pareciam que brotavam do chão, para desespero da segurança. 

O clima pesou um pouco com a dilacerante balada "Junto Ao Mar", que Herbert Vianna compôs e presenteou a banda (Lucy, a mulher de Herbert, que morreu no acidente, era empresária da Penélope). Contrapondo, "Não Vou Ser Má" é a melhor canção "jovemguardiana" desde, deixa eu ver, hã... a Jovem Guarda. O moog ocasional e despretensioso de Constança deixa a música dançantemente irresistível. 

O teclado chama a atenção novamente na surpreendente cover de "Simcachambord", dos conterrâneos do Camisa de Vênus. Tão boa quanto a original, mais rápida e mais sacana na voz de Érika ("fazendo simcachambord, fazendo simcachambord"). 

O ponto fraco ficou no bis, com a manjadíssima "Should I Stay Or Should I Go", do Clash. "As bandas precisam aprender que o Clash não gravou só essa música", diz, ao meu lado, o meu grande amigo e sábio André Fiori. 

O show acaba com os gritos masculinos de "gostosa" e outras galhofas. No camarim, Érika me disse que já não liga mais para essas gracinhas. "Antes eu usava uns vestidões longos, para esconder. Hoje não ligo mais, até estou com essa sainha curtinha", fala, apontando para a saia. 

Hã?O que esse parágrafo tem a ver com a resenha do show? Oras, nada, foi só para deixar os outros com inveja, hehe...