"Hammered" - Motorhead (Sum Records) 

Apenas duas bandas conseguem aflorar o lado masculino em leitoras de Camille Paglia. Uma é o AC/DC. A outra é o Motörhead, que chega aos 27 anos de estrada e poeira com um disco cheio de testosterona. É rock de macho. Hammered é uma pancada auricular. Lemmy Kilmister e seu bando de tatuados dementes gravaram talvez o melhor disco de rock pesado do ano. Não tem frescuras eletrônicas ou participação especial do Moby. Só guitarra tosca, baixo rugindo e bateria detonando. O vocalista e baixista Lemmy não tocava com tanto tesão desde o "Live At Brixton". O Motörhead não é mais uma banda; é um estilo. Influenciou meio mundo do rock pesado e deixa bandinhas recém-nascidas com moral mais baixo que diferencial de sapo. O trio se completa com Philip Campbell (guitarra) e Mikkey Dee (bateria). Os shows dos caras são mais barulhentos do que um boeing decolando. "Hammered" abre ao som de "Walk A Crooked Mile". O baixo parece um trator arrastando a guitarra numa mistura hormonal para headbangers. O peso é o ideal para tomar cerveja e avacalhar seu vizinho fã de Bruno & Marrone. "Down The Line" tem aquela urgência de "Ace of Spades". O riff grungeia bonito e empresta a base ideal para o vocal podreira de Lemmy. "Serial Killer" é matadora – o trocadilho é involuntário – e digna de fechar o disco. E o melhor: não tem uma só balada. Vida longa ao rei da tosqueira.

Victor Hugo Lopes