Marah - The Last Rock n’roll Band
por Carmela Toninelo e Marcelo Silva Costa

O slogan do site não mente. “The Last Rock n’Roll Band.” Yep! Until now they certainly are. Não, não estamos falando do The Clash e nem dos The Smiths. Estamos falando da última banda rock and roll da América. 

Marah é o nome da banda. Um quarteto novo, excêntrico e americano formado por Dave Bielanko, Serge Bielanko, Danny Metz e Ronnie Vance. Americano sim, como um pé no som do Wilco, outro no Replacements e o coração na paixão pelo rock and roll clássico. Nasceram na Filadélfia e o amor pela cidade natal está fazendo com que a banda cresça nos botecos da cidade, mas seja comentada por todos os cantos da América, e comece a ser descoberta no Brasil.

Dave e Metz formaram o grupo em 1993, recrutando Ronnie para a bateria; o irmão de Bielanko, Serge, impressionou-se tanto com o som do trio que decidiu unir-se a eles, isso em 1995. Quatro caras fazendo rock de qualidade não é fácil de se encontrar por ai e Paul Smith, engenheiro e produtor, acabou apaixonando-se pela banda a ponto de se tornar um quinto-membro não oficial do grupo.

Uma banda e um produtor. Meio caminho, certo. A outra metade do caminho só foi transformada em música em 1997, quando a banda gravou algumas faixas auxiliada por Cary Hudson (Blue Mountain), o que acabou tornando-se o primeiro álbum, Let's Cut The Crap And Hook Up Later On Tonight

Com o álbum debaixo dos braços a banda se entregou aos shows e um, na Southwest Music Conference, foi saudado e incensado por artistas, críticos e um pequeno público. Entre esses caras estava o músico Steve Earle que convidou a banda para lançar o próximo álbum por seu pequeno, porém famoso, selo E-Quared e o resultado é Kids In Philly, segundo álbum da banda. 

Kids in Philly é impetuoso, vivo, romântico e vaidoso. Um disco que surge como uma deliciosa orgia auditiva. Guitarras, banjos, xilofones, trombetas, sinos, gaitas, sanfonas, criam diversos sons estranhos acompanhados pela voz rouca e entorpecente de Bielanko. A equação distante é como se um The Pogues nascido nos pântanos da Filadélfia encontrasse Bruce Springsteen. 

O encarte do cd entrega ainda mais a paixão por trazer uma foto do desfile Drummers pelas ruas do Estado. Explicamos. “Drummers” é um desfile que acontece no início de todo ano, onde homens em fantasias ultrajantes caminham junto com bandas de fanfarras, em estilo procissão. Isso talvez pudesse explicar porque a Marah é uma banda de coração exposto e nenhuma vergonha na cara. 

Eles amam o rock clássico, levaram fora das meninas, mas estão pouco ligando para isso, afinal, você sabe, quanto se tem o rock, nada mais importa. São uma banda exclamando ao pé da letra idéias únicas entre melodias e contos. Contos para exibir as imagens escondidas nas ruas de Filadélfia.
"Faraway You" é a colisão de uma pancadaria da bateria com uma propulsão maravilhosa de riffs de banjo e xilofone, dentre outros instrumentos. Bielanko leva você a um passeio de ônibus, para conhecer as personalidades que habitam sua honrada cidade. [Headlight cars do battle on the boulevard... Orchestrated stars all laughin' at the weather charts], canta a voz rouca do cara. 

A comparação com Bruce Springsteen ganha força com a cover de "Streets of Philadelphia", inclusa como b-side no single "Point Breeze". A própria "Point Breeze"  também recorda, em maiores batidas, o Van Morrison de "Brown-Eyed Girl". Isso tudo é elogio, claro.  O álbum segue. "It's Only Money, Tyrone" surge como uma miragem no deserto americano do rock atual. Com duras batidas, é o tipo de coisa que os Stones costumavam fazer de melhor em seus tempos áureos. “The History of Where Someone Has Been Killed" também soa stoniana, com alguns acordes no melhor estilo Keith Richards.

"The Catfisherman" tem tonalidade bluezy e é toda especial. Sons de rua, conversas na multidão e um efeito sonoro chiando ao fundo trazem Dave listando coisas que ele tem de levar para seu "spot 'neath the bridge by the Expressway." (seu sítio poético na ponte, a margem da Expressway). Isso soa, a primeira ouvida, como uma esquisita versão de "Every Breath You Take" do The Police, mas com banjo e castanholas. Só ouvindo novamente que se pode perceber que esta é uma música sobre um veterano assombrado por lembranças e pelo espírito do rock and roll. [And I could still hear the far off, tin canny sound of their machine guns come unwound], canta o vocalista que um pouco mais adiante, antes de encerrar a música com um belo solo de trombeta, ainda arranja espaço mágico para citar a clássica "Be My Baby” das Ronettes.

Para encerrar, "This Town". É o tipo de final triste que o produtor Steve Earle já construiu fama por produzir.
O quarteto sintetiza Bob Dylan, Bruce Springsteen e Phil Spector, em uma harmonia única e autêntica. O que realmente importa para os quatro meninos do interior é registrar os prazeres e terrores de sua cidade, com amor . Tudo em forma de música. E que bela música.
A Filadélfia ao alcance de todos. A última banda americana de rock and roll. E tome banjos.